Eclipse

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PREFÁCIO
Todos os nossos esforços no subterfúgio tinham sido em vão.


Com gelo em meu coração, eu o assisti preparar-se para me defender. Sua intensa concentração não traía sinais de dúvida, apesar de ele estar em maior número. Eu sabia que nós não podíamos esperar por ajuda - nesse momento, a família dele estava lutando por sua vida tanto quanto certamente ele estava pelas nossas.
Eu alguma vez descobriria o resultado daquela outra luta? Descobriria quem foram os vencedores e os perdedores? Eu viveria o bastante para isso?
As probabilidades disso não pareciam muito grandes.
Olhos negros, loucos com sua ânsia feroz pela minha morte, vista no momento em que a atenção do meu protetor se desviasse. O momento em que eu certamente morreria.
Em algum lugar longe, longe na floresta fria, um lobo uivou.

 

Capítulo 1 - Ultimato
Traduzido pela Ary
(Obs.: O texto sublinhado é, na verdade, riscado.)


Bella,
Eu não sei por que você está fazendo Charlie passar bilhetinhos pra Billy como se estivéssemos na 2ª série - se eu quisesse falar com você eu teria respondido o

Foi você quem fez a escolha aqui, Ok?
Você não pode ter as duas coisas quando

Que parte de 'inimigos mortal' você não
Olha, eu sei que eu estou sendo um idiota, mas não existe outra forma de

Nós não podemos ser amigos enquanto você está passando o seu tempo com um bando de

Pensar de mais em você só deixa as coisas piores, então não escreva mais


É, eu sinto a sua falta também. Muito. Isso não muda nada.
Desculpe,
Jacob.


Eu passei os meus dedos pela página, sentindo as marcas onde ele havia pressionado a caneta no papel com tanta força que ele quase rasgou. Eu podia imaginá-lo escrevendo isso - desenhando as letras raivosas com a sua escrita áspera, riscando linha após linha quando as palavras saíam erradas, talvez até fazendo a caneta quebrar em sua mão grande demais; isso explicaria as manchas de tinta.
Eu podia imaginar a frustração fazendo as sobrancelhas dele se apertarem e enrugando a sua testa. Se eu estivesse lá, eu teria sorrido. Não tenha uma hemorragia cerebral, Jacob, eu teria dito a ele. Bota tudo pra fora logo.
Rir era a última coisa que eu tinha vontade de fazer enquanto relia as palavras que eu quase já tinha memorizado. A resposta dele ao meu bilhete de alegações - passado de Charlie pra Billy pra ele, exatamente como na segunda série, como ele apontou - não era surpresa. Eu já sabia a essência do que ele ia dizer antes de abri-lo.
O que mais me surpreendia era o quanto aquelas linhas rabiscadas haviam me machucado - como se a ponta das letras tivessem superfícies cortantes. Mais do que isso, por trás de cada palavra raivosa se escondia uma piscina de dor; a dor de Jacob me cortou mais profundamente do que a minha própria.

Enquanto eu estava pensando nisso, eu senti o cheiro inconfundível de alguma coisa queimando na cozinha.
Em outra casa, o fato de que alguém que não fosse eu estava cozinhando não causaria muito pânico.
Eu enfiei o papel amassado no meu bolso de trás e saí correndo. Eu cheguei ao fim das escadas quase sem tempo. O recipiente de molho de espaguete que Charlie tinha enfiado no microondas estava apenas no início da revolução quando eu abri a porta e o tirei de lá.
"O que eu fiz de errado?", Charlie quis saber.
"Você tinha que ter tirado a tampa antes, pai. Metal não é bom em microondas." Eu rapidamente removi a tampa enquanto falava, derramei metade do molho em uma tigela, depois coloquei a tigela de volta no microondas e guardei o resto de volta no congelador; eu arrumei o tempo e apertei o botão start.
Charlie observou os meus arranjos com os lábios torcidos.
"Eu fiz o macarrão direito?"
Eu olhei para a panela no fogão - a fonte do cheiro que havia me alertado.
"Mexer ajuda", eu disse à meia voz. Eu encontrei uma colher e tentei desgrudar a massa que estava pegada no fundo.
Charlie suspirou.
"Então, pra que é tudo isso?", eu perguntei a ele.
Ele cruzou os braços no peito e olhou, pela janela dos fundos, para a chuva caindo.
"Eu não sei do que você está falando", ele rosnou.
Eu estava confusa. Charlie cozinhando? Qual era o motivo da sua atitude ranzinza?
Edward ainda não estava aqui; geralmente Charlie guardava esse tipo de atitude para o meu namorado, fazendo o melhor que podia para ilustrar o tema "mal vindo" com palavras e postura. Os esforços de Charlie eram desnecessários - Edward já sabia exatamente o que o meu pai estava pensando sem esse show.
A palavra "namorado" me fez mordiscar a minha bochecha pelo lado interior com uma tensão familiar enquanto eu me movia. Não era a palavra certa, nem um pouco. Eu precisava de uma palavra mais expressiva pra comprometimento eterno... Mas palavras como destino e fado pareciam estranhas quando você as usava numa conversa convencional.

Edward tinha outra palavra em mente, e essa palavra era a fonte da tensão que eu sentia.
Os meus dentes se apertavam só de pensar na palavra.
Noiva. Ugh. Eu me afastei do pensamento.
"Eu perdi alguma coisa? Desde quando você faz o jantar?", eu perguntei a Charlie. A massa grudenta boiava na água borbulhante enquanto eu a cutucava. "Ou será que eu devo dizer ‘tenta’ fazer o jantar?"
Charlie levantou os ombros.
"Não há nenhuma lei que diga que eu não posso cozinhar em minha própria casa."
"É você quem sabe", eu respondi sorrindo, enquanto olhava para o distintivo no seu casaco de couro.
"Ha. Essa foi boa." Ele tirou a jaqueta como se o meu olhar tivesse feito ele se lembrar que ainda estava usando o casaco e pendurou-o no gancho reservado para o seu cinto. Seu cinto de armas já estava pendurado no lugar - ele não tinha a necessidade de usá-lo para ir à delegacia por algumas semanas. Não houve mais desaparecimentos perturbadores pra atrapalhar a pequena cidade de Forks, em Washington, nada de visões de lobos gigantescos, misteriosos, nas florestas chuvosas...
Eu cutucava o macarrão em silêncio, imaginando que Charlie falaria sobre o que quer que estivesse incomodando-o quando ele achasse que estava na hora. Meu pai não era um homem de muitas palavras, e o esforço desastroso de orquestrar um jantar feito por ele deixou muito claro que ele estava com um número estranho de palavras em sua cabeça.
Eu olhei pra o relógio rotineiramente - uma coisa que eu fazia todos os dias nessa hora. Agora faltava menos de meia hora. As tardes eram a parte mais difícil do meu dia. Desde que o meu ex melhor amigo (e lobisomem), Jacob Black, me dedurou sobre a moto que eu andava guiando - um castigo que ele havia arquitetado pra que eu não pudesse passar tempo com o meu namorado (e vampiro), Edward Cullen - Edward só tem permissão de me ver até as nove e meia da noite, sempre nos confins da minha casa e sob a supervisão do olhar infalivelmente mal-humorado do meu pai.

Essa era só uma pequena parcela do castigo anterior que eu recebi por ter desaparecido três dias sem explicar e pelo episódio do mergulho do penhasco.
É claro, eu ainda via Edward na escola, porque ainda não havia nada que Charlie pudesse fazer em relação a isso. E depois, Edward passava quase todas as noites no meu quarto também, mas Charlie não estava precisamente consciente disso. A habilidade de Edward de escalar rápida e silenciosamente a minha janela no segundo andar era quase tão útil quanto a habilidade dele de ler a mente de Charlie.
Apesar de as tardes serem a única hora que eu passava longe de Edward, isso já era o suficiente pra me deixar impaciente, e as horas sempre se arrastavam. Mesmo assim, eu agüentava o meu castigo sem reclamar porque - pra começar - eu sabia que tinha merecido, e - pra terminar - porque eu sabia que não podia machucar o meu pai me mudando agora, quando uma separação muito mais permanente se aproximava, invisível pra Charlie, perto no horizonte.
Meu pai se sentou na mesa com um jornal desdobrado e amassado que havia lá; dentro de segundos ele já estava estalando a língua de desaprovação.
"Eu não sei pra quê você lê o jornal, pai. Ele só te tira do sério."
Ele me ignorou, rosnando para o papel em suas mãos.
"É por isso que todo mundo quer viver em cidades pequenas. Ridículo!"
"O que foi que as cidades grandes fizeram de errado agora?"
"Seattle está entrando para a lista das cidades com mais crimes do país. Cinco homicídios sem solução nas últimas duas semanas. Você pode imaginar viver assim?"
"Na verdade, eu acho que Phoenix está mais no topo da lista, pai. Eu vivi assim."
Eu nunca havia chegado perto de ser uma vítima de assassinato antes de vir pra essa pequena cidade segura. Na verdade, eu ainda estava em muitas das listas de perigo... A colher balançou nas minhas mãos, fazendo a água tremer.
"Bem, você não me pagaria o suficiente", Charlie disse.

Eu desisti de salvar o jantar e me sentei pra servi-lo; eu tive que usar uma faca de carne pra cortar uma porção do espaguete pra mim e pra Charlie, enquanto ele observava com uma expressão tímida. Charlie cobriu o seu com molho pra ajudar e começou a escavar. Eu disfarcei o meu com o molho da melhor forma que pude e segui o exemplo dele, sem muito entusiasmo. Nós comemos em silêncio por algum tempo. Charlie ainda estava vasculhando as notícias, então eu peguei a minha cópia muito abusada de O morro dos ventos uivantes de onde eu havia deixado-a no café da manhã e tentei me perder na Inglaterra da virada do século, enquanto eu esperava que ele começasse a falar.
Eu estava exatamente na parte do retorno de Heathcliff quando Charlie limpou a garganta e jogou o jornal no chão.
"Você está certa", Charlie disse. "Eu tenho uma razão pra ter feito isso." Ele acenou com o garfo na direção da mistura grudenta. "Eu queria falar com você."
Eu coloquei o livro de lado; a encadernação estava tão destruída que ela ficou plana na mesa.
"Você podia ter só pedido."
Ele balançou a cabeça, as sobrancelhas juntas.
"É. Eu vou lembrar disso da próxima vez. Eu pensei que te livrar de fazer o jantar ia te amaciar."
Eu ri.
"Deu certo - seus talentos culinários me deixaram molinha feito marshmallow. Do que você precisa, pai?"
"É sobre Jacob."
Eu senti meu rosto endurecer.
"O que tem ele?", eu perguntei através dos lábios rígidos.
"Calma, Bells. Eu sei que você ainda está brava porque ele te dedurou, mas foi a coisa certa. Ele estava sendo responsável."
"Responsável", eu repeti agudamente, rolando os meus olhos. "Certo. Então, o que tem Jacob?"
A pergunta sem importância repetida na minha cabeça não era nada além do trivial.
O que tem Jacob? O que eu ia fazer em relação a ele? Meu ex-melhor amigo que agora era... o que? Meu inimigo? Eu vacilei.
O rosto de Charlie de repente estava cauteloso.
"Não fique brava comigo, ok?"
"Brava?"
"Bem, é sobre Edward também."
Meus olhos se estreitaram.

A voz de Charlie ficou mais áspera.
"Eu deixo ele entrar em casa, não deixo?"
"Você deixa", eu admiti. "Por breves períodos de tempo. É claro, você também me deixa sair de casa por breves períodos de vez em quando", eu continuei - só de piada, eu sabia que ficaria presa enquanto durasse o período escolar. "Eu tenho sido muito boazinha ultimamente."
"Bem, é mais ou menos aí que eu queria chegar com isso..." E depois o rosto de Charlie se arreganhou num sorriso inesperado; por um segundo ele pareceu ser vinte anos mais jovem.
Eu vi o fraco brilho de uma possibilidade naquele sorriso, mas eu prossegui lentamente.
"Eu estou confusa, pai. Nós estamos falando sobre Jacob, Edward ou sobre o meu castigo?"
O sorriso dele brilhou de novo.
"Um pouco dos três."
"E como eles se relacionam?", eu perguntei, cuidadosa.
"Tudo bem", ele suspirou, erguendo as mãos como se estivesse se rendendo. "Então eu acho que talvez você mereça uma condicional por bom comportamento. Para uma adolescente, você é incrivelmente não-reclamona."
Minha voz e minhas sobrancelhas levantaram.
"Sério? Eu estou livre?"
De onde foi que isso veio? Eu pensei que fosse ficar trancada em casa até me mudar de fato, e Edward não havia registrado nenhuma mudança nos pensamentos de Charlie...
Charlie levantou um dedo.
"Condicionalmente."
O entusiasmo desapareceu.
"Fantástico", eu gemi.
"Bella, isso é mais um pedido do que uma ordem, ok? Você está livre. Mas eu espero que você use essa liberdade mais... judicialmente."
"O que isso significa?"
Ele suspirou de novo.
"Eu sei que você fica satisfeita passando todo o seu tempo com Edward -"
"Eu passo tempo com Alice também", eu interferi. A irmã de Edward não tinha horários para visita; ela ia e vinha quando bem entendia. Charlie era como pudim nas mãos capazes dela.
"Isso é verdade", ele disse. "Mas você tem outros amigos além dos Cullen, Bella. Ou costumava ter."
Nós encaramos um ao outro por um momento.
"Quando foi a última vez que você falou com Angela Weber?", ele jogou pra mim.

"Sexta no almoço", eu respondi imediatamente.
Antes da volta de Edward, os meus amigos da escola haviam se polarizado em dois grupos. Eu gostava de pensar neles como grupos de bem vs. mau. Nós e eles funcionava também. Os mocinhos eram Angela, seu namorado Ben Cheney e Mike Newton; esses três haviam muito generosamente me perdoado quando eu enlouqueci porque Edward foi embora. Lauren Mallory era a líder do lado deles, e quase todo mundo, incluindo minha primeira amiga em Forks, Jessica Stanley, parecia seguir a agenda Anti-Bella dela contentemente.
Com Edward de volta a escola, a linha de divisão havia ficado ainda mais distinta. O retorno de Edward havia cobrado um certo pedágio a Mike, mas Angela era inquestionavelmente leal, e Ben a seguia. A despeito da aversão natural que a maioria dos humanos sentia pelos Cullen, Angela sentava-se obrigatoriamente ao lado de Alice todos os dias no almoço. Depois de alguns dias, Angela até começou a parecer confortável lá. Era difícil não se encantar pelos Cullen - quando você dava a um deles a chance de ser encantador.
"Fora da escola?", Charlie perguntou, chamando minha atenção de volta.
"Eu não tenho visto ninguém fora da escola, pai. De castigo, lembra? E Angela tem um namorado também. Ela está sempre com Ben. Se eu realmente estou livre", eu adicionei, pegando pesado no ceticismo, "talvez possamos sair em casais."
"Tudo bem, mas então...", ele hesitou. "Você e Jake costumavam fazer tudo juntos, e agora -"
Eu cortei ele.
"Dá pra você chegar no ponto, pai? Qual é a sua condição - exatamente?"
"Eu não acho que você deveria abandonar os seus amigos pelo seu namorado, Bella", ele disse numa voz dura. "Não é legal, e eu acho que a sua vida estaria mais bem balanceada se houvessem mais algumas pessoas nela. O que aconteceu Setembro passado..." Eu vacilei. "Bem", ele disse defensivamente. "Se você tivesse uma vida além de Edward Cullen, as coisas podiam não ter sido daquele jeito."

"Teria sido exatamente daquele jeito", eu murmurei.
"Talvez sim, talvez não."
"O ponto?", eu lembrei ele.
"Use a sua liberdade pra ver os seus outros amigos também. Equilibre as coisas."
Eu balancei a cabeça lentamente.
"Equilíbrio é bom. No entanto, eu tenho cotas de tempo pra seguir?"
Ele fez uma cara, mas balançou a cabeça.
"Eu não quero complicar as coisas. Só não esqueça os seus amigos - particularmente Jacob."
Eu levei algum tempo pra encontrar as palavras certas.
"Jacob pode ser... difícil."
"Os Black são praticamente da família, Bella", ele disse, dura e paternalmente de novo. "E Jacob foi um amigo muito, muito bom pra você."
"Eu sei disso."
"Você não sente nem um pouco de saudades dele?", Charlie perguntou, frustrado.
Minha garganta pareceu inchar de repente; eu tive que limpá-la duas vezes antes de responder.
"Sim, eu sinto saudades dele", eu admiti, ainda olhando pra baixo. "Eu sinto muita falta dele."
"Então por que é tão difícil?"
Isso não era uma coisa que eu tinha liberdade de explicar. Era contra as regras para as pessoas normais - pessoas humanas como eu e Charlie - saber sobre o mundo clandestino, cheio de mitos e monstros, que existia secretamente ao nosso redor. Eu sabia sobre esse mundo - e eu tinha uma pequena porção de problemas como resultado. Eu não ia envolver Charlie nos mesmos problemas.
"Com Jacob existe um... conflito", eu disse solenemente. "Eu quero dizer, um conflito sobre a coisa da amizade. Amizade não parece ser o suficiente pra Jake."
Eu inventei a minha desculpa baseada em fatos que eram verdadeiros, mas insignificantes, dificilmente tão cruciais se comparados com o fato de que o bando de lobisomens de Jake odiava amargamente a família vampira de Edward – e, portanto, eu também, já que eu estava inteiramente intencionada a me juntar a essa família. Não era uma coisa que eu podia resolver com ele através de um bilhete, e ele não atendia os meus telefonemas.

Mas o meu plano de ir lidar pessoalmente com o lobisomem definitivamente não havia calhado bem com os vampiros.
"Será que Edward não está a fim de um pouco de competição saudável?", a voz de Charlie estava sarcástica agora.
Eu olhei pra ele com um olhar obscuro.
"Não tem competição."
"Você está machucando os sentimentos de Jake evitando-o desse jeito. Ele iria preferir ser seu amigo do que nada."
Oh, agora era eu que o estava evitando?
"Eu tenho certeza absoluta que Jake não quer amizade de jeito nenhum." As palavras queimaram na minha boca. "Afinal, de onde foi que você tirou essa idéia?"
Agora Charlie parecia envergonhado.
"O assunto pode ter aparecido hoje com Billy..."
"Você e Billy fofocam como mulheres velhas", eu reclamei, espetando o meu garfo violentamente no espaguete congelado no meu prato.
"Billy está preocupado com Jacob", Charlie disse. "Jake está passando por um momento difícil agora... Ele está deprimido."
Eu gemi, mas mantive os meus olhos na gororoba.
"E, além do mais, você ficava tão feliz depois de passar o dia com Jake", Charlie suspirou.
"Eu estou feliz agora", eu rosnei ferozmente por entre os dentes.
O contraste entre as minhas palavras e o tom que eu usei quebrou a tensão. Charlie começou a rir, e eu me juntei a ele.
"Ok, ok", eu concordei. "Equilíbrio."
"E Jacob", ele insistiu.
"Eu vou tentar".
"Bom. Encontre esse equilíbrio, Bella. E, oh, é, você tem correspondência", Charlie disse, fechando o assunto sem muitas dificuldades. "Está no balcão."
Eu não me movi, meus pensamentos se moviam como espirais ao redor do nome de Jacob. Provavelmente era só correspondência boba; eu havia acabado de receber um pacote da minha mãe e não estava esperando mais nada.
Charlie empurrou a sua cadeira pra trás e se espreguiçou enquanto ficava de pé. Ele levou seu prato para a pia, mas antes de ligar a água pra lavá-lo, ele pausou e jogou um envelope grosso pra cima de mim. A carta escorregou pela mesa e deu um choque no meu cotovelo.

"Er, obrigada", eu murmurei, confusa pela insistência dele. Aí eu vi o endereço do remetente - a carta era da universidade do Sudeste do Alaska.
"Isso foi rápido. Eu pensei que havia perdido o prazo de entrega dessa também."
Charlie gargalhou.
Eu virei o e

nvelope e olhei pra ele.
"Está aberto."
"Eu estava curioso."
"Eu estou chocada, xerife. Isso é um crime federal."
"Oh, leia logo."
Eu puxei a carta pra fora e encontrei uma agenda dobrada dos cursos.
"Parabéns", ele disse antes que eu pudesse ler alguma coisa. "Sua primeira aceitação."
"Obrigada, pai."
"Nós deveríamos falar sobre o custeamento. Eu tenho algum dinheiro economizado -"
"Ei, ei, nada disso. Eu não vou tocar na sua aposentadoria, pai. Eu tenho os meus fundos para a faculdade." O que restava dele - que já não era muito no começo.
Charlie fez uma carranca.
"Alguns desses lugares são muito caros, Bella. Eu quero ajudar. Você não tem que ir para o Alaska só porque é mais barato."
Não era mais barato, nem um pouco. Mas era longe, e Juneau tinha um normal de trezentos e vinte e um dias nublados por ano. O primeiro era o meu pré-requisito, o segundo era o de Edward.
"Eu já tenho tudo coberto. Além do mais, tem um monte de auxílios financeiros por aí. É fácil ganhar empréstimos." Eu esperava que o meu blefe não fosse óbvio demais. Eu não tinha feito muitas pesquisas sobre o assunto.
"Então...", Charlie começou, e então ele contorceu os lábios e desviou o olhar.
"Então o que?"
"Nada. Eu só estava..." Ele fez uma carranca. "Só me perguntando quais... quais são os planos de Edward para o ano que vem."
"Oh."
"Então?"
As três batidas rápidas na porta me salvaram. Charlie revirou os olhos enquanto eu pulava pra ficar de pé.
"Já vou!", eu gritei enquanto Charlie murmurava alguma coisa parecida com "Vá embora". Eu o ignorei e segui em frente pra deixar Edward entrar.
Eu tirei a porta do caminho - ridiculamente ansiosa - e lá estava ele, o meu milagre pessoal.

O tempo não me fez imune à perfeição do rosto dele, e eu tinha certeza de que nunca iria me acostumar com nenhum dos aspectos dele. Meus olhos observaram suas feições pálidas: sua dura mandíbula quadrada, a curva mais suave dos seus lábios cheios - que agora estavam curvados pra cima num sorriso, a linha reta do nariz dele, o ângulo das maçãs do rosto dele, a envergadura da sua testa macia de mármore - parcialmente obscurecida por uma mecha de cabelos cor de bronze escurecidos pela chuva...
Eu deixei seus olhos por último, sabendo que quando eu olhasse dentro deles haveria uma grande possibilidade de eu perder a linha de raciocínio. Eles estavam grandes, quentes com um dourado derretido, e moldados por uma linha de cílios grossos. Olhar dentro dos olhos dele sempre faziam eu me sentir extraordinária - como se os meus ossos estivessem como esponja. Eu também ficava com a cabeça meio leve, mas isso podia ser porque eu esquecia de respirar. De novo.
Era o rosto pelo qual qualquer modelo daria a sua alma pra ter. É claro, esse podia ser exatamente o preço pedido: uma alma.
Não. Eu não acreditava nisso. Eu me sentia culpada só de pensar nisso, e eu estava feliz - assim como estava frequentemente feliz - por ser a única pessoa cujos pensamentos eram um mistério pra Edward.
Eu inclinei minha mão e suspirei quando os dedos frios dele encontraram os meus. O toque dele trouxe a sensação mais estranha de alívio - como se eu estivesse sentindo dor e essa dor houvesse cessado de repente.
"Oi", eu sorri um pouco com a minha saudação anti-climática.
Ele ergueu as nossas mãos entrelaçadas pra tocar a minha bochecha com as costas da mão dele.
"Como foi a sua tarde?"
"Lenta."
"Pra mim também."
Ele puxou o meu pulso para o rosto dele, nossas mãos ainda entrelaçadas. Os olhos dele se fecharam enquanto o nariz dele alisava a pele de lá, e ele sorriu gentilmente sem abri-los. Aproveitando o buquê enquanto resistia ao vinho, como ele havia colocado uma vez.

Eu sabia que o cheiro do meu sangue - muito mais doce pra ele do que o cheiro do sangue de qualquer outra pessoa, realmente como o vinho em vez de água para um alcoólatra – causava a ele verdadeira dor pela sede que acarretava. Eu podia apenas imaginar o esforço Herculano por trás desse simples gesto. Eu fiquei triste por ele ter que tentar tanto. Eu me confortei com o fato de que eu não causaria mais dor a ele por muito tempo.
Nessa hora eu ouvi Charlie se aproximando, batendo os pés no caminho com o seu desprazer de costume com a nossa visita. Edward abriu os olhos e deixou as nossas mãos caírem, mantendo-as entrelaçadas.
"Boa noite, Charlie", Edward era sempre impecavelmente educado, apesar de Charlie não merecer isso. Charlie grunhiu pra ele e ficou em pé onde estava, com os braços cruzados no peito. Ele estava levando o conceito de supervisão paterna aos extremos ultimamente.
"Eu trouxe outras inscrições", Edward me disse nessa hora, levantando um bolo de papéis envelopados. Ele estava usando um rolo de selos como se fosse um anel no seu dedo mindinho.
Eu gemi. Como é que podiam ainda haver faculdades às quais ele já não tivesse me obrigado a me inscrever? Como é que ele continuava encontrando essas vagas em aberto? O ano já estava muito atrasado.
Ele sorriu como se pudesse ler os meus pensamentos; eles deviam estar óbvios no meu rosto.
"Ainda haviam prazos de inscrição em aberto. E alguns lugares a fim de fazer exceções..."
Eu podia imaginar as motivações pra essas exceções. E os montes de dólares envolvidos. Edward riu da minha expressão.
"Vamos lá?", ele perguntou, me levando em direção à mesa da cozinha.
Charlie ficou mal-humorado e seguiu atrás, apesar de ele não poder reclamar da agenda de atividades de hoje. Ele vivia me enchendo pra tomar uma decisão sobre a faculdade todos os dias.
Eu limpei a mesa rapidamente enquanto Edward organizava uma pilha intimidante de formulários. Quando eu movi O morro dos ventos uivantes pra cima do balcão, Edward ergueu uma sobrancelha.

Eu sabia o que ele estava pensando, mas Charlie interrompeu antes que Edward pudesse comentar.
"Falando em inscrições para a faculdade, Edward", Charlie disse, seu tom ainda mais solene - ele tentava evitar se dirigir pra Edward diretamente, e, quando ele tinha que fazê-lo, isso exacerbava o seu humor. "Bella e eu estávamos falando sobre o ano que vem. Você já decidiu onde vai estudar?"
Edward sorriu pra Charlie e a voz dele estava amigável.
"Ainda não. Eu recebi algumas cartas de aceitação, mas eu ainda estou pensando as minhas opções."
"Onde você foi aceito?", Charlie pressionou.
"Syracuse... Harvard... Dartmouth... e eu acabei de ser aceito na faculdade do Sudeste do Alaska hoje."
Edward virou levemente a sua cabeça pra o lado pra poder piscar pra mim. Eu prendi uma gargalhada.
"Harvard? Dartmouth?", Charlie murmurou, incapaz de esconder a sua admiração. "Bem, isso é muito... isso é interessante. É, mas a Universidade do Alaska... você realmente está considerando isso quando pode ir para a Ivy League? Quer dizer, o seu pai iria querer que..."
"Carlisle sempre está de acordo com qualquer escolha que eu fizer", Edward disse a ele serenamente.
"Hmph."
"Adivinhe, Edward?", eu pedi com uma voz brilhante, entrando na brincadeira.
"O que, Bella?"
Eu apontei para o grosso envelope no balcão.
"Eu acabei de receber a minha carta de aceitação da Universidade do Alaska!"
"Parabéns", ele deu um sorriso largo. "Que coincidência."
Os olhos de Charlie se estreitaram e ele olhou pra frente e pra trás entre nós.
"Tá bom", ele murmurou depois de um minuto. "Eu vou assistir o jogo, Bella. Nove e meia."
"Er, pai? Lembra o que nós discutimos sobre a minha liberdade...?"
Ele suspirou.
"Certo. Ok, dez e meia. Você ainda tem o toque de recolher nas noites de aula."
"Bella não está mais de castigo?", Edward perguntou. Apesar de saber que ele não estava realmente surpreso, eu não consegui detectar nenhum sinal de falsa excitação na voz dele.

"Condicionalmente", Charlie corrigiu através dos dentes. "O que você tem com isso?"
Eu fiz uma carranca para o meu pai, mas ele não viu.
"Só é bom saber", Edward disse. "Alice está louca pra arranjar uma parceira de compras, e eu tenho certeza de que Bella adoraria ver as luzes da cidade", ele sorriu pra mim.
Mas Charlie rosnou.
"Não!", e o rosto dele ficou roxo.
"Pai! Qual é o problema?"
Ele fez um esforço pra destrincar os dentes.
"Eu não quero que você vá a Seattle agora."
"Huh?"
"Eu te disse sobre a história no jornal - tem alguma espécie de gangue fazendo uma matança em Seattle e eu quero que você mantenha a distância, ok?"
Eu rolei os meus olhos.
"Pai, existe uma chance maior de eu ser atingida por um raio do que eu passar um dia em Seattle e -"
"Não, está tudo bem, Charlie", Edward disse, me interrompendo. "Eu não me referia a Seattle. Eu estava pensando em Portland, na verdade. Eu também não levaria Bella a Seattle. É claro que não."
Eu olhei pra ele sem acreditar, mas ele estava com o jornal de Charlie nas mãos e lia a primeira página atentamente.
Ele devia estar tentando aplacar o meu pai. A idéia de estar em perigo mesmo por causa do mais letal dos humanos estando na companhia de Alice ou Edward era hilária.
Funcionou. Charlie olhou pra Edward por mais ou segundo, e depois levantou os ombros.
"Tudo bem." Ele saiu na direção da sala de estar, agora com um pouco de pressa - talvez ele não quisesse perder o início do jogo.
Eu esperei até que a TV estivesse ligada, pra que Charlie não pudesse me ouvir.
"O que -", eu comecei a perguntar.
"Espere", Edward disse sem tirar os olhos do jornal. Os olhos dele continuaram focados na primeira página enquanto ele empurrava a primeira inscrição na minha direção pela mesa. "Eu acho que você pode reutilizar os seus ensaios nessa. As mesmas perguntas."

Charlie ainda devia estar ouvindo. Eu suspirei e comecei a responder as perguntas repetitivas: nome, endereço, social... Depois de alguns minutos, eu olhei pra cima, mas agora Edward estava olhando perseverantemente pela janela.
Enquanto eu baixava a minha cabeça de volta para o meu trabalho, eu percebi pela primeira vez o nome da escola.
Eu bufei e coloquei os papeis de lado.
"Bella?"
"Fala sério, Edward. Dartmouth?"
Edward levantou as inscrições descartadas e as colocou gentilmente na minha frente novamente.
"Eu pensei que você gostaria de New Hampshire", ele disse. "Há muitas coisas pra eu fazer durante a noite, e as florestas estão convenientemente localizadas para os praticantes ávidos de caminhadas. Bastante vida selvagem." Ele deu o riso torto ao qual ele sabia que eu não podia resistir.
Eu respirei profundamente pelo nariz.
"Eu deixo você pagar, se isso te deixa feliz", ele prometeu. "Se você quiser, eu posso custear o seu interesse."
"Como se eu fosse conseguir entrar sem um enorme suborno. Ou isso foi parte do empréstimo? Uma nova ala dos Cullen para a biblioteca? Ugh! Por que é que estamos tendo essa discussão de novo?"
"Será que dá pra você responder a inscrições, por favor, Bella? Se inscrever não vai te machucar."
Minha mandíbula flexionou-se.
"Quer saber? Eu não acho que vá."
Eu peguei os papéis, planejando colocá-los numa pilha que coubesse direitinho na lata de lixo, mas eles já tinham desaparecido. Eu olhei para a mesa vazia por um momento, e depois pra Edward. Ele não parecia ter se movido, mas as inscrições provavelmente já estavam enfiadas embaixo do casaco dele.
"O que você está fazendo?", eu quis saber.
"Eu sei assinar o seu nome melhor que você. Você já escreveu os ensaios."

"Você está indo longe demais com isso, sabe", eu sussurrei, pela chance improvável de que Charlie não estivesse completamente compenetrado em seu jogo. "Eu não preciso me inscrever pra nada. Eu já fui aceita no Alaska. Eu quase já posso pagar pelo primeiro mês de estudos. Ele é um álibi tão bom quanto qualquer outro. Não há necessidade de jogar fora um bolo de dinheiro, não importa de quem ele seja."
Um olhar de dor espremeu o rosto dele.
"Bella -"
"Não comece. Eu concordo que eu tenha que passar por essas fases por Charlie, mas nós dois sabemos que eu não estarei em condições de estudar no próximo outono. Ficar perto de pessoas."
Meu conhecimento desses primeiros anos como vampira eram incompletos. Edward nunca entrava nos detalhes - esse não era o assunto favorito dele -, mas eu sabia que não era nada bonito. Auto-controle aparentemente era uma habilidade requerida. Qualquer coisa que não estivesse ligada a escola por correspondência estava fora de questão.
"Eu pensei que o timing ainda não estivesse decidido", Edward me lembrou suavemente. "Você pode gostar de um semestre ou dois na faculdade. Ainda existem muitas experiências humanas que você nunca teve."
"Eu irei vivê-las depois."
"Depois elas não serão experiências humanas. Você não terá uma segunda chance para a humanidade, Bella."
Eu suspirei.
"Você precisa ser razoável com o tempo, Edward. É muito perigoso brincar com ele."
“Não há perigo ainda”, ele insistiu.
Eu encarei-o. Sem perigo? Claro. Eu só tinha uma vampira sádica me perseguindo pra vingar a morte do parceiro dela com a minha própria morte, preferivelmente utilizando usando algum método lento e torturante. Quem estava preocupado com Victoria? E, oh, é, os Volturi - a família real de vampiros com o seu pequeno exército de guerreiros vampiros - que insistiam em fazer meu coração parar de bater de uma forma ou de outra num futuro próximo, porque nenhum humano tinha permissão de saber que eles existiam. Certo. Absolutamente nenhuma razão pra entrar em pânico.

Mesmo com Alice continuando a observar - Edward estava se valendo das suas visões apuradas do futuro pra nos dar um aviso -, era uma insanidade contar com a sorte.
Além do mais, eu já tinha ganhado essa discussão. A data para a minha transformação estava tentadoramente marcada pra pouco depois da minha formatura no segundo grau, em apenas algumas semanas.
Uma afiada pontada de enjôo perfurou meu estômago quando eu percebi o quão curto o tempo realmente era. Claro que esta mudança era necessária - é a chave para o que eu mais quero que tudo no mundo reunido - mas eu estava profundamente consciente de Charlie, sentado no outro quarto desfrutando o jogo dele, só ao vivo a cada duas noites. E minha mãe, Renee, longe na Flórida ensolarada, que ainda suplica para eu passar o verão na praia com ela e o novo marido dela.
E Jacob, que, diferente dos meus pais, saberia exatamente o que ia acontecer comigo quando eu desaparecesse para alguma escola distante. Se os meus pais não ficassem suspeitando depois de muito tempo, mesmo que eu pudesse evitar visitas com desculpas sobre custos da viagem, muito pra estudar ou doença, Jacob saberia da verdade.
Por um momento, a dor da repulsa de Jacob ultrapassou qualquer outra dor.
"Bella", Edward murmurou, o rosto dele se contorcendo quando ele leu a angústia no meu. "Não tem pressa. Eu não vou deixar ninguém te machucar. Você pode usar de todo o tempo que precisar."
"Eu quero me apressar", eu sussurrei, sorrindo fracamente, tentando fazer piada do assunto. "Eu quero ser um monstro também."
Os dentes dele se trincaram; ele falou entre eles.
"Você não faz idéia do que está dizendo." Abruptamente ele jogou o jornal amassado na mesa entre nós. Os dedos dele bateram na linha principal na primeira página:
CRESCE O ÍNDICE DE MORTE, POLÍCIA TEME ATIVIDADE DE GANGUE
"O que isso tem a ver com alguma coisa?"
"Monstros não são uma piada, Bella."
Eu olhei para a manchete de novo, e depois para a sua expressão dura.
"Um... vampiro está fazendo isso?", eu sussurrei.

Ele sorriu sem humor, sua voz estava baixa e fria.
"Você ficaria surpresa, Bella, por saber o quão frequentemente a minha espécie está envolvida nessas horrorosas manchetes humanas. É fácil reconhecer, quando você sabe o que procurar. A informação aqui indica que há um vampiro recém nascido em Seattle. Sedento por sangue, selvagem, fora de controle. Do jeito que todos nós somos."
Eu deixei os meus olhos caírem para o papel de novo, evitando os olhos dele.
"Nós estivemos monitorando a situação por algumas semanas. Todos os sinais estão aí - os desaparecimentos improváveis, os cadáveres mal dispostos, a falta de outras provas... Sim, alguém ainda novo. E ninguém parece estar se responsabilizando pelo neófito...", ele respirou fundo. "Bem, não é problema nosso. Nós nem prestaríamos atenção nessa situação se não fosse tão próximo de casa. Como eu disse, isso acontece o tempo inteiro. A existência de monstros resulta em conseqüências monstruosas."
Eu tentei não ver os nomes na página, mas eles se destacavam das outras palavras na folha como se estivessem em negrito. As cinco pessoas cujas vidas estavam acabadas, cujas famílias estavam de luto agora. Era diferente considerar a forma abstrata dos assassinatos lendo esses nomes agora. Maureen Gardiner, Geoffrey Campbell, Grace Razi, Michelle O' Connell, Ronald Albrook. Pessoas que tinham pais e filhos e amigos e bichos de estimação e empregos e esperanças e planos e memórias e futuros...
"Não será o mesmo pra mim", eu cochichei, meio pra mim mesma. "Você não vai me deixar ser assim. Vamos morar na Antártida."
Edward bufou, quebrando a tensão.
"Pingüins. Adorável."
Eu dei uma gargalhada tremendo e joguei o jornal pra fora da mesa pra que eu não pudesse mais ver aqueles nomes; ele bateu na madeira com um estrondo. É claro que Edward iria considerar as opções de caça. Ele e a sua família "vegetariana" - todos compromissados a proteger vidas humanas - preferiam o sabor de grandes predadores pra satisfazer as necessidades de sua dieta.

"Alaska, então, como o planejado. Só que um lugar muito mais remoto que Juneau - algum lugar com ursos pardos."
"Melhor", ele permitiu. "Lá tem ursos polares também. Muito furiosos. E os lobos ficam muito grandes."
Minha boca se abriu e a respiração saiu numa contração afiada.
"Qual é o problema?", ele perguntou. Antes que eu pudesse me recuperar, a confusão desapareceu do rosto dele e o corpo inteiro dele pareceu ficar duro.
"Oh. Esqueça dos lobos então, se a idéia te ofende", a voz dele estava dura, formal, seus ombros estavam rígidos.
"Ele era o meu melhor amigo, Edward", eu murmurei. Eu fiquei machucada por usar o tempo passado. "É claro que a idéia me ofende."
"Por favor, perdoe a minha falta de consideração", ele disse, ainda muito formal. "Eu não deveria ter sugerido isso."
"Não se preocupe com isso", eu olhei para as minhas mãos, fechadas nos meus pulsos em cima da mesa.
Nós dois ficamos em silêncio por um momento, e depois seu dedo frio estava embaixo do meu queixo, levantando o meu rosto. A expressão dele estava muito mais suave agora.
"Desculpe. Mesmo."
“Eu sei. Eu sei que não é a mesma coisa. Eu não devia ter reagido daquele jeito. É só que... bem, eu já estava pensando em Jacob antes de você chegar." Eu hesitei. Seus olhos pareciam sempre ficar um pouco mais escuros quando eu falava o nome de Jacob. Em resposta, a minha voz se tornou implorativa. "Charlie disse que Jake está passando por dificuldades. Ele está machucado agora, e... é minha culpa."
"Você não fez nada errado, Bella."
Eu respirei fundo.
"Eu preciso melhorar as coisas, Edward. Eu devo isso a ele. E, além do mais, é uma das condições de Charlie-"
O rosto dele mudou enquanto eu falava, ficando duro de novo, como estátua.
"Você sabe que está fora de questão você ficar perto de um lobisomem desprotegida, Bella. E se algum de nós passasse as barreiras das terras deles, estaria quebrando o acordo. Você quer que nós comecemos uma guerra?"
"É claro que não!"

"Então não há nenhum sentido em levar essa discussão adiante." Ele deixou a mão cair e desviou o olhar, procurando por uma mudança de assunto. Os olhos dele pararam em alguma coisa atrás de mim, e ele sorriu, apesar dos olhos dele estarem cautelosos.
"Eu fico feliz que Charlie tenha deixado você sair - você está precisando tristemente fazer uma visita a uma livraria. Eu não posso acreditar que você está lendo O morro dos ventos uivantes de novo. Você já não sabe ele de cor?"
"Nem todos nós temos memória fotográfica", eu disse curtamente.
"Com memória fotográfica ou não, eu não entendo por que você gosta disso. Os personagens são só pessoas que arruínam a vida uns dos outros. Eu não consigo entender como Heathcliff e Cathy acabaram sendo comparados a casais como Romeu e Julieta ou Elizabeth Bennett e Sr. Darcy. Essa não é uma história de amor, é uma história de ódio."
"Você tem sérios problemas com os clássicos", eu disparei.
"Talvez seja porque eu não fico impressionado com antiguidades."
Ele sorriu, evidentemente satisfeito por ter me distraído.
"No entanto, honestamente, por que é que você lê isso de novo e de novo?" Os olhos dele estavam vívidos com real interesse agora, tentando - de novo - desvendar os complicados trabalhos da minha mente. Ele se inclinou na mesa pra pegar o meu rosto nas mãos dele. "Por que isso é apelativo pra você?"
A sincera curiosidade dele me desarmou.
"Eu não tenho certeza", eu disse, lutando pra ser coerente enquanto o olhar dele não intencionalmente confundia os meus pensamentos. "É alguma coisa relacionada a inevitabilidade. Como nada consegue mantê-los separados - nem o egoísmo dela, nem o mau dele, e no fim, nem mesmo a morte..."
O rosto dele estava pensativo enquanto ele pensava nas minhas palavras. Depois de um momento, ele deu um sorriso de zombaria.
"Eu ainda preferiria se um deles tivesse uma qualidade que os redimisse."
"Eu acho que é disso que eu estou falando", eu discordei. "O amor deles é a única qualidade que os redime."

"Eu espero que você tenha mais senso que isso - se apaixonar por alguém tão... maligno."
"É um pouco tarde pra me preocupar com a pessoa pela qual eu vou me apaixonar", eu apontei. "Mas mesmo sem o aviso, eu pareço ter me saído muito bem."
Ele riu baixinho.
"Eu me alegro que você pense isso."
"Bem, eu espero que você seja esperto o suficiente pra ficar longe de alguém tão egoísta. A fonte de todo o problema na verdade é Catherine, não Heathcliff."
"Eu vou ficar de olho", ele prometeu.
Eu suspirei. Ele era muito bom com distrações.
Eu coloquei a minha mão em cima da dele pra segurá-la no meu rosto.
"Eu preciso ver Jacob."
Ele fechou os olhos.
"Não."
"Não é assim tão perigoso", eu disse, implorando de novo. "Ei, eu costumava passar o tempo inteiro em La Push com eles e nada nunca aconteceu."
Mas eu cometi um deslize: minha voz falhou no final, porque eu me dei conta de que estava dizendo palavras que não eram verdade. Não era verdade que nada nunca aconteceu. Um breve flash de memória - um enorme lobo cinza se preparando pra saltar, mostrando seus dentes afiados como facas pra mim - fez as palmas das minhas mãos suarem com o eco do pânico relembrado.
Edward ouviu o meu coração acelerar e balançou a cabeça como se eu tivesse desmentido tudo em voz alta.
"Lobisomens são instáveis. Às vezes as pessoas que estão por perto acabam se machucando. Às vezes, elas morrem."
Eu queria negar isso, mas outra imagem parou a minha resposta. Eu vi em minha cabeça o rosto da um dia linda Emily Young, agora marcada por um trio de cicatrizes escuras que arrastavam o canto do seu olhos direito e da sua boca que ficaram presos pra sempre numa careta permanente.
Ele esperou, presumidamente triunfante, que eu encontrasse a minha voz.
"Você não os conhece", eu sussurrei.
"Eu os conheço melhor do que você pensa, Bella. Eu estava lá da última vez."
"Da última vez?"

"Nós começamos a cruzar caminhos com os lobisomens há cerca de setenta anos... Nós havíamos acabado de chegar em Hoquiam. Isso foi antes de Alice e Jasper estarem conosco. Nós éramos um número maior que eles, mas isso não impediria que a coisa se tornasse uma briga se não fosse por Carlisle. Ele conseguiu convencer Ephraim Black de que coexistir era possível, e eventualmente nós fizemos a trégua."
O nome do bisavô de Jacob me surpreendeu.
"Nós pensamos que a linhagem havia morrido com Ephraim", Edward murmurou; agora parecia que ele estava falando pra si mesmo. "Pensamos que a genética que permite a mutação estava perdida..." Ele parou e olhou pra mim acusadoramente. "A sua má sorte parece ficar mais forte a cada dia. Será que você se dá conta de que sua tendência insaciável a todas as coisas letais foi forte o suficiente pra recuperar um bando de caninos mutantes em extinção? Se nós pudéssemos colocar a sua má sorte em uma garrafa, nós teríamos uma arma de destruição em massa em nossas mãos."
Eu ignorei a piada, minha atenção ficou presa na suposição dele - ele estava falando sério?
"Mas não fui eu quem os trouxe de volta. Você não sabe?"
"Sabe do que?"
"A minha má sorte não tem nada a ver com isso. Os lobisomens voltaram porque os vampiros voltaram."
Edward me encarou, seu corpo ficou imóvel com a surpresa.
"Jacob me disse que a sua família estar aqui fez as coisas se movimentarem. Eu pensei que você já sabia..."
Os olhos dele se estreitaram.
"É isso que eles pensam?"
"Edward, olhe para os fatos. Há setenta anos atrás você veio pra cá e os lobisomens apareceram também. Você voltou agora e os lobisomens apareceram de novo. Você acha que é coincidência?"
Ele piscou e o seu olhar relaxou.
"Carlisle ficará interessado nessa teoria."
"Teoria", eu zombei.
Ele ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela para a chuva; eu imaginei que ele estava contemplando a idéia de que a presença dele e de sua família estava transformando os moradores locais em cachorros gigantes.

"Interessante, mas não exatamente relevante", ele murmurou de repente. "A situação continua a mesma."
Eu podia traduzir isso facilmente: nada de amigos lobisomens.
Eu sabia que tinha de ser paciente com Edward. Não era que ele não estava sendo razoável, é só que ele não conseguia entender. Ele não fazia idéia do quanto eu devia a Jacob Black - minha vida muitas vezes acabada, e possivelmente a minha sanidade também. Eu não queria mais falar desses tempos estéreis, e Edward especialmente também não. Ele estava apenas tentando me salvar quando foi embora, tentando salvar minha alma.
Eu não o responsabilizava por todas as coisas estúpidas que havia feito na ausência dele, ou pela dor que eu sofri. Ele se responsabilizava.
Então eu teria que colocar a minha explicação em palavras muito cuidadosamente. Eu me levantei e rodeei a mesa, ele abriu os braços e eu me sentei no colo dele, me aconchegando no seu abraço frio como pedra. Eu olhei para as mãos dele enquanto falava.
"Por favor, me ouça por um minuto. Isso é muito mais do que um gesto de caridade com um amigo antigo. Jacob está sofrendo." Minha voz se contorceu na palavra. "Eu não posso não tentar ajudá-lo - eu não posso desistir dele agora, quando ele precisa de mim. Só porque ele não é humano o tempo inteiro... Bem, ele estava lá por mim quando eu estava..." Eu hesitei. Os braços de Edward estavam rígidos ao meu redor; as mãos dele estavam nos punhos agora, os tendões dele se destacam. "Se Jacob não tivesse me ajudado... Eu não tenho certeza do que você encontraria ao voltar pra casa. Eu tenho que tentar melhorar as coisas. Eu devo-lhe mais que isso, Edward."
Eu olhei para o rosto dele cautelosamente. Os olhos dele estavam fechados e a mandíbula dele estava trincada.
"Eu nunca vou me perdoar por ter te deixado", ele murmurou, "Nem se eu viver cem mil anos."
Eu coloquei a minha mão no seu rosto frio e esperei até que ele suspirou e abriu os olhos.

"Você só estava tentando fazer a coisa certa, e eu tenho certeza de que teria funcionado com alguém menos louco que eu. Além do mais, você está aqui agora. Essa é a parte que importa."
"Se eu não tivesse ido embora, você não estaria tendo que arriscar sua vida pra confortar um cachorro."
Eu vacilei. Eu estava acostumada a Jacob e os seus apelidos pejorativos - sugador de sangue, sanguessuga, parasita... De alguma forma, eles pareciam mais ofensivos na voz aveludada de Edward.
"Eu não sei como frasear isso apropriadamente", Edward disse, e o tom dele ficou vazio. "Vai soar cruel, eu acho. Mas eu já cheguei perto de te perder no passado. Eu sei como me sinto só de pensar nisso. Eu não vou tolerar nada perigoso."
"Você precisa confiar em mim nisso. Eu vou ficar bem."
O rosto dele demonstrou dor de novo.
"Por favor, Bella", ele sussurrou.
Eu olhei dentro dos seus olhos dourados, repentinamente flamejantes. "Por favor o que?"
"Por favor, por mim. Faça um esforço consciente pra se manter em segurança. Eu farei tudo o que puder, mas eu apreciaria um pouco de ajuda."
"Eu vou trabalhar nisso", eu murmurei.
"Você realmente tem alguma idéia do quanto é importante pra mim? Algum conceito do quanto eu te amo?" Ele me segurou com mais força contra o peito, colocando a minha cabeça embaixo do queixo dele.
Eu pressionei meus lábios no pescoço frio como neve dele.
"Eu sei o quanto eu amo você", eu respondi.
"Você está comparando uma pequena árvore a uma floresta inteira."
Eu revirei meus olhos, mas ele não podia ver.
"Impossível.”
Ele beijou o topo da minha cabeça e suspirou.
"Nada de lobisomens."
"Eu não vou seguir isso. Eu tenho que ver Jacob."
"Então eu vou ter que te impedir."
Ele parecia extremamente confiante de que isso não seria um problema.
Eu tinha certeza de que ele estava certo.
"Nós veremos isso", eu blefei do mesmo jeito. "Ele ainda é meu amigo."

Eu podia sentir o bilhete de Jacob no meu bolso, como se de repente ele pesasse dez quilos. Eu podia ouvir as palavras na voz dele, e ele parecia concordar com Edward - coisa que jamais aconteceria na realidade.

Isso não muda nada. Desculpe.

 

Capítulo 2 - Fuga

Eu me senti estranhamente contente enquanto caminhava da aula de Espanhol em direção ao refeitório, e não era só porque eu estava de mãos dadas com a pessoa mais perfeita do planeta, apesar de que essa era certamente parte da razão.
Talvez fosse o conhecimento de que a minha sentença estava acabada e eu era uma mulher livre novamente.

Ou talvez não tivesse nada a ver comigo especificamente. Talvez fosse a atmosfera de liberdade que pairava sobre o campus inteiro. As aulas estavam acabando e, especialmente para a classe do último ano, havia uma alegria perceptível no ar.

A liberdade estava tão próxima que era tocável, degustável. Os sinais dela estavam em todo lugar. Posters se amontoavam nas paredes do refeitório, e as latas de lixo usavam uma vestimenta colorida amontoada de panfletos: lembretes pra comprarmos os livros do ano, anéis de classes, e anúncios; prazos para as roupas da formatura, chapéus e borlas; panfletos de vendas cor de néon – a campanha dos alunos calouros para a coordenação da sala; anúncios mau-agourentos, decorados com rosas, sobre o baile desse ano. O grande baile era no próximo fim de semana, mas eu tinha uma promessa inquebrável de Edward de que eu não seria submetida áquilo de novo. Afinal de contas, eu já havia passado por aquela experiência humana.

Não, devia ser a minha liberdade pessoal que me iluminava hoje. O fim do calendário escolar não me trouxe o mesmo prazer que parecia trazer aos outros alunos. Na verdade, eu me sentia nervosa a ponto de sentir náuseas toda vez que pensava nisso. Eu tentava não pensar nisso.

“Você já enviou seus convites?” Angela perguntou quando Edward e eu nos sentamos em nossa mesa. Ela tinha o cabelo castanho claro preso para trás em um rabo-de-cavalo em vez de seu lizo natural, e havia um olhar ligeramente frenético em seus olhos.

Alice e Ben já estavam lá também, cada um em um lado de Angela. Ben estava atento a um Gibi, seus óculos escorregando pelo seu nariz fino. Alice estava examinando meu Jeans-e-camiseta sem graça de um jeito que me deixou constrangida. Provavelmente planejando outro look. Eu suspirei. Minha atitude indiferente em relação à moda aborrecia Alice. Se eu deixasse, ela amaria me vestir todo dia – talvez várias vezes ao dia – como alguma boneca de papel tridimensional extra-grande.

"Não," eu respondi a Angela. "Não faz sentido, de verdade. Renée sabe quando eu me formo. Quem mais há?"

"E você, Alice?

Alice sorriu. "Tudo feito."

"Sorte sua." Angela suspirou. "Minha mãe tem uns mil primos e espera que eu escreva o endereço para todo mundo. Vou ficar com dor no pulso. Eu não posso adiar muito isso e estou meio assustada.

"Eu posso ajudá-la," Eu me ofereci. "Se você não se importar com a minha letra horrível."

Charlie gostaria isso. Pelo canto do olho, viu Edward sorrir. Ele devia gostar daquilo também - de mim cumprindo as condições de Charlie sem envolver lobisomens.

Angela pareceu aliviada. "Que legal da sua parte. Eu virei a qualquer hora que você quiser."

"Na verdade, eu prefiro ir à sua casa se estiver tudo bem - Estou cansada da minha. Charlie me liberou noite passada." Eu sorri enquanto contava as boas notícias.

"Sério?" Angela perguntou, um suave excitamento iluminou seus olhos castanhos sempre gentis "Pensei que você tinha dito que estava de castigo pelo resto da vida."–

"Estou mais surpresa que você. Eu tinha certeza que iria pelo menos ter terminado o ensino médio antes de ele me deixar livre".

"Bem, isso é ótimo, Bella! Nós temos que sair para comemorar."

"Você tem idéia de como isso é bom."

"O que deveríamos fazer?" Alice meditou, sua face se iluminando com as possibilidades. As idéias de Alice geralmente eram um pouco grandiosas para mim, e eu podia ver isso em seus olhos agora – a tendência de fazer coisas longe demais virando ação.

“O que quer que você esteja pensando, Alice, eu duvido que esteja livre para isso.”

“Livre é livre, certo?“ ela insistiu.

“Tenho certeza que eu ainda tenho limites – como o continente estado-unidense, por exemplo.

Angela e Ben riram, mas Alice fez uma careta de verdadeiro desapontamento.

“Então o que nós vamos fazer hoje à noite?” ela persistiu.

“Nada. Olhe, vamos dar uns dois dias para ter certeza de que ele não estava brincando. É uma noite de escola, de qualquer forma.”

“Nós vamos comemorar esse final de semana, então.” O entusiasmo de Alice era impossível de reprimir.

“Claro – eu disse, esperando aplacá-la. Eu sabia que não estava indo fazer nada longe demais; seria mais seguro ir devagar com Charlie. Dar a ele a chance de avaliar quão merecedora de confiança e madura eu era antes de pedir qualquer favor.

Angela e Alice começaram a falar sobre opções; Ben se juntou à conversa, colocando seu Gibi de lado. Minha atenção se desviou. Eu estava surpresa por descobrir que o assunto da minha liberdade de repente não era tão agradável quanto há apenas um momento trás. Enquanto eles discutiam coisas para fazer em Port Angeles ou talvez em Hoquiam, eu comecei a me sentir decepcionada.

Não demorei muito para determinar de onde veio minha impaciência.

Desde quando eu disse adeus para Jacob Black na floresta além da minha casa, eu tinha sido infeccionada por uma persistente e desconfortável invasão de uma figura mental específica. Ela entrava nos meus pensamentos em intervalos regulares como algum incômodo despertador programado para tocar a cada meia hora, enchendo minha cabeça com a imagem do rosto de Jacob contorcido de dor. Esta era a última memória que eu tinha dele.

Conforme a perturbadora visão me atingia novamente, eu sabia exatamente por que eu estava insatisfeita com a minha liberdade. Porque era incompleta.

Claro, eu estava livre para ir a qualquer lugar que eu quisesse – exceto La Push; livre para fazer qualquer coisa que eu quisesse – exceto ver Jacob. Olhei a mesa com desagrado. Tinha que haver algum tipo de território intermediário.

"Alice? Alice!"

A voz de Angela me arrancou do meu devaneio. Ela estava agitando sua mão para frente e para trás diante do rosto pálido de Alice, olhando-a fixamente. A expressão de Alice era algo que eu reconhecia – uma expressão que produziu um automático choque de pânico dentro do meu corpo. O olhar vago em seus olhos me disse que ela estava vendo alguma coisa muito diferente da cena do refeitório mundando que nos cercava, mas algo de que cada pedaço era tão verdadeiro do seu próprio modo. Alguma coisa estava vindo, alguma coisa que aconteceria logo. Eu senti o sangue sumir do meu rosto.

Então Edward riu, um som muito natural, tranqüilo. Angela e Ben olharam em direção a ele, mas meus olhos estavam presos em Alice. Ela pulou de repente, como se alguém a tivesse chutado por debaixo da mesa.

“Já é hora de dormir, Alice?” Edward provocou.

Alice voltou a si novamente. “Desculpem, eu estava sonhando acordada, acho.”

“Sonhar acordada é melhor do que encarar mais duas horas de aula.” Ben disse.

Alice voltou à conversa com mais animação que antes – só um pouquinho demais. Uma vez eu vi seus olhos se prenderem aos de Edward, só por um momento, e então ela olhou de volta para Angela antes que alguém mais notasse. Edward estava quieto, brincando inconscientemente com um fio do meu cabelo.

Eu esperei ansiosamente por uma chance de perguntar a Edward o que Alice tinha visto em sua visão, mas a tarde se passou sem que pudéssemos ficar um minuto do tempo a sós.

Isso parecia estranho para mim, quase proposital. Depois do almoço, Edward reduziu a velocidade do seu passo para acompanhar Ben, conversando sobre alguma tarefa que eu sabia que ele já tinha terminado. Então havia sempre alguém mais lá entre as aulas, embora nós geralmente tivéssemos uns poucos minutos para nós mesmos. Quando o último sinal tocou, Edward iniciou uma conversa com Mike Newton de todas as pessoas, diminuindo o passo ao lado dele enquanto Mike se direcionava para o estacionamento. Eu me arrastava atrás, deixando Edward me rebocar adiante.
Eu ouvia, confusa, enquanto Mike respondia às incomuns perguntas amigáveis de Edward. Parecia que Mike estava tendo problemas com o carro.

"...mas eu só repus a bateria." Mike estava dizendo. Seu olhar lançava-se para frente e então de volta para Edward cautelosamente. Mistificado, assim como eu estava.

"Talvez sejam os cabos" Edward sugeriu.

"Talvez. Eu realmente não sei nada sobre carros." Mike admitiu. "Eu preciso que alguém dê uma olhada, mas eu não posso deixar isso para Dowling.

Eu abri minha boca para sugerir meu mecânico, e então a fechei de novo. Meu mecânico estava ocupado esses dias – ocupado correndo por aí como um lobo gigante.

"Eu sei algumas coisas, eu posso dar uma olhada, se você quiser." Edward ofereceu. "Só me permita deixar Alice e Bella em casa.

Mike e eu encaramos Edward juntos de bocas abertas.

"Hã... obrigado." Mike murmurou quando ele se recuperou. "Mas eu tenho que ir trabalhar. Talvez uma outra hora."

"Absolutamente."

"Até mais." Mike entrou em seu carro, sacudindo a cabeça em incredulidade.

O Volvo de Edward, com Alice já dentro, estava só dois carros à distância.

"O que foi aquilo?" eu murmurei enquanto Edward segurava a porta do passageiro para mim.

"Só sendo prestativo." Edward respondeu.

E então Alice, esperando no banco de trás, estava tagarelando na maior velocidade.

"Você realmente não é tão bom mecânico, Edward. Talvez você devesse fazer Rosalie dar uma olhada nisso esta noite, apenas de modo que você pareça bom se Mike decidir deixar você ajudar, sabe. Não que não fosse ser divertido ver a cara dele se Rosalie descobrisse como ajudar. Mas desde que supõe-se que Rosalie esteja do outro lado do país fazendo faculdade, eu acho que essa não é a melhor idéia. Ruim demais. Embora eu suponha que, para o carro do Mike, você sirva. Só dentro dos tunings mais finos de um bom carro esportivo italiano você está fora do seu departamento. E falando da Itália e de carros esportivos que eu roubei lá, você ainda me deve um Porshe amarelo. Eu não sei se eu quero esperar pelo Natal..."

Eu parei de ouvir depois de um minuto, deixando sua voz rápida se tornar só um zumbido ao fundo enquanto eu me concentrava no meu modo paciente.
Para mim, parecia que Edward estava tentando evitar minhas perguntas. Legal. Ele teria que ficar sozinho comigo breve o bastante. Era só uma questão de tempo.

Edward pareceu entender isso também. Ele deixou Alice na boca da garagem dos Cullen como o habitual, embora a esse ponto eu meio que esperava que ele a levasse à porta e a encaminhasse para dentro.

Enquanto ela saía, Alice lançou um olhar penetrante para o rosto dele. Edward parecia completamente tranqüilo.

"Vejo você depois." ele disse. E então, muito levemente, ele acenou com a cabeça.
Alice virou para desaparecer nas árvores.

Ele estava calado enquanto virava o carro em volta e conduzia de volta a Forks. Eu esperei, imaginando se ele iria começar. Ele não começou, e isso me deixou tensa. O que Alice tinha visto hoje no almoço? Algo que ele não queria me dizer, e eu tentei pensar numa razão pela qual ele iria guardar segredos. Talvez fosse melhor me preparar antes de perguntar. Eu não queria ficar fora de mim e deixá-lo pensar que eu não podia lidar com isso, o que quer que fosse.

Então nós dois ficamos em silêncio até voltarmos à casa de Charlie.

" A carga de dever de casa pode esperar por esta noite".

"Mmm" eu concordei.

"Você acha que eu possa entrar de novo?"

"Charlie não se alterou quando você me buscou na escola."

Mas eu tinha certeza que Charlie iria ficar rapidamente zangado quando ele chegasse em casa e encontrasse Edward aqui. Talvez eu devesse fazer algo extra-especial para o jantar.

Lá dentro, eu subi as escadas e Edward me seguiu. Ele espreguiçou-se na minha cama e olhou fixamente para a janela, parecendo esquecer-se do meu nervosismo.
Eu arrumei minha mochila e liguei o computador. Havia um e-mail não respondido da minha mãe para eu me preocupar, e ela entrava em pânico quando eu demorava muito. Eu tamborilei meus dedos enquanto esperava pelo meu computador muito idoso acordar ruidosamente; eles batiam contra a mesa, rápidos e ansiosos.

E então os dedos dele estavam nos meus, segurando-os tranqüilos.

"Nós estamos um pouco impacientes hoje?" ele murmurou.

Eu olhei para cima, tencionando fazer uma observação sarcástica, mas o rosto dele estava mais próximo do que eu esperava. Seus olhos dourados estavam queimando, afastados apenas centímetros, e sua respiração estava fria contra meus lábios abertos. Eu podia sentir o gosto do seu cheiro na minha língua.

Eu não consegui lembrar da resposta mordaz que eu quase tinha feito. Eu não conseguia lembrar do meu nome.

Ele não me deu a chance de me recuperar.

Se as coisas fossem do meu jeito, eu passaria a maior parte do meu tempo beijando Edward. Não havia nada que eu tivesse experimentado na minha vida que se comparasse à sensação dos lábios dele, frios e duros como mármore, mas sempre tão gentis, se movendo com os meus.

As coisas geralmente não eram do meu jeito.

Então me surpreendi um pouco quando seus dedos se entrelaçaram no meu cabelo, segurando meu rosto com eles. Meus braços se prenderam ao seu pescoço, e eu desejei que fosse mais forte – forte o bastante para mantê-lo prisioneiro aqui.

Uma mão escorregou para as minhas costas, me pressionando mais apertado contra seu peito de pedra. Mesmo sob seu suéter, a pele dele estava fria o bastante para me fazer tremer – era um tremor de satisfação, de felicidade, mas suas mãos começaram a afrouxar em resposta.

Eu sabia que eu tinha mais ou menos três segundos antes de ele suspirar e me empurrar para longe com jeito, dizendo alguma coisa sobre como nós tínhamos arriscado minha vida o suficiente por uma tarde. Aproveitando-me ao máximo dos meus últimos segundos, me pressionei mais para perto, moldando-me à forma dele. A ponta da minha língua traçou a curva do seu lábio inferior; era tão perfeitamente macio como se tivesse sido envernizado, e o gosto...

Ele colocou meu rosto longe do dele, quebrando meu abraço com facilidade – ele provavelmente não tinha nem percebido que eu estava usando toda a minha força.
Ele soltou um risinho uma vez, um som baixo, gutural. Seus olhos estavam resplancedentes com a excitação que ele tão rigidamente controlava.

"Ah, Bela." Ele suspirou.

"Eu diria que sinto muito, mas eu não sinto."

"E eu deveria sentir muito por você não sentir muito, mas eu não sinto. Talvez eu devesse sentar na cama."

Exalei um pouco vertiginosamente. “Se você acha que isso é... necessário."

Ele deu um sorriso torto e se soltou.

Balancei a cabeça algumas vezes, tentando clareá-la, e voltei ao computador. Estava tudo animado e cantarolando. Bem, não cantorolando tanto quanto suspirando.

"Diz a Renée que eu estou mandando um oi."

"Com certeza."

Olhei atenciosamente o e-mail de Renée, sacudindo minha cabeça de vez em quando por conta de algumas maluquices que ela havia feito. Eu estava tão horrorizada e entretida quanto na primeira vez em que havia lido isto. Ela se esqueceu de como tinha medo de alturas até estar presa num pára-quedas e ter pulado com o instrutor. Me senti um pouco desapontada com Phil, marido dela há quase dois anos, por permitir isso. Eu teria cuidado dela melhor. A conhecia melhor.

Tenho que finalmente deixá-los seguirem o próprio caminho, lembrei a mim. Tenho que deixá-los terem a própria vida...

Eu havia passado a maior parte de minha vida cuidando de Renée, afastando-a de suas loucuras o mais gentilmente possível. Sempre fui boa para minha mãe, me divertia com ela, até mesmo eu era um pouco condescendente a ela. Eu via a cornucópia de erros dela e ria comigo mesma. Renée avoada.

Eu era uma pessoa muito diferente de minha mãe. Alguém pensativa e cautelosa. A responsável, a adulta. Assim é como eu me via. Essa era pessoa que eu conhecia.

Com o sangue ainda palpitando em minha cabeça por conta do beijo de Edward, eu nem podia contar a maioria de erros que mudaram a vida de minha mãe. Tonta e romântica, havia se casado com um homem que ela apenas conhecia sem ter terminado o segundo grau, me tendo um ano depois. Ela sempre me jurou que não tinha nenhum arrependimento, que eu era o melhor presente que vida já havia lhe dado. E ela vivia me repetindo - pessoas inteligentes levam o matrimônio a serio. Pessoas ajuizadas vão para a faculdade e começam carreiras antes que de se aprofundem em um relacionamento. Ela sabia que eu nunca seria tão imprudente, estúpida e provinciana.

Trinquei meus dentes e tentei me concentrar enquanto respondia a carta dela.

Aí eu ví a primeira linha dela e me lembrei do porque de eu haver negligenciado escrever pra ela mais cedo.
Você não diz nada sobre Jacob ha muito tempo., ela tinha escrito. O que está acontecendo nesses dias?
Charlie estava influenciando ela, eu tinha certeza.
Eu suspirei e teclei rapidamente, respondendo à pergunta dela entre dois parágrafos menos sensíveis.

Jacob está bem, eu acho. Eu não o vejo muito; ele passa a maior parte do tempo com o seu bando de amigos lá em La Push ultimamente.

Sorrindo bobamente para mim mesma, eu acrescentei a saudação de Edward e apertei "send".
Eu não me dei conta de que Edward estava silenciosamente de pé atrás de mim até que eu desliguei o computador e me afastei da mesa. Eu estava prestes a passar um sermão nele por estar lendo por cima do meu ombro quando eu me dei conta de que ele não estava prestando atenção em mim. Ele estava examinando uma caixa achatada com fios encaracolados desordenadamente longe do quadrado principal de uma maneira que não parecia saudável pra o que quer que fosse. Depois de um segundo, reconhecí o som para carros que Emmett, Rosalie e Jasper haviam me dado pelo meu último aniversário. Eu havia esquecido dos presentes que estavam escondidos embaixo de uma pilha crescente de poeira no chão do meu closet.
"Porque você fez isso?", ele perguntou com uma voz horrorizada.
"Ele não queria sair do painél".
"E você sentiu necessidade de torturá-lo?"
"Você sabe como eu sou com ferramentas. Nenhuma dor foi inflingida intencionalmente".
Ele balançou a cabeça, o rosto dele era uma máscara falsa de tragédia. "Você o matou".
Eu levantei os ombros. "Oh, bem."
"Magoaria os sentimentos deles se eles vissem isso", ele disse. "Eu acho que foi bom você ter ficado confinada em casa. Eu vou ter que colocar outro no lugar antes que eles reparem".
"Obrigada, mas eu não preciso de um som chique".
"Não é para o seu bem que eu vou repô-lo".
Eu suspirei.

"Você não fez muito bom uso dos seus presentes de aniversário do ano passado", ele disse com uma voz estranha. De repente, ele estava se abanando com um retângulo rígido de papel.
Eu não respondí, com medo de que a minha voz fosse falhar. O meu desastroso aniversário de dezoito anos - com todas as suas consequências a longo prazo - não era uma coisa que eu fazia questão de lembrar, e eu estava surpresa por ele tê-lo mencionado. Ele era ainda mais sensível em relação a isso do que eu.
"Você se dá conta de que elas estão prestes a expirar?" ele perguntou, segurando o papel pra mim. Era outro presente - os vales para passagens de avião que Esme e Carlisle haviam me dado pra que eu pudesse visitar Renée na Flórida.
Eu respirei fundo e respondí com uma voz vazia. "Não. Eu havia esquecido de todos eles, na verdade".
A expressão dele estava cautelosamente luminosa e positiva; não havia nenhum traço de emoção mais profundo quando ele continuou. "Bem, nós ainda temos um pouco de tempo. Você foi liberada... e nós não temos planos para esse fim de semana, já que você se recusa a ir ao baile comigo". Ele sorriu. "Porque não celebrar a sua liberdade desse jeito?"
Eu ofeguei. "Indo para a Flórida?"
"Você disse alguma coisa sobre o E.U continental ser permitido."
Eu encarei ele, suspeitosamente, tentando entender de onde isso tinha vindo.
"Bem?", ele quis saber. "Nós vamos ver Renée ou não?"
"Charlie nunca vai permitir".
"Charlie não pode te impedir de visitar a sua mãe. Ela ainda tem a sua custódia primária".
"Ninguém tem minha custódia. Eu sou uma adulta".
Ele deu um sorriso brilhante. "Exatamente".
Eu pensei nisso por um breve minuto antes de decidir que a briga não valia a pena. Charlie ia ficar furioso - não porque eu ia visitar Renée, mas porque Edward ia vir comigo. Charlie não falaria comigo por meses, e eu provavelmente acabaria de castigo de novo. Eu definitivamente era esperta o suficiente pra nem sequer tocar no assunto. Talvez daqui a algumas semanas,como um favor pela formatura, ou alguma coisa assim.

Mas a idéia de ver minha mãe agora, e não semanas mais tarde, era difícil de resistir. Já fazia tanto tempo desde que eu ví Renée. E ainda mais tempo desde que eu a ví em circunstâncias prazeirosas. A última vez em que eu estive com ela em Phoenix, eu passei o tempo inteiro em uma cama de hospital. Da última vez que ela havia vindo aqui, eu estive mais ou menos catatônica. Não exatamente a melhor memória pra deixar com ela.
E talvez, se ela visse o quanto eu estava feliz com Edward, ela podia dizer pra Charlie relaxar.
Edward observou o meu rosto enquanto eu considerava.
Eu suspirei. "Esse fim de semana não".
"Porque não?"
"Eu não quero brigar com Charlie. Não tão pouco tempo depois de ele ter me perdoado".
As sobrancelhas dele se uniram. "Eu acho que esse fim de semana é perfeito", ele murmurou.
Eu balancei minha cabeça. "Outra hora".
"Você não é a única que esteve presa nessa casa, sabe?" Ele fez uma careta pra mim.
A suspeita retornou. Esse tipo de comportamento não era natural dele. Ele era tão impossivelmente altruísta; eu sabia que isso estava me deixando mimada.
"Você pode ir onde você quiser", eu apontei.
"O mundo exterior não possui nenhum interesse pra mim sem você".
Eu rolei os meus olhos à hiperbole.
"Eu estou falando sério", ele disse.
"Vamos ver o mundo exterior lentamente, tá certo? Por exemplo, nós podíamos começar com um filme em Port Angeles..."
Ele rosnou. "Esqueça. Nós falaremos sobre isso mais tarde".
"Não há mais nada para falar".
Ele ergueu os ombros.
"Ok, então, novo assunto", eu disse. Eu quase havia me esquecido sobre as minhas preocupações dessa tarde - será que essa era a intenção? "O que Alice viu durante o almoço?"
Os meus olhos estavam no rosto dele enquanto ele falava, medindo a sua reação.
A expressão dele estava composta; só havia uma leve dureza em seus olhos de topázio. "Ela viu Jasper em um lugar estranho, algum lugar ao sul, ela acha, perto da sua antiga... família. Mas ele não tem nenhuma intenção consciente de ir embora". Ele suspirou.

"Isso a deixou preocupada".
"Oh". Isso não era nada próximo do que eu estivera esperando. Mas é claro que fazia sentido que Alice estivesse olhando para o futuro de Jasper. Ele era a alma gêmea dela, a sua verdadeira outra metade, eles não eram tão externais com o seu relacionamento quanto Rosalie e Emmett. "Porque você não me disse?"
"Eu não me dei conta de que você havia percebido", ele disse. "Em qualquer caso, provavelmente não é nada importante".
A minha imaginação estava tristemente fora de controle. Eu havia pego uma tarde perfeitamenbte normal e havia distorcido tudo até que parecesse que Edward estava tentando esconder coisas de mim. Eu precisava de terapia.
Nós fomos lá pra baixo para fazer o nosso dever de casa, no caso de Charlie chegar mais cedo. Edward acabou em minutos; eu lutei laborosamente com os meus cálculos até que eu decidí que estava na hora de fazer o jantar de Charlie. Edward ajudou fazendo caretas de vez em quando para os ingredientes crus - comida humana era praticamente repulsiva para ele. Eu fiz strogonoff com a receita da vovó Swan, porque eu estava sem idéias.
Charlie já parecia estar de bom humor quando chegou em casa. Ele nem começou com a sua maneira rude de tratar Edward. Edward se desculpou por não comer conosco, como sempre. O som do noticiario noturno vinha da sala da frente, mas eu duvidava que Edward realmente estivesse assistindo.
Depois de repetir três vezes, Charlie colocou os pés pra cma da cadeira reserva e cruzou as mãos contentemente em cima do seu estômago inchado.
"Isso estava ótimo, Bells".
"Eu estou feliz que você gostou. Como foi o trabalho?" Ele estava comendo com muita concentração antes para eu conseguir puxar conversa antes.
"Meio lento. Bem, mortalmente lento, na verdade. Mark e eu jogamos carta em boa parte da tarde", ele admitiu com um sorriso. "Eu vencí, dezenove mãos para sete. E depois eu fiquei no telefone com Billy durante algum tempo".
Eu tentei manter minha expressão igual. "Como ele está?"

"Bem, bem. As juntas dele estão o incomodando um pouco."
"Oh. Isso é uma pena".
"É. Ele nos convidou para uma visita esse final de semana. Ele estava pensando em chamar os Clearwaters e os Uleys também. Uma espécie de festinha..."
"Huh", foi a minha resposta genial. Mas o que eu ia dizer? Eu sabia que não teria permissão para comparecer a uma festa de lobisomens, mesmo com supervisão do meu pai. Eu me perguntei se Edward teria um problema com Charlie andando por La Push. Ou será que ele iria supor que já que Charlie passaria mais tempo com Billy, que era apenas humano, o meu pai não estaria em perigo?
Eu me levantei e empilhei os pratos sem olhar para Charlie. Eu os coloquei na pia e liguei a água. Edward apareceu silenciosamente e pegou uma toalha de pratos.
Charlie suspirou e desistiu por um momento, apesar de eu imaginar que ele revisitaria o assunto assim que estivéssemos juntos de novo. Ele se pôs de pé e seguiu para a sala de TV, exatamente como na outra noite.
"Charlie", Edward disse num tom conversional.
Charlie parou no meio da sua pequena cozinha. "Sim?"
"Bella te contou que os meus pais deram passagens de avião pra ela em seu último aniversário, pra que ela pudesse visitar Renée?"
Eu deixei cair o prato que eu estava esfregando. Ele resvalou no balcão e caiu no chão fazendo barulho. Ele não quebrou, mas melou a cozinha, e nós três, com água ensaboada. Charlie nem pareceu reparar.
"Bella?" Ele perguntou numa voz espantada.
Eu mantive os olhos no prato enquanto o pegava de volta. "É, eles me deram".
Charlie engoliu altamente, e então os olhos dele se estreitaram quando ele olhou de volta para Edward. "Não, ela nunca mencionou isso".
"Hmm", Edward murmurou.
"Há uma razão pra você ter tocado no assunto?" Charlie perguntou com um voz dura.
Edward ergueu os ombros. "Elas estão quase expirando. Eu acho que isso pode machucar os sentimentos de Esme se Bella não usar o presente dela. Não que ela fosse dizer alguma coisa".
Eu encarei Edward sem acreditar.

Charlie pensou por um minuto. "Provavelmente é uma boa idéia você ir visitar a sua mãe, Bella. Ela ia adorar. No entanto, eu estou surpreso que você não tenha falado nada sobre isso."
"Eu esquecí", eu admití.
Ele fez uma careta. "Você esqueceu que alguém te deu passagens da avião?"
"Mmm", eu murmurei vagamente, e me virei de volta para a pia.
"Eu percebí que você disse que elas estavam prestes e expirar, Edward", Charlie continuou. "Quantas passagens os seus pais deram pra ela?"
"Só uma pra ela... e uma pra mim".
O prato que eu derrubei dessa vez caiu na pia, então ele não fez muito barulho. Eu podia ouvir claramente o bufo afiado do meu pai enquanto ele exalava. O sangue correu para o meu rosto, cheio de irritação e vergonha. Porque Edward estava fazendo isso? Eu olhei para as bolhas na pia, entrando em pânico.
"Isso está fora de questão!" Charlie estava abruptamente enraivecido, gritando as palavras.
"Porque?" Edward perguntou, sua voz saturada com uma surpresa inocente. "Você disse que era uma boa idéia ela ver a mãe".
Charlie ignorou ele. "Você não vai a lugar algum com ele, mocinha!" ele gritou. Eu me virei quando ele estava apontando um dedo para mim.
A raiva pulsou em mim automaticamente, uma reação instintiva ao tom dele.
"Eu não sou uma criança, pai. E eu não estou mais de castigo, lembra?"
"Oh sim, está sim. Começando agora".
"Por quê?!"
"Porque eu disse que sim".
"Eu preciso te lembrar de que sou legalmente adulta, Charlie?"
"Essa é a minha casa - você segue as minhas regras!"
O meu olhar ficou frio. "Se é isso que você quer. Você quer que eu me mude essa noite? Ou eu posso ter alguns dias para fazer as malas?"
O rosto de Charlie ficou vermelho brilhante. Eu instantaneamente me sentí horrivel por usar a tática de me mudar.
Eu respirei fundo e tentei fazer o meu tom ficar mais razoável. "Eu vou ficar de castigo sem reclamar quando eu tiver feito alguma coisa, pai, mas eu não vou pagar pelos seus preconceitos".
Ele gaguejou, mas conseguiu se manter coerente.

"Agora, eu sei que você sabe que eu tenho todos os direitos de ver a mamãe nos fins de semana. Vocâ não pode me dizer honestamente que estaria contra o plano se eu estivesse indo com Alice ou Angela".
"Garotas", ele rosnou, com um movimento de cabeça.
"Você se incomodaria se eu levasse Jacob?"
Eu só havia escolhido o nome porque eu sabia da preferência do meu pai por Jacob, mas eu rapidamente desejei não o ter feito; os dentes de Edward se trincaram com um estalo audível.
O meu pai lutou pra se recompor antes de responder. "Sim", ele disse com uma voz que não convencia. "Isso me incomodaria".
"Você é um péssimo mentiroso, pai".
"Bella -"
"Não é como se eu estivesse fugindo pra Las Vegas pra ser uma garota de show ou algo assim. Eu vou ver a mamãe.", eu o lembrei. "Ela tem tanta autoridade paterna sobre mim quanto você".
Ele me passou um olhar contestador.
"Você está implicando alguma coisa sobre a capacidade de mamãe de cuidar de mim?"
Charlie enrijeceu com a ameaça implicita na minha pergunta.
"É melhor você esperar que eu não mencione isso pra ela", eu disse.
"É melhor você não mencionar", ele avisou. "Eu não estou feliz com isso, Bella".
"Não ha nenhum motivo pra você ficar chateado".
Ele revirou os olhos, mas eu podia sentir que a tempestade estava acabada.
Eu me virei pra tirar o ralo da pia. "Então o meu dever de casa está feito, o seu jantar está pronto, os pratos estão lavados, e eu não estou de castigo. Eu vou sair. Eu vou estar de volta antes das dez e meia".
"Onde você vai?" O rosto dele, quase de volta ao normal, ficou vermelho de novo.
"Eu não tenho certeza", eu admití. "No entanto, eu me manterei num raio de dez milhas. Tudo bem?"
Ele rosnou alguma coisa que não soou como uma aprovação, e marchou pra fora da sala. Naturalmente, assim que terminei de vencer a briga, eu comecei a me sentir culpada.
"Nós vamos sair?", Edward perguntou, a voz dele estava baixa mas entusiamada.
Eu me virei para encará-lo. "Sim. Eu acho que gostaria de falar com você a sós"

Ele não pareceu tão apreensivo quanto eu achei que ele deveria estar.
Eu esperei pra começar quando estavamos seguramente no carro dele.
"O que foi aquilo?" Eu quis saber.
"Eu sei que você quer ver a sua mãe, Bella - Você estava falando sobre ela no sono. Preocupada na verdade".
"Tenho?"
Ele balançou a cabeça. "Mas claramente você era coverde demais pra lidar com Charlie, então eu intercedí em seu nome".
"Intercedeu? Você atirou para os tubarões!"
Ele rolou os olhos. "Eu não acho que você estava em perigo".
"Eu te disse que não queria brigar com Charlie".
"Ninguém disse que você precisava".
Eu encarei ele. "Eu não consigo me segurar quando ele fica mandão daquele jeito - os meus instintos naturais de adolescente me dominam".
Ele gargalhou. "Bem, isso não é culpa minha".
Eu olhei pra ele, especulando. Ele não pareceu notar. O rosto dele estava sereno enquanto ele olhava para o para-brisa. Algo estava estranho, mas eu não conseguia identificar o que. Ou talvez fosse só a minha imaginação de novo, correndo selvagem como tinha feito essa tarde.
"Essa urgência de ir para a Flórida tem alguma coisa a ver com a festa na casa de Billy?"
A mandíbula dele flexionou. "Absolutamente nada. Não importaria se você estivesse aqui ou do outro lado do mundo, você ainda não iria".
Era como havia sido com Charlie antes - sendo tratada como uma criança mal comportada. Eu apertei os meus dentes pra não começar a gritar. Eu não queria brigar com Edward também.
Edward suspirou, e quando ele falou a voz dele era cálida e macia novamente. "Então o que você quer fazer essa noite?" ele perguntou.
"Podemos ir à sua casa? Já faz tanto tempo que eu não vejo Esme".
Ele sorriu. "Ela vai gostar disso. Especialmente quando ela ouvir o que vamos fazer esse fim de semana".
Eu rosnei em defesa.
Nós não ficamos fora até tarde, assim como eu prometí. Eu não fiquei surpresa de ver as luzes ainda acesas quando nós paramos na frente da casa - eu sabia que Charlie estaria esperando pra gritar um pouco mais comigo.

"É melhor você não entrar", eu disse. "Isso só vai piorar as coisas".
"Os pensamentos dele estão relativamente calmos", Edward zombou. A expressão dele me fez imaginarse havia alguma piada que eu estava perdendo. Os cantos dos lábios dele se contorciam, lutando com um sorriso.
"Eu te vejo mais tarde", eu murmurei mal humorada.
Ele riu e beijou o topo da minha cabeça. "Eu vou voltar quando Charlie estiver roncando".
A TV estava alta quando eu entrei. Eu considerei brevemente tentar me arrastar pra passar por ele.
"Você pode vir aqui, Bella?" Charlie chamou, estragando o plano.
Os meus pés se arrastavam enquanto eu dava os cinco passos necessários.
"O que foi, pai?"
"Você se divertiu essa noite?" ele perguntou. Ele parecia doente de tranquilidade. Eu procurei pelos significados nas palavras dele antes de responder.
"Sim", eu disse hesitantemente.
"O que você fez?"
Eu levantei os ombros. "Saí com Alice e Jasper. Edward venceu Alice no xadrez, e depois eu joguei com Jasper. Ele me enterrou".
Eu sorrí. Edward e Alice jogando xadrez era a coisa mais engraçada que eu já tinha visto. Eles sentavam lá praticamente imóveis, olhando para o tabuleiro, enquanto Alice previa os movimentos que ele faria e ele escolhia fazer os movimentos que ela escolhia em retorno na mente dela. Eles jogavam a maior parte do jogo nas mentes deles; eu acho que eles haviam mexido duas peças quando Alice de repente jogou o rei dela e se rendeu. Tudo isso levou três minutos.
Charlie apertou o botão de "mudo" - uma ação estranha.
"Olha, tem uma coisa que eu preciso dizer" Ele fez uma careta, parecendo muito desconfortável.
Eu sentei ereta, esperando. Ele encontrou meu olhar por um segundo antes de passar os olhos dele para o chão. Ele não disse mais nada.
"O que é, pai?"
Ele supirou. "Eu não sou bom com esse tipo de coisa. Eu não sei como começar..."
Eu esperei de novo.
"Ok, Bella. O negócio é o seguinte". Ele se levantou do sofá e começou a andar pra frente e pra trás pela sala, olhando pro pés dele o tempo inteiro.

"Você e Edward parecem ser bastante sérios, e existem coisas com as quais você precisa ter cuidado.. Eu sei que você é uma adulta agora, mas você ainda é jovem, Bella, e existe um monte de coisas importantes que você precisa saber quando você... bem, quando você se involver fisicamente com -"
"Oh, por favor, por favor não!" eu implorei, ficando de pé. "Por favor me diga que você não está tentando ter uma conversa sobre sexo comigo, Charlie".
Ele olhou para o chão. "Eu sou o seu pai. Eu tenho responsabilidades. Lembre-se, eu estou tão envergonhado quanto você".
"Eu não acho que isso seja humanamente possível. De qualquer forma, a mamãe já se encarregou disso a cerca de dez anos atrás. Você está atrasado".
"Você não tinha um namorado a dez anos atrás", ele murmurou sem querer. Eu podia reparar que ele estava batalhando com a sua vontade de esquecer o assunto. Nós dois estávamos de pé, olhando para o chão, e desviando o olhar um do outro.
"Eu não acho que as coisas essenciais tenham mudado tanto assim", eu murmurei, e o meu rosto tinha que estar tão vermelho quanto o dele estava. Isso estava além do sétimo círculo de Hades; pior ainda era me dar conta de que Edward sabia que isso ia acontecer. Não é de adimirar que ele estivesse se divertindo no carro.
"Só me diga que você dois estão sendo responsáveis" Charlie implorou, obviamente desejando que um buraco se abrisse no chão pra que ele caísse nele.
"Não se preocupe, pai, não é assim"
"Não que eu não confie em você, Bella, mas eu sei que você não quer me contar nada sobre isso, e você sabe que eu realmente não quero ouvir. No entanto, eu tentarei ser mente aberta. Eu sei que os tempos mudaram".
Eu rí estranhamente. "Talvez os tempos tenham, mas Edward é muito antiquado. Você não tem nada com o que se preocupar".
Charlie suspirou. "É claro que ele é", ele murmurou.
"Ugh!" eu rugí. "Eu realmente queria que você não estivesse me forçando a dizer isso, pai. Realmente. Mas...eu sou... virgem,e eu não tenho planos imediatos para mudar esse status".

Nós dois enrijecemos, mas ai o rosto de Charlie ficou suave. Ele pareceu acreditar em mim.
"Posso ir a para a cama agora? Por favor?"
"Em um minuto", ele disse.
"Aw, por favor, pai? Eu estou implorando".
"A parte embaraçosa já passou, eu prometo", ele me assegurou.
Eu olhei para ele, e fiquei feliz por ele parecer mais relaxado, que o rosto dele estava de volta a cor regular. Ele afundou no sofá, suspirando de alívio por ele ter passado pelo seu discurso sobre sexo.
"O que é agora?"
"Eu só queria saber como anda aquela coisa de equilíbrio"
"Oh. Bem, eu acho. Eu fiz planos com Angela hoje. Eu vou ajudar ela com os anúncios da formatura. Só nós garotas".
"Isso é bom. E quanto a Jake?"
Eu suspirei. "Eu ainda não arranjei isso, pai".
"Continue tentando, Bella. Eu sei que você fará a coisa certa. Você é uma pessoa boa".
Isso foi golpe baixo.
"Claro, claro", eu concordei. A resposta automática quase me fez sorrir - isso foi uma coisa que eu aprendí com Jacob. Eu até usei o mesmo tom padronizado que ele usava com o pai.
Charlie deu um sorriso e religou o som. Ele afundou mais nas almofadas, satisfeito com o seu trabalho dessa noite. Eu podia notar que ele ficaria acompanhando esse jogo por um bom tempo.
"Boa noite, Bells"
"Te vejo de manhã!" Eu corrí pelas escadas.
Edward já tinha ido embora amuito tempo e não voltaria até Charlie estar dormindo - ele provavelmente estava lá fora caçando ou fazendo qualquer coisa para passar o tempo - então eu não tive pressa de tirar a roupa para ir pra cama. Eu não estava com humor pra ficar sozinha, mas eu certamente não ia descer e ficar com o meu pai, só no caso de ainda haver algum tópico no assunto do sexo que ele ainda não tenha tocado antes; eu tremí.
Então, graças a Charlie, eu estava ferida e ansiosa. O meu dever de casa estava pronto e eu não estava melodramática o suficiente pra ler ou ouvir música.

Eu considerei ligar para Renée com as notícias da minha visita, mas aí eu me dei conta de que eram três horas a mais na Flórida, e ela devia estar dormindo.
Eu podia ligar pra Angela, eu achei.
Mas de repente eu me dei conta de que não era com Angela que eu queria falar. Que eu precisava falar.
Eu olhei para a janela negra vazia, mordendo o meu lábio. Eu não sei quanto tempo eu fiquei lá pesando os prós e os contras - fazer a coisa certa em relação a Jacob, ver o meu amigo mais próximo de novo, ser uma boa pessoa, versus fazer Edward ficar furioso comigo. Dez minutos talvez. Tempo suficiente pra decidir que os prós eram válidos e que os contras não eram. Edward só estava preocupado com a minha segurança, e eu sabia que não havia realmente um problema nesse sentido.
O telefone não ajudava em nada; Jacob se recusava a atender os meus telefonemas desde que Edward retornou.
Além do mais, eu precisava vê-lo - ver ele sorrindo do jeito que ele costumava fazer. Eu precisava repor aquela terrível última memória do rosto dele condoído e se contorcendo de dor se um dia eu quisesse voltar a ter paz de espírito.
Eu provavelmente tinha uma hora. Eu podia ir correndo até La Push e estar de volta antes que Edward se desse conta que eu havia saído. Já passava do meu toque de recolher, mas será que Charlie realmente se preocuparia com isso quando Edward não estava envolvido? Havia um jeito de descobrir.
Eu agarrei o meu casaco e passei os meus braços pelas mangas e corrí pelas escadas.
Charlie olhou pra cima do jogo, instantaneamente suspeito.
"Você se importa se eu for ver Jake essa noite?" eu perguntei sem fôlego. "Eu não vou demorar".
Assim que eu disse o nome de Jake, a expressão de Charlie relaxou em um sorriso bobo. Ele não parecia surpreso pelo discurso dele fazer efeito tão rapidamente. "Claro, guria. Sem problema. Pode ficar fora o quanto quiser".
"Obrigada, pai", eu disse enquanto saia pela porta.

Como qualquer fugitiva, eu não pude deixar de olhar por cima do ombro algumas vezes enquanto corria para a minha caminhonete, mas a noite estava tão escura que na verdade não havia sentido nisso. Eu tive que sentir o caminho na lateral da caminhonete até encontrar a maçaneta.
Os meus olhos estavam apenas começando a se ajustar enquanto eu colocava as chaves na ignição. Eu girei elas com força para a esquerda, mas ao invés de ligar rosnando alto, o motor só fez um clique. Eu tentei de novo com os mesmo resultados.
E aí um pequeno movimento na minha visão periférica me fez pular.
"Gah!", eu ofeguei de choque quando me dei conta de que não estava sozinha na cabine.
Edward estava sentado muito rígido, um fraco ponto brilhante na escuridão, só as mãos dele se moviam enquanto ele girava um misterioso objeto preto pra lá e pra cá. Ele olhava para o objeto enquanto falava.
"Alice ligou", ele murmurou.
Alice! Droga. Eu tinha me esquecido de levá-la em conta nos meus planos. Ele devia ter pedido pra ela ficar me vigiando.
"Ela ficou nervosa quando o seu futuro desapareceu abruptamente ha cinco minutos atrás".
Meus olhos, já arregalados de surpresa, abriram ainda mais.
"Porque ela não consegue ver os lobisomens, sabe" ele explicou com o mesmo murmúrio baixo. "Você tinha esquecido isso? Quando você resolve juntar o seu destino ao deles, você desaparece também. Você não podia saber dessa parte, eu me dou conta disso. Mas será que você pode entender que isso pode me deixar um pouco... ansioso? Alice te viu desaparecer, e ela nem podia me dizer se você voltaria pra casa ou não. O seu futuro ficou perdido, assim como o deles.
"Nós não temos certeza de porque isso acontece. Alguma defesa natural com a qual eles nasceram?" Ele falava como se estivesse falando sozinho agora, ainda olhando para o pedaço do motor da minha caminhonete enquanto ele o girava nas mãos.
"Isso não parece ser inteiramente provável, já que eu não tive nenhum problam em ler a mente deles. Da de Black, pelo menos."

A teoria de Carlisle é de que a vida deles é muito governada pela transformação. É mais uma reação involuntária do que uma decisão. É altamente imprevisível, e isso muda tudo neles. Naquele instante quando eles se transformam de um para outro, eles nem sequer existem. O futuro não pode mantê-los..."
Eu escutei os pensamentos dele em silêncio de pedra.
"Eu vou reconcertar o seu carro a tempo para a escola amanhã, no caso de você querer ir sozinha", ele me assegurou depois de um minuto.
Com os meus lábios grudados um no outro, eu retirei as minhas chaves rapidamente e saí da cabine rigidamente.
"Feche a janela se você quiser que eu fique longe essa noite. Eu vou entender", ele sussurou bem antes de eu bater a porta.
Eu entrei em casa, batendo a porta também.
"Qual é o problema?" Charlie quis saber do sofá.
"A caminhonete não quer ligar", eu rosnei.
"Quer que eu dê uma olhada?"
"Não. Eu vou tentar de manhã".
"Quer usar o meu carro?"
Eu não devia dirigir a viatura policial dele. Charlie devia estar muito desesperado pra eu ir à La Push. Quase tão desesperado quanto eu estava.
"Não. Eu estou cansada", eu murmurei. "Boa noite".
Eu subí as escadas me arrastando, e fui direto para a minha janela. Eu puxei e estrutura de metal com força - ela bateu quando fechou e o vidro tremeu.
Eu olhei para o vidro negro tremendo por um longo momento, até que ele parou. Aí eu suspirei e abrí a janela o máximo que ela podia abrir.

3. Motivos

O sol estava tão profundamente enterrado atrás das nuvens que não havia jeito de dizer se ele havia se posto ou não. Depois de um longo vôo – perseguindo o sol em direção ao oeste até que ele pareceu nem se mover no céu – isso foi especialmente desorientador; o tempo parecia estranhamente variável. Eu fui pega de surpresa quando a floresta deu lugar aos primeiros prédios, sinalando que estávamos quase em casa.
“Você estava muito quieta”, Edward observou. “O avião te deixou enjoada?”
“Não, eu estou bem”
“Você está triste por ir embora?”
“Mais aliviada do que triste, eu acho”
Ele ergueu uma sobrancelha pra mim. Eu sabia que era inútil – e mesmo que eu não gostasse de admitir – desnecessário pedir que ele mantivesse os olhos na estrada.
“Renée é muito mais... perceptiva do que Charlie de algumas maneiras. Isso estava me deixando inquieta”.
Edward riu. “A sua mãe tem uma mente muito interessante. Quase infantil, mas muito intuitiva. Ela vê as coisas diferente das outras pessoas”.
Intuitiva. Essa era uma boa descrição da minha mãe – quando ela estava prestando atenção. Na maior parte do tempo Renée estava tão perplexa com a sua própria vida que ela não reparava muito nas outras coisas. Mas esse fim de semana ela esteve prestando bastante atenção em mim.
Phil estava ocupado – o time colegial de baseball que ele estava treinando estava nas semi finais – e estando sozinha com Edward e eu apenas aguçou os sentidos de Renée. Assim que os abraços e os gritinhos de deleite dela estavam fora do caminho, Renée começou a prestar atenção. E enquanto ela prestava atenção, seus grandes olhos azuis ficaram primeiro confusos e depois preocupados.
Essa manhã nós havíamos saído pra fazer uma caminhada na praia. Ela queria mostrar as belezas do novo lar dela, ainda esperando, eu acho, que o sol pudesse me atrair a sair de Forks.

 

Ela também queria falar comigo a sós, e isso foi facilmente arranjado. Edward havia inventado um trabalho de termologia para dar a si mesmo uma desculpa pra ficar dentro de casa durante o dia.
Na minha cabeça, eu repassei a conversa de novo...
Renée e eu andamos pela calçada, tentando ficar ao alcance das sombras inconstantes que vinham das palmeiras. Apesar de ser cedo, o calor estava começando a se acumular. O ar estava tão pesado com a umidade que simplesmente inspirar e expirar já era um exercício para os meus pulmões.
“Bella?”, minha mãe perguntou, olhando através da areia para as ondas quebrando enquanto falava.
“O que é, mãe?”
Ela suspirou, sem me olhar nos olhos. “Eu estou preocupada...”
“O que é?” eu perguntei, ficando imediatamente ansiosa. “O que eu posso fazer?”
“Não sou eu”. Ela balançou a cabeça. “Eu estou preocupada com você... e Edward”.
Renée finalmente olhou pra mim quando disse o nome dele, o rosto dela estava apologético.
“Oh”, eu murmurei, fixando o meu olhar num par de corredores enquanto eles passaram por nós, molhados de suor.
“Vocês dois são mais sérios do que eu estive pensando”, ela continuou.
Eu fiz uma careta, rapidamente revendo os últimos dois dias na minha cabeça. Edward e eu mal nos tocamos – ns frente dela, pelo menos. Eu me perguntei se Renée ia me passar um sermão sobre responsabilidade também. Não me importava como com o de Charlie. Com a minha mãe isso não era vergonhoso. Afinal, era eu quem vivia passando esse sermão nela de vez em quando pelos últimos dez anos.
“Há alguma coisa... estranha com o jeito de vocês dois juntos”, ela murmurou, a testa dela estava enrugando sobre os seus olhos confusos. “O jeito como ele olha pra você – é tão... protetor. Como se ele estivesse prestes a se jogar na frente de uma bala pra te salvar ou algo assim”.

Eu ri, apesar de ainda não ser capaz de olha-la nos olhos. “Isso é uma coisa ruim?”
“Não”, ela fez uma careta enquanto lutava pra encontrar as palavras. “Só é diferente. Ele é muito intenso com você... e muito cuidadoso. Eu sinto como não entendesse realmente o relacionamento de vocês. Como se houvesse um segredo que eu estou perdendo...”
“Eu acho que você está imaginando coisas, mãe”. Eu disse rapidamente, lutando pra manter minha voz leve. Havia um friozinho no meu estômago. Eu havia esquecido o quanto a minha mãe via. Alguma coisa na sua forma simples de ver o mundo ultrapassava todas as distrações e penetrava diretamente na verdade das coisas. Isso nunca foi um problema antes. Até agora, nunca houve um segredo que eu não pudesse contar pra ela.
“Não é só ele”. Ela juntou os lábios em defesa. “Eu queria que você pudesse ver como se move perto dele”.
“O que você quer dizer?”
“A forma como você se move – você se orienta ao redor dele sem nem sequer pensar nisso. Quando ele se move, mesmo que um pouco, você ajusta a sua posição ao mesmo tempo. Como imãs... ou gravidade. Você é como um satélite, ou algo assim. Eu nunca vi nada parecido”.
Ela torceu os lábios e olhou pra baixo.
“Não me diga”, eu zombei, forçando um sorriso. “Você está lendo mistérios de novo, não está? Ou dessa vez é ficção científica?”
Renée corou em um rosa delicado. “A questão vai além disso”.
“Achou algo bom?”
“Bom, houve um – mas isso não importa. Nós estamos falando de você agora”.
“Você devia continuar nos romances, mãe. Você sabe que você enlouquece”.
Os lábios dela torceram pra cima nos cantos. “Eu estou sendo boba, não estou?”
Por meio segundo, eu não pude responder. Renée era tão facilmente distraída. As vezes isso era uma coisa boa, porque nem todas as idéias dela eram práticas. Mas me machucou ver o quão rapidamente ela se rendia às minhas perguntas, especialmente já que ela estava absolutamente certa dessa vez.
Ela olhou pra cima, e eu controlei a minha expressão.
“Boba não – só sendo mãe”.

Ela sorriu e depois fez um gesto largo na direção das areias brancas que se estendiam para a água azul.
“E tudo isso não é suficiente pra fazer você voltar a morar com a sua mãe boba?”
Eu bati a minha mãe dramaticamente na minha testa, e depois fingi estar torcendo os meus cabelos.
“Você se acostuma com a umidade”, ela prometeu.
“Você também pode se acostumar á chuva”, eu apontei.
Ela me acotovelou de brincadeira e depois pegou a minha mãe enquanto caminhávamos de volta para o carro.
Apesar das preocupações dela comigo, ela parecia feliz o suficiente. Contente. Ela ainda olhava para Phil com olhos abobalhados, e isso era reconfortante. Com certeza a vida dela era plena e satisfatória. Com certeza ela não sentia a minha falta tanto assim, mesmo agora...
Os dedos gelados de Edward alisavam a minha bochecha. Eu olhei pra cima, piscando, voltando para o presente. Ele se inclinou e me deu um beijo na testa.
“Você está em casa, Bela Adormecida. Hora de acordar”.
Nós estávamos parados na frente da casa de Charlie. A luz da varanda estava acesa e a viatura estava parada na entrada de carros. Enquanto eu examinava a casa, eu vi a cortina se mexer na janela da sala de estar, jogando uma linha de luz amarela através da grama escura.
Eu suspirei. É claro que Charlie estava esperando para reclamar.
Edward deve ter pensado a mesma coisa, porque a expressão dele estava rígida e os olhos dele estavam remotos enquanto ele vinha abrir a porta pra mim.
“Quão ruim?”, eu perguntei.
“Charlie não vai ser difícil”, Edward prometeu, o nível de voz dele não continha humor. “Ele sentiu a sua falta”.
Os meus olhos se estreitaram duvidosamente. Se esse era o caso, então porque Edward estava tenso como se para batalhar?
A minha mala era pequena, mas ele insistiu em carrega-la até em casa. Charlie segurou a porta aberta para nós.
“Bem vinda ao lar, guria!” Charlie gritou como se estivesse falando sério. “Como foi Jacksonville?”

“Úmido. E com insetos”.
“Então Renée não te convenceu a ir para a universidade da Flórida?”
“Ela tentou. Mas eu prefiro beber água do que inalá-la”.
Os olhos de Charlie se moveram sem vontade para Edward. “Você se divertiu?”
“Sim”, Edward respondeu numa voz serena. “Renée foi muito hospitaleira”.
“Isso é... hum, bom. Fico feliz que você se divertiram”. Charlie virou de costas pra Edward e me puxou em um abraço inexperado.
“Impressionante”, eu suspirei no ouvido dele.
Ele abafou um riso. “Eu realmente senti sua falta, Bells. A comida aqui é uma droga quando você não está”.
“Eu vou cuidar disso”, eu disse enquanto ele me soltava.
“Você poderia ligar para Jacob antes? Ele esteve me enchendo a casa cinco minutos desde as seis horas dessa manhã. Eu prometi que te faria ligar pra ele antes mesmo de desfazer as malas.”
Eu não tive que olhar pra Edward pra saber que ele estava rígido demais, frio demais ao meu lado. Então esse era o motivo da tensão.
“Jacob quer falar comigo?”
“Muito, eu diria. Ele não quis me dizer sobre o que era – só disse que era importante”.
Então o telefone tocou, barulhento e insistente.
“É ele de novo, eu aposto o meu próximo salário”, Charlie murmurou.
“Eu atendo”. Eu corri para a cozinha.
Edward me seguiu enquanto Charlie desaparecia na sala de estar.
Eu agarrei o telefone no meio do toque, e me virei até que fiquei encarando a parede. “Alô?”
“Você está de volta”, Jacob disse.
A familiar voz rouca dele mandou uma onda de por mim. Um milhão de memórias giraram na minha cabeça, se enroscando – uma praia cheia de pedras cercada de árvores de salgueiro, uma garagem feita de telhas de plástico, refrigerantes quentes em um saco de papel, uma sala pequena com uma poltrona pequena demais. O sorriso em seus olhos profundos-muito pretos, o calor febril da mão grande dele, e o brilho dos seus dentes brancos em contraste com sua pele escura., o rosto dele se contraindo em um grande sorriso que sempre foi a chave para a porta secreta onde apenas bons espíritos eram permitidos de entrar.

Parecia ser uma espécie de saudade de casa, essa vontade do lugar e da pessoa que havia me protegido na minha noite mais escura.
Eu limpei o caroço da minha garganta. “Sim”, eu respondi.
“Porque você não me ligou?”, Jacob quis saber.
O tom raivoso da voz dele rapidamente me trouxe de volta. “Porque eu estava em casa a exatamente quatro segundos e a sua ligação interrompeu Charlie que estava dizendo que você ligou”.
“Oh. Desculpe”.
“Claro. Agora, porque você está assediando Charlie?”
“Eu preciso falar com você”
“É, eu descobri essa parte sozinha. Vá em frente”
Houve uma curta pausa.
“Você vai para a escola amanhã?”
Eu fiz uma careta para mim mesma, incapaz de entender o sentido dessa pergunta. “É claro que vou. Porque não iria?”
“Eu não sei. Só curioso”.
Outra pausa.
“Então sobre o que você queria falar, Jake?”
Ele hesitou. “na verdade nada, eu acho. Eu... eu queria ouvir a sua voz”.
“É, eu sei. Eu estou tão feliz por você ter ligado. Eu...” Mas eu não sabia o que mais dizer. Eu queria dize-lo que estava a caminho de La Push agora. E eu não podia dizê-lo isso.
“Eu tenho que ir”, ele disse abruptamente.
“O que?”
“Eu falo com você em breve, ta legal?”
“Mas Jake –“
Ele já tinha ido embora. Eu escutei o tom de discagem sem acreditar.
“Isso foi curto”, eu murmurei.
“Está tudo bem?” Edward perguntou. A voz dele estava baixa e cuidadosa.

Eu me virei lentamente pra ele. A expressão dele estava perfeitamente suave – impossível de ler.
“Eu não sei. Eu me pergunto o que foi isso”. Não fazia sentido que Jake tivesse rondado Charlie o dia inteiro só pra me perguntar se eu ia para a escola. E se ele queria ouvir a minha voz, então porque ele desligou tão rápido?
“A sua suposição provavelmente é melhor do que a minha”, Edward disse, a sombra de um sorriso aparecendo nos cantos da boca dele.
“Mmm”, eu murmurei. Isso era verdade. Eu conhecia Jake por dentro e por fora. Não devia ser tão complicado descobrir as motivações dele.
Com os meus pensamentos a milhas de distância – cerca de quinze milhas de distância, na estrada para La Push – eu comecei a mexer na frigideira, misturando os ingredientes do jantar de Charlie. Edward se inclinou no balcão, e eu estava distantemente consciente dos olhos dele no meu rosto, mas preocupada demais para me preocupar com o que ele via lá.
A coisa da escola parecia ser a chave pra mim. Essa foi a única pergunta de verdade que Jake fez. E ele devia estar procurando a resposta para alguma coisa, senão ele não teria chateado Charlie tão insistentemente.
No entanto, porque o meu registro de presença era importante pra ele?
Eu tentei pensar nisso de forma lógica. Então, se eu não estivesse indo para a escola amanhã, qual seria o problema com isso, na perspectiva de Jacob? Charlie me passou um pequeno sermão por perder um dia de aula tão perto das provas finais, mas eu o convenci de que uma Sexta não ia atrapalhar os meus estudos. Jake dificilmente se importaria com isso.
O meu cérebro se recusava a ter uma intuição brilhante. Talvez eu estivesse perdendo um pedaço vital de informação.
O que havia mudado nos últimos três dias que era tão importante a ponto de fazer Jacob quebrar o longo período de se recusar a atender meus telefonemas e entrar em contato comigo? Que diferença três dias podia fazer?
Eu congelei no meio da cozinha.

O pacote de hambúrguer congelado escorregou da minha mão pelos meus dedos entorpecidos. Me levou um lento segundo pra perder o barulho que ele devia ter feito ao bater no chão.
Edward o havia pego e atirado no balcão. Os braços dele já estavam ao meu redor, os lábios dele no meu ouvido.
“Qual é o problema?”
Eu balancei minha cabeça, confusa.
Três dias podiam mudar tudo.
Eu não estava pensando no quanto a faculdade era impossível? Como eu não poderia nem chegar perto de pessoas durante os dolorosos três dias da conversão que ia me livrar da mortalidade, pra que eu pudesse passar a eternidade com Edward? A conversão que me faria pra sempre prisioneira da minha própria sede...
Será que Charlie tinha contado pra Billy que eu desapareci por três dias? Será que Billy tinha tirado conclusões? Será que Jacob realmente estava me perguntando se eu ainda era humana? Tendo certeza de que o trato dos lobisomens continuava intacto – que nenhum dos Cullen havia mordido um humano... mordido... não matado...?
Mas ele realmente achava que eu voltaria para casa pra Charlie se esse fosse o caso?
Edward me chacoalhou. “Bella?” ele perguntou, realmente ansioso dessa vez.
“Eu acho... eu acho que ele estava checando”. Eu murmurei. “Checando pra ter certeza. De que eu sou humana, eu quero dizer”.
Edward enrijeceu, e um rugido baixo soou no meu ouvido.
“Nós teremos que ir embora”, eu suspirei. “Antes. Para que o acordo não seja quebrado. Nós não seremos mais capazes de voltar”.
Os braços dele se apertaram ao meu redor. “Eu sei”.
“Ahem” Charlie limpou sua alto a voz atrás de nós.
Eu pulei e depois me livrei dos braços de Edward, meu rosto ficando quente. Edward se inclinou de volta no balcão. Os olhos dele estavam estreitos. Eu podia ver preocupação neles, e raiva.
“Se você não quer fazer o jantar, eu peço uma pizza”, Charlie ofereceu.

“Não, está tudo bem. Eu já comecei”.
“Okay”, Charlie disse. Ele se encostou no arco da porta, cruzando os braços.
Eu suspirei e comecei a trabalhar, tentando ignorar a minha platéia.
“Se eu te pedisse pra fazer uma coisa, você confiaria em mim?”, Edward perguntou, com um tom em sua voz macia.
Nós estávamos quase na escola. Edward estava relaxado e fazendo piada a apenas um momento atrás, e agora as mãos dele estavam agarrando o volante com força, as articulações dele lutando com o esforço para não quebrá-lo em pedaços.
Eu encarei a expressão ansiosa dele – os olhos dele estavam distantes, como se ele estivesse ouvindo vozes distantes.
O meu pulso acelerou em resposta ao estresse dele, mas eu respondi cautelosamente. “Isso depende”.
Nós entramos no estacionamento da escola.
“Eu temia que você fosse dizer isso”.
“O que você quer que eu faça, Edward?”
“Eu quero que você fique no carro”, ele parou na sua vaga habitual e desligou o motor enquanto falava. “Eu quero que você espere aqui até eu voltar pra te buscar”.
“Mas... porque?”
Foi aí que eu vi ele. Ele teria sido difícil de não reparar, parecendo uma torre sobre os estudantes como ele estava, mesmo se ele não estivesse encostado em sua moto preta, que estava estacionada ilegalmente na calçada.
“Oh”
O rosto de Jake era uma máscara de calma que eu conhecia bem. Era o rosto de que ele usava quando estava disposto a manter as suas emoções sob controle. Ela fazia ele parecer Sam, o mais velho dos lobos, o líder do bando Quileute. Mas Jacob nunca conseguia controlar a perfeita serenidade que Sam sempre demonstrava.
Eu havia me esquecido do quanto aquele rosto me incomodava. Apesar de eu ter conhecido Sam muito bem antes dos Cullen voltarem – até gostar dele – eu nunca fui completamente capaz de ignorar o ressentimento que eu sentia quando Jacob imitava a expressão de Sam. Era um rosto estranho. Ele não era o meu Jacob quando o usava.

“Você tirou a conclusão errada na noite passada”, Edward murmurou. “Ele perguntou sobre a escola porque ele sabia que eu estaria onde você estivesse. Ele estava procurando por um lugar seguro pra conversar comigo. Um lugar com testemunhas”.
Então eu havia interpretado mal os motivos de Jacob na noite passada. Perdendo informações, esse era o problema. Informações como porque nesse mundo Jacob ia querer falar com Edward.
“Eu não vou ficar no carro”, eu disse.
Edward rosnou baixinho. “É claro que não. Bem, vamos acabar logo com isso”.
O rosto de Jacob endureceu quando caminhamos em direção a ele, de mãos dadas.
Eu reparei nos outros rostos também – os rostos dos meus colegas de classe. Eu reparei em como os olhos deles arregalavam enquanto eles observavam os 2,4m do longo corpo de Jacob, mais musculoso do que um garoto de dezesseis anos e meio podia ser. Eu vi aqueles olhos se mexerem em cima da sua camisa preta apertada – com mangas curtas, apesar de ser um dia razoavelmente frio – seus jeans surrados e sujos de graxa, e a moto preta brilhante na qual ele estava se encostando. Os olhos deles não ficavam em seu rosto – alguma coisa na expressão dele fazia com que eles desviassem o olhar rapidamente. E eu reparei no grande espaço que todos davam pra ele, a bolha de espaço da qual ninguém ousava se aproximar.
Com uma sensação de surpresa, eu me dei conta de que Jacob parecia perigoso para eles. Que estranho.
Edward parou a alguns metros de Jacob, e eu podia notar que ele estava desconfortável por me ter tão perto de um lobisomem. Ele colocou sua mão pra trás um pouco, me colocando um pouco atrás do seu corpo.
“Você podia ter nos ligado”, Edward disse numa voz dura como aço.
“Desculpe”, Jacob respondeu, o rosto dele se contorcendo em uma careta de zombaria. “Eu não tenho sanguessugas na minha discagem rápida”.
“Você podia ter me encontrado na casa de Bella, é claro”.
A mandíbula de Jacob flexionou, e as sobrancelhas dele estavam juntas. Ele não respondeu.

“Esse dificilmente é o lugar, Jacob. Podíamos discutir isso depois?”
“Claro, claro. Eu vou passar na sua cripta depois da escola”. Jacob bufou. “Qual é o problema com agora?”
Edward olhou ao redor apontando, os olhos dele pairando sobre as testemunhas que mal estavam fora do alcance auditivo. Algumas pessoas estavam hesitando na calçada, seus olhos brilhando de expectativa. Como se eles estivessem esperando que um briga fosse começar para aliviar o tédio de outra manhã de Segunda. Eu vi Tyler Crowley cutucando Austin Marks, e os dois pararam no caminho para a aula deles.
“Eu já sei o que você veio pra dizer” Edward lembrou Jacob numa voz tão baixa que eu mal consegui ouvir. “Mensagem entregue. Nos considere avisados”.
Edward olhou pra baixo pra mim por um rápido segundo com olhos preocupados.
“Avisados?” eu perguntei sem entender. “Do que vocês estão falando?”
“Você não contou pra ela?” Jacob perguntou, seus olhos arregalando de descrença. “O que foi, você estava com medo de que ela escolhesse o nosso lado?”
“Por favor deixa pra lá, Jacob” Edward disse com uma voz uniforme.
“Porque?” Jacob desafiou.
Eu fiz uma careta de confusão. “O que eu não sei? Edward?”
Edward simplesmente encarou Jacob como se não tivesse me ouvido.
“Jake?”
Jacob ergueu uma sobrancelha para mim. “Ele não te contou que o... irmão mais velho dele cruzou a linha Sábado à noite?” ele perguntou, o seu tom ficou pesado com uma camada de sarcasmo. E aí os olhos dele voltaram para Edward. “Paul está totalmente justificado em –“
“Aquela terra não tem donos!” Edward assobiou.
“Não é não!”
Jacob estava ficando visivelmente nervoso. As mãos dele tremiam. Ele balançou a cabeça e sugou o ar profundamente para os pulmões duas vezes.

“Emmett e Paul?” eu sussurrei. Paul era o irmão mais volátil do bando de Jacob. Foi ele quem perdeu o controle naquele dia na floresta – a memória do lobo cinza repentinamente estava vívida na minha mente. “O que aconteceu? Eles estavam brigando?” A minha voz foi aumentando com o pânico. “Porque? Paul se machucou?”
“Ninguém brigou” Edward disse baixinho, só pra mim. “Ninguém se machucou. Não fique ansiosa”.
Jacob estava olhando pra nós com olhos incrédulos. “Você não a contou absolutamente nada, contou? Foi por isso que você a levou embora? Pra que ela não soubesse que -?”
“Vá embora agora”. Edward o cortou no meio da frase, e o rosto dele ficou repentinamente assustador. Por um segundo, ela pareceu com... com um vampiro. ele olhou pra Jacob com ódio cruel, descontrolado.
Jacob ergueu as sobrancelhas, mas não fez outro movimento. “Porque você não contou pra ela?”
Eles se encararam silenciosamente por um longo momento. Mais estudantes se acumularam atrás de Tyler e Austin. Eu vi Mike ao lado de Ben – Mike estava com uma mão sobre o ombro de Ben, como se estivesse segurando-o no lugar.
No silêncio mortal, todos os detalhes de repente se encaixaram pra mim como uma explosão de intuição.
Alguma coisa que Edward não queria que eu soubesse.
Alguma coisa que Jacob não teria escondido de mim.
Algo que havia lançado tanto os Cullen quanto os lobisomens na floresta, movendo em perigosa proximidade uns dos outros.
Alguma coisa que faria Edward insistir pra que eu voasse através do país.
Alguma coisa que Alice tinha visto na visão da semana passada – uma visão sobre a qual Edward havia mentido pra mim.
Uma coisa pela qual eu já estava esperando do mesmo jeito. Uma coisa que eu sabia que aconteceria de novo, não importava o quanto eu desejasse que não acontecesse. Isso não ia acabar nunca, não é?

Eu ouvi o rápido gasp, gasp, gasp, gasp do ar passando pelos meus lábios, mas eu não conseguia evitar. Parecia que a escola estava tremendo, como se houvesse um terremoto, mas eu sabia que era o meu próprio tremor que causava a ilusão.
“Ela voltou por mim” eu me engasguei.
Victória nunca ia desistir até que eu estivesse morta. Ela continuaria repetindo o mesmo padrão – aparecer e fugir, aparecer e fugir – até que ela encontrasse um buraco entre os meus defensores.
Talvez eu tivesse sorte. Talvez os Volturi me encontrassem primeiro – pelo menos, eles me matariam mais rápido.
Edward me segurou com força ao seu lado, angulando seu corpo para que ele ainda estivesse entre mim e Jacob, e acariciou meu rosto com mãos ansiosas. “Está tudo bem”, ele sussurrou. “Está tudo bem. Eu nunca vou deixa-la se aproximar de você. Está tudo bem”.
Então ele encarou Jacob. “Isso responde a sua pergunta, mongol?”
“Você não acha que Bella tem o direito de saber?” Jacob desafiou. “É a vida dela”
Edward manteve sua voz baixa; mesmo Tyler, que estava se inclinando uns centímetros para a frente, seria incapaz de ouvir. “Porque ela devia ser assustada se ela nunca estava em perigo?”
“Melhor assustada do que enganada”.
Eu tentei me recompor, mas os meus olhos estavam nadando em umidade. Eu podia vê-la por trás das minhas pálpebras – eu podia ver o rosto de Victoria, seus lábios erguidos sobre seus dentes, seus olhos vermelhos brilhando com sua obsessão por vingança; ela responsabilizava Edward pela morte do seu amor, James. Ela não pararia até que o amor dele fosse tirado também.
Edward limpou as lágrimas das minhas bochechas com as pontas dos dedos.
“Você realmente acha que machuca-la é melhor do que protegê-la?” ele murmurou.
“Ela é mais durona do que você pensa” Jacob disse. “E ela já passou por coisa pior”.
Repentinamente, a expressão de Jacob mudou, e ele estava olhando pra Edward com uma expressão estranha, especulativa.

Os olhos dele ficaram estreitos como se ele estivesse tentando resolver um problema difícil de matemática na cabeça.
Eu senti Edward enrijecer. Eu olhei pra ele, e o rosto dele estava contorcido com o que só podia ser dor. Por um momento terrível, eu me lembrei daquela tarde na Itália, no macabro quarto na torre dos Volturi, onde Jane havia torturado Edward com o seu dom maligno, queimando-o apenas com seus pensamentos...
A memória me arrancou da minha histeria e colocou tudo em perspectiva. Porque eu preferiria que Victoria me matasse mil vezes do que ver Edward sofrer aquilo de novo.
“Isso é engraçado” Jacob disse, rindo enquanto ele olhava o rosto de Edward.
Edward gemeu, mas suavizou a expressão com um pouco de esforço. Ele não conseguia esconder muito bem a agonia em seus olhos.
Eu olhei, com os olhos arregalados, da careta de Edward para o riso de Jacob.
“O que você está fazendo com ele?” eu quis saber.
“Não é nada, Bella” Edward me disse baixinho. “Jacob tem uma boa memória, isso é tudo”.
Jacob deu um sorriso largo e Edward gemeu de novo.
“Pare com isso! O que quer que você esteja fazendo”.
“Claro, se você quer”, Jacob levantou os ombros. “No entanto, é culpa dele mesmo que ele não gosta do que eu lembro”.
Eu o encarei, e ele sorriu de volta cinicamente – como uma criança que foi pega fazendo alguma coisa que ele sabe que não devia por uma pessoa que ele sabe que não vai castigá-lo.
“O diretor está à caminho para desencorajar badernas no terreno escolar”. Edward murmurou pra mim. “Vamos para a aula de Inglês, Bella, pra que você não se involva”.
“Ele é super protetor, não é?” Jacob disse, falando só comigo. “Um pouco de problema é divertido. Deixa eu adivinhar, você não tem permissão pra se divertir, não é?”
Edward encarou, e seus lábios se ergueram um pouco sobre seus lábios.
“Cala a boca, Jake”, eu disse.

Jacob riu. “Isso soa como um não. hey, se um dia você sentir vontade de ter uma vida novo, você podia vir me ver. Eu ainda estou com a sua moto na garagem”.
Essa notícia me distraiu. “Era pra você ter vendido aquilo. Você prometeu a Charlie que venderia”. Se eu não tivesse implorado por Jacob – afinal, foi ele quem trabalhou nas duas motos, e ele merecia um pouco do meu troco – Charlie teria jogado a minha moto num lixão. E possivelmente incendiaria o lixão.
“É, certo. Como se eu fosse fazer isso. Ela pertence a você, não a mim. De qualquer forma, eu vou guardá-la até você voltar”.
Uma pequena sombra do sorriso que eu lembrava repentinamente estava brincando nos cantos dos lábios dele.
“Jake...”
Ele se inclinou para a frente, agora seu rosto estava ansioso, o sarcasmo ácido estava desaparecendo. “Eu acho que estava errado antes, sabe, sobre e eu você não sermos capazes de ser amigos. Talvez pudéssemos lidar com isso, no meu lado da linha. Venha me ver”.
Eu estava vividamente consciente de Edward, com seus braços ainda me cercando protetoramente, imóvel como uma pedra. Eu dei uma olhada no rosto dele – estava calmo, paciente.
Jacob abriu mão completamente da fachada antagonista. Foi como se ele tivesse esquecido que Edward estava lá, ou pelo menos ele estava determinado a agir dessa forma. “Eu sinto sua falta todos os dias, Bella. Não é a mesma coisa sem você”.
“Eu sei e eu sinto muito, Jake, é só que eu...”
Ele balançou a cabeça e suspirou. “Eu sei. Não importa, certo? Eu acho que eu vou sobreviver ou algo assim. Quem precisa de amigos?” Ele fez uma careta, tentando esconder a dor com uma fina tentativa de bravura.
O sofrimento de Jacob sempre fazia o meu lado protetor despertar. Isso não era completamente racional – Jacob dificilmente precisaria de qualquer proteção física que eu pudesse oferecer. Mas os meus braços, apertados embaixo dos de Edward, queriam alcançá-lo. Envolver a sua cintura grande, quente em uma promessa silenciosa de aceitação e conforto.

Os braços protetores de Edward se tornaram restritivos.
“Tudo bem, para as salas” uma voz diferente soou atrás de nós. “Mova-se, Sr. Crowley”.
“Vá para a escola, Jake”, eu sussurrei, ansiosa assim que eu reconheci a voz do diretor. Jacob freqüentava a escola Quileute mas ele ainda podia ter problemas por invasão ou algo assim.
Edward me soltou, segurando apenas a minha mão e me puxando pra trás do seu corpo de novo.
O Sr. Greene abriu caminho pelo círculo de espectadores, as suas sobrancelhas pressionadas pra baixo como nuvens de uma tempestade mal humorada em cima dos seus olhos pequenos.
“Eu falo sério”, ele estava ameaçando. “Detenção pra todo mundo que ainda estiver aqui quando eu me virar de novo”.
A platéia de dissolveu antes que ele terminasse a frase.
“Ah, Sr. Cullen. Temos um problema aqui?”
“Absolutamente não, Sr. Greene. Nós estávamos a caminho da aula”.
“Excelente. Eu não pareço reconhecer o seu amigo” O Sr. Greene virou seu olhar para Jacob. “Você é um estudante novo aqui?”
Os olhos do Sr. Greene estudaram Jacob, e eu podia ver que ele havia chegado a conclusão que todos haviam chegado: perigoso. Um encrenqueiro.
“Não”, Jacob respondeu, um meio sorriso nos seus lábios cheios.
“Então eu sugiro que você se retire da propriedade escola imediatamente, meu jovem, antes que eu ligue para a polícia”.
O pequeno sorriso de Jacob se transformou num riso aberto, e eu sabia que ele estava imaginando Charlie aparecendo para prendê-lo. Esse sorriso era ácido demais, muito cheio de zombaria para o meu gosto. Esse não era o sorriso que eu estive esperando pra ver.
Jacob disse “Sim, senhor” e fez uma saudação militar antes de montar em sua motocicleta e dar a partida lá mesmo na calçada. O motor roncou e os pneus cantaram quando ele fez uma curva fechada. Em questão de segundos, Jacob estava fora de vista.
O Sr. Greene arranhou os trincou os dentes enquanto ele assistia essa performance.

“Sr. Cullen, eu espero que você peça que seu amigo se retenha de invadir de novo”.
“Ele não é meu amigo, Sr Greene, mas eu vou passar o aviso”.
O Sr. Greene torceu os lábios. As notas perfeitas e os registros impecáveis de Edward eram claramente uma fator para a análise do Sr Greene do incidente. “Eu entendo. Se você estiver preocupado com qualquer problema, eu ficaria feliz em –“
“Não há nada com o que se preocupar, Sr. Greene. Não haverá nenhum problema”.
“Eu espero que isso esteja correto. Bem, então. Para a aula. Você também, Srta. Swan”.
Edward acenou com a cabeça, e me puxou junto rapidamente em direção ao prédio da aula de Inglês.
“Você se sente bem o suficiente para ir para a aula?” ele sussurrou quando passamos do diretor.
“Sim” eu sussurrei de volta, sem ter certeza de se era uma mentira.
Quer eu me sentisse bem ou não, essa dificilmente era a consideração mais importante. Eu precisava falar com Edward imediatamente, e a aula de Inglês não era o local ideal para a conversa que eu tinha em mente.
Mas com o Sr. Greene bem atrás de nós, não haviam muitas outras opções.
Nós chegamos na aula um pouco atrasados e nos sentamos rapidamente. O Sr. Berty estava recitando um poema de Frost. Ele ignorou a nossa entrada, se recusando a nos deixar quebrar o seu ritmo.
Eu arranquei uma página em branco do meu caderno e comecei a escrever, a minha escrita estava mais ilegível do que o normal graças a minha agitação.

-O que aconteceu? Me conte tudo. E para com essa bobagem de me proteger, por favor.

Eu joguei o bilhete para Edward. Ele suspirou e então começou a escrever. Ele levou menos tempo que eu, apesar dele ter escrito um parágrafo inteiro com a sua caligrafia particular antes de passar o papel de volta.

-Alice viu que Victoria estava vindo. Eu te tirei da cidade meramente por precaução – nunca houve uma chance de que Victoria chegasse em algum lugar perto de você. Emmett e Jasper por pouco não pegaram ela, mas Victoria parece ter algum instinto para fuga.

-Ela escapou bem por baixo das fronteira Quileute como se ela estivesse vendo um mapa. Não ajudou muito as habilidades de Alice serem inúteis com os Quileute. Para ser honesto, os Quileute podiam ter pego ela também, se nós não tivéssemos entrado no caminho. O grande cinza achou que Emmett tinha ultrapassado a barreira e ficou defensivo. É claro que Rosalie reagiu a isso, e todos abandonaram a caçada pra proteger seus companheiros. Carlisle e Jasper conseguiram acalmar as coisas antes que elas saíssem do controle. Mas até aí, Victoria já tinha escapado. Isso é tudo.

Eu fiz uma careta para as letras na página. Todos eles haviam estado nisso – Emmett, Jasper, Alice, Rosalie e Carlisle. Talvez até Esme, apesar dele não ter mencionado ela. E também Paul e o resto do bando Quileute. Podia ter sido tão fácil as coisas acabarem em briga, colocando a minha futura família e os meus velhos amigos uns contra os outros. E qualquer um deles podia ter se machucado. Eu imaginei que os lobisomens estariam em maior perigo, mas imaginando a pequena Alice perto de um dos enormes lobisomens, lutando...
Eu tremi.
Cuidadosamente, eu apaguei o parágrafo inteiro com a minha borracha e escrevi no topo:

-E quanto a Charlie? Ela podia ter estado atrás dele.


Edward já estava balançando a cabeça antes de eu ter terminado, obviamente preparado pra lidar com qualquer perigo que afligisse Charlie. Ele levantou a mão, mas eu ignorei e comecei de novo.


-Você não pode saber que ela não estava pensando isso, porque você não estava aqui. Flórida foi uma má idéia.


Ele pegou o papel de baixo da minha mão

-Eu não estava disposto a te mandar sozinha. Com a sua sorte, nem a caixa preta sobreviveria.

Não foi isso o que eu quis dizer; eu não tinha pensado em ir sem ele. Eu quis dizer que nós devíamos ter ficado aqui juntos. Mas eu fui distraída pela resposta, e um pouco ofendida. Como se eu não pudesse voar pelo país sem fazer o avião cair. Muito engraçado.

-Então digamos que a minha má sorte tivesse derrubado o avião. O que exatamente você teria feito sobre isso?

-Porque o avião está caindo?

Agora ele estava tentando esconder um sorriso.

-Os pilotos desmaiaram de bêbados.

-Fácil. Eu pilotaria o avião.

É claro. Eu torci os meus lábios de novo.

-Os dois motores explodiram e estamos caindo em espiral em direção à morte.

-Eu vou esperar até estarmos bem perto do chão, te segurar bem apertado, chutar a parede fora, e pular. Depois nós voltaríamos a cena do acidente, e nós andaríamos por aí como os dois sobreviventes mais sortudos da história.

Eu o encarei sem palavras.

“O que?” ele sussurrou.

Eu balancei a minha cabeça abobalhada. “Nada” eu fiz com a boca.

Eu deixei pra lá a conversa desconcertante e escrevi mais uma linha.

-Você vai me contar da próxima vez.

Eu sabia que haveria uma próxima vez. Esse padrão continuaria até que alguém perdesse.
Edward me olhou nos olhos por um longo tempo. Eu me perguntei qual seria a aparência do meu rosto – ele estava frio, como se o sangue ainda não tivesse retornado para as minhas bochechas. Os meus cílios ainda estavam molhados.
Ele suspirou e depois balançou a cabeça uma vez.

-Obrigada.

O papel desapareceu de baixo da minha mão. Eu olhei pra cima, piscando com a minha surpresa, exatamente quando o Sr. Berty vinha andando pelo corredor.
“Há alguma coisa que você queira dividir aí, Sr. Cullen?”
Edward olhou pra cima inocentemente e levantou uma folha de papel do topo do seu caderno. “As minhas anotações?” ele perguntou, parecendo confuso.

O Sr. Berty vasculhou as anotações – sem dúvida era um bela prescrição da aula dele – e depois foi embora fazendo uma careta.
Foi mais tarde, na aula de Cálculo – a única que eu não tinha com Edward – que eu ouvi a fofoca.
“O meu dinheiro está no grande índio”, alguém estava dizendo.
Eu espiei pra ver que Tyler, Mike, Austin e Ben estavam com as cabeças juntas, absolvidos em uma conversa.
“É”, Mike sussurrou. “Vocês viram o tamanho daquele garoto Jacob? Eu acho que ele derrubava o Cullen” Mike parecia feliz com a idéia.
“Eu não acho”, Ben discordou. “Tem alguma coisa em Edward. Ele é sempre tão... confiante. Eu tenho a sensação de que ele saberia cuidar de si mesmo”.
“Eu estou com Ben”, Tyler concordou. “Além do mais, se qualquer outro garoto mexesse com Edward você sabe que aqueles irmãos mais velhos dele iam se involver”.
“Você já esteve em La Push ultimamente?” Mike perguntou. “Lauren e eu fomos à praia umas duas semanas atrás, e pode acreditar em mim, os amigos de Jacob são tão grandes quanto ele.”
“Huh” Tyler disse. “Que pena que não deu em nada. Acho que a gente nunca vai saber como teria acabado”.
“Pra mim não pareceu acabado” Austin disse. “Talvez tenhamos a chance de ver.”
Mike riu. “Alguém tá a fim de apostar?”
“Dez no Jacob” Austin disse imediatamente.
“Dez em Cullen” Tyler se juntou.
“Dez em Edward”, Bem concordou.
“Hey, algum de vocês sabe do que se tratou?” Austin pensou. “Isso pode afetar os resultados”.
“Eu posso imaginar” Mike disse, e então deu uma olhada para mim ao mesmo tempo que Ben e Tyler.
Pelas expressões deles, eles não se deram conta de que eu estava a uma distância audível. Eles todos desviaram o olhar rapidamente, enfiando papéis em suas mesas.
“Eu ainda digo Jacob”, Mike murmurou por baixo do fôlego.

4. Natureza

Eu estava tendo uma semana ruim.
Eu sabia que essencialmente nada havia mudado. Tudo bem, então Victoria não tinha desistido, mas será que eu tinha sonhado por um momento que ela havia? O reaparecimento dela spo confirmava o que eu já sabia. Nenhum motivo pra novo pânico.
Teoricamente. Não entrar em pânico era mais fácil de dizer do que fazer.
A formatura era daqui a umas semanas, mas eu me perguntei se não era um pouco bobo ficar sentada, fraca e saborosa, esperando pelo próximo desastre. Parecia perigoso demais ser humana - simplesmente implorar pra ter problemas. Uma pessoa com a minha sorte tende a ser um pouco desesperançada.
Mas ninguém me escutava.
Carlisle dizia "Nós somos sete, Bella. E com Alice ao nosso lado, eu não acho que Victoria vá nos pegar fora de guarda. Eu acho que é importante, pelo bem de Charlie, que nós continuemos com o plano original.
Esme disse "Nós nunca permitiremos que nada aconteça com você, querida. Você sabe disso. Por favor, não fique ansiosa." E aí ela me deu um beijo na testa.
Emmett disse "eu estou feliz por Edward não ter te matado. Tudo é muito mais divertido com você por perto".
Rosalie encarou ele.
Alice revirou os olhos e disse "Eu estou ofendida. Você não está honestamente preocupada com isso, está?"
"Se não é nada importante, então porque Edward me arrastou para a Flórida?" eu quis saber.
"Você não reparou ainda, Bella, que Edward tem uma pequena tendência a ser exagerado?"
Jasper havia silenciosamente apagado todo o pânico e a tensão do meu corpo com o seu curioso talento de mudar as emoções na atmosfera. Eu me sentí segura, e deixei que eles me convecessem a sair do meu rogo desesperado.
É claro que a calma desapareceu assim que eu e Edward saímos da sala.
Então, o consenso era de que eu devia esquecer que uma vampira alucinada estava me perseguindo, com intenção de me matar. Se meter nos meus assuntos.

Eu tentei. E surpreendentemente, haviam outras coisas igualmente estressantes para duelas comigo pelo status na lista de espécies em perigo...
Porque a resposte de Edward foi a mais frustrante de todas.
"Isso é entre você e Carlisle", ele disse. "É claro, você sabe que eu estou desejoso de fazer com que seja entre você e eu a qualquer hora que você desejar. Você sabe a minha condição". E ele sorriu angelicalmente.
Ugh. Eu sabia a condição dele. Edward havia prometido que ele mesmo me transformaria quando eu quisesse... contanto que eu me casasse com ele primeiro.
As vezes eu me perguntava se ele não estava só fingindo que não lia a minha mente. De outra forma, como ele ia manter a insistência na única condição que eu tinha problema em aceitar? A única condição que me fazia desacelerar.
Tudo em tudo, uma semana muito ruim. E hoje era o pior dia dela.
Era sempre ruim quando Edward estava longe. Alice não havia previsto nada fora do normal esse fim de semana, então eu insistí que ele aproveitasse a oportunidade e fosse caçar com os seus irmãos. Eu sabia o quanto o deixava chateado caçar as presas chatas, fáceis que haviam por perto.
"Vá se divertir", eu disse pra ele. "Traga alguns leões da montanha para mim".
Eu jamais admitiria pra ele o quanto era difícil pra mim quando ele estava longe - como isso trazia de volta os meus pesadelos de abandono. Se ele soubesse disso, isso faria com que ele se sentisse horrível e ele ficaria com medo de me deixar de novo, mesmo pelas razões mais necessárias. Foi assim desde o começo, quando ele retornou da Itália. Os olhos dourados dele haviam ficcado pretos e ele sofria com a sede mais do que já era necessário que ele sofresse. Então eu fazia uma cara corajosa e chutava ele pra fora de casa toda vez que Emmett e Jasper queriam ir.
No entanto, eu acho que ele via além de mim. Um pouco. Essa manhão havia um bilhete no meu travesseiro:

- Eu volto logo pra que você não precise sentir a minha falta. Tome conta do meu coração - eu deixei ele com você.

Então agora eu tinha um longo Sábado vazio com nada além do meu turno matutino no Newton's Olympics Outfitters pra me distrair. E, é claro,. eu tinha a promessa muito confortadora de Alice.
"Eu vou ficar perto de casa pra caçar. Eu só estarei a quinze minutos de distância se você precisar de mim. Eu vou ficar de olho se tiverem problemas pra você".
Tradução: não tente nada engraçadinho só porque Edward está longe.
Alice certamente era tão capaz de arruinar a minha caminhonete quanto Edward.
Eu tentei olhar as coisas pelo lado bom. Depois do trabalho, eu tinha planos pra ajudar Angela com os anúncios dela, então, isso seria uma distração. E Charlie estava com excelente humor por causa da ausência de Edward, então eu devia aproveitar enquanto durava. Alice passaria a noite comigo se eu fosse patética o suficiente pra pedí-la. E aí amanhã, Edward estaria de volta. Eu ia sobreviver.
Não querendo chegar ridicilarmente cedo para o trabalho, eu tomei o café da manhã lentamente. Um cereal de cada vez. Então, quando eu lavei os pratos, eu arrumei os imãs na geladeira em uma linha perfeita. Talvez eu estivesse adquirindo um transtorno obcessivo compulsivo.
Os últimos dois imãs - pedaços utilitários arredondados pretos que eram os meus favoritos porque odiam segurar dez folhas de papel na geladeira sem esforço - não quiseram cooperar com a minha fixação. As polaridades deles eram reversas; toda vez que eu tentava alinhar um deles, o outro pulava fora do lugar.
Por alguma razão - mania iminente, talvez - isso realmente me irritou. Porque que eles não podiam simplesmente ser bonzinhos? Estúpida de teimosia, eu continuei a colocá-los juntos como se estivesse esperando que eles desistissem de repente. Eu podia trocar um de lugar, mas isso ia parecer uma derrota. Finalmente, mais exasperada comigo mesma do que com os imãs, e os tirei da geladeira e os juntei com as duas mãos. Exigiu um pouco de esforço - eles eram fortes o suficiente para sustentar uma briga - mas eu os forcei a coexistir, lado a lado.

"Vejam", eu disse em voz alta - falando com objetos inanimados, nunca um bom sinal - "Não é tão horrível, é?"
Eu fiquei lá feito uma idiota por um segundo, sem ser exatamente capaz de admitir que eu não estava tendo nenhum efeito duradouro nos princípios científicos. Então, com um suspiro, eu coloquei os imãs de volta na geladeira, um centímetro separados.
"Não há necessidade de ser tão inflexível", eu murmurei.
Ainda era muito cedo, mas eu decidí que era melhor eu sair de casa antes que os objetos inanimados começassem a responder.
Quando eu cheguei nos Newton, Mike estava passando pano metodicamente nos corredores enquanto a mão dele arrumava o novo display do balcão. E os peguei no meio de um discussão, inconscientes de que eu havia chegado.
"Mas é a única hora que Tyler pode ir", Mike reclamou. "Você disse que depois da formatura -"
"Você simplesmente vai ter de esperar", a Sra. Newton disparou. "Você e Tyler podem pensar em outra coisa pra fazer. Você não vai à Seattle até que a polícia pare o que quer que esteja aontecendo lá. Eu sei que Beth Crowley disse a mesma coisa a Tyler, então não haja como se eu fosse o bandido - oh, bom dia, Bella", ela disse quando me viu, iluminando o seu tom imediatamente. "Você chegou cedo".
Karen Newton era a última pessoa a quem eu pediria ajuda numa loja de equipamentos de esporte. O seu cabelo loiro perfeitamente claro estava sempre preso em uma elegante trança na parte de trás do seu pescoço, as unhas dela eram pintadas por profissionais, assim como as unhas de seus pés - que eram visíveis pelos sapatos altos de tiras que não se assemelhava em nada com o que Newton oferecia no longo corredor de botas de caminhada.
"Pouco trânsito", eu brinquei enquanto pegava o meu odioso uniforme laranja florescente debaixo do balcão. Eu estava supresa pela Sra. Newton estar tão afetada por essa coisa em Seattle quanto Charlie. Eu pensei que ele estava sendo exagerado.

"Bem, er..." a Sra. Newton hesitou por um momento, brincando desconfortavelmente com a pilha de panfletos que ela estava arrumando na registradora.
Eu parei com um braço só no meu uniforme. Eu conhecia aquele olhar.
Quando eu avisei os Newton de que não estaria trabalhando aqui no verão - abandonando-os na época mais agitada, na verdade - eles começaram a treinar Kate Marshall pra ficar no meu lugar. Eles não podiam pagar nós duas ao mesmo tempo, então, quando parecia ser um dia calmo...
"Eu ia ligar" a Sra. Newton continuou. "Eu não acho que estamos esperando uma tonelada de trabalho hoje. Mike e eu provavelmente podemos cuidar das coisas. Eu lamento por termos feito você dirigir até aqui..."
Num dia normal, eu estaria estasiada por essa virada nos planos. Hoje... não tanto.
"Okay", eu suspirei. Os meus ombros caíram. O que eu ia fazer agora?
"Isso não é justo, mãe", Mike disse. "Se Bella quer trabalhar -"
"Não, está tudo bem Sra. Newton. Sério, Mike. Eu tenho que estudar para as provas finais e tudo mais..." eu não queria ser a fonte de um discórdia familiar quando eles já estavam discutindo.
"Obrigada, Bella. Mike, você esqueceu o corredor quatro. Um, Bella, você se incomodaria em jogar esses panfletos fora enquanto estiver saindo? Eu disse à garota que os deixou aqui que eu os colocaria no balcão, mas eu realmente não tenho espaço".
"Claro, sem problema". Eu tirei o meu uniforme, e enfiei os panfletos embaixo do braço e saí para a fina chuva.
O lixo ficava no lado de trás do Newton's, perto de onde os funcionários deviam estacionar. Eu me arrastei, chutando pedrinhas petulantemente no caminho. Eu estava prestes a jogar a pilha de papéis amarelos na lata de lixo quando a impressão no topo da página chamou minha atenção. Uma palavra em particular aumentou minha atenção.
Eu apertei os papéis com ambas as mãos e olhei para a foto embaixo das legendas. Um caroço me subiu à garganta.

SALVE O LOBO DO OLÍMPICO

Embaixo das palavras, havia um desenho detalhado de um lobo na frente de uma árvore, com a cabeça pra trás enquanto parecia uivar para a lua. Era uma foto desconcertante; alguma coisa na postura melancólica do lobo fez com que ele parecesse abandonado. Como se ele estivesse uivando de tristeza.
E então eu estava correndo para a minha caminhonete, ainda agarrando os panfletos.
Quinze minutos - isso era tudo o que eu tinha. Mas isso devia ser o suficiente. Eram apenas quinze minutos até La Push, e certamente eu ia alcançar à fronteira antes de alcançar a cidade.
A minha caminhonete ligou sem nenhuma dificuldade.
Alice não podia ter me visto fazendo isso, porque eu não estive planejando. Uma decisão repentina, essa era a chave! E contanto que eu me movesse rápido o suficiente, eu seria capaz de realizá-la.
Eu joguei os panfletos amarelos na minha pressa e eles se espalharam numa bagunça brilhante no meu banco do passageiro - cem letras de legendas, cem lobos escuros uivantes se esboçavam no fundo amarelo.
Eu embarrilei pela estrada molhada, ligando os limpadores de vidros e ignorando o barulho do motor velho. Cinquenta e cinco era quase o limite máximo da minha caminhonete, e eu rezei pra que isso fosse suficiente.
Eu não fazia idéia de onde ficava a linha da fronteira, mas eu comecei a me sentir mais segura quando comecei a passar pelas primeiras casas da saída de La Push. Isso devia além de onde Alice tinha permissão de ir.
Eu ia ligar pra ela da casa de Angela essa tarde, eu pensei, pra que ela soubesse que eu estava bem. Não havia razão pra ela ficar preocupada. Ela não precisava ficar com raiva de mim - Edward ficaria com raiva o suficiente pelos dois quando voltasse.
A minha caminhonete estava certamente a ponto de desistir quando eu parei na frente da casa familiar de um vermelho gasto. O caroço voltou à minha garganta enquanto eu olhava para o pequeno lugar que um dia foi meu refúgio. Já fazia tanto tempo desde que eu tinha estado lá.

No silêncio repentino quando o motor da caminhonete morreu, eu o ouví ofegar.
"Bella?"
"Hey, Jake!"
"Bella!", ele gritou de volta, e o sorriu pelo qual eu estava esperando se abriu no rosto dele como se fosse o sol saindo por entre as nuvens. Os dentes dele cintilaram brilhantes contra a sua pele ruiva. "Eu não acredito!"
Ele correu para a caminhonete e meio que me arrancou pela porta aberta, e depois nós dois estavamos pulando pra cima e pra baixo feito duas crianças.
"Como você chegou aqui?"
"Eu escapulí!"
"Maravilhoso!"
"Hey, Bella!", Billy havia se empurrado até o arco da porta pra ver do que se tratava toda aquela comoção.
"Hey, Bil -!"
Então o meu ar desapareceu - Jacob me agarrou em um abraço de urso apertado demais pra me deixar respirar e me girou em círculo.
"Uau, é bom te ver aqui!"
"Não consigo... respirar!", eu botei pra fora.
Ele riu e me colocou no chão.
"Bem vinda, Bella", ele disse, rindo. E o jeito como ele disse as palavras fez com que parecesse Bem vinda ao lar.
Nós começamos a andar, animados demais pra ficarmos sentados em casa. Jacob estava praticament pulando enquanto se movia, e eu tive que lembrá-lo algumas vezes de que as minhas pernas não tinham dez metros de comprimento.
Enquanto caminhávamos, eu sentí que estava entrando em outra versão de mim mesma, a pessoa que eu era com Jacob. Um pouco mais jovem, um pouco mais irresponsável. Alguém que podia, em uma certa ocasião, fazer alguém realmente muito estúpido por nenhum bom motivo.
A nossa exuberância durou durante os primeiros tópicos da nossa conversa: como estávamos indo, o que estávamos fazendo, quanto tempo eu tinha, e o que havia me trazido aqui. Quando eu hesitantemente o contei sobre os panfletos do lobo, a sua risada estrondosa ecoou nas árvores.
Mas depois, quando nós passamos pela loja e passamos pelos arbustos grossos que cercavam a Primeira Praia, nós fomos para as partes mais difíceis.

Cedo demais nós tivemos que começar a falar sobre os motivos por trás da nossa longa separação, e eu observei o rosto do meu amigo endurecer até se transformar naquela máscara ácida com a qual eu já era bem familiar.
"Qual é a história, afinal?" Jacob me perguntou, chutando um pedaço de graveto fora do seu caminho com força demais. Ele viajou pela areia e depois se espatifou nas rochas. "Quer dizer, da última vez que nós... bem, antes de, você sabe..." Ele lutou pelas palavras. Ele respirou fundo e tentou de novo. "O que eu estou perguntando é... tudo está de volta a ser como era antes dele ir embora? Você perdoou ele por aquilo tudo?"
Eu respirei fundo. "Não havia nada pra perdoar".
Eu queria pular essa parte, as traições, as acusações, mas eu sabia que teríamos que falar tudo antes que fôssemos capazes de superar todo o resto.
O rosto de Jacob enrugou como se ele tivesse lambido um limão. "Eu queria que Sam tivesse tirado uma foto quando ele te encontrou naquela noite em Setembro. Ela seria a prova A"
"Ninguém está em julgamento"
"Talvez alguém devesse estar"
"Você não o culparia por ir embora se soubesse as razões dele pra ir embora".
Ele me encarou por alguns segundos. "Tudo bem", ele me desafiou acidamente. "Me surpreenda".
A hostilidade dele estava me cansando - era como esfregar algo áspero, doía quando ele estava com raiva de mim. Eu me lembrei da tarde, ha muito tempo atrás, quando - com as ordens de Sam - ele me disse que não podíamos ser amigos. Eu levei um longo segundo pra me recompor.
"Edward me deixou porque ele não achava que eu devia estar andando com vampiros. Ele achou que seria mais saudável pra mim se ele fosse embora".
Jacob ingeriu isso. Ele teve que pensar por um minuto. O que quer que ele estivesse planejando dizer, claramente não funcionava mais. Eu estava feliz por ele não saber o que fez a decisão de Edward ser tomada. Eu só podia imaginar o que ele pensaria se ele soubesse que Jasper tinha tentado me matar.

"No entanto, ele voltou, não voltou?" Jacob murmurou. "Que pena que ele não pode sustentar a decisão".
"Se você se lembra, eu fui e peguei ele".
Jacob olhou pra mim por um momento, e depois desistiu. O rosto dele relaxou, e sua voz estava mais calma quando ele falou.
"Isso é verdade. Eu nunca ouví a história. O que aconteceu?"
Eu hesitei, mordendo o meu lábio.
"É um segredo?" A voz dele tomou um tom de zombaria. "Você não tem permissão pra me contar?"
"Não", eu disparei. "Só que é uma história muito longa".
Jacob sorriu, arrogante, e virou pra caminhar para a praia, esperando que eu o seguisse.
Não tinha graça estar com Jacob se ele ia agir desse jeito. Eu o seguí automaticamente, sem ter certeza se eu devia me virar e ir embora. Porém, eu ia ter que enfrentar Alice, quando eu chegasse em casa... eu acho que não estava com pressa.
Jacob caminhou para um enorme, familiar, pedaço de salgueiro - uma árvore inteira, com raízes e tudo, esbranquiçado, e bem afundado na areia; era a nossa árvore, de certa forma.
Jacob sentou no banco natural, e deu uns tapinhas no espaço ao lado dele.
"Eu não me importo com histórias longas. Tem ação?"
Eu revirei os meus olhos enquanto me sentava ao lado dele. "Tem um pouco de ação", eu permití.
"Não seria uma história de terror se não tivesse ação"
"Terror!", eu repreendí. "Você pode ouvir, ou você vai ficar me interrompendo com comentários rudes sobre os meus amigos?"
Ele fingiu trancar os lábios e depois jogou a chave invisível por cima do ombro. Eu tentei não sorrir, e falhei.
"Eu tenho que começar por onde você já estava", eu decidí, trabalhando pra organizar as histórias na minhacabeça antes de começar.
Jacob ergueu a mão.
"Pode falar"
"Isso é bom", ele disse. "Eu não entendí muito bem o que estava acontecendo naquela hora".
"É, bem, vai ficar complicado, então preste atenção. Você sabe como Alice as coisas?"

Eu entendí a careta dele - os lobisomens não estavam felizes porque as lendas sobre os vampiros possuirem dons sobrenaturais eram verdadeiras - como um sim, e prossegui com a história da minha corrida pela Itália para resgatar Edward.
Eu a mantí o mais suscinta possível - deixando de fora qualquer coisa que não fosse essencial. Eu tentei ler as expressões de Jacob, mas o rosto dele estava enigmático quando eu expliquei como Alice tinha visto Edward planejando se matar quando ele ouviu que eu havia morrido. As vezes Jacob parecia tão absolvido em pensamentos, que eu não tinha certeza de que ele estava ouvindo. Ele só interrompeu uma vez.
"A sugadora de sangue que vê o futuro não pode nos ver?" ele ecoou, o rosto dele estava tão feroz quanto estava alegre. "Sério? Isso é excelente!"
Eu trinquei os meus dentes, e nós sentamos em silêncio, o rosto dele estava cheio de expectativa enquanto ele esperava que eu continuasse. Eu o encarei até que ele reparasse no seu erro.
"Oops!", ele disse. "Desculpe" Ele trancou os lábios de novo.
A resposta dele foi fácil de ler quando eu contei sobre os Volturi. Os dentes dele trincaram, os braços dele ficaram arrepiados, e as narinas dele inflaram. Eu não fui específica, eu só o contei que Edward havia copnseguido nos tirar do problema, sem revelar a promessa que nós tivemos que fazer, ou da visita que estávamos esperando. Jacob não precisava ter os meus pesadelos.
"Agora você sabe a história toda", eu concluí. "Então é a sua vez de falar. O que aconteceu enquanto eu estava com a minha mãe esse fim de semana?" Eu sabia que Jacob me daria mais detalhes do que Edward havia me dado. Ele não estava com medo de me assustar.
Jacob se inclinou para a frente, instantaneamente animado. "Então Embry e Quil e eu estávamos correndo na nossa patrulha no Sábado à noite, só as coisas de rotina, e do nada -bam!" Ele levantou os braços, personalisando uma explosão.

"Lá estava - uma trilha fresca, não tinha nem quinze minutos. Sam queria que nós esperássemos por ele, mas eu não sabia que você não estava aqui, e não sabia se os seus sugadores de sangue estavam de olho em você ou não. Então nós perseguimos ela a toda velocidade, mas ela cruzou a linha do acordo antes que a alcançássemos. Nós nos separamos pela linha, esperando que ela voltasse. Foi frustrante, deixe eu te dizer." Ele balançou a cabeça e os cabelos - que estavam crescendo do corte curto que ele havia adotado quando ele se juntou ao bando - caíram em seus olhos. "Nós acabamos perto demais do Sul. Os Cullen a perseguiram de volta para o nosso lado até apenas algumas milhas do nosso Norte. Teria sido a emboscada perfeita se nós subessemos onde esperar".
Ele balançou a cabeça, agora fazendo careta. "Foi aí que ficou feio. Sam e os outros a alcançaram antes de nós, mas ela estava dançando bem além da linha, e o grupo inteiro estava bem alí do outro lado. O grande, como é o nome dele -"
"Emmett"
"É, ele. Ele tentou atacá-la, mas aquela ruiva é rápida! Ele passou bem por trás dela e quase bateu em Paul. Então Paul... bem, você conhece Paul".
"É".
"Ele perdeu o foco. Eu não posso dizer que o culpo - o sugador de sangue grandão estava bem em cima dele. Ele saltou - ei, não me olhe desse jeito. O vampiro estava nas nossas terras".
Eu tentei recompor o meu rosto para que ele continuasse. As minhas unhas estavam enterradas nas minhas palmas com o estresse da história, mesmo sabendo que tudo tinha acabado bem.
"De qualquer forma, Paul errou, e o vampiro voltou para o lado dele. Mas aí a, uh, bem a, uh, loira..." A expressão de Jacob era uma cômica mistura de nojo e de admiração sem querer enquanto ele tentava encontrar uma palavra para descrever a irmã de Edward.
"Rosalie".
"Que seja. Ela ficou cheia de sí, então Sam e eu voltamos pra perto de Paul. Aí o líder deles e o outro loiro -"
"Carlisle e Jasper"
Ele me deu um olhar exasperado.

"Você sabe que eu não me importo de verdade. De qualquer forma, então Carlisle falou com Sam, tentando acalmar as coisas. Então foi estranho, porque todo mundo ficou muito calmo bastante rápido. Foi aquele outro sobre quem você me falou, que estava zoando com as nossas cabeças. Mas mesmo que soubéssemos o que ele estava fazendo, nós não conseguimos não ficar calmos".
"É, eu sei como é"
"Muito chato, é isso que é. Só que você só consegue ficar com raiva depois". Ele balançou a cabeça com raiva. "Então Sam e o vampiro lider concordaram que Victoria era a prioridade, e nós saímos atrás dela de novo. Carlisle nos deu a linha, para que pudéssemos sentir o cheiro apropriadamente, mas aí ela chegou nos penhascos a norte do condado de Makah, lá onde a linha abraça a costa por alguns quilômetros. Ela escapou pela água de novo. O grandão e o calmo pediram permissão para ultrapassar a linha pra ir atrás dela, mas é claro que nós dissemos não".
"Bom. Quer dizer, você estava sendo estúpido, mas eu estou feliz. Emmett nunca é cuidadoso o suficiente. Ele podia ter se machucado".
Jacob bufou. "Então o seu vampiro te disse que nós atacamos sem nenhuma razão e que o grupo completamente inocente dele -"
"Não", eu interrompí. "Edward me contou a mesma história, só que não com tantos detalhes".
"Huh", Jacob disse por baixo do fôlego, e se abaixou para pegar uma pedras entre os milhões de pedrinhas aos nossos pés. Com um movimento casual, ele fez ela sair voando uns bons cem metros pra fora da baía. "Bom, ela vai voltar, eu acho. Nós vamos ter outra chance com ela".
Eu levantei os ombros; é claro que ela ia voltar. Edward realmente me diria da próxima vez? Eu não tinha certeza. Eu ia ter que ficar de olho em Alice, pra procurar por sinais de que o padrão estava prestes a se repetir...
Jacob não pareceu reparar a minha reação. Ele estava olhando para as ondas com um expressão pensativa no rosto, com seus lábios grossos fazendo beicinho.

"No que você está pensando?", eu perguntei depois de um longo tempo, em silêncio.
"Eu estou pensando no que você me disse. Sobre quando o vidente viu você pular do penhasco e pensou que você tinha se suicidado, e como tudo saiu do controle... Você se dá conta de que se você tivesse esperado por mim como devia, então depois a su -Alice não tivesse sido capaz de te ver pular? Nada teria mudado. Nós provavelmente estariamos na minha garagem agora, como em qualquer outro Sábado. Não haveriam vampiros em Forks, e você e eu..." Ele parou, perdido em pensamentos.
O jeito que ele disse isso foi desconcertante, como se fosse uma coisa que não houvessem vampiros em Forks. O meu coração bateu fora de ordem por causa do vazio do quadro que ele pintou.
"Edward teria voltado do mesmo jeito".
"Você tem certeza disso?" ele perguntou, agressivo de novo assim que eu falei o nome de Edward.
"Estar separados... Não funcionou muito bem para nenhum de nós"
Ele começou a dizer alguma coisa, alguma coisa raivosa pela expressão dele, mas ele se deteve, respirou fundo, e começou de novo.
"Você sabia que Sam está com raiva de você?"
"Eu?" Eu levei um segundo. "Oh. Eu entendo. Ele acha que eles teriam ficado longe se eu não estivesse aqui".
"Não. Não é isso".
"Qual é o problema então?"
Jacob se abaixou para pegar outra pedra. Ele a girou pra lá e pra cá em seus dedos; os olhos dele estavam grudados na pedra preta enquanto ele falava com uma voz baixa.
"Quando Sam viu... como você estava no começo, quando Billy os disse o quanto Charlie estava preocupado quando você não melhorou, e aí você começou a pular de penhascos..."
Eu fiz uma cara. Ninguém ia me deixar esquecer aquilo.
Os olhos de Jacob vieram para os meus. "Ele pensou que você era a única pessoa no mundo que teria tantas razões para odiar os Cullen quanto ele. Sam se sente meio... traído por você simplesmente ter deixado eles voltarem para a sua vida como se eles nunca tivessem te machucado".
Eu não acreditei nem por um segundo que era Sam que se sentia assim.

E o ácido na minha voz agora era para eles dois.
"Você pode dizer a Sam que ele -"
"Olhe pra isso", Jacob me interrompeu, apontando para uma águia que estava voando pra baixo em direção ao oceano de uma altura incrível. Ela se deteve no último minuto, apenas as suas garras quebrando a superfície das ondas, só por um instante. Depois ela levantou vôo, suas asas se debatendo contra o peso de um peixe enorme e ela tinha pego.
"Aqui você vê isso o tempo inteiro" Jacob disse, sua voz repentinamente distante. "A natureza tomando o seu curso - o caçador e a presa, e o interminável ciclo de vida e morte".
Eu não entendí a necessidade do discurso sobre a natureza; eu imaginei que ele estivesse só tentando mudar de assunto. Mas depois ele olhou de volta para mim com humor negro nos olhos.
"E mesmo assim, você não vê o peixe tentando dar um beijo na águia. Você nunca vê isso". Ele deu um sorriso de zombaria.
Eu correspondí com um sorriso forçado, apesar do gosto amargo ainda estar na minha boca. "Talvez o peixe estivesse tentando", eu sugerí. "É difícil dizer o que o peixe estava pensando. Águias são pássaros de boa aparência, você não acha?"
"É disso que se trata?" A voz dele estava abruptamente mais afiada. "Boa aparência?"
"Não seja estúpido, Jacob"
"É o dinheiro, então?", ele insistiu.
"Isso é legal" eu murmurei, me levantando da árvore. "Eu estou lisonjeada que você pense tão bem de mim". Eu dei as costas pra ele e comecei a ir embora.
"Aw, não fique com raiva". Ele estava bem atrás de mim; ele agarrou o meu pulso e me virou. "Eu estou falando sério! Eu estou tentando entender, e estou ficando em branco"
As minhas sobrencelhas se uniram raivosamente, e os olhos dele estavam pretos nas sombras escuras.
"Eu amo ele. Não porque ele é lindo ou porque ele é rico!" eu joguei a palavra em Jacob.

"Eu preferiria se ele não fosse nenhum dos dois. Isso iria balancear as coisas entre nós um pouquinho - porque ele ainda seria a pessoa mais amorosa e altruísta e brilhante e decente que eu já conhecí. É claro que eu amo ele. Será que isso é difícil de entender?"
"É impossível de entender".
"Por favor, me esclareça então, Jacob" eu deixei o sarcasmo voar solto. "Qual é o motivo válido pra se amar alguém? Já que aparentemente eu estou fazendo isso errado".
"Eu acho que o melhor lugar pra começar seria procurar entre a nossa própria espécie. Isso geralmente funciona".
"Bem, isso é uma droga!" eu atirei. "Eu acho que estou presa com Mike Newton afinal de contas".
Jacob enrijeceu e mordeu o lábio. Eu podia notar que as minhas palavras haviam machucado ele, mas eu ainda estava com raiva demais pra me sentir mal sobre isso. Ele soltou o meu pulso e cruzou os braços no peito, desviando de mim pra encarar o oceano.
"Eu sou humano", ele murmurou, sua voz quase inaudível.
"Você não é tão humano quanto Mike" eu continuei rudemente. "Você ainda acha que essa é a consideração mais inportante?"
"Não é a mesma coisa", Jacob não desviou o olhar das ondas cinzas. "Eu não escolhí isso".
Eu rí mais uma vez sem acreditar. "Você acha que Edward escolheu? Ele não sabia o que estava acontecendo com ele mais do que você sabia. Ele não se inscreveu pra isso".
Jacob estava balançando a cabeça pra frente e pra trás, num movimento pequeno, rápido.
"Sabe, Jacob, você é terrivelmente cheio de sí - levando em consideração que você é um lobisomem e tudo mais".
"Não é a mesma coisa", ele repetiu, olhando pra mim.
"Eu não vejo porque não. Você podia ser um pouco mais compreensívo com os Cullen. Você não tem idéia do quão realmente bons eles são - demais, Jacob".
A careta dele se aprofundou. "Eles não deviam existir. A existência deles vai contra a natureza".
Eu o encarei com um sobrancelha erguida incredulamente. Levou um tempo até que ele reparesse.
"O que ?"
"Falando de sobrenatural..." eu indiquei.

"Bella", ele disse com uma voz lenta e diferente. Amadurecida. Eu me dei conta de que de repente ele parecia ser mais velho que eu - como uma pai ou um professor. "O que eu sou nasceu comigo. Isso é parte de quem eu sou, de quem a minha família é, de quem toda a tribo é - essa é a razão pela qual ainda estamos aqui.
"Além do mais" - ele olhou pra mim, seus olhos pretos ilegíveis. "Eu ainda sou humano".
Ele pegou a minha mão e pressionou no seu peito febriamente quente. Através da sua camisa, eu podia sentir as batidas uniformes do coração dele na minha palma.
"Humanos normais não podem andar em motos do jeito que você faz".
Ele deu um meio sorriso fraco. "Humanos normais fogem de monstros, Bella. E eu nunca disse que era normal. Só humano."
Ficar com raiva de Jacob era trabalhoso demais. Eu comecei a sorrir enquanto tirava a minha mão do peito dele.
"Você é bastante humano pra mim", eu permití. "No momento".
"Eu me sinto humano". Ele olhou através de mim, o rosto dele estava entristecido. O lábio inferior dele estremeceu, e ele o mordeu com força.
"Oh, Jake", eu sussurrei, pegando a mão dele.
Era por isso que eu estava lá. Era por isso que eu aguentaria qualquer recepção que estivesse esperando por mim quando eu voltasse. Porque, por baixo de toda aquela raiva e sarcasmo, Jacob estava sentindo dor. Nesse momento, isso estava muito claro nos olhos dele. Eu não sabia como ajudá-lo, mas eu já sabia que eu tinha que tentar. Isso era mais do que porque eu o devia. Era porque a dor dele me machucava também. Jacob havia se tornado uma parte de mim, e não havia como mudar isso agora.

5. Imprimido

"Você está bem, Jake? Charlie disse que você está passando por um momento difícil... Isso não tá melhorando?"
A mão quente dele circulou a minha. "Não é tão ruim", ele disse, mas ele não me olhava nos olhos.
Ele caminhou lentamente para o banco de salgueiro, olhando para as pedrinhas com cor de arco-íris, e me puxando para o lado dele. Eu me sentei na nossa árvore, mas ele preferiu se sentar no chão molhado, coberto de pedras do que perto de mim. Eu me perguntei se era pra que ele pudesse esconder o rosto com mais facilidade. Ele continuou segurando minha mão.
Eu comecei a tagarelar para acabar com o silêncio. "Já faz tanto tempo desde que eu estive aqui. Eu provavelmente perdí uma tonelada de coisas. Como estão Sam e Emily? E Embry? E Quil -?"
Eu parei no meio da frase, lembrando que o amigo de Jacob, Quil, costumava ser uma assunto sensível.
"Ah, Quil", Jacob suspirou.
Então já devia ter acontecido - Quil deve ter se juntado ao bando.
"Eu lamento", eu murmurei.
Para a minha surpresa, Jacob bufou. "Não diga isso a ele".
"O que você quer dizer?"
"Quil não está procurando por pena. Pelo contrário - ele está contente. Simplesmente louco de felicidade".
Isso não fazia sentido pra mim. Todos os outros lobos tinham estado tão deprimidos com a idéia do amigo deles dividir esse mesmo destino. "Huh?"
Jacob pendeu a cabeça de lado pra olhar pra mim. Ele sorriu e revirou os olhos.
"Quil acha que isso é a coisa mais legal que já aconteceu com ele. Agora ele já sabe realmente o que está acontecendo. E ele está feliz por ter os amigos de volta - por ser parte "do grupo". Jacob bufou de novo. "Eu não devia estar supreso, eu acho. Isso é tão Quil".
"Ele gosta disso?"
"Honestamente... a maioria deles gosta", Jacob admitiu lentamente. "Definitivamente têm lados bons nisso - a velocidade, a liberdade, a força... o sensação de - de família... Sam e eu somos os únicos que se sentem mal. E Sam já superou isso a muito tempo. Então agora eu sou o bebê chorão." Jacob riu de sí mesmo.

Haviam tantas coisas que eu queria saber. "Porque você e Sam são diferentes? O que aconteceu com Sam, afinal? Qual é o problema dele?" As perguntas iam escapando sem dar tempo pra uma resposta, e Jacob riu de novo.
"Essa é uma longa história".
"Eu te contei uma longa história. Além do mais, eu não estou com pressa." Eu disse, e depois fiz uma careta quando eu pensei no problema em que ia me meter.
Ele olhou pra mim rapidamente, ouvindo o tom de dúvida nas minhas palavras. "Ele vai ficar com raiva de você?"
"Sim", eu adimití. "Ele realmente odeia quando eu faço coisas que ele considera... arriscadas".
"Como andar com lobisomens"
"É".
Jacob levantou os ombros. "Então não volte. Eu durmo no sofá".
"Essa é uma ótima idéia" eu rosnei. "Porque aí ele ia vir procurar por mim".
Jacob enrijeceu, e sorriu sem sinceridade. "Viria?"
"Se ele estivesse com medo de que eu fosse me machucar ou coisa assim - provavelmente"
"A minha idéia está parecendo melhor a cada segundo".
"Por favor, Jake. Isso realmente me incomoda"
"O que?"
"Que vocês dois estejam tão prontos pra matar um ao outro!" eu reclamei. "Isso me deixa louca. Porque vocês dois não podem ser civilizados?"
"Ele está pronto pra me matar?" Jacob perguntou com um sorriso de zombaria, despreocupado com a minha raiva.
"Não como você parece estar!" eu me dei conta de que estava gritando. "Pelo menos ele consegue ser maturo em relação a isso. Ele sabe que te machucar ia me machucar - então ele nunca faria isso. Você não parece se importar com isso nem um pouco!"
"É, tá", Jacob murmurou. "Estou certo de que ele é um pacificador".
"Ugh!" eu puxei a minha mão da dele e empurrei a cabeça dele pra longe. Então eu puxei os meus joelhos para o meu peito e passei os meus braços com força ao redor deles.
Eu olhei para o horizonte, enfurecida.
Jacob ficou quieto por alguns minutos. Finalmente, ele levantou do chão e se sentou ao meu lado, colocando o braço ao redor do meu ombro. Eu o afastei.
"Desculpe", ele disse baixinho.

"Eu vou tentar me comportar".
Eu não respondí.
"Você quer ouvir sobre Sam?", ele ofereceu.
Eu levantei os ombros.
"Como eu disse, é uma longa história. E muito... estranha. Existem muitas coisas estranhas sobre essa nova vida. Eu não tive tempo pra te contar nem a metade. E essa coisa com Sam - bem, eu não sei se serei capaz de explicar direito".
As palavras dele eriçaram a minha curiosidade apesar da minha irritação.
"Eu estou ouvindo", eu disse rigidamente.
Pelo canto do meu olho, eu ví os cantos da boca dele se levantarem em um sorriso.
"Sam e eu sofremos muito mais com isso do que os outros. Porque ele foi o primeiro, e ele estava sozinho, e ele não tinha ninguém pra dizê-lo o que estava acontecendo. O avô de Sam morreu antes que ele tivesse nascido, e o pai dele nunca esteve por perto. Não havia niguém lá pra reconhecer os sinais. Na primeira vez que aconteceu - a primeira vez que ele se transformou - ele pensou que tinha enlouquecido. Ele levou duas semanas pra se acalmar o suficiente pra voltar ao normal.
"Isso foi antes de você vir a Forks, então você não poderia lembrar. A mãe de Sam e Leah Clearwater fizeram os guardas da floresta procurar ele, a polícia. As pessoas pensaram que ele tinha sofrido um acidente ou algo assim..."
"Leah", eu perguntei, surpresa. Leah era a filha de Harry. Ouvir o nome mandou uma onda imediata de piedade por mim. Harry Clearwater, velho amigo de Charlie, tinha morrido de um ataque do coração na primavera passada.
A voz dele mudou, ficou mais pesada. "É. Leah e Sam eram namorados na escola. Eles começaram a namorar quando ela ainda era caloura. Ela ficou frenética quando ele desapareceu."
"Mas ele e Emily -"
"Eu vou chegar lá - isso é parte da história", ele disse. Ele inalou lentamente, e exalou com força.
Eu acho que eu tinha sido boba por pensar que Sam nunca havia amado ninguém além de Emily. A maioria das pessoas se apaixona e desapaixona tantas vezes na vida. É só que eu tinha visto Sam com Emily, e eu não conseguia imaginá-lo com mais ninguém.

O jeito como ele olhava pra ela... bem, isso me lembrava de um olhar que eu já tinha visto algumas vezes nos olhos de Edward - quando ele estava olhando pra mim.
"Sam voltou", Jacob disse. "mas ele não disse a ninguém onde havia estado. Os rumores começaram a aparecer - de que ele não estava fazendo nada bom, em grande parte. E depois Sam se bateu com o avô de Quil quando o velho Quil Ateara veio visitar a Sra. Uley. Sam balançou a mão dele. O velho Quil quase teve um derrame". Jacob parou pra rir.
"Porque?"
Jacob colocou a mão na minha bochecha e puxou meu rosto pra que eu pudesse olhar pra ele - ele estava inclinado na minha direção. A palma dele queimava a minha pele, como se ele estivesse com febre.
"Oh, certo", eu disse. Eu estava desconfortável, tendo o meu rosto tão perto do dele e a mão quente dele na minha pele. "Sam estava com a temperatura alta".
Jacob riu de novo. "Parecia que Sam tinha colocado a mão dele no fogão".
Ele estava tão perto, que eu podia sentir a sua respiração quente. Eu alcancei casualmente, pra retirar a mão dele e libertar o meu rosto, mas entralecei meus dedos com os dele pra não magoar seus sentimentos. Ele sorriu e se afastou, sem ser enganado com a minha tentativa de ser gentil.
"Então o Sr. Ateara foi até os anciões", Jacob continuou. "Eles eram os únicos que haviam restado que ainda sabiam, ainda lembravam. O Sr. Ateara, Billy e Harry realmente haviam visto seus avôs se tranformando. Quando o velho Quil os contou, eles se encontraram com Sam secretamente e explicaram.
"Foi mais fácil quando ele entendeu - quando ele não estava mais sozinho. Eles sabiam que ele não seria o único a ser afetado pela volta dos Cullen" - ele pronunciou o nome com uma acidez incosciente - "mas ninguém mais era velho o suficiente. Então Sam esperou até que o resto de nós se juntasse a ele..."
"Os Cullen não tinham idéia", eu disse em um sussurro. "Eles não sabiam que os lobisomens ainda existiam aqui. Eles não sabiam que vir aqui faria com que vocês mudassem".

"Isso não muda o fato de que fez"
"Me lembre não não mexer com o seu lado ruim".
"Você acha que eu devia perdoá-los como você? Nós não podemos ser todos Santos e Mártires".
"Cresça, Jacob."
"Eu queria poder", ele murmurou baixinho.
Eu o encarei, tentando entender o sentido da frase dele. "O que?"
Jacob gargalhou. "Uma daquelas muitas coisas estranhas que eu mencionei".
"Você... não pode... crescer?" eu disse vazia. "Você o que? Não vai... envelhecer? Isso é uma piada?"
"Nope", ele estalou os lábios no P.
Eu sentí o sangue escapando do meu rosto. Lágrimas - lágrimas de raiva - encheram os meus olhos. Os meus dentes rangeram, com um audível som incômodo.
"Bella? O que foi que eu disse?"
Eu estava de pé de novo, minhas mãos eram bolas nos meus pulsos, o meu corpo estava tremendo.
"Você. Não. Vai. Envelhecer". Eu rugí por entre os dentes.
Jacob puxou o meu braço gentilmente, tentando me fazer sentar. "Nenhum de nós vai. Qual é o problema com você?"
"Eu sou a única que tem que ficar velha? Eu estou ficando mais velha a cada dia nojento!" eu preticamente gritei, jogando as mãos pra o ar. Uma parte de mim reconheceu que eu estava fazendo um escândalo Charlie-esco, mas essa parte racional estava dominada pela parte irracional. "Droga! Que espécie de mundo é esse? Onde está a justiça?"
"Pega leve, Bella"
"Cala a boca, Jacob. Só cala a boca! É tão injusto!"
"Você seriamente acabou de bater o pé? Eu pensei que as garotas só faziam isso na TV".
Eu rosnei de forma não impressionante.
"Não é tão ruim quanto você pensa. Sente e eu vou explicar".
"Eu vou ficar de pé"
Ele revirou os olhos. "Tá certo. O que você quiser. Mas escute, eu vou envelhecer... algum dia".
"Explique".
Ele deu um tapinha na árvore. Eu rosnei por um segundo, mas depois eu me sentei; meu temperamento melhorou tão rapidamente quanto tinha piorado e eu me acalmei o suficiente pra me dar conta que eu estava fazendo papel de boba.

"Quando nos tornarmos velhos o suficiente pra desistir..." Jacob disse. "Quando nós pararmos de nos transformar por uma sólida quantidade de tempo, nós envelheceremos de novo. Não é fácil". Ele balançou a cabeça, abruptamente duvidoso. "Vai levar bastante tempo para aprender esse tipo de restrinção, eu acho. Sam ainda nem chegou lá. É claro que não ajuda o fato de que há um enorme grupo de vampiros por perto. Nós não podemos nem pensar em desistir enquanto a tribo precisar de protetores. Mas você não devia ficar louca por causa disso, de qualquer forma, porque eu já sou mais velho de que você, fisicamente, pelo menos".
"Do que é que você está falando?"
"Olha pra mim, Bells. Você acha que eu pareço ter dezesseis?"
Eu olhei para a estatura de mamute dele, tentando ser imparcial. "Não exatamente, eu acho".
"Nem um pouco. Porque nós atingimos a maturidade máxima dentro de alguns meses quando o gene lobisomem é ativado. É um tremendo período de crescimento." Ele fez uma cara. "Fisicamente, eu provavelmente tenho vinte e cinco ou coisa parecida. Então você não precisa se preocupar em ser velha demais pra mim por pelo menos sete anos".
Vinte e cinco ou coisa assim. A idéia mexeu com a minha cabeça. Mas eu me lembrei daquele período de crescimento - eu me lembrei de observar ele crescer bem em frente aos meus olhos. Eu me lembrei de como ele parecia diferente todos os dias... eu balancei a minha cabeça, me sentindo tonta.
"Então, você quer ouvir sobre Sam, ou você quer gritar mais comigo por coisas que estão fora do meu controle?"
Eu respirei fundo. "Desculpa. Idade é um assunto complicado pra mim. Isso atacou meus nervos".
Os olhos de Jacob estreitaram, como se ele estivesse tentendo decidir a forma de falar alguma coisa.
Já que eu não queria falar sobre as coisas realmente complicadas pra mim - meus planos pra o futuro, ou os acordos que podiam ser quebrados por tais planos, eu fiz ele ir em frente.

"Então, quando Sam entendeu o que estava acontecendo, quando ele tinha Billy e Harry e o Sr. Ateara, você disse que não foi mais difícil. E, como você também disse, existem partes boas..." eu hesitei brevemente. "O que faz Sam odia-los tanto? O que faz ele desejar que eu os odei?"
Jacob suspirou. "Essa á a perte realmente estranha".
"Eu sou profissional em coisas estranhas".
"É, eu sei". Ele riu antes de continuar. "Então, você está certa. Sam sabia o que estava acontecendo, e tudo estava meio que bem. Em maioria, a vida dele estava, bem, não normal. Mas melhor". Aí a expressão de Jacob endureceu, como se alguma coisa dolorosa estivesse vindo. "Sam não podia contar a Leah. Nós não devemos contar a ninguém que não deva saber. E não era muito seguro ele estar perto dela - mas ele trapaceou, exatamente como eu fiz com você. Leah ficou furiosa por ele não contá-la o que estava acontecendo - onde ele havia estado, onde ele esteve a noite inteira, porque ele estava sempre tão exausto - mas eles estavam fazendo dar certo. Eles estavam tentando. Eles realmente se amavam".
"Ela descobriu? Foi isso que aconteceu?"
Ele balançou a cabeça. "Não, esse não é o problema. A prima dela, Emily Young, veio da reserva de Makah pra fazer uma visitar ela num fim de semana".
Eu sufoquei. "Emily é prima de Leah?"
"Prima de segundo grau. No entanto, elas são próximas. Elas eram como irmãs quando eram crianças."
"Isso é... horrível. Como Sam pôde...?" eu parei, balançando minha cabeça.
"Não o julgue ainda. Alguém já te disse... Você já ouviu falar da impressão?"
"Impressão?" eu repetí a palavra estranha. "Não. O que significa?"
"É uma daquelas coisas estranhas com as quais eu tenho que lidar. Isso não acontece com todo mundo. Na verdade, eu acho que é uma rara excessão, não uma regra. Até essa hora, Sam já havia ouvido todas as histórias, as histórias que todos nós costumávamos pensar que eram lendas. Ele ouviu da impressão, mas ele nunca sonhou que..."

"O que é?" eu instiguei.
Os olhos de Jacob grudaram no oceano. "Sam amava Leah. Mas quando ele viu Emily, isso não importou mais. As vezes... nós não sabemos exatamente porque... nós encontramos as nossas parceiras assim". Os olhos dele voltaram pra mim, o rosto dele ficando vermelho. "Eu quero dizer... as nossas almas gêmeas".
"Que jeito? Amor à primeira vista?" eu rí silenciosamente.
Jacob não estava rindo. Os olhos dele estavam criticando a minha reação. "Isso é um pouco mais poderoso do que isso. Mais absoluto".
"Desculpa", eu murmurei. "Você estão falando sério, não está?"
"É, eu estou".
"Amor à primeira vista? Mas mais poderoso?" A minha voz soava duvidosa, e ele podia ouvir isso.
"Não é fácil explicar. De qualquer forma, não importa". Ele levantou os ombros indiferentemente. "Você queria saber o que aconteceu com Sam pra fazê-lo odiar os vampiros por fazer ele mudar, pra fazê-lo odiar a sí mesmo. E foi isso que aconteceu. Ele partiu o coração de Leah. Ele teve que voltar atrás em todas as promessas que havia feito a ela. Todos os dias ele tem que ver a acusação nos olhos dela, e saber que ela está certa".
Ele parou de falar abruptamente, como se ele tivesse dito alguma coisa que não devia ter dito.
"Como Emily lidou com isso? Se ela era tão próxima a Leah...?" Sam e Emily eram extremamente certos juntos, duas partes de quebra-cabeças, feitos um para o outro exatamente. Ainda assim... Como Emily ignorou o fato de que ele pertencia a outra pessoas? Quase a irmã dela.
"Ela ficou com muita raiva no início, mas era dificil resistir àquele nível de compromisso e adoração". Jacob suspirou. "E depois, Sam pôde contar tudo pra ela. Não existem regras que te impeçam quando você realmente encontra a sua outra metade. Você sabe como ela se machucou?"
"Sei". A história em Forks era de que ela tinha sido atacada por um urso, mas eu sabia do segredo.
Lobisomens são instáveis, Edward tinha dito. As pessoas próximas a eles se machucam.

"Bem, estranhamente o suficiente, isso foi meio que a forma como eles acertaram as coisas. Sam ficou tão horrorizado, tão enojado consigo mesmo, tão cheio de ódio pelo que ele havia feito... Ele teria se atirado na frente de um ônibus se isso fizesse com que ela se sentisse melhor. Ele deve ter feito do mesmo jeito, só pra escapar do que ele havia feito. Ele estava arrasado... Então, de alguma forma, era ela que estava confortando ele, e no fim das contas..."
Jacob não terminou o seu pensamento, e eu sentí que a história tinha se tornado pessoal demais pra dividir.
"Pobre Emily", eu sussurrei. "Pobre Sam. Pobre Leah..."
"É, Leah ficou com a pior parte", ele concordou. "Ela faz cara de durona. Ela vai ser uma das damas de honra".
Eu olhei pra longe, para as rochas pontudas que se erguiam do oceanos como se fossem dedos quebrados ao sul do porto, enquanto eu tentei entender o sentido disso tudo. Eu podia sentir os olhos dele no meu rosto, esperando que eu dissesse alguma coisa.
"Isso aconteceu com você?", eu finalmente perguntei, ainda olhando pra longe. "Essa coisa de amor à primeira vista?"
"Não", ele respondeu vivamente. "Sam e Jared são os únicos".
"Hmm" eu disse, tentando soar educadamente interessada. Eu estava aliviada, e eu tentei explicar a minha reação para mim mesma. Eu decidí que eu só estava feliz que não havia nenhuma ligação mística, de lobos, entre nós. O nosso relacionamento já era confuso o suficiente do jeito que era. Eu não queria mais nada sobrenatural além daquilo com o que eu já tinha que lidar.
Ele estava quieto também, e o silêncio ficou um pouco estranho. A minha intuição me disse que eu não ia querer saber o que ele estava pensando.
"Como foi que isso funcionou pra Jared?" eu perguntei pra quebrar o silêncio.
"Nenhum drama aqui. Era só uma garota da qual ele passou o ano todo sentando perto na escola e ele nunca a olhou duas vezes. E depois, quando ele foi transformado, ele olhou pra ela e não conseguiu desviar o olhar".

"Kim ficou muito feliz. Ela tinha uma enorme queda por ele. Ela tinha escrito o sobrenome dele depois do nome dela no diário dela inteiro". Ele sorriu de zombaria.
Eu fiz uma careta. "Jared te contou isso? Ele não devia ter contado".
Jacob mordeu o lábio. "Eu acho que não devia rir. No entanto, é engraçado".
"Bela alma gêmea".
Ele suspirou. "Jared não nos contou de propósito. Eu já te contei essa parte, lembra?"
"Oh, é. Vocês podem ouvir os pensamentos uns dos outros, mas só quando são lobos, certo?"
"Certo. Igual ao seu sugador de sangue".
"Edward", eu corrigí.
"Claro, claro. É assim que eu sei tanto sobre como Sam se sentiu. Não é como se ele fosse nos contar isso se ele tivesse escolha. Na verdade, isso é uma coisa que todos nós odiamos." A acidez repentinamente endureceu a voz dele. "É horrível. Sem privacidade, sem segredos. Todas as coisas das quais você se envergonha, expostas pra todo mundo ver". Ele estremeceu.
"Parece horrível", eu sussurrei.
"Isso é útil quando nós precisamos nos coordenar", ele disse carrancudo. "Uma vez a cada lua azul, quando um sugador de sangue ultrapassa o nosso território. Laurent foi divertido. E se os Cullen não tivessem ficado no nosso caminho no Sábado passado... ugh!" ele rugiu. "Nós podíamos ter agarrado ela!" Os punhos dele viraram duas bolas raivosas.
Eu enrijecí. Mesmo me preocupando que Jasper ou Emmett se machucassem, isso não era nada comparado com o pânico que eu sentí com a idéia de Jacob tentando enfrentar Victoria. Emmett e Jasper eram as duas coisas mais próximas do indestrutível que eu podia imaginar. Jacob ainda era quente, ainda era comparativamente humano. Mortal. Eu pensei em Jacob enfrentando Victoria, seu cabelo brilhante esvoaçando ao redor do seu rosto estranhamente felino... e estremecí.
Jacob olhou pra mim com uma expressão curiosa. "Mas não é assim pra você o tempo todo? Tendo ele em sua cabeça?"
"Oh, não. Edward nunca está em minha cabeça. Ele só deseja isso".

A expressão de Jacob ficou confusa.
"Ele não pode me ouvir", eu expliquei, a minha voz estava um pouco presumida por causa do hábito. "Eu sou a única que é assim pra ele. Nós não sabemos porque ele não pode".
"Estranho", Jacob disse.
"É", a presunção desapareceu. "Isso provavelmente significa que tem alguma coisa errada com o meu cérebro", eu admití.
"Eu já sabia que tinha alguma coisa errada com o seu cérebro", Jacob murmurou.
"Obrigada".
O sol saiu do meio das nuvens de repente, uma surpresa que eu não estava esperando, e eu tive que apertar os meus olhos pra olhar para a água. Tudo tinha mudado de cor - as ondas mudaram de cinza para azul, as árvores de uma cor de oliva chata para um brilhante jade, e as pedrinhas com cor de arco-íris brilhavam como se fossem pedras preciosas.
Nós piscamos por um segundo, deixando os nossos olhos se ajustarem. Não havia nenhum som além do murmúrio das ondas que ecoavam de todos os lados do porto abrigado, o som suave das pedras batendo umas contra as outras a cada movimento que a água fazia, e o choro das gaivotas lá no alto. Era muito tranquilo.
Jacob se aproximou de mim, até que ele estava se inclinando no meu braço. Ele era tão quente. Depois de um minuto disso, eu tirei o meu casaco de chuva. Ele fez um sonzinho de contentamento no fundo da garganta, e descansou o seu queixo em cima da minha cabeça. Eu podia sentir o sol esquentando a minha pele - apesar dele não ser tão quente quanto Jacob. E eu me perguntei à toa quanto tempo eu levaria até me queimar.
Com a mente ausente, eu virei minha mão direita para o lado, e observei a minha pele brilhar subtamente na cicatriz que James havia me deixado lá.
"No que você está pensando?" ele murmurou.
"O sol".
"Hmm. É legal".
"No que você está pensando?"
Ele gargalhou para sí mesmo. "Eu estava lembrando daquele filme idiota que você me levou. E de Mike Newton vomitando em tudo".
Eu rí também, surpresa de ver como o tempo havia mudado aquela memória. Ela costumava ser uma memória de estresse, de confusão.

Tanta coisa mudou naquela noite... E agora eu podia rir. Essa foi a última noite que eu e Jacob haviamos tido antes que ele soubesse a verdade sobre a sua herança. A última memória humana. Uma memória estranhamente agradável agora.
"Eu sentí falta disso", Jacob disse. "Do jeito que isso costumava ser tão fácil... descomplicado. Eu estou feliz por ter uma boa memória". Ele suspirou.
Ele sentiu a tensão repentina no meu corpo quando as memórias dele desencadearam as minha próprias memórias.
"O que foi?" ele perguntou?
"Sobre essa sua boa memória..." eu me separei dele pra que assim eu pudesse ver o seu rosto. No momento, ele estava confuso. "Você se importa de dizer o que você estava fazendo na Segunda de manhã? Você estava pensando em alguma coisa que incomodou Edward". Incomodaram não era exatamente a palavra pra isso, mas eu queria uma resposta, então eu achei que era melhor não começar muito severamente.
O rosto de Jacob brilhou com a compreensão, e ele riu. "Eu só estava pensando em você. Ele não gostou muito, não é?"
"Em mim? O que sobre mim?"
Jacob sorriu de novo, dessa vez com um tom mais duro. "Eu estava me lembrando do jeito como você estava na noite em que Sam te achou - eu ví isso na cabeça dele, e é como se eu estivesse lá; aquela memória sempre perseguiu Sam, sabe. E depois eu me lembrei de como você estava na primeira vez que foi na minha casa. Eu aposto que você não imagina a confusão que você estava na época, Bella. Levaram semanas até que você começasse a parecer humana de novo. E eu me lembrei de como você sempre costumava passar os braços ao redor de sí mesma, tentando se manter inteira..." Jacob gemeu, e depois balançou a cabeça. "É difícil pra mim lembrar do quanto você estava triste, e não era minha culpa. Então eu me dei conta de que seria mais difícil pra ele. E eu pensei que ele devia dar uma olhada no que ele tinha feito".
Eu batí no ombro dele. Isso machucou a minha mão. "Jacob Black, nunca mais faça isso de novo! Me prometa que você não vai".

"De jeito nenhum. Eu não me divertia daquele jeito ha meses".
"Então me ajude, Jake -"
"Oh, deixa dessa, Bella. Quando é que eu vou conseguir vê-lo de novo? Não se preocupe com isso".
Eu fiquei de pé, e ele segurou a minha mão enquanto começamos a caminhar. Eu tentei me soltar.
"Eu vou embora, Jacob".
"Não, não vá ainda", ele protestou, a mão dele apertando a minha. "Me desculpe. E... está bem, eu não vou fazer aquilo de novo. Prometo".
Eu suspirei. "Obrigada, Jake".
"Vamos lá, vamos voltar para a minha casa", ele disse ansiosamente.
"Na verdade, eu acho que eu realmente preciso ir. Angela Weber está me esperando, e eu sei que Alice está preocupada. Eu não quero deixá-la muito chateada."
"Mas você acabou de chegar aqui!"
"É que parece", eu concordei. Eu olhei para o sol, de alguma forma ele já estava diretamente à frente. Como o tempo tinha passado tão rapidamente?
As sobrancelhas dele se juntaram em cima dos seus olhos. "Eu não sei quando vou ver você de novo", ele disse com uma voz machucada.
"Eu volto da próxima vez que ele estiver longe", eu prometí impulsivamente.
"Longe?" Jacob rolou os olhos. "Essa é uma forma legal de descrever o que ele está fazendo. Parasitas nojentos".
"Se você não consegue ser gentil, eu não vou voltar!" eu ameacei, tentando soltar a minha mão. Ele se recusou a soltar.
"Aw, não fique com raiva", ele disse, rindo. "Reação instantânea".
"Se eu vou tentar vir outra vez, você vai ter que entender bom uma coisa, certo?"
Ele esperou.
"Entenda", eu expliquei. "Eu não me importo com quem é o vampiro e quem é o lobisomem. Isso é irrelevante. Você é Jacob, e ele é Edward, e eu sou Bella. Nada mais importa".
Os olhos dele estreitaram um pouco. "Mas eu sou um lobisomem", ele disse sem vontade. "E ele é um vampiro", ele disse com óbvia repulsa.
"E eu sou do signo de Virgem!" eu gritei, exasperada.

Ele ergueu as sobrancelhas, medindo a minha expressão com olhos curiosos. Finalmente, ele ergueu os ombros.
"Se você realmente consegue ver dessa forma..."
"Eu consigo. Eu vejo."
"Está bem. Simplesmente Bella e Jacob. Nada desses Virginianos esquisitos por aqui". Ele sorriu pra mim, o sorriso cálido, familiar do qual eu sentia tanta falta. Eu sentí o sorriso de resposta se abrindo no meu rosto.
"Eu realmente sentí sua falta, Jake" Eu admití impulsivamente.
"Eu também" o sorriso dele abriu mais. Os olhos dele estavam felizes e claros, livres pelo menos uma vez da raiva ácida. "Mais do que você sabe. Você vai voltar logo?"
"Assim que eu puder", eu prometi

6. Suíça

Enquanto eu dirigia pra casa, eu não estava prestando muita atenção na estrada que brilhava com a água no sol. Eu estava pensando o jorro de informações que Jacob havia dividido comigo, tentando desvendar tudo, forçar isso a ter sentido. Apesar da sobre-carga, eu me sentia mais leve. Ver Jacob sorrir, ter todos os segredos colocados pra fora... isso não deixava as coisas perfeitas, mas as fazia melhores. Eu estava certa por ter ido. Jacob precisava de mim. E obviamente, eu pensei enquanto piscava com causa da claridade, não havia nenhum perigo.
Ele apareceu do nada. Num minuto não havia nada além da pista clara no meu espelho retrovisor. No minuto seguinte, o sol estava resplandescendo em um Volvo prateado que estava na minha cola.
"Aw, droga", eu choraminguei.
Eu considerei parar. Mas eu era covarde demais pra enfrentá-lo imediatamente. Eu estava contando com algum tempo pra me preparar... e ter Charlie por perto como amortecedor. Pelo menos ele ia se esforçar pra manter a voz baixa.
O Volvo seguia a uns metros atrás de mim. Eu mantive os meus olhos na estrada em frente.
Como a covarde que eu era, eu dirigí direto para a casa de Angela sem encontrar nenhuma vez os olhos que eu sentia me queimando um buraco no espelho retrovisor.
Ele me seguiu até que eu parei na calçada na frente da casa dos Weber. Ele não parou, e eu não olhei pra cima quando ele passou. Eu não queria ver a expressão no rosto dele. Eu corrí pela curta calçada de concreto até a porta de Angela quando ele estava fora de vista.
Ben atendeu a porta antes que eu pudesse terminar de bater, como se ele estivesse de pé atrás dela.
"Hey, Bella!", ele disse, surpreso.
"Oi, Ben. Er, Angela está aqui?" eu me perguntei se Angela teria esquecido os nossos planos, e estremecí com o pensamento de voltar pra casa mais cedo.
"Claro", Ben disse exatamente quando Angela chamou, "Bella!" e apareceu no topo das escadas.

Ben espiou através de mim enquanto nós dois ouvimos o som de um carro na estrada; o som não me assustou - esse motor fez barulho quando parou, acompanhado pelo estouro da descarga. Nada como o ronco do Volvo. Esse devia ser o visitante que Ben estava esperando.
"Austin está aqui", Ben disse quando Angela chegou ao lado dele.
Uma buzina soou na rua.
"Eu te vejo mais tarde", Ben prometeu. "Já sinto sua falta".
Ele jogou o braço ao redor do pescoço de Angela e trouxe o rosto dela pra baixo até a altura dele pra que ele pudesse dar um beijo nela com entusiasmo. Depois de um segundo disso, Austin buzinou de novo.
"Tchau, Ang! Te amo!", Ben gritou enquanto passava correndo por mim.
Angela virou, o rosto dela levemente rosado, depois se recuperou e acenou até que Ben e Austin estivessem fora de vista. Depois ela se virou pra mim e sorriu significantemente.
"Obrigada por fazer isso, Bella", ela disse. "Do fundo do meu coração. Você não está apenas salvando as minhas mãos de danos permanentes, você também me poupou de duas longas horas de um filme chato e com artes-marcias de má qualidade." Ela suspirou aliviada.
"Feliz por servir", Eu estava sentindo um pouco menos de pânico, e era capaz de respirar um pouco mais uniformemente. Eu me sentia tão normal aqui. As dramas fáceis de Angela eram estranhamente tranquilizadores. Era legal saber que eu era normal em algum lugar.
Eu seguí Angela pelas escadas até o quarto dela. Ela chutou brinquedos fora do caminho enquanto passava. A casa estava estranhamente quieta.
"Onde está a sua família?"
"Os meus pais levaram os gêmeos para uma festa de aniversário em Port Angeles. Eu não posso acreditar que você realmente vai me ajudar com isso. Ben está fingindo que tem tendinite". Ela fez uma cara.
"Eu não me importo nem um pouco". Eu disse, e então entrei no quarto de Angela e ví as pilhas de envelopes esperando.
"Oh!" eu ofeguei. Angela virou pra olhar pra mim, pedindo desculpas com os olhos. Eu podia ver porque ela esteve adiando isso, e porque Ben pulou fora.

"Eu pensei que você estivesse exagerando", eu admití.
"Eu queria. Você tem certeza que quer fazer isso?"
"Me faça trabalhar. Eu tenho o dia inteiro"
Angela dividiu uma pilha na metade e colocou o livro de endereços da mãe dela entre nós em cima da mesa. Por um momento nós nos concentramos, e só havia o som das nossas canetas passando quietamente sobre o papel.
"O que Edward vai fazer essa noite?", ela perguntou depois de alguns minutos.
A minha caneta afundou no envelope no qual eu estava escrevendo. "Emmett está em casa para o fim de semana. Eles deviam estar caminhando".
"Você diz isso como se não tivesse certeza".
Eu levantei os ombros.
"Você tem sorte que Edward tem os irmãos pra fazer as caminhadas e os acampamentos. Eu não sei o que eu faria se Ben não tivesse Austin para essa coisa de garotos."
"É, o ar livre não é pra mim. E não tem jeito de eu ser capaz de acompanhar".
Angela riu. "Eu também prefiro ficar em casa".
Ela se concentrou na sua pilha por um minuto. Eu escreví mais quatro endereços. Nunca havia a pressão de encher uma pausa com tagarelice sem sentido com Angela. Como Charlie, ela ficava confortável com o silêncio.
Mas, como Charlie, ela também era muito observadora as vezes.
"Tem algo errado?" ela perguntou com uma voz baixa agora. "Você parece... ansiosa".
Eu sorrí bobamente. "É assim tão óbvio?"
"Na verdade não".
Ela provavelmente estava mentindo pra fazer eu me sentir melhor.
"Você não precisa falar disso a não ser que queira", ela me assegurou. "Eu vou escutar se você achar que eu posso ajudar".
Eu estava prestes a dizer obrigada, mas não, obrigada. Afinal, haviam segredos demais que eu precisava guardar. Eu realmente não podia discutir os meus problemas com alguém humano. Isso era contra as regras.
E mesmo assim, com uma intensidade estranha, repentina, isso era exatamente o que eu queria. Eu queria falar com uma amiga normal e humana. Eu queria gemer um pouco, como qualquer outra garota adolescente.

Eu queria que os meus problemas fossem assim tão simples. Também seria legal ter alguém de fora dessa bagunça de vampiros-lobisomens pra colocar as coisas em perspectiva. Uma pessoa neutra.
"Eu vou cuidar dos meu próprios assuntos", Angela prometeu, sorrindo para o endereço no qual ela estava trabalhando.
"Não", eu disse. "Você está certa. Eu estou ansiosa. É... é Edward".
"O que há de errado?"
É tão fácil conversar com Angela. Quando ela perguntava uma coisa assim, eu podia notar que ela não estava apenas morbidamente curiosa ou procurando uma fofoca, como Jéssica estaria. Ela se importava por eu estar chateada.
"Oh, ele está com raiva de mim".
"Isso é difícil de imaginar", ela disse. "Do que ele está com raiva?"
Eu suspirei. "Você se lembra de Jacob Black?"
"Ah", ela disse
"É".
"Ele está com ciúmes".
"Não, não com ciúmes..." eu devia ter mantido a minha boca fechada. Não tinha jeito de explicar isso direito. Mas eu queria continuar falando do mesmo jeito. Eu não tinha me dado conta de que estava faminta por conversa humana. "Edwad pensa que Jacob é... uma máinfluência, eu acho. Meio... perigoso. Você sabe em quantos problemas eu me metí há uns meses atrás... no entanto, isso é ridículo".
Eu fiquei surpresa por ver Angela balançando a cabeça.
"O que?", eu perguntei.
"Bella, eu ví como Jacob Black olha pra você. Eu apostaria que o problema de verdade é ciúme".
"Não é assim com Jacob".
"Pra você, talvez, mas pra Jacob..."
Eu fiz uma careta. "Jacob sabe como eu me sinto. Eu o disse tudo".
"Edward é apenas um humano, Bella. Ele vai reagir como qualquer outro garoto".
Eu fiz uma careta. Eu não tinha uma resposta pra isso".
Ela deu um tapinha na mão. "Ele vai superar isso".
"Eu espero que sim. Jacob está passando por um período meio difícil. Ele precisa de mim".
"Você e Jacob são muito próximos, não são?"
"Como família", eu concordei.
"E Edward não gosta dele... Isso deve ser difícil. Eu me pergunto como Ben lidaria com isso?" ela meditou.

Eu dei um meio sorriso. "Provavelmente como qualquer outro garoto".
Ela riu. "Provavelmente"
Aí ela mudou de assunto. Angela não era de forçar a barra, e ela pareceu pressentir que eu não ia - que eu não podia - dizer mais nada.
"Eu peguei a minha inscrição para o dormitório hoje. O prédio mais afastado do campus, naturalmente".
"Ben já sabe onde ele vai ficar?"
"No dormitório mais próximo do campus. Ele ficou com toda a sorte. E quanto a você? Você já decidiu pra onde vai?"
Eu olhei pra baixo, me concentrando nos garranchos da minha caligrafia. Por um segundo eu me distraí com o pensamento de Angela e Ben na Universidade de Washington. Será que a ameaça de vampiros mais jovens já teria se mudado pra outro lugar? Haveria outro lugar, alguma outra cidade tremendo com as manchetes de filmes de terror?
Seriam essas manchetes por minha causa?
Eu tentei deixar isso pra lá e respondí a pergunta dela um pouco atrasada. "Alaska, eu acho. A universidade lá de Juneau".
eu podia ouvir a surpresa na voz dela. "Alaska? Oh. Mesmo? Quer dizer, isso é ótimo. Eu só achei que você fosse pra um lugar mais... quente".
Eu rí um pouco, ainda olhando para o envelope. "É. Forks realmente mudou a minha perspectiva de vida".
"E Edward?"
Apesar do nome dele ter feito borboletas flutuarem no meu estômago, eu olhei pra cima e sorrí pra ela. "Alaska também não é frio demais pra Edward."
Ela sorriu de volta. "É claro que não" E depois ela suspirou. "É longe demais. Você não será capaz de voltar pra casa com muita frequência. Eu vou sentir sua falta. Você me manda e-mails?"
Uma onda de tristeza silenciosa passou por mim; talvez fosse um erro me aproximar de Angela agora. Mas não seria ainda mais triste perder essas últimas chances? Eu deixei pra lá os pensamentos tristes, pra poder responder a ela com zombaria.
"Se eu puder digitar de novo depois disso" Eu acenei com a cabeça em direção à pilha de envelopes que eu havia feito.

Nós rimos, e depois foi fácil conversar sobre alegremente sobre as aulas e os formandos enquanto terminávamos o resto - Tudo o que eu tive que fazer foi não pensar nisso. De qualquer forma, haviam coisas mais urgentes com as quais me preocupar hoje.
Eu ajudei ela a colocar os selos também. Eu estava com medo de ir embora.
"Como está a sua mão?" ela perguntou.
Eu flexionei os meus dedos. "Eu acho que recuperarei completamente o uso... algum dia".
A porta bateu lá embaixo, e nós duas olhamos pra cima.
"Ang?", Ben chamou.
Eu tentei sorrir, mas os meus lábios tremeram. "Eu acho que essa é a minha deixa pra ir embora".
"Você não precisa ir. Apesar de que ele provavelmente vai descrever o filme pra mim... em detalhes".
"De qualquer maneira Charlie vai ficar se perguntando onde eu estou."
"Obrigada por me ajudar".
"Na verdade, eu me divertí. Nós devíamos fazer algo assim de novo. É legal ter um tempo de garotas".
"Definitivamente".
Houve uma batida de leve na porta do quarto.
"Entre, Ben", Angela disse.
Eu me levantei e me estiquei.
"Hey, Bella! Você sobreviveu", Ben me saudou rapidamente antes de ir tomar o meu lugar ao lado de Angela. Ele olhou o nosso trabalho. "Belo trabalho. Que pena que não tem mais nada pra fazer, eu teria..." Ele deixou o pensamento parar, e recomeçou excitadamente. "Ang, eu não acredito que você perdeu isso! Foi ótimo. Houve essa sequência de luta no final - a coreografia foi inacreditável! Esse cara - bem, você vai vai ter que ver pra saber o que eu estou falando -"
Angela revirou os olhos pra mim.
"Te vejo na escola", eu disse com uma risada nervosa.
Ela suspirou. "A gente se vê".
Eu estava inquieta na caminho até a caminhonete, mas a rua estava vazia. Eu passei toda a viagem olhando ansiosamente em todos os meus espelhos, mas nunca havia nenhum sinal do carro prateado.
O carro dele também não estava na frente de casa, apesar de que isso significava pouco.
"Bella?" Charlie perguntou quando eu abrí a porta.
"Oi, pai"
Eu o encontrei na sala de estar, na frente da TV.

"Então, como foi o seu dia?"
"Bom", eu disse. Eu podia ter contado tudo a ele - ele ouviria isso de Billy em breve. Além do mais, isso ia deixá-lo feliz. "Eles não precisaram de mim no trabalho, então eu fui até La Push".
Não houve surpresa suficiente no rosto dele. Billy já tinha falado com ele.
"Como está Jacob?" Charlie perguntou, tentando soar indiferente.
"Bem", eu disse, igualmente indiferente.
"Você foi à casa dos Weber?"
"Sim. Nós endereçamos todos os anúncios dela".
"Isso é legal" Charlie deu um sorriso largo. Ele estava estranhamente concentrado, considerando o fato de que estava passando um jogo. "Eu estou feliz que você tenha passado tempo com os seus amigos hoje".
"Eu também".
Eu segui em direção a cozinha, procurando algo em que trabalhar. Infelizmente, Charlie já tinha limpado o seu almoço. Eu fiquei lá, olhando para a trilha brilhante que o sol fez no chão. Eu sabia que não podia adiar isso pra sempre.
"Eu vou estudar", eu anunciei sem entusiasmo enquanto eu ia para a escada.
"Te vejo mais tarde", Charlie chamou.
Se eu sobreviver, eu pensei comigo mesma.
Eu fechei a porta do meu quarto cuidadosamente antes de me virar para enfrentar o meu quarto.
É claro que ele estava lá. Ele estava contra a parede na minha frente, na sombra ao lado da janela aberta. O rosto dele estava duro e a postura dele estava tensa. Ele me encarou sem dizer nada.
Eu aguentei, esperando pela tempestade, mas ela não veio. Ele só continuou a encarar, possivelmente com raiva demais pra falar.
"Oi", eu disse finalmente.
O rosto dele podia ter sido cravado em uma pedra. Eu contei até cem na minha cabeça, mas não houve mudança.
"Er... então, eu ainda estou viva", eu comecei.
Um rugido se fez ouvir baixinho no peito dele, mas a expressão dele não mudou.
"Nenhum dano causado", eu insistí, encolhendo os ombros.
Ele se moveu. Os olhos dele se fecharam, e ele segurou a base do nariz entre os dedos da mão direita dele.

"Bella", ele sussurrou. "Você tem alguma idéia do quanto eu estive perto de cruzar a linha hoje? De quebrar o acordo e ir atrás de você? Você sabe o que isso teria significado?"
Eu ofeguei e ele abriu os olhos. Eles estavam tão frios e duros como a noite.
"Você não pode!" eu disse alto demais. Eu trabalhei em modular o volume da minha voz pra que Charlie não ouvisse, mas eu queria gritar as palavras. "Edward, eles não vão usar nenhuma desculpa para uma briga. Eles adorariam isso. Você não pode quebrar as regras nunca!"
"Talvez eles não sejam os únicos que gostariam de uma luta".
"Não comece" eu soltei. "Vocês fizeram o acordo - obedeça ele".
"Se ele tivesse machucado você -"
"Chega!" eu cortei ele. "Não há nada com o que se preocupar. Jacob não é perigoso".
"Bella" ele revirou os olhos. "Você não é exatamente a melhor juíza do que é ou não perigoso".
"Eu sei que eu não preciso me preocupar com Jake. E nem você".
Ele apertou os dentes. As mãos dele estavam transformadas em bolas nos pulsos dos lados dele. Ele ainda estava contra a parede, e eu odiava o espaço entre nós.
Eu respirei fundo e atravessei o quarto. Ele não se moveu quando eu passei os meus braços ao redor dele. Perto do resto do calor do fim do sol da tarde que passava pela janela, a pele dele estava especialmente gelada. Ele parecia gelo também, congelado do jeito que estava.
"Eu sinto muito por ter te deixado ansioso", eu murmurei.
Ele suspirou e relaxou um pouco. Os braços dele seguraram a minha cintura.
"Ansioso é uma indicação bem incompleta", ele murmurou. "Esse dia foi bem longo".
"Não era pra você saber sobre isso" eu lembrei ele. "Eu pensei que você passaria mais tempo caçando".
Eu olhei para o rosto dele, para os seus olhos defensivos; eu não reparei no estresse do momento, mas eles estava escuros demais. Os círculos embaixo deles eram roxo-escuros. Eu fiz uma careta de desaprovação.
"Quando Alice te viu desaparecer, eu voltei", ele explicou.

"Você não devia ter feito isso. Agora você vai ter que ir de novo". A minha careta se intensificou.
"Eu posso esperar".
"Isso é ridículo. Quer dizer, eu sabia que ela não podia me ver com Jacob, mas você devia saber que -"
"Mas eu não sabia" ele interrompeu. "E você não pode esperar que eu -"
"Oh, sim, eu posso" eu interrompí ele. "Isso é exatamente o que eu espero".
"Isso não vai acontecer de novo".
"Exatamente! Porque você não vai ser exagerado da próxima vez".
"Porque você não vai outra vez".
"Eu entendo quando você precisa ir embora, mesmo que eu não goste -"
"Isso não é o mesmo. Eu não estou arriscando a minha vida".
"E nem eu".
"Lobisomens constituem um risco".
"Eu discordo".
"Eu não estou negociando isso, Bella"
"Nem eu".
As mãos dele estavam nos pulsos de novo. Eu podia sentí-las nas minhas costas.
As palavras saíram sem que eu pensasse. "Isso se trata realmente da minha segurança?"
"O que você quer dizer?" ele quis saber.
"Você não está..." A teoria de Angela parecia mais boba agora do que antes. Foi difícil concluir o pensamento. "Eu quero dizer, você sabe que não precisa sentir ciúme, certo?"
Ele ergueu uma sobrancelha. "Eu sei?"
"Fale sério".
"Facilmente - não há nada remotamente engraçado nisso".
Eu fiz uma careta de suspeita. "Ou... isso é mais alguma coisa? Uma daquelas bobagens sobre vampiros e lobisomens serem inimigos? Ou isso é só cheio de testosterona -"
Os olhos dele brilharam. "Isso é só sobre você. Tudo com o que eu me importo é que você esteja em segurança".
Era impossível duvidar do fogo negro dos olhos dele.

"Tudo bem", eu suspirei. "Eu acredito nisso. Mas eu quero que você saiba de uma coisa - quando se trata dessa bobagem de inimigos, eu estou fora. Eu sou um país neutro. Eu sou a Suíça. Eu me recuso a participar de disputas territoriais entre criaturas místicas. Jacob é da família. Você é... bem, você não é exatamente o amor da minha vida, porque eu espero te amar por muito mais tempo que isso. O amor da minha existência. Eu não me importo com quem é o lobisomem e que é o vampiro. Se Angela virar uma bruxa, ela pode se juntar a festa também".
Ele olhou pra mim silenciosamente por entre olhos apertados.
"Suíça", eu repetí de novo pra dar ênfase.
Ele fez uma careta pra mim, e depois suspirou. "Bella...", ele começou, mas depois parou, e o nariz dele enrugou de desgosto.
"O que foi agora?"
"Bem... não se ofenda, mas você está cheirando como um cachorro", ele me disse.
E depois ele deu um sorriso torto, então eu sabia que a briga tinha acabado. Por enquanto.
Edward teria que ajeitar as coisas por ter perdido a viagem de caça, então ele ia na Sexta à noite com Jasper, Emmett e Carlisle para atacar alguma reserva ao Norte da Califórnia que estivesse com problemas com leões da montanha.
Nós não chegamos ao um acordo no problema com os lobisomens, mas eu não me senti culpada por ligar para Jake - durante a minha pequena janela de oportunidade quando Edward levou o Volvo pra casa antes de entrar de novo pela minha janela - pra deixá-lo saber que eu estaria voltando no Sábado de novo. Eu não ia ficar me escondendo. Edward sabia como eu me sentia. E se ele quebrasse a minha caminhonete de novo, então eu pediria que Jake viesse me buscar. Forks era neutra, assim como a Suíça - assim como eu.
Então, quando eu saí na Quinta e era Alice quem estava me esperando no Volvo no lugar de Edward, eu não suspeitei inicialmente. A porta do passageiro estava aberta, e uma música que eu não reconhecia estava fazendo as estruturas tremerem quando o baixo soava.

"Ei, Alice", eu gritei por cima do som enquanto eu entrava. "Onde está o seu irmão?"
Ela estava acompanhando a música, a voz dela estava um oitavo mais alta do que a melodia, seguindo ela com uma harmonia complicada. Ela acenou pra mim com a cabeça, ignorando a minha pergunta enquanto se preocupava em acompanhar a música.
Eu fechei a porta e coloquei as mãos em cima dos ouvidos. Ela sorriu, e baixou o volume até que a música estava apenas no fundo. Então ela travou as portas e pisou no acelerador no mesmo segundo.
"O que está acontecendo?" Eu perguntei, começando a me sentir inquieta. "Onde está Edward?"
Ela levantou os ombros. "Eles foram mais cedo".
"Oh", eu tentei controlar a minha decepção absurda. Se ele tinha ido embora antes, significava que ele estaria de volta mais cedo, eu lembrei a mim mesma.
"Todos os garotos foram, e nós vamos ter uma festa do pijama!" ela anunciou em uma voz alegre, cantante.
"Uma festa do pijama?" eu repetí, a suspeita finalmente estava entrando.
"Você não está excitada?" ela gritou de alegria.
Eu encontrei o olhar animado dela por um segundo.
"Você está me sequestrando, não está?"
Ela sorriu e balançou a cabeça. "Até Sábado. Esme falou com Charlie; você vai ficar comigo por duas noites, e eu vou te levar e te trazer da escola amanhã".
Eu virei o meu rosto para a janela, os meus dentes se apertando.
"Desculpa", Alice disse sem soar nem um pouco arrependida. "Ele me pagou".
"Como?" eu assobiei por entre os dentes.
"O Porsche. É exatamente como o que eu roubei na Itália". Ela suspirou alegremente.
"Eu não devo dirigí-lo em Forks, mas se você quiser, nós podemos ver quanto tempo leva pra ir daqui até Los Angeles - eu aposto que te traria de volta antes de meia noite".
Eu respirei fundo. "Eu acho que vou passar", eu suspirei, reprimindo um tremor.
Nós continuamos, sempre rápido demais, pelo longo caminho. Alice parou na garagem, e eu rapidamente olhei para os carros.

O jipe grande de Emmett estava lá, com um brilhante Porsche amarelo cor de canário entre ele e o conversível vermelho de Rosalie.
Alice saiu graciosamente e foi passar a mão no suborno dela. "É bonito, não é?"
"Bonito até demais", eu murmurei, incrédula. "Ele te deu isso só pra você me manter prisioneira por dois dias?"
Alice fez uma cara.
Um segundo depois, a compreensão veio e eu sufoquei de horror. "É por todo o tempo que ele esteve longe, não é?"
Ela acenou com a cabeça.
Eu batí a minha porta e marchei em direção à casa. Ela dançou ao meu lado o tempo inteiro, ainda sem se arrepender.
"Alice, você não acha que isso é um pouco controlador demais? Um pouquinho psicótico, talvez?"
"Na verdade não", ela fungou. "Você não parece compreender o quanto um lobisomem jovem pode ser. Especialmente quando eu não consigo vê-los. Edward não tem nenhuma forma de saber se você está segura. Você não devia ser tão irresponsável".
Minha voz se tornou ácida. "Sim, porque uma festa do pijama de vampiro é pináculo de um comportamento conscientemente seguro".
Alice riu. "Eu vou ser sua pedicure e tudo", ela prometeu.
Não foi tão ruim, exceto pelo fato de que eu estava sendo segurada contra a minha vontade. Esme comprou comida Italiana - coisas boas, diretamente de Port Angeles - e Alice estava preparada com os meus filmes favoritos. Até Rosalie está lá, silenciosamente no fundo. Alice insistiu em ser pedicure, e eu me perguntei se ela tinha feito uma lista - talvez uma coisa que ela tenha inventado depois de assitir seriados ruins.
"Quão tarde você quer ficar acordada?" ela perguntou quando as minhas unhas estavam brilhando um vermelho sangue. O entusiasmo dela continuou a não mexer com o meu humor.
"Eu não quero ficar acordada. Nós temos escola amanhã".
Ele fez beicinho.
"Onde é que eu vou dormir, afinal?" eu medí o sofá com os meus olhos. Ele era um pouco curto. "Será que eu não posso dormir sob vigilância em minha casa?"
"Que espécie de festa do pijama seria esta?" Alice balançou a cabeça exasperada.

"Você vai dormir no quarto de Edward".
Eu suspirei. O sofá de couro preto dele era mais longo do que esse. Na verdade, o carpete dourado do quarto dele provavelmente era grosso o suficiente pra que o chão também não fosse uma má idéia.
"Posso ir à minha casa pra pegar as minhas coisas, pelo menos?"
Ela sorriu. "Já cuidei disso".
"Eu tenho permissão de usar o seu telefone?"
"Charlie sabe que você está aqui"
"Eu não ia ligar pra Charlie". Eu fiz uma careta. "Aparentemente, eu tenho planos pra cancelar".
"Oh", ela pensou. "Eu não tenho certeza quanto a isso".
"Alice!" eu choraminguei alto. "Vamos!"
"Tá bom, tá bom", ela disse, saindo do quarto. Ela estava de volta em menos de meio segundo, com o celular na mão.
"Ele não proibiu isso especificamente..." ela murmurou pra sí mesma enquanto passava ele pra mim.
Eu disquei o número de Jacob, esperando que ele não estivesse fora caçando com os amigos esta noite. A sorte estava ao meu lado - foi Jacob que atendeu.
"Alô?"
"Ei, Jake, sou eu" Alice me olhou com olhos inexpressívos por um segundo, antes de e se virar e ir se sentar ao lado de Rosalie e Esme no sofá.
"Oi, Bella", Jacob disse, cuidadoso de repente. "O que foi?"
"Nada de bom. No fim das contas eu não vou poder ir no Sábado".
Ficou silencioso por um segundo. "Sugador de sangue estúpido", ele finalmente murmurou. "Eu pensei que ele ia embora. Será que você não pode ter uma vida quando ele está longe? Ou ele te tranca no caixão dele?"
Eu rí.
"Eu não achei engraçado".
"Eu só estou rindo porque você está perto", eu disse a ele. "Mas ele vai estar aqui no Sábado, então isso não importa".
"Ele vai estar se alimentando em Forks então?" Jacob perguntou curtamente.
"Não" eu não me deixei ficar irritada com ele. Eu não estava tão longe de estar com tanta raiva quanto ele estava. "Ele foi mais cedo".
"Oh. Bem, ei, venha agora, então", ele disse com entusiasmo repentino. "Não está tão tarde. Ou eu vou te buscar na casa de Charlie".

"Eu queria. Eu não estou na casa de Charlie", eu disse amargamente. "Eu estou meio que sendo mantida prisioneira".
Ele ficou em silêncio enquanto isso se encaixava, e então ele rosnou. "Nós vamos buscar você", ele prometeu numa voz vazia, passando rapidamente pelo plural.
Um tremor percorreu a minha espinha, mas eu respondí num voz leve e zombeteira. "Tentador. Eu estou sendo torturada - Alice pintou as unhas dos meus pés".
"Estou falando sério".
"Não fale. Eles só estão tentando me manter segura".
Ele rosnou de novo.
"Eu sei que é bobagem, mas o coração deles está no lugar certo".
"O coração deles!" Jacob zombou.
"Eu lamento por Sábado", eu me desculpei. Eu tenho que ir para a cama" - o sofá, eu corrigí mentalmente - "mas eu te ligo de novo em breve".
"Você tem certeza que eles vão deixar?" ele perguntou num tom severo.
"Não completamente", eu suspirei. "Boa noite, Jake".
"A gente se vê por aí".
Alice estava abruptamente ao meu lado, a mão dela estava erguida para o telefone, mas eu já estava discando. Ela viu o número.
"Eu acho que ele não está com o telefone dele", ela disse.
"Eu vou deixar uma mensagem"
O telefone tocou quatro vezes, seguidas por um bipe. Não havia nenhuma saudação.
"Você está com problemas" eu disse lentamente, enfatizando cada palavra. "Problemas enormes. Ursos pardos raivosos não serão nada perto do que está te esperando em casa".
Eu fechei o telefone e o coloquei na mão dela que estava esperando. "Eu acabei".
Ela sorriu. "Essa coisa de refém é divertida".
"Eu vou dormir agora", eu anunciei, indo para as escadas. Alice veio junto.
"Alice", eu suspirei. "Eu não vou escapulir. Você saberia se eu estivesse planejando isso, e você me pegaria se eu tentasse".
"Eu só vou te mostrar onde as suas coisas estão", ela disse inocentemente.
O quarto de Edward ficava no fim do corredor do terceiro andar, difícil de me enganar mesmo se a casa enorme fosse menos familiar. Mas quando eu acendí a luz, eu parei, confusa. Eu tinha escolhido o quarto errado?

 

Era o mesmo quarto, eu reparei rapidamente; só que os móveis haviam sido re-arrumados. O sofá tinha sido empurrado para a parede norte e o som estava enfiado contra as vastas prateleiras de CD's - pra dar espaço à cama colossal que agora dominava o espaço no centro.
A parede de vidro ao sul refletia a cena como um espelho, fazendo ela parecer duas vezes pior.
Ela combinava. A colcha era de um dourado fraco, um pouco mais claro que as paredes; a armação era preta, feita com um aço forte e patenteado. Rosas esculpidas de metal se espalhavam em vinhas pelo alto poste e formavam um entrelaçado gracioso em cima. Os meus pijamas estavam cuidadosamente dobrados no pé da cama, e a minha bolsa de coisas de toilete estava ao lado.
"Que diabos é tudo isso?" eu disparei.
"Você não achou realmente que ele fosse te deixar dormir no sofá, pensou?"
Eu murmurei inteligivelmente enquanto marchava para arrancar as minhas coisas da cama.
"Eu vou te dar um pouco de privacidade", Alice riu. "Te vejo de manhã".
Depois que os meus dentes estavam escovados e eu estava vestida, eu peguei um travesseiro de penas fofo da cama e arrastei a coberta dourada até o sofá. Eu sabia que estava sendo boba, mas não me importava. Porsches de suborno e camas King-size em casas onde ninguém dormia - era irritante ao extremo. Eu desliguei as luzes e me curvei no sofá, me perguntando se estava chateada demais para dormir.

No escuro, a parede de vidro não era mais um espelho escuro, duplicando o quarto. A luz da lua brilhava nas nuvens do lado de fora da janela. Enquanto os meus olhos se ajustavam, eu podia ver um brilho difuso destacando o topo das árvores, e fazendo um pequeno pedaço do rio cintilar. Eu olhei a luz prateada, esperando que os meus olhos ficassem pesados.
Houve uma batida de leve na porta.
"O que, Alice?" eu assobiei. Eu estava na defensiva, imaginando a diversão dela quando ela visse a minha cama improvisada.
"Sou eu", Rosalie disse suavemente, abrindo a porta o suficiente pra que eu pudesse ver o brilho prateado tocar o seu rosto perfeito. "Posso entrar?"

7 Final Infeliz

Rosalie hesitou na porta, seu rosto arrebatador estava incerto.
“É claro” eu respondi, minha voz estava um oitavo mais alta com a surpresa. “Entre”.
Eu sentei, escorregando para o fim do sofá pra dar espaço. O meu estômago revirou nervosamente enquanto a única Cullen que não gostava de mim se moveu silenciosamente pra se sentar no espaço aberto. Eu tentei pensar numa razão pela qual ela ia querer me ver, mas a minha mente estava vazia até o momento.
“Você se importa de conversar comigo por alguns minutos?” ela perguntou. “Eu não te acordei nem nada, acordei?” Os olhos dela passaram da cama desforrada e de volta para o meu sofá.
“Não, eu estava acordada. Claro, nós podemos conversar” Eu me perguntei se ela podia ouvir o alarme na minha voz tão claramente quanto eu.
Ela sorriu levemente, e o som pareceu com sinos tocando. “Ele tão raramente te deixa sozinha”, ela disse. “Eu achei que seria melhor que eu tirasse o melhor dessa oportunidade”.
O que ela queria dizer que não podia ser dito na frente de Edward? As minhas mãos torceram e destorceram na porta da colcha.
“Por favor não pense que eu estou interferindo horrivelmente”, Rosalie disse, a voz dela estava gentil e quase implorativa. Ela cruzou as mãos no colo e olhou pra elas enquanto falava. “Eu tenho certeza que já magoei os seus sentimentos o suficiente no passado, e eu não quero fazer isso de novo”.
“Não se preocupe com isso, Rosalie. Os meus sentimentos estão ótimos. O que é?”
Ela riu de novo, parecendo estranhamente envergonhada. “Eu vou tentar te dizer porque eu acho que você devia permanecer humana – porque eu permaneceria humana se eu fosse você”.
“Oh”.

Ela sorriu com o tom chocado da minha voz, e então suspirou.
“Edward te contou o que levou a isso?” ela perguntou, fazendo um gesto para o seu glorioso corpo imortal.
Eu balancei a cabeça lentamente, repentinamente sombria. “Ele disse que foi perto do que aconteceu comigo em Port Angeles, só não havia ninguém lá pra salvar você”.
Eu tremi com a memória.
“Isso é realmente tudo o que ele te contou?” ela perguntou.
“Sim”, eu disse, a minha voz estava pasma de confusão. “Havia mais?”
Ela olhou pra mim e sorriu; era uma expressão dura, ácida – mas ainda estonteante.
“Sim”,ela disse. “Havia mais”.
Eu esperei enquanto ela olhava pela janela. Ela parecia estar tentando se acalmar.
“Você gostaria de ouvir a minha história, Bella? Ela não tem um final feliz – mas qual das nossas tem? Se nós tivéssemos finais felizes, nós estaríamos embaixo de lápides agora”.
Eu balancei a cabeça, apesar de estar assustada com o tom na voz dela.
“Eu vivi em um mundo diferente de você, Bella. O meu mundo humano era um lugar muito mais simples. Era mil novecentos e trinta e três. Eu tinha dezoito, e era linda. A minha vida era perfeita”.
Ela olhou pelas janelas para as nuvens prateadas, a expressão dela estava distante.
“Os meus pais eram inteiramente classe média. O meu pai tinha um emprego estável num banco, algo de que agora eu percebo que ele era presumido – ele viu a sua prosperidade como uma recompensa pelo seu talento e trabalho duro, e não reconhecendo a sorte que envolvia isso. Nessa época eu achava que tudo estava garantido; na minha casa, era como se a Grande Depressão fosse apenas um rumor problemático. É claro que eu via as pessoas pobres, aquelas que não tinham tanta sorte. O meu pai me passou a impressão de que eles haviam trazido os problemas para si mesmos.

“Era trabalho da minha mãe manter a nossa casa – e eu mesma e os meus dois irmãos mais jovens – para mantê-la impecável. Era claro que eu era tanto a sua prioridade como também a sua favorita. Eu não entendia completamente na época, mas eu estava sempre vagamente consciente que os meus pais não estavam satisfeitos com os que eles tinham, mesmo que isso fosse tão mais do que a maioria tinha. Eles queriam mais. Eles tinham aspirações sociais – escalas sociais, eu acho que você chamaria. A minha beleza era como um presente pra eles. Eles viam muito mais potencial nela do que eu.
“Eles não estavam satisfeitos, mas eu estava. Eu estava muito feliz por ser eu, por ser Rosalie Hale. Agradada porque os olhos dos homens me observavam onde quer que eu fosse, desde o ano que eu fiz doze anos. Deliciada porque as minhas amigas suspiravam de inveja quando elas tocavam o meu cabelo. Feliz porque a minha mãe estava orgulhosa de mim e que o meu pai gostava de me comprar vestidos bonitos.
“Eu sabia o que eu queria da vida, não parecia que haveria uma forma de eu não conseguir o que eu queria. Eu queria ser amada, ser adorada. Eu queria ter um casamento enorme, todo florido, onde todos na cidade ia me observar entrar na igreja de braço dado com o meu pai e pensar que eu era a garota mais bonita que eles já tinham visto. Admiração era como ar pra mim, Bella. Eu era boba e superficial, mas eu era feliz.” Ela sorriu, divertida com sua própria avaliação.
“A influência dos meus pais tinha sido tanta que eu também queria coisas materiais da vida. Eu queria uma casa grande com móveis elegantes que outra pessoa limparia e uma cozinha moderna na qual outra pessoa cozinharia. Como eu disse, superficial. Jovem e muito superficial. E eu não via nenhuma razão pela qual eu não conseguiria essas coisas.
“Haviam algumas coisas que eu queria que eram mais significantes. Uma em particular. A minha amiga mais próxima era uma garota chamada Vera. Ela se casou jovem, apenas aos dezessete.

Ela se casou com um homem que os meus pais jamais considerariam pra mim – um carpinteiro. Um ano depois ela teve um filho, um lindo menino com covinhas nas bochechas e cabelos pretos encaracolados. Foi a primeira vez na minha vida inteira que eu senti inveja de outra pessoa.”
Ela olhou pra mim com olhos insondáveis. “Era uma época diferente. Eu estava com a mesma idade que você, mas eu já estava pronta pra tudo isso. Eu desejava ter o meu próprio bebê. Eu queria ter a minha própria casa e um marido que me beijasse quando chegasse do trabalho – como Vera. Só que eu tinha um tipo diferente de casa em mente...”
Era difícil pra mim imaginar o tipo de mundo que Rosalie havia conhecido. A história dela parecia mais como um conto de fadas pra mim. Com um pequeno choque, eu me dei conta de que esse estava muito aproximado do tipo de mundo que Edward havia experimentado quando ele era humano, o mundo no qual ele havia crescido. Eu imaginei – enquanto Rosalie sentou em silêncio por um momento – será que meu mundo parecia tão confuso pra ele como o que Rosalie parecia pra mim?
Rosalie suspirou, e quando ela falou de novo a voz dela estava diferente, a saudade tinha ido embora.
“Em Rochester, havia uma família real – Os King, ironicamente o suficiente. Royce King era dono do banco onde meu pai trabalhava, e de praticamente todos os negócios bem sucedidos da cidade. Foi assim que o filho dele, Royce King Segundo” – aboca dela torceu com o nome, e ele saiu por entre os dentes dela – “me viu pela primeira vez. Ela ia herdar o banco, e então ele começou a vigiar diferentes posições. Dois dias depois, a minha mãe convenientemente esqueceu de mandar o almoço do trabalho pro meu pai. Eu me lembro de ter ficado confusa quando ela insistiu que eu usasse o meu vestido branco de organza e prendesse o meu cabelo só pra ir até o banco” Rosalie sorriu sem humor.

“Eu não reparei em Royce me observando particularmente. Todos me observavam. Mas naquela noite, a primeira das rosas veio. Todas as noites da nossa corte, ele me mandava um buquê de rosas. O meu quarto estava sempre transbordando com elas. Eu cheguei ao ponto de ficar com cheiro de rosas quando saía de casa.
“Royce era bonito também. O cabelo dele era mais claro que o meu, e olhos azuis claros. Ele disse que os meus olhos eram como violetas, e aí elas começaram a aparecer junto às rosas.
“Os meus pais aprovaram – pra dizer o mínimo. Isso era tudo com o que eles haviam sonhado. E Royce era tudo com o que eu havia sonhado. O príncipe dos contos de fada, que veio me transformar em princesa. Tudo o que eu queria, e mesmo assim não era nada além do que eu esperava. Nós estávamos noivos dois meses depois que eu o conheci.
“Nós não passávamos muito tempo juntos. Royce me disse que ele tinha muitas responsabilidades no trabalho, e, que quando estávamos juntos, ele gostava que as pessoas olhassem pra nós, que me vissem nos braços dele. Eu gostava disso também. Haviam muitas festas, danças, e belos vestidos. Quando você eram um King, todas as portas estavam abertas pra você, todos os tapetes vermelhos rolavam pra te saudar.
“Não foi um noivado longo. Os planos foram em frente para o casamento mais pródigo. Ia ser tudo o que eu havia desejado. Eu estava completamente feliz. Quando eu ligava pra Vera, eu não estava mais com inveja. Eu imaginava as minhas próprias crianças cabeludas brincando nos enormes gramados da propriedade dos King, e eu senti pena dela”.
Rosalie parou de repente, apertando os dentes. Isso me tirou da história, e eu me dei conta de que o terror não estava muito longe. Não haveria um final feliz, como ela havia prometido. Eu me perguntei se era por isso que ela era tão mais amarga do que o resto deles – porque ela esteve ao alcance de tudo o que queria quando a vida dela foi interrompida.

“Eu estava na casa de Vera naquela noite”, Rosalie sussurrou. O rosto dela estava suave como mármore, e tão duro quanto. “O pequeno Henry era realmente adorável, todo sorrisos e covinhas – ele já estava se sentando sozinho. Vera me acompanhou até a porta quando eu estava indo embora, seu bebê nos braços e o marido a seu lado, o braço dele estava na cintura dela. Ele beijou ela na bochecha quando pensou que eu não estava vendo. Aquilo me incomodou. Quando Royce me beijava, não era a mesma coisa – de alguma forma, não era tão doce... Eu coloquei esse pensamento de lado. Royce era o meu príncipe. Alguma dia, eu seria rainha”.
Era difícil dizer na luz da lua, mas parecia que o seu rosto branco estava mais pálido.
“As ruas estavam escuras, as lâmpadas já estavam acesas. Eu não tinha me dado conta do quanto era tarde.” Ela continuou a sussurrar quase inaudivelmente. “Estava frio também. Frio demais pra um final de Abril. O casamento seria em apenas uma semana, e eu estava preocupada com o clima enquanto me apressava pra ir pra casa – eu me lembro disso claramente. Eu me lembro de cada detalhe daquela noite. Eu me apeguei a isso com tanta força... no inicio. Eu não pensava em nada mais. E então eu me lembro disso, quando tantas outras memórias agradáveis haviam desaparecido completamente...”
Ela suspirou, e começou a sussurrar de novo. “Sim, eu estava me preocupando com o clima... eu não queria ter que passar o casamento pra um lugar fechado...
“Eu estava a algumas ruas da minha casa quando eu ouvi eles. Uma corja de homens embaixo de uma lâmpada quebrada na rua, rindo alto demais. Bêbados. Eu desejei ter ligado para o meu pai pra que ele me acompanhasse até em casa, mas o caminho era tão curto, e me pareceu bobagem. E então ele chamou o meu nome.

“Rose!’ ele gritou, e os outros riram estupidamente.
“Eu não tinha percebido que os bêbados estavam tão bem vestidos. Eram Royce e alguns outros amigos, filhos de outros homens ricos.
“’ Aqui está a minha Rose!’ Royce gritou, rindo com eles, soando igualmente estúpido. ‘Você está atrasada. Nós estamos com frio, por causa do tempo que você nos fez esperar’”.
“Eu nunca havia visto ele bêbado antes. Um brinde, de vez em quando, nas festas. Ele me disse que não gostava de champagne. Eu não tinha me dado conta de que ele gostava de algo muito mais forte.
“Ele tinha um novo amigo – o amigo de um amigo, vindo de Atlanta.
“O que eu te disse, John” Royce gritou alegremente, agarrando o meu braço e me puxando pra perto. ‘Ela não é mais adorável do que os seus pêssegos de Geórgia?’
“O homem chamado John tinha cabelos escuros e era bronzeado do sol. Ele me olhou como se eu fosse um cavalo que ele estivesse comprando.
‘É difícil dizer’ ele disse lentamente. ‘Ela está toda coberta”.
“Eles riram, Royce riu como o resto.
“De repente, Royce arrancou o casaco dos meus ombros – foi um presente dele – arrancando fora os botões. Eles saíram de espalhando pela rua.
“Mostre a ele como você é, Rose!’ Ele riu de novo, e então ele arrancou o meu chapéu da minha cabeça. Os broches estavam presos nas raízes dos meus cabelos, e eu chorei de dor. Eles pareceram gostar disso – do som da minha dor...”
Rosalie olhou para mim de repente, como se ela tivesse esquecido que eu estava lá. Eu estava certa que o meu rosto estava tão branco quanto o dela. A não ser que ele estivesse verde.
“Eu não vou te fazer ouvir o resto”, ela disse baixinho. “Eles me deixaram na rua, ainda rindo enquanto eles iam embora tropeçando. Eles pensaram que eu estivesse morta. Eles estavam zombando de Royce dizendo que ele teria que arrumar uma nova noiva. Ele riu e disse que antes ele teria que aprender a ter paciência.

“Eu esperei pra morrer na rua. Estava frio, apesar de eu estar sentindo tanta dor que eu me surpreendi por isso estar me incomodando. Começou a nevar, e eu me perguntei porque eu não estava morrendo. Eu estava impaciente para a morte chegar, e acabar com a dor. Estava demorando tanto...
“Aí Carlisle me achou. Ele sentiu o cheiro do sangue, e veio investigar. Eu me lembro de ficar vagamente irritada enquanto ele trabalhava em mim, tentando salvar a minha vida. Eu nunca gostei do Dr. Cullen ou de sua esposa e o irmão dela – como Edward fingia ser na época. Eu ficava aborrecida por eles serem mais bonitos do que eu era, especialmente os homens. Mas eles não se misturavam com a sociedade, então eu só os tinha visto uma ou duas vezes.
“Eu pensei que tinha morrido quando ele me tirou do chão e começou a correr comigo – por causa da velocidade – eu senti como se estivesse voando. Eu me lembro de ter ficado horrorizada quando a dor não parou...
“Então eu estava nunca sala clara, e estava quente. Eu estava ficando inconsciente, e eu fiquei grata pois a dor estava começando a diminuir. Mas de repente alguma coisa afiada estava me cortando, minha garganta, meus pulsos, meus tornozelos. Eu gritei com o choque, pensando que ele havia me trazido pra me machucar mais. Então o fogo começou a me queimar, e eu não me importei com mais nada. Eu implorei que ele me matasse. Quando Esme e Edward voltaram pra casa, eu implorei que eles me matassem também. Carlisle se sentou comigo. Ele segurou a minha mão e disse que sentia muito, prometendo que aquilo acabaria.

Ele me disse tudo, e as vezes eu escutava. Ele me disse o que ele era, e o que eu estava me tornando. Eu não acreditei nele. Ele pedia perdão toda vez que eu gritava.
“Edward não ficou feliz. Eu lembro de ouvi-los discutindo sobre mim. Eu parava de gritar as vezes. Gritar não adiantava de nada.
“No que você estava pensando, Carlisle?’ Edward disse. ‘Rosalie Hale?” Rosalie imitou o tom de Edward com perfeição. “Eu não gostava do jeito como ele dizia o meu nome, como se houvesse alguma coisa errada comigo.
“’ Eu não podia simplesmente deixa-la morrer’ Carlisle disse baixinho. ‘Foi demais – horrível demais, muito desperdício.”
“’ Eu sei’, Edward disse, eu pensei que ele parecia estar desinteressado. Isso me irritou. Nessa época eu não sabia que ele podia ver exatamente o que Carlisle havia visto.
‘Era desperdício demais. Eu não podia abandona-la’ Carlisle repetiu em um sussurro.
“É claro que você não podia’, Esme concordou.
“Pessoas morrem o tempo todo’ Edward lembrou ele com uma voz dura. ‘No entanto, você não acha que ela é um pouco reconhecível demais? Os King vão fazer uma enorme procura – não que alguém suspeite daquele demônio’, ele rugiu.
“Eu fiquei satisfeita por eles parecerem saber que Royce era o culpado.
“Eu não me dei conta de que já estava quase acabado – que estava ficando mais forte e que eu era capaz de me concentrar no que eles estavam dizendo. A dor estava começando a desaparecer das pontas dos meus dedos.
“O que nós vamos fazer com ela?’ Edward disse, enojado – ou pelo menos, foi assim que soou pra mim.
“Carlisle suspirou. ‘Isso depende dela, é claro. Ela pode querer seguir seu próprio caminho’.
“Eu acreditei o suficiente nele para as suas palavras me deixarem aterrorizada. Eu sabia que a minha vida estava acabada, e que não havia volta pra mim. Eu não conseguia suportar a idéia de ficar sozinha...

“A dor finalmente passou e eles me explicaram de novo o que eu era. Dessa vez eu acreditei. Eu senti a sede, a dureza da minha pele; eu vi meus olhos vermelhos brilhantes.
“Superficial como eu era, eu me senti melhor quando vi minha reflexão no espelho pela primeira vez. Apesar dos olhos, eu era a coisa mais bonita que eu já havia visto” Ela riu de si mesma por um momento. “Levou algum tempo até que eu começasse a culpar a beleza pelo que havia me acontecido – pra que eu pudesse ver a maldição por trás dela. Eu desejei ser... bem, não feia, mas normal. Como Vera. Assim eu teria sido capaz de casa com alguém que me amasse, e ter belos bebês. Era isso que eu realmente queria, o tempo inteiro. Isso ainda não parece ser demais pra pedir.”
Ela ficou pensativa por um momento, e eu me perguntei se ela havia esquecido a minha presença de novo. Mas então, ela sorriu pra mim, a expressão dela repentinamente triunfante.
“Sabe, o meu histórico é quase tão limpo quanto o de Carlisle”, ela me disse. “Melhor que Esme. Mil vezes melhor que Edward. Eu nunca experimentei sangue humano”, ela anunciou orgulhosamente.
Ela entendeu a minha expressão confusa enquanto eu me perguntava porque o histórico dela era quase tão limpo.
“Eu matei cinco humanos”, ela me disse com um tom complacente. “Se e´que você pode chama-los de humanos. mas eu tive bastante cuidado pra não derramar o sangue deles – eu sabia que não seria capaz de resistir a isso, e eu não queria nenhuma parte deles em mim, sabe.

“Eu deixei Royce por último. Eu esperei que ele tivesse ouvido as mortes dos seus amigos e compreendesse, soubesse o que estava pra acontecer com ele. Eu esperava que o medo fosse tornar o fim pior pra ele. E eu acho que funcionou. Ele estava se escondendo num quarto sem janelas atrás de uma porta tão grossa quanto a de um cofre de banco, protegida por fora por homens armados, quando eu o peguei. Oops – sete assassinatos”, ela se corrigiu. “Eu esqueci dos guardas dele. Eles só levaram um segundo”.
“Eu fui extremamente teatral. Foi meio infantil, na verdade. Eu estava usando um vestido de noiva que eu havia roubado para a ocasião. Ele gritou quando me viu. Ele gritou bastante aquela noite. Deixar ele por último foi uma boa idéia – isso facilitou o meu auto-controle, me ajudou a faze-lo mais devagar –“
Ela parou de repente, e olhou pra mim. “Me desculpe”, ela disse com uma voz pesarosa. “Eu estou te assustando, não estou?”
“Eu estou bem”, eu menti.
“Eu me deixei levar”.
“Não se preocupe com isso”.
“Eu estou surpresa por Edward não ter te contado mais sobre isso”.
“Ele não gosta muito de contar as histórias dos outros – ele se sente como se estivesse traindo confidências, já que ele ouve tantas coisas sobre você que ele não deveria ter ouvido”.
Ela sorriu e balançou a cabeça. “Eu provavelmente devo dar mais crédito a ele. Ele realmente é muito decente, não é?”
Eu acho que sim”.
“Dá pra notar”. Então ela suspirou. “Eu também não fui justa com você, Bella. Ele te disse porque? Ou isso era confidencial demais?”
“Ele disse que era porque eu era humana. Ele disse que era mais difícil pra você ter alguém de fora que você não conhecia”.

A risada musical de Rosalie me interrompeu. “Agora eu realmente me sinto culpada. Ele foi muito, muito mais bonzinho comigo do que eu merecia”, ela pareceu mais cálida enquanto sorria, como se ela tivesse baixado uma guarda que nunca esteve ausente na minha presença. “Que mentiroso aquele garoto é”. Ela riu de novo.
“Ele estava mentindo?” eu perguntei, repentinamente cautelosa.
“Bom, provavelmente essa palavra seja forte demais. Ele só não te contou a história inteira. O que ele te contou era verdade, ainda mais verdadeira agora do que era antes. No entanto, naquela época...” Ela se deteve, gargalhando nervosamente. “Isso é vergonhoso. Veja, no início, eu estava em grande parte, mais enciumada porque ele queria você e não eu”.
As palavras dela mandaram uma onda de medo por mim. Sentada lá, na luz prateada, ela era mais bonita do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar. Eu não podia competir com Rosalie.
“Mas você ama Emmett...” eu murmurei.
Ela balançou a cabeça pra frente e pra trás, divertida. “Eu não quero Edward desse jeito, Bella. Eu nunca quis – eu amo ele como irmão, mas ele me irritou desde o primeiro momento que eu o ouvi falando. Você tem que entender, porém... eu estava acostumada às pessoas querendo a mim. E Edward não estava nem um pouco interessado. Isso me frustrou, e até me ofendeu no início. Mas ele nunca quis ninguém, então isso não me incomodou por muito tempo. Mesmo quando Edward encontrou o clã de Tânia pela primeira vez em Denali – todas aquelas fêmeas! – Edward nunca demonstrou nem a mínima preferência. E aí ele conheceu você”. Ela me olhou com olhos confusos. Eu só estava prestando atenção pela metade. Eu estava pensando em Edward e Tânia e todas aquelas fêmeas, e os meus lábios se pressionaram em uma linha dura.

“Não que você não seja bonita, Bella”, ela disse, se enganando com a minha expressão. “Mas é só que isso significava que ele tinha te achado mais atraente do que eu. Eu sou vaidosa o suficiente pra me importar”.
“Mas você disse ‘no início’. Isso não te incomoda... ainda, incomoda? Quer dizer, nós duas sabemos que você é a pessoa mais bonita no planeta”.
Eu ri por ter que dizer as palavras – isso era tão óbvio. Que estranho que Rosalie precisasse ter desse tipo de segurança.
Rosalie riu também. “Obrigada, Bella. E não, isso realmente não me incomoda mais. Edward sempre foi um pouco estranho”. Ela riu de novo.
“Mas você ainda não gosta de mim”, eu sussurrei.
O sorriso dela desapareceu. “Eu lamento por isso”.
Nós sentamos em silêncio por algum tempo, e ela não parecia inclinada a continuar.
“Você pode me dizer porque? Eu fiz alguma coisa...?” Será que ela estava zangada por eu ter colocado a família dela – o Emmett dela – em perigo? De novo e de novo. James, e agora Victoria...
“Não, você não fez nada”, ela murmurou. “Ainda não”.
Eu olhei pra ela, perplexa.
“Você não vê, Bella?” A voz dela estava repentinamente mais apaixonada do que antes, mesmo quando ela me contou a sua história infeliz. “Você já tem tudo. você tem uma vida inteira à sua frente – tudo o que você quer. E você simplesmente vai jogar tudo fora. Será que você não vê que eu trocaria tudo o que eu tenho pra ser você? Você tem a escolha que eu não tive, e você está fazendo a escolha errada!”.
Eu enrijeci por causa da expressão penetrante dela. Eu me dei conta de que a minha boca estava aberta e eu a fechei.
Ela me encarou por um longo momento, e lentamente, o fervor nos olhos dela diminuiu. De repente, ela estava envergonhada.
“E eu tinha tanta certeza de que poderia fazer isso com calma”, ela balançou a cabeça, parecendo confusa com a fluência das emoções. “É só que é mais difícil agora do que era antes, quando isso não passava de vaidade”.

Ela encarou a lua silenciosamente. Levaram alguns minutos até que eu fosse corajosa o suficiente pra quebrar o devaneio dela.
“Você ia gostar mais de mim se eu continuasse humana?”
Ela se virou pra mim, os lábios dela estavam tremendo com a sombra de um sorriso. “Talvez”.
“No entanto, você conseguiu o seu final feliz”, eu lembrei ela. “Você tem Emmett”.
“Eu tenho a metade”. Ela riu. “Você sabe que eu salvei Emmett do urso que estava atacando ele, e o carreguei até Carlisle. Mas será que você pode adivinhar porque eu não permiti que o urso comesse ele?”
Eu balancei minha cabeça.
“Com os cachos escuros... as covinhas que apareciam mesmo quando ele estava fazendo caretas de dor... a estranha inocência que parecia tão incomum no rosto de um homem adulto... ele me lembrou do pequeno Henry de Vera. Eu não queria que ele morresse – tanto que, mesmo odiando essa vida, eu fui egoísta o suficiente pra pedir que Carlisle transformasse ele.
“Eu tive mais sorte do que merecia. Emmett é tudo o que eu pediria se eu conhecesse a mim mesma bem o suficiente pra saber o que pedir. Ele é exatamente o tipo de pessoa que alguém como eu precisa. E, estranhamente o suficiente, ele precisa de mim também. Essa parte funcionou melhor do que eu podia ter esperado. Mas nunca haverá mais do que apenas nós dois. Eu nunca vou me sentar em uma varanda em algum lugar, com ele grisalho ao meu lado, cercados pelos nossos netos.”
O sorriso dela era gentil agora. “Isso soa um tanto bizarro pra você, não é? De algumas maneiras, você é muito mais madura do que eu era aos dezoito anos. Você é jovem demais pra saber o que você vai querer daqui a dez anos, quinze anos – e jovem demais pra desistir de tudo sem pensar. Você não vai querer se apressar sobre coisas permanentes, Bella”, ela deu um tapinha na minha mão, mas o gesto não pareceu condescendente.
Eu suspirei.

“Só pense nisso um pouco. Uma vez que isso esteja feito, não pode ser desfeito. Esme nos tem como substitutos... e Alice não lembra nada do que é ser humana, então ela não pode sentir falta disso... você, porém, irá se lembrar. É muita coisa pra abrir mão”.
Mas muito mais coisas pra receber, eu não disse isso em voz alta. “Obrigada, Rosalie. É bom entender... te conhecer melhor”.
“Eu peço perdão por ser uma monstra”. Ela sorriu. “Eu vou tentar me comportar de agora em diante”.
Eu sorri de volta pra ela.
Nós não éramos amigas ainda, mas eu tinha certeza de que ela já não me odiava tanto.
“Eu vou te deixar dormir agora”. Os olhos de Rosalie passaram para a cama, e os lábios dela se torceram. “Eu sei que você está frustrada por ele ter te trancado assim, mas não o castigue muito quando ele voltar. Ele te ama mais do que você imagina. Ele fica aterrorizado por ficar longe de você”. Ela se levantou silenciosamente e deslizou até a porta. “Boa noite, Bella”, ela sussurrou enquanto fechava a porta atrás de si mesma.
“Boa noite, Rosalie”, eu disse um segundo tarde demais.
Eu levei um longo tempo pra dormir depois disso.
Quando eu dormi, eu tive um pesadelo. Eu estava me arrastando no escuro, as pedras frias de uma ruas desconhecida, embaixo da neve que caia levemente, deixando uma trilha de sangue atrás de mim. Um anjo sombrio em um longo vestido branco observou o meu progresso com olhos ressentidos.
Na manhã seguinte, Alice me levou para a escola enquanto eu olhava inexpressivamente pelo pára-brisa. Eu estava sentindo a falta de sono, e isso deixou a minha irritação por ser prisioneira ainda mais forte.
“Hoje à noite nós vamos à Olympia ou alguma coisa assim”, ela prometeu. “Isso seria divertido, não é?”
“Porque você simplesmente não me tranca no porão?”, eu sugeri “e esquece a cota de açúcar?”
Alice fez uma careta. “Ele vai pegar o Porsche de volta. Eu não estou fazendo um trabalho muito bom. Era pra você estar se divertindo”.

“Não é sua culpa”, eu murmurei. Eu não conseguia acreditar que realmente estava me sentindo culpada. “Eu te vejo no almoço”.
Eu fui para a aula de Inglês. Sem Edward, o dia dava garantias de ser insuportável. Eu fiquei amuada durante a minha primeira aula, bem consciente de que a minha atitude não estava ajudando em nada.
Quando o sino tocou, eu me levantei sem muito entusiasmo. Mike estava lá na porta, segurando ela aberta pra mim.
“Edward está caminhando esse fim de semana?” ele perguntou socialmente enquanto caminhávamos para a leve chuva.
“É”.
“Você quer fazer alguma coisa essa noite?”
Como é que ele ainda podia ter tantas esperanças?
“Não posso. Eu vou a uma festa do pijama”, eu rosnei. Ele me deu uma olhada estranha enquanto processava o meu humor.
“Com quem você –“
A pergunta de Mike foi cortada quando um ronco alto de um motor emergiu atrás de nós no estacionamento. Todo mundo na calçada se virou pra olhar, encarando sem acreditar, a moto preta que parou bruscamente na beira do concreto, com o motor ainda roncando.
Jacob acenou pra mim urgentemente.
“Corra, Bella!” ele gritou por cima do ronco do motor.
Eu fiquei congelada por um segundo antes de entender.
Eu olhei pra Mike rapidamente. Eu sabia que só tinha alguns segundos.
Até onde Alice iria pra me restringir em público?
“Eu fique doente e fui pra casa, tudo bem?” eu disse para Mike, a minha voz cheia com excitação repentina.
“Ta bom”, ele murmurou.
Eu dei um beijo rápido na bochecha de Mike. “Obrigada, Mike. Eu te devo uma!”, eu falei enquanto saía correndo.
Jacob acelerou o motor, sorrindo. Eu pulei atrás do seu banco, passando os meus braços com força na cintura dele.

Eu vi Alice, congelada perto do refeitório, os olhos dela brilhando de fúria, os lábios dela curvados em cima dos dentes.
Eu lancei um olhar de piedade pra ela.
Então estávamos correndo na rua com tanta velocidade que o meu estômago se perdeu em algum lugar atrás de mim.
“Se segure”, Jacob gritou.
Eu escondi meu rosto nas costas dele enquanto ele aumentava a velocidade na pista. Eu sabia que ele diminuiria quando atingisse a fronteira dos Quileute. Eu só tinha que me segurar até lá. Eu rezei silenciosamente e ferventemente pra que Alice não nos seguisse, e que Charlie não me visse...
Foi óbvio quando nós chegamos à zona segura. A moto diminuiu de velocidade, e Jacob se endireitou e rosnou de rir. Eu abri os meus olhos.
“Nós conseguimos!” ele gritou. “Nada mal pra uma fuga da prisão, não é?”
“Belo pensamento, Jake”.
“Eu me lembrei do que você disse sobre a sanguessuga vidente não ser capaz de prever o que eu vou fazer. Eu estou feliz que você não tenha pensado nisso – ela não teria deixado você ir para a escola”.
“Foi por isso que eu não levei isso em consideração”.
Ele sorriu triunfantemente. “O que você quer fazer hoje?”
“Qualquer coisa!” eu ri de volta. Era ótimo me sentir livre.

Nós acabamos na praia de novo, andando sem rumo. Jacob ainda estava cheio de si por ter arquitetado a minha fuga.
“Você acha que eles vão vir aqui te procurando?” ele perguntou, soando esperançoso.
“Não”, eu tinha certeza disso. “No entanto, eles vão estar furiosos comigo essa noite”.
Ele pegou uma pedra e a atirou nas ondas. “Então não volte”, ele sugeriu de novo.
“Charlie ia amar isso”, eu disse sarcasticamente.
“Eu aposto que ele não ia se incomodar”.
Eu não respondi. Jacob estava certo, e isso me fez apertar os meus dentes. A preferência clara que Charlie tinha pelos meus amigos Quileute era tão injusta. Eu me perguntei se ele pensaria a mesma coisa se soubesse que a escolha de verdade estava entre vampiros e lobisomens.
“Então qual é o último escândalo do bando?” eu perguntei levemente.
Jacob parou no ato, e olhou pra mim com olhos chocados.
“O que? Isso foi uma piada”.
“Oh”, ele olhou pra longe.
Eu esperei que ele falasse de novo, mas ele pareceu perdido em pensamentos.
um escândalo?” eu imaginei.
Jacob gargalhou uma vez. “Eu tinha esquecido como é, estar perto de uma pessoa que sabe de tudo o tempo inteiro. Ter um lugar quieto, privado, na minha cabeça”.
Nós caminhamos lado a lado na praia cheia de pedras por alguns minutos.
“Então o que é?” eu perguntei finalmente. “Que todo mundo na sua cabeça já sabe?”
Ele hesitou por um momento, como se ele não estivesse muito certo de como me dizer. Aí ele suspirou, e disse “Quil teve uma impressão. Agora são três. O resto de nós está começando a ficar preocupado. Talvez seja mais comum do que nas histórias que elas contam...” Ele fez uma careta, e aí se virou pra me encarar

Ele me olhou nos olhos sem falar, as sobrancelhas dele estavam enrugadas de concentração.
"O que você tá olhando?" eu perguntei, me sentindo intimidada.
Ele suspirou. "Nada".
Jacob começou a caminhar de novo. Sem parecer pensar no que fazia, ele pegou a minha mão. Nós andamos silenciosamente pelas rochas.
Eu pensei no que estávamos parecendo caminhando de mãos dadas pela praia - com um casal, certamente - e me perguntei se eu deveria me opor. Mas as coisas sempre foram desse jeito com Jacob... Não havia razão pra ficar preocupada com isso.
"Porque Quil tendo uma impressão é um escândalo tão grande?" eu perguntei, quando não parecia que ele ia continuar. "É porque ele é o mais novo?"
"Isso não tem nada a ver".
"Então qual é o problema?"
"É outra daquelas coisas de lenda. Eu me pergunto, quando é que vamos parar de nos surpreender por elas serem todas verdadeiras?" ele murmurou pra sí mesmo.
"Você vai me contar? Ou eu vou ter que adivinhar?"
"Você nunca adivinharia. Entenda, Quil não tem saído muito conosco, sabe, até recentemente. Então, ele não tinha estado na casa de Emily com frequência".
"A impressão de Quil foi com Emily também?" eu ofeguei.
"Não! Eu disse que você não ia adivinhar. Emily está recebendo as duas sobrinhas em visita... e Quil conheceu Claire."
Ele não continuou. Eu pensei nisso por um momento.
"Emily não quer a sobreinha dela com um lobisomem? Isso é um pouco de hipocrisia", eu disse.
Mas eu podia entender porque ela, entre todas as pessoas, se sentia dessa forma. Eu pensei de novo nas longas cicatrizes que marcavam o rosto dela e que se estendiam em todo o seu braço direito. Sam só havia perdido o controle uma vez quando estava perto demais dela. Uma vez foi tudo o que precisou... Eu tinha visto a dor nos olhos de Sam quando ele olhou o que ele havia feito com Emily. Eu podia entender porque Emily ia querer proteger a sobrinha dela daquilo.

"Será que você pode parar de tentar adivinhar por favor? Você está errada. Emily não se importa com essa parte, é só que, bem, é um pouco cedo".
"O que você quer dizer com cedo?"
Jacob me olhou com os olhos apertados. "Tente não fazer julgamentos, tudo bem?"
Eu balancei a cabeça cautelosamente.
"Claire tem dois anos", Jacob me disse.
A chuva começou a cair. Eu pisquei furiosamente enquanto as gotas caíam no meu rosto.
Jacob esperou em silêncio. Ele não estava usando casaco, como sempre; a chuva deixou uma trilha de pontos escuros na camisa preta dele, e encharcou o seu cabelo que estava pingando. O rosto dele estava sem expressão enquanto ele observava o meu.
"Quil... teve um impressão... com uma garota de dois anos de idade?" eu finalmente fui capaz de perguntar.
"Isso acontece", Jacob levantou os ombros. Ele abaixou pra pegar outra pedra e a fez sair voando através da baía. "Ou pelo menos isso é o que as histórias dizem".
"Mas ela é um bebê", eu protestei.
Ele olhou pra mim com um divertimento negro. "Quil não vai envelhecer", ele me lembrou, com um pouco de ácido em seu tom. "Ele só vai ter que ser paciente por algumas décadas".
"Eu... não sei o que dizer".
Eu estava fazendo o meu melhor pra não ser crítica, mas, na verdade, eu estava horrorizada. Até agora, nada sobre os lobisomens haviam me incomodado desde o dia que eu descobrí que não eram eles que estavam cometendo os assassinatos como eu havia suspeitado.
"Você está fazendo julgamentos", ele acusou. "Eu posso ver no seu rosto".
"Me desculpe", eu murmurei. "Mas isso soa muito esquisito".
"Não é bem assim, você entendeu tudo errado" Jacob defendeu o amigo, repentinamente veemente. "Eu ví como é, pelos olhos dele. Não ha absolutamente nada romântico nisso, não pra Quil, não por enquanto." Ele respirou fundo, frustrado.

"É difícil descrever. Não é como se fosse amor à primeira vista, na verdade. É mais como... ação da gravidade. Quando você vê ela, de repente não é mais a terra que está te segurando aqui. Ela te segura. E nada importa mais do que ela. E você faria qualquer coisa por ela, seria qualquer coisa por ela... Você se torna qualquer coisa que ela precisa que você seja, seja o protetor dela, ou um amante, ou um amigo, ou um irmão.
"Quil será o melhor irmão mais velho e o mais gentil que alguém já teve. Não existe um bebê que seja mais bem cuidado do que aquela garotinha será. E depois, quando ela for mais velha e precisar de um irmão, ele será mais compreensívo, confiavel e presente do que qualquer pessoa que ela conheça. E depois, quando ela for adulta, eles serão tão felizes quanto Emily e Sam".
"Claire não tem uma escolha aqui?"
"É claro. Mas porque ela não escolheria ele, afinal? Ele será o par perfeito pra ela. Como se ele tivesse sido inventado só pra ela".
Nós caminhamos em silêncio por um momento, até que eu parei pra atirar uma pedra no oceano. Ela caiu na praia ha muitos metros antes da água. Jacob riu.
"Nós não podemos ser todos sinistramente fortes" eu murmurei.
Ele suspirou.
"Quando você acha que isso vai acontecer com você?" eu perguntei rapidamente.
A resposta dele foi vazia e imediata. "Nunca".
"Isso não é uma coisa que você pode controlar, é?"
Ele ficou em silêncio por alguns minutos. Inconscientemente, nós dois caminhamos mais devagar, quase sem nos mover.
"Não deve ser", ele admitiu. "Mas você tem que ver ela - aquela que supostamente foi feita pra você."
"E você acha que só porque você não a viu ainda, que ela não está por aí?" eu pergutei ceticamente. "Jacob, você não viu muito do mundo - menos que eu, até".
"Não, eu não ví", ele disse em uma voz baixa. Ele olhou para os meus olhos com olhos repentinamente penetrantes.

"Mas eu nunca vou ver mais ninguém, Bella. Eu só vejo você. Mesmo quando eu fecho os meus olhos e tento pensar em outra coisa. Pergunte a Quil e Embry. Isso deixa eles loucos".
Eu deixei os meus olhos caírem para as pedras.
Nós não estávamos caminhando mais. O único som vinha das ondas se batendo nas costas de rochas. Eu não conseguí ouvir a chuva acabar com o seu ronco.
"Talvez seja melhor eu ir pra casa", eu sussurrei.
"Não!" ele protestou, surpreso com essa conclusão.
Eu olhei pra ele e os seus olhos estavam ansiosos agora.
"Você tem o dia inteiro de folga, não tem? O sugador de sangue não vai estar em casa ainda".
Eu encarei ele.
"Sem intenção de ofender", ele disse rapidamente.
"Sim, eu tenho o dia todo. Mas, Jake..."
Ele levantou as mãos. "Perdão", ele se desculpou. "Eu não vou ser mais assim. Eu vou só ser Jacob".
Eu suspirei. "Mas isso é o que você está pensando..."
"Não se preocupe comigo" ele insistiu, sorrindo com alegria proposital, brilhante demais. "Eu sei o que eu estou fazendo. É só me dizer se eu estiver aborrecendo você".
"Eu não sei..."
"Vamos, Bella. Vamos voltar pra casa e pegar as nossas motos. Você tem que andar na moto regularmente pra não perder o costume".
"Eu realmente não acho que eu tenho permissão".
"De quem? De Charlie ou do sugador - dele?"
"De ambos".
Jacob sorriu o meusorriso, e de repente ele era o Jacob do qual eu mais tinha saudade, ensolarado e cálido.
Eu não pude deixar de rir de volta.
A chuva diminuiu, se transformou em um chuvisco.
"Eu não vou contar pra ninguém", ele prometeu.
"Exceto a todos os seus amigos".
Ele balançou a cabeça sobriamente e ergueu a mão direita. "Eu prometo que não vou pensar nisso".
Eu sorrí. "Se eu me machucar, foi porque eu tropecei".
"O que você disser".
Nós andamos nas nossas motos nas estradas de La Push até que a chuva as deixou com muita lama e Jacob insistiu que ia desmaiar se não comesse nada rápido.

Billy me saudou facilmente quando nós chegamos na casa, como se a minha aparição repentina não significasse nada mais complicado do que eu querendo passar um dia com o meu amigo. Depois que nós comemos os sanduíches que Jacob fez, nós saímos para a garagem e eu o ajudei a limpar as motos. Eu não tinha estado aqui ha meses - desde que Edward havia retornado - mas não havia nenhuma sensação de importância nisso. Era só uma outra tarde na garagem.
"Isso é legal" eu comentei quando ele tirou os refrigerantes quentes do saco de papel da mercearia. "Eu senti falta desse lugar".
Ele sorriu, olhando para as telhas de plástico juntas acima das nossas cabeça. "É. Eu posso entender isso. Todo o esplendor do Taj Mahal, sem a incoveniência das dispesas de uma viagem à India".
"Ao pequeno Taj Mahal de Washington", eu brindei, levantando a minha lata.
Ele tocou a sua lata na minha.
"Você se lembra do último Dia dos Namorados? Eu acho que aquela foi a última vez que você esteve aqui - a última vez em que as coisas estavam... normais, eu quero dizer."
Eu rí. "É claro que eu me lembro. Eu troquei uma vida de servidão por uma caixinha em formato de coração. Isso não é uma coisa que eu ache provavel esquecer".
Ele riu comigo. "É isso aí. Hmm, servidão. Eu vou ter que pensar em alguma coisa boa". Aí ele surpirou. "Parece que já fazem anos. Uma outra era. Uma era mais feliz".
Eu não podia concordar com ele. Essa era a minha era feliz agora. Mas eu fiquei surpresa por me dar de quantas coisas eu sentia falta das minhas próprias eras negras. Eu olhei para a abertura na floresta cheia de musgos. A chuva estava mais forte de novo, mas estava quente na pequena garagem, sentada perto de Jacob. Ele era tão bom quanto uma lareira.
Os dedos dele alisaram a minha mão. "As coisas realmente mudaram"
"É" Eu disse, e aí eu me inclinei e dei um tapinha no pneu de trás da minha moto. "Charlie costumava gostar de mim. Eu espero que Billy não o conte nada sobre hoje..." eu mordí o meu lábio.

"Ele não vai. Ele não fica esquentado com as coisas do jeito que Charlie fica. Ei, eu nunca me desculpei oficialmente por aquele lance estúpido com as motos. Eu realmente sinto muito por ter te dedurado pro Charlie. Eu queria não ter feito isso".
Eu revirei os meus olhos. "Eu também".
"Eu realmente, realmente sinto muito".
Ele olhou pra mim esperançosamente, seu cabelo preto molhado, emaranhado, estava em todo canto no rosto implorativo dele.
"Oh, tá legal! Você está perdoado".
"Obrigado, Bells!"
Nós rimos um pro outro por um segundo, e então o rosto dele sombreou.
"Sabe aquele dia, quando eu levei as motos... Eu estava esperando te perguntar uma coisa", ele disse lentamente. "Mas também... não queria".
Eu fiquei muito imóvel - uma reação ao estresse. Esse era um hábito que eu havia pego de Edward.
"Você estava só sendo teimosa porque estava com raiva de mim, ou você estava realmente falando sério?" ele sussurrou.
"Sobre o que?" eu sussurrei de volta, apesar de eu ter certeza de que sabia sobre o que ele estava falando.
Ele me encarou. "Você sabe. Quando você disse que não era da minha conta... se - se ele te mordesse". Ele enrijeceu visivelmente no final.
"Jake" a minha garganta parecia inchada. Eu não conseguí terminar.
Ele fechou os olhos e respirou fundo. "Você estava falando sério?"
Ele estava tremendo bem de leve. Os olhos dele ficaram fechados.
"Sim" eu sussurrei.
Jacob inalou, devagar e profundo. "Eu acho que sabia disso".
Eu olhei para o rosto dele, esperando que seus olhos se abrissem.
"Você sabe o que isso vai significar?" ele perguntou de repente. "Você entende isso, não entende? O que vai acontecer se eles quebrarem o acordo?"
"Nós vamos embora primeiro", eu disse com uma voz pequena.
Os olhos dele se abriram, as profundidades pretas estavam cheias de raiva e de dor.

"Não havia um limite geográfico para o acordo, Bella. Os nossos avôs só concordaram em manter a paz porque os Cullen juraram que eles eram diferentes, que os humanos não estariam em perigo por causa deles. Eles prometeram que nunca iam matar ou transformar alguém de novo. Se eles derem pra trás com a sua palavra, o acordo não tem valor, e eles não serão diferentes dos outros vampiros. Uma vez que isso está estabelecido, quando nós os acharmos -"
"Mas, Jake, você já não quebrou o acordo", eu perguntei, me segurando á palha. "Não era parte do acordo que você não poderiam contar ás pessoas sobre os vampiros? E você me contou. Então o acordo não pode ser debatido, de alguma forma?"
Jake não gostou do lembrete; a dor dos olhos dele endureceu até se transformar em animosidade. "É, eu quebrei o acordo - antes, quando eu não acreditava em nada disso. E eu tenho certeza de que eles estão informados disso", ele olhou amargamente para a minha testa, sem encontrar o meu olhar envergonhado. "Mas não é como se isso os desse uma colher de chá. Não há um castigo para uma falta. Eles só têm uma opção de se opor ao que eu fiz. A mesma opção que nós teremos se eles quebrarem o acordo: atacar. Começar a guerra."
Ele fez com que isso soasse inevitável. Eu tremí.
"Jake, as coisas não têm que ser assim".
Os dentes dele se apertaram. "É assimque é"
O silêncio depois da declaração dele pareceu muito alto.
"Você nunca vai me perdoar, Jacob?", eu sussurrei. Assim que eu disse as palavras, eu desejei não ter dito. Eu não queria ouvir a resposta dele.
"Você não será mais Bella", ele me disse. "A minha amiga não vai existir. Não haverá ninguém pra perdoar".
"Isso soa como um não". Eu sussurrei.
Nós encaramos um ao outro por um momento sem fim.
"Isso é adeus, então, Jake?"
Ele piscou rapidamente, a expressão penetrante dele derretendo com a surpresa. "Porque? Nós ainda temos alguns anos. Nós não podemos ser amigos até que não haja mais tempo?"

"Anos? Não, Jake, não anos". Eu balancei a minha cabeça e rí uma vez sem humor. "Semanas é mais preciso".
Eu não estava esperando a reação dele.
De repente ele estava de pé, e houve um alto pop quando a lata de refrigerante estorou na mão dele. Voou refrigerante pra todo lado, me molhando, como se ele estivesse saindo de uma magueira.
"Jake!" eu comecei a reclamar, mas eu fiquei em silêncio quando eu percebi que o corpo inteiro dele estava tremendo de raiva. Ele me encarou selvagemente, um rosnado nascendo no peito dele.
Eu congelei no lugar, chocada demais pra lembrar de como me mexer.
A tremedeira passava por ele, ficando mais rápida, até que pareceu que ele estava vibrando. O corpo dele parecia um vulto...
E aí Jacob apertou os dentes, e os rosnados pararam. Ele apertou a mão com força de concentrando; a tremedeira parou até que apenas as mãos dele estavam tremendo.
"Semanas", Jacob disse num tom vazio.
Eu não conseguí responder; eu ainda estava congelada.
Ele abriu os olhos. Eles estavam além da fúria agora.
"Ele vai te transformar em uma sugadora de sangue suja em apenas algumas semanas!" Jacob assobiou por entre os dentes.
Pasma demais pra me importar com o insulto nas palavras dele, eu só balancei a cabeça, muda.
O rosto dele ficou verde por baixo da pele ruiva.
"É claro, Jake" eu sussurrei, depois de um longo minuto de silêncio. "Ele tem dezessete, Jacob. E eu estou mais próxima dos dezenove a cada dia. Além do mais, qual é a necessidade de esperar? Ele é tudo o que eu quero. O que mais eu posso fazer?"
Essa pergunta era pra ser retórica.
As palavras dele saíram como se fossem um chicote. "Qualquer coisa. Qualquer outra coisa. Era melhor que você estivesse morta. Eu preferiria se você estivesse".
Eu dei um passo pra trás como se ele tivesse me batido. A dor foi pior do que se ele tivesse batido.
E aí, enquanto a dor passou por mim, a minha própria raiva se fez em chamas.

"Talvez você tenha sorte", eu disse, vazia, ficando de pé. "Talvez eu bata em um caminhão no meu caminho de volta".
Eu peguei a minha moto e a arrastei para a chuva. Ele não se moveu quando eu passei por ele. Assim que eu cheguei no pequeno caminho lamacento, e me inclinei e dei partida na moto. O pneu traseiro espirrou uma fonte de lama em direção à garagem, e eu esperei que sujasse ele.
Eu fiquei absolutamente encharcada enquanto corria pela estrada na direção à casa do Cullen. O vento parecia estar congelando a chuva no meu corpo, e os meus dentes estavam batendo antes que eu estivesse a meio caminho de lá.
Motos eram impráticas demais para Washington. Eu ia vender a coisa estúpida quando tivesse a primeira oportunidade. Eu levei a moto até a garagem cavernosa dos Cullen e não me surpreendí ao encontrar Alice esperando por mim, encostada levemente no capô do seu Porsche. Alice alisou a pintura amarela brilhante.
"Eu nem tive a chance de dirigí-lo". Ela suspirou.
"Desculpa", eu cuspi por entre os dentes.
"Você parece estar precisando de um banho quente", ela disse, improvisando, enquanto se colocava levemente de pé.
"É".
Ela torceu os lábios, olhando cuidadosamente para a minha expressão. "Você quer falar sobre isso?"
"Não".
Ela assentiu com a cabeça, mas os olhos dela ainda estavam inquietos de curiosidade.
"Você quer ir à Olympia essa noite?"
"Na verdade não. Eu não posso ir pra casa?"
Ela fez uma careta.
"Deixa pra lá, Alice", eu disse. "Eu fico, se isso facilita as coisas pra você".
"Obrigada", ela suspirou aliviada.
Eu fui dormir cedo naquela noite, me dobrando no sofá de novo.
Ainda estava escuro quando eu acordei. Eu estava grogue, mas eu sabia que ainda não estava perto de ser manhã. Os meus olhos se fecharam e eu me estiquei, rolando. Eu levei um segundo pra perceber que o movimento devia ter me derrubado no chão. E eu estava muito mais confortável.
Eu rolei de volta, tentando enxergar.

Estava mais escuro que na noite passada - as nuvens estavam grossas demais para a lua brilhar através delas.
"Desculpe" ele murmurou tão suavemente que as palavras dele pareciam parte da escuridão. "Eu não queria te acordar".
Eu fiquei tensa, esperando pela fúria - tanto a dele quanto a minha - mas só estava calmo e quieto na escuridão do quarto dele. Eu quase podia sentir a doçura da reunião no ar, uma fragrância separada do perfume da respiração dele; o vazio de quando estávamos separados deixou um gosto amargo. uma coisa que eu não percebia conscientemente até que ele era removido.
Não havia fricção no espaço entre nós. A imobilidade era apaziguadora - não como a calma depois da tempestade, mas como uma noite clara que não foi nem tocada com o sonho de uma tempestade.
E eu não me importei se eu devia estar com raiva dele. Eu não me importava se eu devia estar com raiva de todo mundo. Eu me inclinei pra ele, encontrei a sua mão na escuridão, e me puxei pra mais perto dele. Os braços dele me circundaram, me segurando contra o peito dele. Os meus lábios procuraram, caçando na garganta dele, no seu queixo, até que eu finalmente encontrei os lábios dele.
Edward me beijou suavemente por um momento, e então ele gargalhou.
"Eu estava todo preocupado por causa da briga que ia envergonhar os ursos pardos, e é isso que eu ganho? Eu devia te deixar furiosa mais vezes".
"Me dê um minuto pra ajeitar isso", eu caçoei, beijando ele de novo.
"Eu espero o quanto você quiser", ele sussurrou nos meus lábios. Os dedos dele se entrelaçaram nos meus cabelos.
A minha respiração estava ficando desigual. "Talvez de manhã".
"O que você preferir".
"Bem vindo ao lar" eu disse enquanto os lábios frios dele se pressionaram na minha mandíbula. "Eu estou feliz por você ter voltado".
"Isso é uma coisa muito boa".
"Mmm", eu concordei, apertando mais os meus dedos no pescoço dele.

A mão dele se curvou no meu cotovelo, descendo lentamente pelo meu braço, através das minhas costelas e pela minha cintura, traçando o meu quadril e descendo pela minha perna, ao redor do meu joelho. Ele parou aí, a mão dele circulando o meu tornozelo. Ele puxou a minha perna pra cima de repente, passando ela pelo quadril dele.
Eu parei de respirar. Esse não era o tipo de coisa que ele permitia. Apesar das mãos frias dele, eu me sentí quente de repente. Os lábios dele se moveram na base da minha garganta.
"Não é pra trazer a ira prematuramente", ele sussurrou. "Mas será que você pode me dizer o que há nessa cama a que você se opõe?"
Antes que eu pudesse responder, antes que eu sequer pudesse me concentrar o suficiente pra entender o significado das palavras dele, ele rolou para o lado, me colocando em cima dele. Ele segurou o meu rosto com as mãos, angulando ele para que a sua boca pudesse alcansar a minha garganta. A minha respiração estava muito alta - era quase embaraçoso, mas eu não conseguia me importar o suficiente pra ficar envergonhada.
"A cama?" ele perguntou de novo. "Eu acho ela legal".
"É desnecessária", eu consegui botar pra fora.
Ele puxou o meu rosto de volta pra o dele, e os meus lábios se encaixaram nos dele. Lentamente dessa vez, ele rolou até estar em cima de mim. Ele se segurou cuidadosamente pra que eu não sentisse nada do peso dele, mas eu podia sentir a frieza de mármore do seu corpo pressionado no meu. O meu coração estava batendo tão alto que foi difícil ouvir o riso baixo dele.
"Isso é debatível", ele discordou. "Isso ia ser difícil no sofá".
Fria como gelo, a língua dele traçou os cortornos dos meus lábios.
A minha cabeça estava girando - o ar estava vindo rápido demais e muito superficialmente.
"Você mudou de idéia?" eu perguntei sem fôlego. Talvez ele tivesse repensado as suas regras cuidadosas. Talvez houvesse mais significância nessa cama do que eu havia pensado originalmente. O meu coração bateu quase dolorosamente enquanto eu esperava pela resposta dele.

Edward suspirou, rolando de novo até que estávamos de novo dos nossos lados.
"Não seja ridícula, Bella", ele disse, a desaprovação estava forte na voz dele - claramente ele entendeu do que eu estava falando. "Eu só estava tentando ilustrar os benefícios de uma cama da qual você não parece gostar. Não se deixe levar".
"Tarde demais", eu murmurei. "E eu gosto da cama", eu acrescentei.
"Bom", eu podia ouvir o sorriso na voz dele enquanto ele beijava a minha testa. "Eu também gosto".
"Mas eu ainda acho que é desnecessário", eu continuei. "Se nós não vamos nos deixar levar, qual é o ponto?"
Ele suspirou de novo. "Pela centésima vez, Bella - é perigoso demais".
"Eu gosto de perigo", eu insistí.
"Eu sei", havia um tom amargo na voz dele, e eu me dei conta de que ele devia ter visto a moto na garagem.
"Eu vou te dizer o que é perigoso", eu disse rapidamente, antes que ele pudesse passar para um novo tópico da discussão. "Eu vou entrar em combustão espontânea um dia desses - e você não vai poder culpar ninguém além de sí mesmo".
Ele começou a me afastar.
"O que você está fazendo?", eu reclamei, me apertando a ele.
"Te protegendo da combustão. Se isso for demais pra você..."
"Eu posso aguentar", eu insistí.
Ele deixou que eu me recolocasse no círculo dos braços dele.
"Eu lamento por ter te dado a impressão errada", ele disse. "Eu não queria te deixar infeliz. Aquilo não foi legal".
"Na verdade, foi muito, muito legal".
Ele respirou fundo. "Você não está cansada? Eu devia te deixar dormir".
"Não, eu não estou. Eu não me importo se você me ser a impressão errada de novo".
"Essa provavelmente é uma má idéia. Você não á a única que se deixa levar".
"Sou sim", eu murmurei.
Ele gargalhou. "Você não tem idéia, Bella. E também não ajuda muito que você esteja tão determinada a quebrar o meu auto-controle".
"Eu não vou me desculpar por isso".
"Posso eupedir desculpa?"
"Pelo quê?"
"Você estava com raiva de mim, lembra?"
"Oh, isso".

"Eu lamento. Eu estava errado. É muito mais fácil pensar nas perspectivas com clareza quando você está segura aqui" Os braços dele se apertaram ao meu redor. "Eu fico um pouco frenético quando eu tento te deixar. Eu não acho que vou tão longe de novo. Não vale a pena".
Eu sorrí. "Você não achou nenhum leão da montanha?"
"Sim, na verdade eu achei. Mas ainda não vale a ansiedade. Eu sinto muito por ter feito Alice te fazer de refém. Isso foi uma má idéia".
"Sim", eu concordei.
"Eu não vou fazer de novo".
"Tá certo", eu disse facilmente. Ele já estava perdoado. "Mas festas do pijama têm suas vantagens..." Eu cheguei mais perto, pressionando os meus lábios na clavícula dele. "Você pode me fazer de refém sempre que quiser".
"Mmm", ele suspirou. "Eu posso me aproveitar disso".
"Então é minha vez agora?"
"Sua vez?" a voz dele estava confusa.
"De pedir desculpas".
"Pelo que você vai pedir desculpas?"
"Você não está com raiva de mim?" eu perguntei sem entender.
"Não".
Ele soou como se estivesse falando sério.
Eu sentí as minhas sobrancelhas se juntando. "Você não viu Alice quando chegou em casa?"
"Sim - Porque?"
"Você vai pegar o Porsche dela de volta?"
"É claro que não. Foi um presente".
Eu desejei poder ver a expressão dele.
"Você não quer saber o que eu fiz?" eu perguntei, começando a ficar confusa com a aparente falta de preocupação dele.
Eu sentí ele erguer os ombros. "Eu sempre estou interessado no que você faz - mas você não tem que me contar a menos que você queira".
"Mas eu estive em La Push".
"Eu sei".
"E eu faltei à escola"
"Eu também".
Eu encarei na direção da voz dele, traçando o rosto dele com os meus dedos, tentando entender o humor dele. "De onde foi que veio toda essa tolerância?", eu quis saber.
Ele suspirou.
"Eu decidí que você estava certa. O meu problema antes era mais com... o meu preconceito com os lobisomens do que por outra coisa. Eu vou tentar ser mais razoável e confiar no seu julgamento. Se você diz que é seguro, então eu acredito em você".

"Uau".
"E... o mais importante... eu não estou a fim de deixar isso construir uma ponte entre nós".
Eu descansei a minha cabeça no peito dele e fechei os meus olhos, totalmente contente.
"Então" ele murmurei em um tom casual. "Você fez planos pra ir à La Push em breve?"
Eu não respondí. A pergunta dele trouxe as palavras de Jacob de volta à minha mente, e de repente a minha garganta estava apertada.
Ele entendeu mal a minha falta de palavras e a rigidez no meu corpo.
"Só pra que eu possa fazer os meus próprio planos", ele explicou rápido. "Eu não quero que você sinta que precisa se apressar só porque eu estou sentado por aqui te esperando".
"Não" eu disse numa voz que pareceu estranha pra mim. "Eu não tenho planos pra voltar".
"Oh. Você não tem que fazer isso por mim".
"Eu não acho que sou mais bem vinda", eu sussurrei.
"Você atropelou o gato de alguém?" ele perguntou levemente. Eu sabia que ele não queria me forçar a contar a história, mas eu podia ouvir a curiosidade queimando por baixo das palavras dele.
"Não", eu respirei fundo, e depois murmurei rapidamente a minha explicação. "Eu pensei que Jacob tivesse se dado conta... Eu não pensei que isso fosse surpreendê-lo".
Edward esperou enquanto eu hesitei.
"Ele não estava esperando... que fosse ser tão cedo".
"Ah", Edward disse baixinho.
"Ele disse que preferiria me ver morta" A minha voz quebrou na última palavra.
Edward ficou parado demais por um momento, controlando qualquer que fosse a reação que ele não queria me deixar ver.
Então ele me apertou gentilmente no peito dele. "Eu lamento muito".
"Eu pensei que você ficaria feliz", eu murmurei.
"Feliz por uma coisa que machucou você?" ele murmurou no meu cabelo. "Eu acho que não, Bella".
Eu suspirei e relaxei, me encaixando no formato de pedra dele. Mas ele estava imóvel de novo, tenso.
"Qual é o problema?" eu perguntei.
"Não é nada".
"Você pode me dizer".
Ele pausou por um momento. "Isso pode te deixar com raiva".
"Eu ainda quero saber".

Ele suspirou. "Eu literalmente bem que podia matar ele por dizer isso pra você. Eu quero matar ele".
Eu rí sem muita vontade. "Eu acho que é uma coisa boa que você tenha tanto auto-controle"
"Eu podia escorregar" O tom dele estava pensativo.
"Se você vai ter um lapso de controle, eu posso pensar em um lugar melhor pra isso". Eu alcancei o rosto dele, tentando me levar pra cima pra dar um beijo nele. Os braços dele me seguraram com mais força, me restringindo.
Ele suspirou. "Será que eu preciso ser sempre o responsável?"
Eu sorri para a escuridão. "Não. Me deixa ficar no controle da responsabilidade por alguns minutos... ou horas"
"Boa noite, Bella."
"Espere - Havia algo mais sobre o que eu queria te perguntar".
"O que é?"
"Eu estava falando com Rosalie na noite passada..."
O corpo dele ficou tenso de novo. "Sim. Ela estava pensando nisso quando eu entrei. Ela te deu muitas coisas pra levar em consideração, não foi?"
A voz dele estava ansiosa, e eu me dei conta de que ele pensou que eu queria falar nas razões que Rosalie havia me dado pra continuar humana. Mas eu estava interessada em outra coisa muito mais grave.
"Ela me contou um pouco... sobre a época que a sua família viveu em Denali".
Houve uma curta pausa; esse começo havia pego ele de surpresa. "Sim?"
"Ela mencionou algumas coisas sobre um monte de fêmeas vampiras... e você".
Ele não respondeu, apesar de eu ter esperado por um longo tempo.
"Não se preocupe" eu disse, depois que o silêncio ficou desconfortável. "Ela me disse que você não... demonstrou nenhum preferência. Mas eu só estava me perguntando, sabe, se alguma delas demonstrou. Demonstrou preferência por você, eu quero dizer".
De novo ele não disse nada.
"Qual delas?" eu perguntei, tentando manter a minha voz casual, e sem conseguir. "Ou havia mais de uma?"
Nenhuma resposta. Eu desejei poder ver o rosto dele, pra que assim eu pudesse tentar adivinhar o que o silêncio significava.
"Alice vai me dizer", eu disse. "Eu vou perguntar a ela agora".

Os braços dele se apertaram; eu fui incapaz de me mover um centímetro.
"Está tarde", ele disse. A voz dele estava com um tom que era algo novo. Meio nervosa, talvez um pouco envergonhada. "Além do mais, eu acho que Alice saiu..."
"É ruim" eu adivinhei. "É realmente ruim, não é?" eu comecei a entrar em pânico, o meu coração acelerando enquanto eu imaginava a linda rival imortal que eu nunca imaginei que tivesse.
"Se acalme, Bella", ele disse, beijando a ponta do meu nariz. "Você está sendo absurda".
"Estou? Então porque você não me diz?"
"Porque não ha nada pra dizer. Você está colocando isso fora de proporção".
"Qual delas"? eu insisti.
Ele suspirou. "Tânia expressou um pouco de interesse. Eu deixei ela saber, de uma maneira muito cortês, cavalheiresca, que eu não retornava o interesse. Fim da história".
Eu mantive a minha voz o mais uniforme possível. "Me diga uma coisa - como Tânia se parece?"
"Exatamente como o resto de nós - pele branca, olhos dourados", ele respondeu rapidamente demais.
"E, é claro, extraordinariamente linda".
Eu sentí ele erguer os ombros.
"Eu acho, para os olhos humanos", ele disse, indiferente. "No entanto, quer saber?"
"O que?" a minha voz estava petulante.
Ele colocou os lábios no meu ouvido direito; a respiração gelada dele fez cócegas. "Eu prefiro as morenas".
"Ela é loira. Não é de estranhar".
"Loira morango - absolutamente não faz o meu tipo".
Eu pensei nisso por um momento, tentando me concentrar enquanto os lábios dele se moviam lentamente pela minha bochecha. Ele fez o circuito três vezes antes que eu falasse.
"Eu acho que está tudo bem, então", eu decidí.

"Hmm", ele sussurrou na minha pele. "Você é adorável quando está com ciúmes. É surpreendentemente agradável".
Eu fiz uma careta no escuro.
"Está tarde", ele disse de novo, murmurando, quase sofejando agora, a voz dele era mais macia que seda. "Durma, minha Bella. Tenha sonhos felizes. Você é a única que já tocou meu coração. Ele será sempre seu. Durma, meu único amor".
Ele começou a cantar a minha canção de ninar, e eu sabia que seria apenas uma questão de tempo até que eu sucumbisse, então eu fechei os meus olhos e me aconcheguei mais no peito dele.

9. Alvo

Alice me deixou em casa de manhã, pra manter a charada da festa do pijama. Não demoraria muito até que Edward aparecesse, oficialmente retornando da sua viagem de “caminhada”. Todas as farsas estavam começando a me cansar. Eu não ia sentir falta dessa parte de ser humana.
Charlie espiou pela janela da frente quando ele me viu bater a porta do carro. Ele acenou pra Alice, e depois foi abrir a porta pra mim.
“Você se divertiu?” Charlie perguntou.
“Claro, foi ótimo. Muito... garotas”.
Eu carreguei as minhas coisas pra dentro, amontoei todas elas no pé da escada, e fui para a cozinha pra procurar um lanche.
“Você tem uma mensagem”, Charlie falou atrás de mim.
No balcão da cozinha, o bloco de mensagens telefônicas estava aberto conspicuosamente contra uma panela de molho.
Jacob ligou, Charlie havia escrito.

Ele disse que não teve a intenção, e que ele sente muito. Ele quer que você ligue pra ele. Seja boazinha e dê uma chance a ele. Ele parecia chateado.

Eu fiz uma careta. Geralmente Charlie não editava as minhas mensagens.
Jacob podia ir em frente e ficar chateado. Eu não queria falar com ele. Da última vez que eu tive notícias, eles não eram bons em aceitar ligações do outro lado. Se Jacob me preferia morta, então talvez ele devesse começar a se acostumar com o silêncio.
O meu apetite evaporou. Eu quase fiz uma careta e fui guardar as minhas coisas.
“Você não vai ligar pra Jacob?” Charlie perguntou. Ele estava se inclinando ao redor da parede da sala de estar, me observando recolher as coisas.
“Não”
Eu comecei a subir as escadas.
“Esse não é um comportamento muito atraente, Bella”, ele disse. “Perdoar é divino”.
“Cuide dos seus assuntos”, eu murmurei por baixo do fôlego, baixo demais pra ele ouvir.

Eu sabia que as roupas sujas estavam se acumulando, então, depois que eu guardei a minha pasta de dentes e joguei as minhas roupas sujas no cesto, eu fui desforrar a cama de Charlie. Eu deixei os lençóis dele em uma pilha no topo das escadas e fui buscar os meus.
Eu parei ao lado da cama, pendendo a minha cabeça de lado.
Onde estava o meu travesseiro? Eu fiz um círculo, vasculhando o quarto. Nada de travesseiro. Eu reparei que o meu quarto estava estranhamente arrumado. A camisa do meu moletom não tinha sido jogada no poste baixo da cama no encosto de pés? E eu podia jurar que havia um par de meias sujas atrás da cadeira de balanço, junto com uma blusa vermelha que eu tinha experimentado a duas manhãs atrás, mas eu decidi que era arrumada demais para a escola, e pendurei ela no braço... eu me virei de novo. O meu cesto não estava vazio, mas não estava transbordando, do jeito que eu pensava que estava.
Charlie estava lavando a roupa? Isso era fora do comum.
“Pai, você começou a lavar as roupas?”, eu gritei pela minha porta.
“Um, não”, ele gritou de volta, soando culpado. “Você queria que eu começasse?”
“Não, eu faço isso. Você estava procurando alguma coisa no meu quarto?”
“Não. Porque?”
“Eu não consigo encontrar... uma camisa...”
“Eu não estive aí”
E aí eu me lembrei que Alice havia estado aqui pra pegar os meus pijamas. Eu não percebi que ela havia levado o meu travesseiro também – provavelmente porque eu tinha evitado a cama. Parecia que ela tinha feito uma limpeza quando passou. Eu corei por causa da minha desorganização.
Mas a blusa vermelha não estava realmente suja, então eu fui salva-la do cesto.

Eu esperava encontra-la perto do topo, mas ela não estava lá. Eu escavei a pilha inteira e mesmo assim não consegui encontra-la. Eu sabia que provavelmente eu estava ficando paranóica, mas parecia que mais alguma coisa estava faltando, ou talvez mais de uma coisa. Ele não estava cheio nem pela metade.
Eu tirei os meus lençóis e fui para o armário da lavanderia, pegando os de Charlie no caminho. A máquina de lavar estava vazia. Eu chequei a secadora também, meio que esperando encontrar roupas lavadas esperando por mim, cortesia de Alice. Nada. Eu fiz uma careta, confusa.
“Você encontrou o que estava procurando?” Charlie gritou.
“Ainda não”.
Eu voltei lá pra cima pra procurar em baixo da minha cama. Nada além de coelhinhos de poeira. Eu comecei a procurar na minha cômoda. Talvez eu tivesse guardado a camisa vermelha e tivesse esquecido.
Eu desisti quando a campainha tocou. Devia ser Edward.
“A porta” Charlie me informou do sofá enquanto eu passei correndo por ele.
“Não fique tenso, pai”.
Eu abri a porta com um grande sorriso no rosto.
Os olhos dourados de Edward estavam arregalados, as narinas estavam infladas, seus lábios estavam puxados pra cima dos dentes.
“Edward?” a minha voz estava afiada com o choque enquanto eu li a expressão dele. “O que -?”
Ele colocou seus dedos nos meus lábios. “Me dê dois segundos”, ele sussurrou. “Não se mova”.
Eu fiquei congelada na porta e ele... desapareceu. Ele se moveu tão rapidamente que Charlie nem viu ele passar.
Antes que eu pudesse me recompor o suficiente pra contar até dois, ele estava de volta.
Ele colocou o braço ao redor da minha cintura e me puxou rapidamente em direção à cozinha. Os olhos dele vasculharam o espaço, e ele me segurou contra o seu corpo como se estivesse me protegendo de alguma coisa.

Eu joguei um olhar na direção de Charlie no sofá, mas ele estava estudiosamente nos ignorando.
“Alguém esteve aqui”, ele murmurou no meu ouvido depois de me puxar para o fundo da cozinha. A voz dele estava tensa; era difícil ouvi-lo com o barulho da máquina de lavar pratos.
“Eu juro que nenhum lobisomem –“ eu comecei a dizer.
“Não um deles” ele me interrompeu rapidamente, balançando a cabeça. “Um de nós”.
O tom na voz dele deixou claro que não estava falando de um membro da família dele.
Eu senti o sangue escapando do meu rosto.
“Victoria?” eu botei pra fora.
“Não é um cheiro que eu reconheço.”
“Um dos Volturi”, eu adivinhei.
“Provavelmente”
“Quando?”
“É por isso que eu acho que foi um deles – não foi a muito tempo, cedo hoje de manhã enquanto Charlie estava dormindo. E quem quer que tenha sido não tocou nele, então deve ter sido por outro propósito”.
“Procurando por mim”.
Ele não respondeu. O corpo dele estava congelado, uma estátua.
“Sobre o que vocês dois estão cochichando?” Charlie perguntou suspeitosamente, virando na esquina com uma tigela de pipoca vazia nas mãos.
Eu fiquei verde. Um vampiro havia estado dentro de casa procurando por mim enquanto Charlie estava dormindo. O pânico me dominou, fechou minha garganta. Eu não consegui responder, eu só encarei ele horrorizada.
A expressão de Charlie mudou. Abruptamente, ele estava sorrindo. “Vocês dois estão brigando... bem, não me deixem interromper.”
Ainda sorrindo, ele colocou a sua tigela na pia e saiu da cozinha.
“Vamos”, Edward disse num voz dura e baixa.

“Mas Charlie!” O medo estava apertando o meu peito, tornando difícil respirar.
Ele pensou por um breve segundo, e então o telefone dele estava em sua mão.
“Emmett”, ele murmurou no receptor. Ele começou a falar tão rápido que eu não conseguia entender as palavras. Ele começou a me puxar em direção à porta.
“Emmett e Jasper estão a caminho”, ele sussurrou quando sentiu a minha resistência. “Eles vão vasculhar a floresta. Charlie está bem”.
Aí eu deixei ele me arrastar junto, em pânico demais pra pensar com clareza. Charlie encontrou os meus olhos amedrontados com um sorriso presumido, que de repente se transformou em confusão. Edward já tinha me levado porta afora antes que Charlie pudesse dizer qualquer coisa.
“O que nós vamos fazer?” eu não pude deixar de sussurrar, mesmo depois que já estávamos dentro do carro.
“Nós vamos falar com Alice” ele me disse, o volume de sua voz estava normal mas ela estava vazia.
“Você acha que talvez ela tenha visto alguma coisa?”
Ele olhou para a pista com os olhos apertados. “Talvez”.
Eles já estavam esperando por nós, alertados pela ligação de Edward. Era como entrar num museu, todos estavam imóveis como estátuas em várias poses de estresse.
“O que aconteceu”, Edward quis saber assim que passamos pela porta. Eu fiquei chocada ao ver que ele estava encarando Alice, as mãos dele nos pulsos com raiva.
Alice continuou com os braços cruzados no peito com força. Só os lábios dela se moveram. “Eu não falo idéia. Eu não vi nada”.
“Como isso é possível?”, ele assobiou.
“Edward” eu disse, uma baixa reprimenda. Eu não gostava dele falando com Alice desse jeito.
Carlisle interrompeu com um voz calmante. “Não é uma ciência exata, Edward”.
“Ele estava no quarto dela, Alice. Ele podia ainda estar lá – esperando por ela”.
“Eu teria visto isso”.

Edward jogou as mãos pra cima em exasperação. “Mesmo? Você tem certeza?”
A voz de Alice estava fria quando ela respondeu. “Você já me tem observando as decisões dos Volturi, observando a volta de Victoria, observando cada passo de Bella. Você quer acrescentar mais alguma coisa? Eu tenho que observar Charlie, ou o quarto de Bella, ou a casa, ou a rua inteira também? Edward, se eu fizer muita coisa, as coisas vão começar a sair do meu controle”.
“Parece que elas já estão”, Edward disparou.
“Ela nunca esteve em perigo. Não havia nada pra ver”.
“Se você estava vigiando a Itália, porque você não os viu mandar –“
“Eu não acho que sejam eles”, Alice insistiu. “Eu teria visto isso”.
“Quem mais teria deixado Charlie vivo?”
Eu estremeci.
“Eu não sei”, Alice disse.
“Ajudou”.
“Pare com isso, Edward”, eu sussurrei.
Ele virou pra mim, seu rosto ainda estava lívido, seus dentes estavam trincados. Ele me encarou por meio segundo, e depois, de repente, ele exalou. Os olhos dele arregalarem e a mandíbula dele relaxou.
“Você está certa, Bella. Me desculpe”, Ele olhou pra Alice. “Me perdoe, Alice. Eu não devia estar descontando em você. Isso foi indesculpável”.
“Eu entendo”, Alice o assegurou. “Eu também não estou feliz com isso”.
Edward respirou fundo. “Tudo bem, vamos ver isso logicamente. Quais são as possibilidades?”
Todo mundo pareceu descongelar ao mesmo tempo. Alice relaxou e se encostou nas costas do sofá. Carlisle caminhou lentamente em direção a ela, com os olhos distantes. Esme estava sentada no sofá em frente a Alice, cruzando as pernas no acento. Apenas Rosalie continuou sem se mover, de costas pra nós, olhando pela parede de vidro.
Edward me puxou para o sofá e eu me sentei perto de Esme, que mudou de posição pra passar o braço por mim. Ele segurou uma das minhas mãos apertada entre as duas dele.
“Victoria?” Carlisle perguntou.
Edward balançou a cabeça. “Não. Eu não conhecia o cheiro. Ele devia ser dos Volturi, alguém que eu nunca conheci..”

Alice balançou a cabeça. “Aro ainda não pediu a ninguém pra procurar por ela. Eu vou ver isso. Eu estou esperando por isso”.
Edward levantou a cabeça. “Você está esperando por uma ordem oficial”.
“Você acha que alguém está agindo por conta própria? Porque?”
“Idéia de Caius.” Edward sugeriu, o rosto dele endurecendo.
“Ou de Jane...”, Alice disse. “Os dois têm recursos para mandar um rosto desconhecido...”
Edward fez uma carranca. “E a motivação”.
“No entanto, isso não faz sentido”, Esme murmurou, alisando meu cabelo.
“Mas então qual é a intenção?” Carlisle meditou.
“Checar pra ver se eu ainda sou humana?”, eu adivinhei.
“Possível”, Carlisle disse.
Rosalie deu um suspiro, alto suficiente pra que eu ouvisse. Ela tinha descongelado, e o rosto dela estava virado expectantemente na direção da cozinha. Edward, por outro lado, parecia desencorajado.
Emmett entrou pela porta da cozinha, Jasper bem atrás dele.
“Foi embora há tempo, horas atrás”, Emmett anunciou, desapontado. “A trilha ia para o Leste, e depois para o Sul, e desaparecia ao lado da estrada. Um carro estava esperando”.
“Que falta de sorte”, Edward murmurou. “Se ele tivesse ido para o oeste... bem, seria bom para aqueles cachorros se fazerem úteis”.
Eu estremeci, e Esme esfregou o meu ombro.
Jasper olhou pra Carlisle. “Nenhum de nós reconheceu ele. Mas aqui”. Ele segurou uma coisa verde e amassada. Carlisle pegou dele e levou até o seu rosto. Eu vi, enquanto ele trocava de mãos, que era uma folha de samambaia partida. “Talvez você conheça o cheiro”.
“Não”. Carlisle disse. “Não é familiar. Não é alguém que eu já tenha conhecido”.
“Talvez nós estejamos olhando para isso da forma errada. Talvez seja uma coincidência...” Esme começou, mas parou quando viu as expressões incrédulas nos rostos dos outros.

“Eu não estou dizendo que é uma coincidência que um estranho tenha escolhida a casa de Bella pra fazer uma visita ao acaso. Eu quis dizer que talvez alguém esteja só curioso. O nosso cheiro está nela inteira. Será que ele estava se perguntando o que havia nos levado lá?”
“Porque ele não viria aqui, então? De ele estava curioso?” Emmett quis saber.
“Você viria”, Esme disse com repentino sorriso de afeição. “O resto de nós não é tão direto. A nossa família é muito grande – ele ou ela pode ter estado assustado. Mas Charlie não foi ferido. Esse não precisa ser um inimigo”.
Só curioso. Como James e Victoria haviam estado curiosos, no começo? O pensamento de Victoria me fez estremecer, apesar de que a única coisa da qual eles tinham certeza era de que não era ela. Não dessa vez. Ela manteria o padrão obsessivo dela. Esse era outra pessoa, um estranho.
Eu estava lentamente me dando conta de que ao vampiros eram muito mais participantes desse mundo do que eu havia pensado. Quantas vezes os humanos normais passavam por eles, completamente inconscientes? Quantas mortes, obviamente reportadas como crimes e acidentes, eram realmente devido à sede deles? Quão lotado seria esse novo mundo quando eu me juntasse a ele?
O futuro sombrio mandou um frio pela minha espinha.
Os Cullen ponderaram as palavras de Esme com várias expressões. Eu podia ver que Edward não havia aceitado a teoria, e que Carlisle queria muito aceitar.
Alice torceu os lábios. “Eu não acho. O senso de horário foi perfeito demais... O visitante foi cuidadoso demais pra não estabelecer contato. Quase como se ele ou ela soubesse que eu podia ver...”
“Ele podia ter outras razões pra não fazer contato”, Esme lembrou ela.
“É realmente importante quem ele é?” eu perguntei. “Só a chance de que alguém estavaprocurando por mim... isso já não é razão suficiente? Nós não devíamos esperar até a formatura.”
“Não, Bella”, Edward disse rapidamente. “Isso não é tão ruim. Se você realmente estiver em perigo, nós vamos saber”.

“Pense em Charlie”, Carlisle me lembrou. “Pense em como iria machuca-lo se você desaparecesse”.
“Eu estou pensando em Charlie! É com ele que eu estou preocupada! E se o meu convidado estivesse com sede ontem? Enquanto eu estiver ao lado de Charlie, ele é um alvo também. Se alguma coisa acontecesse com ele, isso seria minha culpa!”
“Dificilmente, Bella”, Esme disse, alisando o meu cabelo de novo. “E nada vai acontecer com Charlie. Nós só teremos que ser mais cuidadosos”.
Mais cuidadosos?”, eu repeti sem acreditar.
“Tudo vai ficar bem, Bella”, Alice prometeu; Edward apertou minha mão.
Eu podia ver, olhando pra todos os seus lindos rostos um a um, que nada que eu pudesse dizer ia fazê-los mudar de idéia.
A viagem pra casa foi silenciosa. Eu estava frustrada. Contra o meu melhor julgamento, eu ainda era humana.
“Você não estará sozinha por um segundo”, Edward prometeu enquanto me levava pra casa de Charlie. “Sempre haverá alguém lá. Emmett, Alice, Jasper...”
Eu suspirei. “Isso é ridículo. Eles vão ficar tão chateados, que eles mesmos terão que me matar, só pra ter algo pra fazer”.
Edward me deu um olhar amargo. “Hilário, Bella”.
Charlie estava de bom humor quando nós voltamos. Ele podia ver a tensão entre eu e Edward, e ele estava distorcendo as coisas. Ele me observou preparar o jantar dele com um sorriso presumido no rosto. Edward se desculpou por um momento, pra fazer um pouco de vigilância, eu presumi, mas Charlie esperou até que ele estivesse de volta pra me passar as minhas mensagens.
“Jacob ligou de novo”, Charlie disse assim que Edward estava na sala. Eu mantive o meu rosto tão vazio quanto o prato na frente dele.
“Isso é um fato?”
Charlie fez uma careta. “Não seja petulante, Bella. Ele parecia bem pra baixo”.

“Jacob está te pagando pra ser R.P, ou você é voluntário?”
Charlie murmurou incoerentemente pra mim até que a comida cortou o sua reclamação ranzinza.
Apesar dele não ter se dado conta, ele encontrou sua marca.
Minha vida estava parecendo muito com um jogo de dados agora – será que a próxima rodada traria olhos de cobra? E se alguma coisa acontecesse comigo? Parecia pior do que ser petulante, deixar Jacob se sentir culpado pelo que ele disse.
Mas eu não queria falar com ele com Charlie por perto, pra ter que observar cada uma das minhas palavras pra que nada escorregasse. Pensar nisso me fez ter inveja do relacionamento entre Jacob e Billy. Como devia ser fácil quando você não tinha segredos com a pessoa com a qual você vive.
Então eu ia esperar pela manhã. Eu provavelmente não ia dormir essa noite, afinal, e não ia doer deixar que ele se sentisse culpado por mais doze horas. Isso ia ser bom pra ele.
Quando Edward oficialmente foi embora pela noite, eu me perguntei quem estava lá fora de guarda, mantendo um olho em Charlie e eu. Eu me senti horrível por Alice ou quem quer que pudesse ser, mas ainda assim confortada. Eu tinha admitir que era legal, saber que eu não estava sozinha. E Edward voltou em tempo recorde.
Ele cantou pra que eu dormisse de novo e – consciente até mesmo na inconsciência de que ele estava lá – eu dormi livre de pesadelos.
De manhã, Charlie foi pescar com o Deputado Mark antes que eu estivesse acordada. Eu decidi fazer com que essa falta de supervisão fosse divina.
“Eu vou tirar Jacob do gancho”, eu avisei Edward depois que comi o meu café da manhã.
“Eu sabia que você ia perdoa-lo”, ele disse com um sorriso fácil. “Guardar rancores não é um dos seus muitos talentos”.
Eu revirei meus olhos, mas eu estava agradada. Realmente parecia que Edward havia superado aquela coisa de anti-lobisomem.
“Alô?”, uma voz sem graça disse.
“Jacob?”

“Bella!”, ele exclamou. “Oh, Bella, eu sinto muito!”, ele tropeçou nas palavras enquanto se apressava pra faze-las sair. “Eu juro que não quis dizer aquilo. Eu só estava sendo estúpido. Eu estava com raiva – mas isso não é desculpa. Foi a coisa mais estúpida que eu já disse em toda a minha vida e eu sinto muito. Não fique com raiva de mim, por favor? Por favor. Eu ofereço servidão eterna – tudo o que você tem que fazer é me perdoar”.
“Eu não estou com raiva. Você está perdoado”.
“Obrigado”, ele disse ferventemente. “Eu não consigo acreditar que fui tão idiota”.
“Não se preocupe com isso – eu já estou acostumada”.
Ele riu, exuberante de alívio. “Venha aqui me ver”, ele implorou. “Eu quero acertar as coisas com você”.
Eu fiz uma careta. “Como?”
“Qualquer coisa que você quiser. Mergulho do penhasco”, ele sugeriu, rindo de novo.
“Oh, está uma idéia brilhante”.
“Eu te manteria segura”, ele prometeu. “Não importa o que você queira fazer”.
Eu olhei pra Edward. O rosto dele estava calmo, mas eu sabia que essa não era a hora.
“Agora não”.
Ele não está muito feliz comigo, está?”, pelo primeira vez, a voz de Jacob estava mais envergonhada do que amarga.
“Esse não é o problema. Há... bem, há outro problema que é um pouco mais preocupante do que um lobisomem adolescente com mal humor...” eu tentei manter o meu tom de piada, mas isso não o enganou.
“O que há de errado?” ele quis saber.
“Um” eu não estava certa do que eu devia contá-lo.
Edward levantou a mão para o telefone. Eu olhei para o rosto dele cuidadosamente. Ele parecia calmo o suficiente.
“Bella?”, Jacob perguntou.
Edward suspirou, trazendo a mão mais pra perto.
“Você se importa em falar com Edward?” eu perguntei apreensivamente. “Ele quer falar com você”.
Houve uma longa pausa.
“Tudo bem”, Jacob concordou. “Isso vai ser interessante”.

Eu passei o telefone para Edward; eu esperei que ele pudesse ler o aviso nos meus olhos.
“Olá, Jacob”, Edward disse, perfeitamente educado.
Houve um silêncio. Eu mordi o meu lábio, tentando adivinhar o que Jacob iria responder.
“Alguém esteve aqui – não é um cheiro que eu conheço”, Edward explicou. “O seu bando encontrou algo novo?”
Outra pausa enquanto Edward acenava com a cabeça para si mesmo, sem surpresa.
“Aqui está o ponto crucial, Jacob. Eu não vou deixar Bella sair da minha vista até que eu tenha cuidado disso. Não é nada pessoal –“
Jacob interrompeu ele aí, e eu pude ouvir o ruído da voz no receptor. O que quer que fosse que ele estivesse dizendo, ele estava mais interessando do que antes. Eu tentei sem sucesso compreender as palavras.
“Você pode estar certo –“, Edward começou, mas Jacob estava discutindo de novo. Nenhum dos dois parecia estar com raiva, pelo menos.
“Essa é uma sugestão interessante. Nós estamos bastante interessados em renegociar. Se Sam for maleável”.
A voz de Jacob estava mais baixa agora. Eu comecei a morder a unha do meu polegar enquanto eu tentava ler a expressão no rosto de Edward.
“Obrigado”, Edward respondeu.
Aí Jacob disse alguma coisa que fez um expressão de surpresa atravessar o rosto de Edward.
“Eu havia planejado ir sozinho, na verdade”, Edward disse, respondendo a pergunta inesperada. “E deixar ela com os outros”.
A voz de Jacob cresceu como um beliscão, pra mim pareceu que ele estava tentando ser persuasivo.
“Eu vou tentar considerar isso objetivamente”, Edward prometeu. “Tão objetivamente quanto eu for capaz.”
A pausa foi mais curta dessa vez.
“Essa não é uma idéia muito ruim. Quando?... não, isso está bem. Eu gostaria de ter uma chance de seguir a trilha pessoalmente, do mesmo jeito. Dez minutos... Certamente”. Edward disse. Ele segurou o telefone pra mim. “Bella?”

Eu o peguei lentamente, me sentindo confusa.
“O que foi tudo isso?”, eu perguntei a Jacob, minha voz irritada. Eu sabia que era infantil, mas eu me senti excluída.
“Uma trégua, eu acho. Ei, me faça um favor”, Jacob sugeriu. “Tente convencer o seu sugador de sangue que o lugar mais seguro pra você ficar – especialmente quando ele vai embora – é na reserva. Nós seremos capazes de lidar com qualquer coisa”.
“Era isso que você estava tentando dizer pra ele?”
“Sim. Faz sentido. Charlie provavelmente também vai ficar melhor aqui. Tanto quanto for possível”.
“Coloque Billy na história”, eu concordei. Eu odiei estar colocando Charlie ao alcance encruzilhadas que sempre pareciam me ter no centro. “O que mais?”
“Só re-arrumando algumas fronteiras, pra que possamos pegar qualquer um que se aproxime de Forks. Eu não tenho certeza de que Sam vai aceitar isso, mas até que ele apareça, eu vou manter um olho nas coisas”.
“O que você quer dizer com ‘manter um olho nas coisas’?”
“Significa que se você vir um lobo correndo ao redor da sua casa, não atire nele”.
“É claro que não. Você realmente não deva fazer nada... arriscado, porém”.
Ele bufou. “Não seja estúpida. Eu posso tomar conta de mim mesmo”.
Eu suspirei.
“Eu também tentei convencê-lo a te deixar nos visitar. Ele tem preconceitos, então não deixe ele te convencer com aquela bobagem de segurança. Ele sabe tão bem quanto eu que você ficará segura aqui”.
“Eu manterei isso em mente”.
“Te vejo daqui a pouco”, Jacob disse.
“Você vai vir aqui?”
“É. Eu vou sentir o cheiro do seu visitante pra que nós possamos rastreá-lo quando ele voltar”.
“Jake, eu realmente não gosto da idéia de você caçando –“
“Oh, por favor, Bella”, ele interrompeu. Jacob riu, e aí desligou.

10. Cheiro

Tudo foi muito infantil. Porque nesse mundo Edward precisava ir embora pra que Jacob viesse? Nós não havíamos superado esse tipo de imaturidade?
"Não é que eu sinta algum antagonismo pessoal em relação a ele, Bella, é só que é mais fácil pra nós dois", Edward me disse na porta. "Eu não estarei longe. Você estará segura".
"Eu não estou preocupada com isso".
Ele sorriu , e então um olhar astuto apareceu em seus olhos. Ele me puxou mais pra perto, enterrando o rosto no meu cabelo. Eu podia sentir a respiração dele fazer meu cabelo flutuar enquanto ele exalava; isso fez o meu pescoço arrepiar.
"Eu volto logo", ele disse, e depois riu alto como se tivesse acabado de contar uma piada.
"O que é tão engraçado?"
Mas Edward só sorriu e saiu em direção às árvores sem responder.
Murmurando pra mim mesma, eu fui limpar a cozinha. Antes mesmo que a pia estivesse cheia de água, a campainha da porta soou. Era difícil me acostumar com quão mais rápido Jacob era sem o seu carro. Como todo mundo parecia muito mais rápido que eu...
"Entre, Jake!", eu gritei.
Eu estava me concentrando em empilhar os pratos na água com sabão, e eu tinha me esquecido que Jacob se movia como um fantasma nesses dias. Então quando de repente eu ouví a voz dele por trás de mim, isso me fez pular.
"Você devia mesmo deixar a porta destrancada desse jeito? Oh, desculpe".
Eu espirrei a água com sabão em mim mesma quando ele me assustou.
"Eu não estou preocupada com ninguém que seria detido por uma porta", eu disse enquanto enxugava a frente da minha camisa com uma toalha de pratos.
"Bem lembrado", ele concordou.
Eu me virei pra olhar pra ele, olhando-o criticamente. "É realmente impossível usar roupas, Jake?" Eu perguntei. Mais uma vez, Jake estava com o peito nú, usando nada além de um jeans velho rasgado. Secretamente, eu me perguntei se ele estava tão orgulhoso dos seus novos musculos que não conseguia cobrí-los. Eu tinha que admitir, eles eram impressionantes - mas eu nunca pensei nele como vaidoso.

"Eu quero dizer, eu sei que você não fica mais com frio, mas mesmo assim".
Ela passou uma mão pelo seu cabelo molhado; ele estava caindo em seus olhos.
"É mais fácil", ele explicou.
"O que é mais fácil?"
Ele sorriu condescendentemente. "Já é incômodo suficiente carregar um par de shorts comigo, imagina uma roupa completa. O que eu pareço, uma mula de carga?"
Eu fiz uma careta. "Do que você está falando, Jacob?"
A expressão dele era superior, como se eu estivesse deixando passar algo óbvio. "As minhas roupas não desaparecem simplesmente quando eu me transformo - eu tenho que carregá-las comigo enquanto eu corro. Perdoe-me por esconder a luz do meu fardo".
Eu mudei de cor. "Eu não tinha pensado nisso", eu murmurei.
Ele riu e apontou para uma tira de couro preto, fina como uma fita de estame, que estava amarrada três vezes no tornozelo dele, como uma tornozeleira. Eu não havia notado antes que ele estava de pés descalços também. "Isso é mais do que apenas uma tendência de moda - é muito ruim carregar jeans na boca".
Eu não sabia o que dizer.
Ele sorriu. "O meu semi-nú te incomoda?"
"Não".
Jacob riu de novo, e eu me virei de costas pra ele pra me concentrar nos pratos. Eu esperei que ele se desse conta de que eu estava corada porque estava envergonhada com a minha própria estupidez, e que isso não tinha nada a ver com a pergunta dele.
"Bem, eu acho que devia começar a trabalhar" Ele suspirou. "Eu não quero que ele tenha nenhuma desculpa pra dizer que há desleixo do meu lado".
"Jacob, não é seu trabalho -"
Ele levantou as mãos pra me cortar. "Eu estou trabalhando como voluntário aqui. Agora, onde o cheiro do intruso é mais forte?"
"Meu quarto, eu acho".
Os olhos dele estreitaram. Ele não parecia ter gostado disso mais que Edward.
"Eu volto em um minuto".
Eu esfreguei metodicamente o prato que eu estava segurando. O único som era o da escova de plástico arranhando a cerâmica de novo e de novo. Eu tentei escutar alguma coisa lá de cima, um rangido do chão, o clique da porta. Não houve nada.

Eu me dei conta de estava lavando o mesmo prato por mais tempo que o necessário, e tentei prestar atenção no que eu estava fazendo.
"Whew!", Jake disse, centímetros atrás de mim, me assustando de novo.
"Nossa, Jake, pára com isso!"
"Desculpe. Aqui -" Jacob pegou a toalha a removeu o novo meu molhado. "Eu vou me desculpar com você. Você ensaboa, eu lavo e seco".
"Tá bom", eu dei o prato a ele.
"Bem, o cheiro foi suficientemente fácil de sentir. Aliás, o seu quarto está fedendo".
"Eu vou comprar um purificador de ar".
Ele riu.
Eu lavei e ele secou em um silêncio de companheirismo por alguns minutos.
"Posso te perguntar uma coisa?"
Eu dei outro prato a ele. "Isso depende do que você quer saber".
"Eu não vou ser um idiota nem nada assim - eu estou honestamente curioso", Jacob me assegurou.
"Tá bom. Vá em frente".
Ele pausou por meio segundo. "Como é - ter um vampiro como namorado?"
Eu revirei meus olhos. "É o máximo".
"Eu estou falando sério. Essa idéia não te incomoda - isso nunca te assusta?"
"Nunca".
Ele estava em silêncio enquanto pegou a tigela das minhas mãos. Eu dei uma olhada para o rosto dele - ele estava fazendo careta, o lábio inferior dele estava pra fora.
"Mais alguma coisa?", eu perguntei.
Ele enrugou o nariz de novo. "Bem... eu estava me perguntando... você... você sabe, beija ele?"
Eu rí. "Sim".
Ele estremeceu. "Ugh".
"Cada um tem o que merece".
"Você não se preocupa com as presas?"
Eu batí no braço dele, molhando ele com a água dos pratos. "Cala a boca, Jacob! Você sabe que ele não tem presas!"
"Chega bem perto", ele murmurou.
Eu apertei meus dentes e esfreguei uma faca com mais força do que o necessário.
"Posso perguntar mais uma?" ele pergutou suavemente quando eu passei a faca pra ele. "Só curiosidade, de novo"
"Tá", eu disparei.
Ele virou e virou a faca nas mãos embaixo do jato de água. Quando ele falou, era apenas um cochicho. "Você disse algumas semanas... Quando, exatamente...?" Ele não conseguiu terminar.

"Formatura", ei cochichei de volta, observando o rosto dele cautelosamente. Isso ia tirar ele do sério de novo?
"Tão cedo", ele respirou, seus olhos fechando. Isso não parecia ser uma pergunta. Parecia com um lamento. Os musculos dele se apertaram e seus ombros estavam rígidos.
"OW!" Ele gritou; tudo havia ficado tão quieto na cozinha que eu dei um pulo de um metro por causa da explosão dele.
A mão direita dele tinha se encurvado tensamente no pulso na lâmina da faca - ele abriu a mão e a faca resvalou no balcão. Na palma dele, havia um corte longo, profundo. O sangue correu pelos dedos dele e pingou no chão.
"Droga! Ai!", ele reclamou.
Minha cabeça rodou e meu estômago revirou. Eu me agarrei no balcão com uma mão, respirei fundo pela boca, e me forcei a ficar bem pra poder cuidar dele.
"Oh, não, Jake!Oh, droga! Aqui, feche com isso aqui!", Eu joguei a toalha de pratos pra ele, pegando a mão dele. Ele se afastou de mim.
"Não é nada, Bella, não se preocupe com isso".
A cozinha começou a tremer um pouquinho nas beiras.
"Eu respirei fundo de novo. "Não se preocupe?! Você fatiou a sua mão!"
Ele ignorou a toalha que eu havia jogado pra ele. Ele colocou a mão embaixo da torneira e deixou a água correr pela ferida. A água ficou vermelha. A minha cabeça girou.
"Bella", ele disse.
Eu tirei os olhos da ferida, olhando pra rosto dele. Ele estava fazendo uma careta, mas a expressão dele estava calma.
"O quê?"
"Você está com cara de quem vai desmaiar, e você vai arrancar o seu lábio. Pare com isso. Relaxe. Respire. Eu estou bem".
Eu inalei pela minha boca e removí os meus dentes do meu lábio inferior. "Não seja corajoso".
Ele revirou os olhos.
"Vamos lá. Eu vou te levar para o pronto socorro" eu tinha certeza de que estava bem pra dirigir. As paredes estavam paredas agora, pelo menos.
"Não é necessário" Jacob fechou a água e pegou a toalha das minhas mãos. Ele a passou folgadamente pela palma.

"Espere", eu protestei. "Deixe eu dar uma olhada". Eu agarrei o balcão com mais força, pra me manter de pé se a ferida me deixasse tonta de novo.
"Você tem algum diploma de medicina do qual nunca me contou?"
"Só me dê uma chance de decidir se eu vou ou não dar um piti pra te levar pro hospital".
Ele fez uma cara de horror de brincadeira. "Por favor, um piti não!"
"Se você não me deixar ver a sua mão, um piti está garantido".
Ele inalou profundamente, e deixou a respiração sair num suspiro forte. "Tá bom".
Ele retirou a toalha e, quando eu me inclinei pra tirar ela, ele colocou a mão na minha.
Eu levei alguns segundos. Eu até virei a mão dele, apesar de ter certeza de que ele hava cortado a mão. Eu virei a mão dele pra cima de novo, finalmente me dando conta de que a linha inchada, num cor de rosa forte, era tudo o que havia restado da ferida.
"Mas... você estava sangrando... tanto"
Ele puxou a mão de volta, seus olhos diretos e sombrios nos meus.
"Eu saro rápido".
"Eu que o diga", eu murmurei.
Eu tinha visto o longo corte claramente, tinha visto o sangue que fluía na pia. O cheiro de sal e ferrugem dele quase me fez desmaiar. Ele devia precisar de pontos. Aquilo devia ter levado dias pra fechar e depois levado semanas pra se transformar naquela linha rosada que agora marcava a pele dele.
Ele rasgou a boca pra cima num meio sorriso no rosto e bateu com o pulso uma vez no peito. "Lobisomem, lembra?"
Os olhos dele seguraram os meus por um momento imensurável.
"Certo", eu disse finalmente.
Ele riu da minha expressão. "Eu te disse isso. Você viu a cicatriz de Paul".
Eu balancei minha cabeça pra limpá-la. "É uma pouco diferente, ver a ação em sequência em primeira mão".
Eu me ajoelhei e puxei o desinfetante do gabinete embaixo da pia. Então, eu coloquei um pouco no esfregão e comecei a esfregar o chão. O cheiro forte do desinfetante limpou o resto da tontura da minha cabeça.
"Deixe eu limpar", Jacob disse.
"Deixa comigo. Jogue a toalha na máquina, tá?"

Quando eu tive certeza que o chão não cheirava a mais nada além de desinfetante, eu me levantei e limpei o lado direito da pia com desinfetante também. Aí eu fui para o armário da lavanderia ao lado da dispensa, e despejei um copinho dele dentro da máquina antes de ligá-la. Jacob me observou com um olhar de desaprovação no rosto.
"Você tem transtorno obcessivo compulsivo?" ele perguntou quando eu acabei.
Huh. Talvez. Mas pelo menos dessa vez eu tinha uma boa desculpa. "Nós somos um pouco sensíveis a sangue por aqui. Eu tenho certeza que você pode entender isso".
"Oh", ele enrugou o nariz de novo.
"Porque não fazer tão fácil quanto for possível pra ele? O que ele está fazendo já é difícil o suficiente".
"Claro, claro. Porque não?"
Eu puxei o ralo e deixei a água suja descer pela pia.
"Posso te perguntar uma coisa, Bella?"
Eu suspirei.
"Como é - ter um lobisomem como melhor amigo?"
Essa pergunta me pegou fora de guarda. Eu ri alto.
"Isso te assusta?", ele pressionou antes que eu pudesse responder.
"Não. Quando o lobisomem está sendo legal", eu qualifiquei. "é o máximo".
Ele deu um sorriso largo, os dentes dele brilhando contra a pele ruiva. "Obrigado, Bella", ele disse, e depois pegou a minha mão e me puxou pra mais um dos seus abraços de quebrar os ossos.
Antes que eu tivesse tempo de reagir, ele me soltou de seus braços e se afastou.
"Ugh", ele disse, seu nariz enrugando. "O seu cabelo está fedendo mais que o seu quarto".
"Desculpe", eu murmurei. De repente eu entendí do que Edward estava rindo mais cedo, depois de respirar em mim.
"Um dos muitos riscos de se socializar com vampiros", Jacob disse, levantando os ombros. "Faz você cheirar mal. Um risco menor, em comparação".
Eu encarei ele. "Eu só cheiro mal pra você, Jake".
Ele sorriu largamente. "Te vejo por aí, Bells"
"Você vai embora?"
"Ele está esperando que eu vá. Eu posso ouví- lo lá fora".
"Oh".
"Eu vou por trás", ele disse, e então pausou.

"Espere um pouco - ei, você acha que pode ir até La Push hoje à noite? Nós vamos fazer uma festa de fogueira. Emily estará lá, e você podia conhecer Kim... E eu sei que Quil quer ver você. Ele está bem irritado porque você descobriu o que ele fez".
Eu sorrí disso. Eu bem que podia imaginar como isso tinha afetado Quil - o amiguinho humano de Jacob estava andando entre lobisomens sem sequer saber. E aí eu suspirei. "É, Jake, eu não sei. Entenda, as coisas estão um pouco tensas agora..."
"Vamos, você acha que alguém vai conseguir passar por cima - por cima de nós seis?"
Houve uma pausa estranha e ele estremeceu no fim da sua pergunta. Eu me perguntei se ele tinha problemas em dizer a palavra lobisomem em voz alta, do mesmo jeito que eu frequentemente tenho dificuldade com vampiro.
Os grandes olhos dele estavam cheios de rogo desavergonhado.
"Eu vou pedir", eu disse duvidosamente.
Ele fez um barulho no fundo de sua garganta. "Agora ele é seu carcereiro também? Sabe, eu ví essa história no jornal semana passada sobre relacionamentos adolescentes controladores, abusivos e -"
"Tá legal!" Eu cortei ele, e depois batí em seu braço. "Hora do lobisomem dar o fora!"
Ele sorriu. "Tchau, Bells. Tenha certeza de que pediu permissão".
Ele se abaixou pra sair pela porta da cozinha antes que eu pudesse encontrar alguma coisa pra jogar nele. Eu rosnei incoerentemente para a cozinha vazia.
Segundos depois que ele foi embora, Edward entrou lentamente na cozinha, gotas de chuva reluzindo como diamantes no seu cabelo cor de bronze. Os olhos dele estavam cautelosos.
"Vocês dois brigaram?", ele perguntou.
"Edward!" eu cantei, antes de me jogar em cima dele.
"Oi, aí". Ele riu e jogou seus braços ao meu redor. "Você está tentando me distrair? Está funcionando".
"Não, eu não briguei com Jacob. Muito. Porque?"
"Eu só estava me perguntando porque você esfaqueou ele. Não que eu me oponha". Com o queixo, ele fez um gesto para a faca em cima do balcão.
"Droga! Eu pensei que tivesse limpado tudo".

Eu me separei dele e corrí pra colocar a faca na pia antes de lavá-la com o desinfetante.
"Eu não esfaqueei ele", eu expliquei enquanto trabalhava. "Ele esqueceu que estava com a faca na mão".
Edward gargalhou. "Não é nem de perto tão engraçado quanto o jeito que eu imaginei".
"Seja bonzinho".
Ele pegou um grande envelope de dentro do casaco dele e o jogou no balcão. "Você recebeu correspondência".
"Alguma coisa boa?"
"Eu acho que sim".
Os meus olhos se estreitaram suspeitosamente com o tom dele. Eu fui investigar.
Ele havia dobrado o grande envelope no meio. Eu o abrí, surpresa com o peso do papel caro, e lí o endereço do remetente.
"Dartmouth? Isso é uma piada?"
"Eu tenho certeza que é uma aceitação. É exatamente igual ao meu".
"Belo consolo, Edward - o que você fez?"
"Eu mandei a sua inscrição, só isso".
"Eu posso até não ser material pra Dartmouth, mas eu não sou estúpida o suficiente pra acreditar nisso".
"Dartmouth parece pensar que você é material pra Dartmouth".
Eu respirei fundo e contei lentamente até dez. "Isso é muito generoso da parte deles", eu disse finalmente. "No entanto, aceita ou não, esse ainda é o menor problema com a instituição. Eu não posso pagar, e eu não vou deixar você gastar o dinheiro de outro carro esporte só para fingir que eu vou pra Dartmouth ano que vem".
"Eu não preciso de outros carros esporte. E você não precisa fingir nada", ele murmurou. "Só um ano de faculdade não vai te matar. Talvez você até gostasse. Pense nisso, Bella. Imagine o quanto Renée e Charlie ficariam excitados..."
A voz de veludo dele pintou um quadro na minha cabeça antes que eu pudesse bloqueá-lo. É claro que Charlie ia explodir de orgulho - ninguém em Forks seria capaz de escapar da explosão dessa alegria. E Renée ficaria histérica de alegria pelo meu triunfo - apesar de que ela ia jurar que não estava surpresa...
Eu tentei sacudir a imagem da minha cabeça. "Edward. Eu já estou preocupada em sobreviver até a formatura, imagine até o próximo inverno ou verão".

Os olhos dele se fecharam ao meu redor. "Ninguém vai te machucar. Você tem todo o tempo do mundo".
Eu suspirei. "Eu vou enviar o extrato da minha conta para o Alaska amanhã. Esse é o único álibi que eu preciso. Isso é longe o suficiente pra que Charlie não espere que eu venha visitá-lo até o Natal pelo menos. Até lá eu tenho certeza que consigo pensar em uma desculpa. Sabe", eu brinquei sem muita vontade. "esse segredo todo e essa coisa de decepção é um pouco chata".
A expressão de Edward endureceu. "Fica mais fácil. Depois de alguma décadas, todos que você conhece terão morrido. Problema resolvido".
Eu enrigecí.
"Desculpe, isso foi duro".
Eu olhei para o grande envelope branco, sem vê-lo. "Mas ainda é a verdade".
"Se eu resolver isso, o que quer que seja com o que estamos lidando, você por favor consideraria esperar?"
"Não".
"Sempre tão teimosa".
"Sim".
A máquina de lavar fez um barulho e parou de funcionar.
"Pedaço de lixo estúpido", eu murmurei enquanto me afastava dele. Eu retirei a toalha que era a única peça na máquina, e a liguei de novo.
"Isso me lembra", eu disse. "Será que dá pra você perguntar a Alice o que ela fez com as coisas que ela limpou no meu quarto? Eu não conseguí encontrar em lugar nenhum".
Ele me olhou com olhos confusos. "Alice limpou o seu quarto?"
"É, eu acho que era isso que ela estava fazendo. Quando ela veio pegar os meus pijamas e o meu travesseiro e essas coisas pra me fazer de refém. "Eu encarei ele brevemente. "Ela pegou tudo que estava jogado, as minhas camisas, minhas meias, e eu não sei onde ela os colocou".
Edward continou a parecer confuso por um breve momento, e depois, abruptamente, ele ficou rígido.
"Quando você reparou que as suas coisas estavam faltando?"
"Quando eu voltei da falsa festa do pijama. Porque?"
"Eu não acho que Alice pegou nada. Nem as suas roupas, nem o seu travesseiro. Essas coisas são coisas que você havia usado... e tocado... e dormido?"
"Sim. O que é, Edward?"

A expressão dele estava repuxada. "Coisas com o seu cheiro".
"Oh!"
Nos olhamos nos olhos um do outro por um longo momento.
"O meu visitante", eu murmurei.
"Ele estava juntando pistas... provas. Pra provar que ele havia te encontrado?"
"Porque?" eu sussurrei.
"Eu não sei. Mas, Bella, eu juro que eu vou descobrir. Eu vou".
"Eu sei que vai", eu disse, colocando a minha mão no peito dele. Inclinada alí, eu sentí o telefone dele vibrar no bolso dele.
Ele puxou o telefone e olhou para o número. "Exatamente a pessoa com quem eu precisava falar", ele murmurou e abriu o telefone. "Carlisle, eu -" Ele parou e escutou, o rosto dele ficou enrugado de concentração por alguns minutos. "Eu vou checar isso. Ouça..."
Ele explicou sobre as coisas desaparecidas, mas do lado que eue estava ouvindo, parecia que Carlisle não tinha intuições pra nós.
"Talvez eu vá..."Edward disse, parando quando os seus olhos passaram pra mim. "Talvez não. Não deixe Emmett ir sozinho, você sabe como ele fica. Peça a Alice que fique de olho nas coisas. Nós vamos descobrir isso depois".
Ele fechou o telefone. "Onde está o jornal?", ele me perguntou.
"Um, eu não tenho certeza. Porque?"
"Eu preciso ver uma coisa. Charlie já o jogou fora?"
"Talvez..."
Edward desapareceu.
Ele estava de volta em meio segundo, novos diamantes em seus cabelos, um jornal molhado nas mãos. Ele o espalhou na mesa, os olhos dele passando rapidamente pelas manchetes. Ele se inclinou, atento em alguma coisa que ele estava lendo, um dedo passando sobre as passagens que mais o interessavam.
"Carlisle estava certo... sim... muito espirradinho. Jovem e enlouquecido? Ou procurando a morte?" ele murmurou pra sí mesmo.
Eu fui espionar por cima do ombro dele.
A manchete do Seattle Times dizia: "Epidemia de Assassinatos Continua - Polícia Não Tem Novas Pistas".
Era quase a mesma história sobre a qual Charlie estava reclamando semanas atrás - a violência das grandes cidades que estava colocando Seattle no topo da lista nacional de assassinatos.

No entanto, não era exatamente a mesma história. Os números eram muito mais altos.
"Está ficando pior", eu murmurei.
Ele fez uma careta. "Completamente fora de controle. Isso não pode ser trabalho de apenas um vampiro recém nascido. O que esta acontecendo? É como se eles nunca tivessem ouvido falar dos Volturi. O que é impossível, eu acho. Ninguém explicou as regras pra eles... então quem os está criando?"
"Os Volturi?", eu repetí, estremecendo.
"Esse é exatamente o tipo de coisa que eles rotineiramente exterminam - imortais que ameaçam nos expor. Eles limparam uma bagunça exatamente igual a essa ha alguns anos em Atlanta, e aquilo não tinha sido nem de perto tão ruim. Eles vão interferir em breve, muito em breve, a não ser que nós encontremos uma forma de acalmar a situação. Eu realmente preferiria que eles não viessem a Seattle por enquanto. Enquanto eles estiverem tão perto... eles podem decidir dar uma olhada em você".
Eu estremecí de novo. "O que nós podemos fazer?"
"Nós precisamos saber mais antes de decidir isso. Talvez, se nós conseguirmos falar com esses jovens, explicar as regras, isso se resolva pacificamente". Ele fez uma careta, como se não achasse que as chances disso acontecer fossem boas. "Nós vamos esperar até que Alice tenha alguma idéia do que está acontecendo... Nós não queremos nos meter até que seja absolutamente necessário. Afinal, não é nossa responsabilidade. Mas é bom que tenhamos Jasper", ele acrescentou quase pra si mesmo. "Se nós estamos lidando com recém nascidos, ele vai ajudar".
"Jasper? Porque?"
Edward sorriu obscuramente. "Jasper é uma espécie de expert em vampiros recém nascidos".
"O que você quer dizer, um expert?"
"Você vai ter que perguntar a ele - a história dele está envolvida".
"Que confusão", eu murmurei.
"É isso que parece, não é? Como se isso estivesse nos atingindo por todos os lados ultimamente". Ele suspirou. "Você já pensou que a sua vida podia ser mais fácil se você não estivesse apaixonada por mim?"
"Talvez. Porém,não seria exatamente uma vida"

"Pra mim", ele emendou baixinho. "E agora, eu acho" ele continuou com um sorriso torto, "Você tem alguma coisa pra perguntar pra mim?"
Eu olhei pra ele sem entender. "Tenho?"
"Ou talvez não", ele sorriu. "Eu estava com a impressão de que você havia me prometido que pediria permissão pra ir a algum tipo de festa de lobisomens hoje à noite".
"Ouvindo escondido de novo?"
Ele sorriu. "Só um pouquinho, no final".
"Bem, eu não ia te pedir do mesmo jeito. Eu entendí que você já tem bastante coisas pra se estressar".
Ele colocou a mão embaixo do meu queixo, e segurou o meu rosto pra que ele pudesse ver meus olhos. "Você gostaria de ir?"
"Não é nada demais. Não se preocupe".
"Você não tem que me pedir permissão, Bella. Eu não sou o seu pai - graças aos céus por isso. No entanto, talvez você devesse pedir a Charlie".
"Mas você sabe que Charlie vai dizer sim".
"Eu tenho um pouco mais de intuição sobre a resposta dele do que outras pessoas teriam, é verdade".
Eu olhei pra ele, tentando entender o que ele queria, e tentando tirar da minha mente a vontade que eu estava de ir à La Push pra que eu não fosse enganada pelos meus próprios desejos. Era estupidez querer sair com um monte de garotos-lobos estúpidos quando haviam muito mais coisas assustadoras e inexplicadas acontecendo. É claro, isso era exatamente o motivo pelo qual eu queria ir. Eu queria escapar das ameaças de morte, só por algumas horas... ser menos madura, ser mais a Bella irresponsável que podia rir com Jacob, mesmo que brevemente. Mas isso não importava.
"Bella", Edward disse. "Eu disse que ia ser razoável e confiar no seu julgamento. Eu falei sério. Eu confio nos lobisomens, então eu não vou me preocupar com eles".
"Uau", eu disse, como havia dito na noite passada.
"E Jacob está certo - sobre uma coisa, pelo menos - uma bando de lobisomens deve ser o suficiente pra te proteger até você por uma noite".
"Você tem certeza?"
"É claro. Só..."
Eu me segurei.

"Eu espero que você não se importe em tomar algumas precauções? Me deixando te levar até a linha da fronteira, pra começar. E também levando um celular, pra que eu saiba quando ir te buscar".
"Isso soa... muito razoável".
"Excelente".
Ele sorriu pra mim, e eu não pude ver nenhum traço de apreensão em seus olhos que parecia, jóias.
Para a surpresa de ninguém, Charlie não teve problema nenhum em me deixar ir à La Push pra um fogueira. Jacob gritou com uma exultação indisfarçavel quando eu liguei pra ele pra dar as notícias, e ele pareceu suficientemente ansioso pra aceitar as medidas cautelosas de Edward. Ele prometeu nos encontrar na linha que dividia os territórios às seis.
Eu havia decidido, depois de um curto debate interno, que eu não ia vender a moto. Eu ia levá-la de volta à La Push, onde ela pertencia, e quando eu não precisasse mais dela... bem, aí, eu insistiria que Jacob ele cuidasse do seu trabalho de alguma forma. Ele podia vendê-la ou dar a uma amigo. Eu não me importava.
Essa noite parecia ser uma boa pra devolver a moto para a garagem de Jacob. Me sentindo sensível como eu estava nos últimos dias, todo dia parecia ser possivelmente o último. Eu não tinha tempo para adiar nenhuma tarefa, não importava o quão pequena fosse.
Edward apenas balançou a cabeça quando eu expliquei o que eu queria, mas eu pensei ter visto uma faísca de consternação nos olhos dele, e eu sabia que ele não estava mais feliz com a idéia da moto do que Charlie estava.
Eu o seguí de volta para casa dele, para a garagem onde eu havia deixado a moto. Não foi até que eu estacionei a caminhonete e descí que eu percebí que talvez dessa vez a consternação não fosse em relação a minha segurança.
Ao lado da minha moto antiga, obscurecendo-a, havia outro veículo. Chamar esse outro veículo de moto não parecia muito justo, já que ela não parecia pertencer a mesma família que a minha moto, repentinamente rota.
Essa era grande e esguia e prateada - e mesmo totalmente imóvel - ela parecia rápida.

"O que é isso?"
"Nada", Edward murmurou.
"Isso não parece ser nada".
A expressão de Edward estava casual; ele parecia determinado a esquecer isso. "Bem, eu não sabia se você ia perdoar o seu amigo, e nem ele a você, e eu me perguntei se você ia querer andar na sua moto mesmo assim. Parecia ser algo que você gostava de fazer. Eu pensei que eu podia ir com você, se você quisesse". Ele levantou os ombros.
Eu encarei a linda máquina. Ao lado dela, a minha moto parecia ser um tricíclo quebrado. Eu me sentí repentinamente triste quando me dei conta de que essa provavelmente era uma analogia à forma como eu parecia ao lado de Edward.
"Eu não seria capaz de te acompanhar", eu sussurrei.
Edward colocou sua mão embaixo do meu queixo e puxou o meu rosto pra que ele pudesse vê-lo direito. Com um dedo, ele tentou puxar o canto da minha boca pra cima.
"Eu vou acompanhar você, Bella"
"Isso não seria muito divertido pra você".
"É claro que seria, se estivéssemos juntos".
Eu mordí o meu lábio e imaginei isso por um momento. "Edward, se você pensasse que eu estava indo rápido demais ou perdendo o controle da moto ou algo assim, o que você faria?"
Ele hesitou, obviamente tentando encontrar a resposta certa. Eu sabia a verdade: ele ia tentar encontrar uma forma de me salvar antes que eu caísse.
Aí ele sorriu. Pareceu ser sem esforço, exceto pelo pequeno aperto defensivo que havia nos olhos dele.
"Isso é uma coisa que você faz com Jacob. Agora eu entendo".
"É só que, bem, eu não quero ele tão triste, sabe. Eu podia tentar, eu acho..."
Eu olhei para a moto prateada duvidosamente.
"Não se preocupe com isso", Edward disse, e aí ele sorriu levemente. "Eu ví Jasper admirando ela. Talvez seja hora dele descobrir um novo jeito de viajar. Afinal, agora Alice tem o Porsche dela".
"Edward, eu -"
Ele me interrompeu com um beijo rápido. "Eu disse pra não se preocupar. Mas você faria uma ciosa por mim?".
"Qualquer coisa que você precise", eu prometí rapidamente.

Ele soltou o meu rosto e se inclinou ao lado da moto grande, retirando alguma coisa que ele havia colocado lá.
Ele voltou com um um objeto que era preto e sem forma, e com outro que era vermelho e com um formato facilmente indentificavel.
"Por favor?" ele pediu, mostrando o sorriso torto que sempre destruía as minhas defesas.
Eu peguei o capacete vermelho, medindo o peso em minhas mãos. "Eu vou parecer estúpida".
"Não, você vai parecer esperta. Esperta o suficiente pra não se machucar." Ele jogou a coisa preta, o que quer que fosse, por cima do braço e pegou o meu rosto nas mãos. "Existem coisas entre minhas mãos agora sem as quais eu não posso viver. Você podia cuidar delas".
"Tudo bem, tá certo. Qual é a outra coisa?", eu perguntei suspeitosamente.
Ele sorriu e desenrolou uma espécie de jaqueta. "É uma jaqueta de montaria. Eu sei que estradas molhadas são bem desconfortaveis, não que eu mesmo pudesse saber".
Ele a segurou pra mim. Com um profundo suspiro, eu coloquei o meu cabelo pra trás e coloquei o capacete na cabeça. Aí eu passei os meus braços pelas mangas da jaqueta. Ele fechou o zíper, um sorriso brincando nos cantos da boca dele, e deu um passo pra trás.
Eu me sentí boba.
"Seja honesto, quão odiosa eu estou?"
Ele deu outro passo pra trás e torceu os lábios.
"Ruim assim, hein?" eu murmurei.
"Não, não, Bella. Na verdade..." ele pareceu estar lutando pra encontrar a palavra certa. "Você está... sexy".
Eu rí alto. "Certo".
"Muito sexy, na verdade".
"Você só está dizendo isso pra que eu use", eu disse. "Mas está tudo bem. Você está certo, é mais inteligente".
Ele passou os braços ao meu redor e me trouxe para o peito dele. "Você é boba. Eu acho que isso é parte do seu charme. No entanto, eu tenho que admitir, esse capacete tem suas desvantagens".
Então ele retirou o capacete pra poder me beijar.
Enquanto Edward me levava até La Push algum tempo mais tarde, eu me dei conta de que a falta de precedentes dessa situação parecia estranhamente familiar. Eu levei algum tempo pra entender a fonte

Eu levei algum tempo pra entender qual era a fonte do déjà vu.
"Sabe do que isso me lembra?" eu perguntei. "É igual a quando eu era criança e Renée me deixava com Charlie pra passar o verão. Eu me sinto como se tivesse sete anos".
Edward riu.
Eu não mencionei isso em voz alta, mas a única diferença entre as duas situações era que Renée e Charlie se davam bem.
A cerca de meio caminho de La Push, nós fizemos um curva e encontramos Jacob enconstado do lado do seu Volkswagen vermelho que ele havia construído sozinho desde as peças. A expressão cuidadosamente neutra de Jacob se dissolveu em um sorriso quando eu acenei no banco da frente.
Edward estacionou o Volvo a uns trinta metros de distância.
"Me ligue quando você quiser voltar pra casa", ele disse. "E eu estarei aqui".
"Eu não vou demorar", eu prometí.
Edward puxou a minha moto e minhas novas vestimentas do porta-malas do seu carro - eu fiquei bem surpresa por tudo ter entrado. Mas isso não era tão difícil de conseguir quando você é forte o suficiente pra levanta vans, quanto mais pequenas motos.
Jacob observou, sem fazer nenhum movimento pra se aproximar, o sorriso dele tinha obscurecido e os olhos dele eram indecifraveis.
Eu coloquei o capacete embaixo do braço e joguei a jaqueta no acento.
"Você pegou tudo?", Edward perguntou.
"Sem problema", eu o assegurei.
Ele suspirou e se inclinou pra mim. Eu virei meu rosto pra cima pra um beijo de despedida, mas Edward me pegou de surpresa, passando seus braços ao meu redor com força e me beijando com tanto entusiasmo quanto ele havia feito na garagem - em pouco tempo, eu estava sem ar.
Edward riu baixinho de alguma coisa, e depois me soltou.
"Tchau", ele disse. "Eu realmente gostei da jaqueta".
Enquanto eu virei de costas pra ele, eu pensei ter visto um flash de alguma coisa nos olhos dele que não era pra eu ter visto. Eu não podia dizer com certeza o que era. Preocupação, talvez. Por um segundo, eu pensei que fosse pânico. Mas provavelmente eu estava imaginando algo que não existia, como sempre.

"O que é isso tudo?", Jacob perguntou, sua voz cautelosa, observando a moto com uma expressão enigmática.
"Eu achei que eu devia colocar isso de volta onde ela pertence" eu disse a ele.
Ele pensou nisso por um segundo, e aí um sorriso se abriu no rosto dele.
Eu sabia exatamente que estávamos em território de lobisomens porque Jacob se afastou rapidamente do seu carro e veio pra cima de mim, fechando a longo distância com apenas três passos longos. Ele pegou a moto de mim, colocando-a no tripé, e me pegou em outro abraço de urso.
Eu ouví o motor do Volvo roncar, e lutei pra ficar livre.
"Pare com isso, Jake!" eu ofeguei, sem ar.
Ele riu e me colocou no chão. Eu me virei pra acenar um adeus, mas o carro prateado já estava desaparecendo na curva da estrada.
"Legal", eu comentei, deixando que um pouco de ácido escapasse na minha voz.
Os olhos dele se arregalaram com falsa inocência. "O que foi?"
"Ele está sendo muito tolerânte com essa coisa toda; você não precisa testar sua sorte".
Ele riu de novo, mais alto que antes - ele realmente achou o que eu disse muito engraçado. Eu tentei ver qual era a piada enquanto ele arrodeava o Rabbit pra abrir a porta pra mim.
"Bella", ele disse finalmente - ainda gargalhando - enquanto fechava a porta atrás de mim. "Você não pode testar aquilo que você não tem"

11.Lendas

“Você vai comer esse cachorro quente?” Paul perguntou a Jacob, os olhos dele permaneceram grudados nos últimos vestígios de uma enorme refeição que os lobisomens haviam consumido.
Jacob se encostou nos meus joelhos e brincou com o cachorros quente que estava enfiado num fio de aço esticado, as chamas nas beiras da fogueira lambiam a sua pele empolada. Ele suspirou com força e deu um tapinha no estômago. De alguma forma, ele ainda estava plano, apesar de eu já ter perdido as contas de quantos cachorros quentes ele havia comido depois do décimo. Sem mencionar um saco gigante de batatas e duas garrafas de cerveja preta.
“Eu acho”, Jacob disse lentamente. “Eu estou tão cheio que estou prestes a vomitar, mas eu acho que ainda posso forçá-lo a descer. No entanto, eu não vou gostar disso nem um pouco”. Ele disse de novo tristemente.
Apesar do fato de que Paul havia comido pelo menos tanto quanto Jacob, ele ficou com raiva e as mãos dele fincaram nos pulsos.
“Nossa”, Jacob riu. “Brincando, Paul. Aqui”.
Ele jogou a comida feita em casa através do círculo, eu esperei que o cachorro quente caísse na areia, mas Paul o pegou pela direita sem dificuldade.
Andar por aí com ninguém além de pessoas destras o tempo todo ia acabar me deixando com complexo.
“Valeu, cara”, Paul disse, já superando o seu breve acesso de raiva.
A fogueira de partiu, baixando mais na areia. Faíscas brilharam numa nuvem repentina de um laranja brilhante contra o céu preto. Engraçado, eu não tinha reparado que o sol tinha se posto. Pelo primeiro vez, eu me perguntei quão tarde era. Eu perdi completamente a noção do tempo.
Era mais fácil ficar com os meus amigos Quileute do que eu tinha esperado.
Enquanto Jacob e eu deixávamos a minha moto na garagem – e ele admitia sem vontade que o capacete era uma boa idéia e que ele devia ter pensado nisso – eu comecei a me preocupar em aparecer com ele na fogueira, imaginando que os lobisomens iam me considerar uma traidora agora.

Será que eles ficariam com raiva de Jacob por ter me convidado? Será que eu arruinaria a festa?
Mas quando Jacob me acompanhou pela floresta para o topo dos penhascos no local do encontro – onde o fogo já queimava mais brilhante do que o sol obscurecido pelas nuvens – tudo estava muito leve e casual.
“Ei, garota vampira!”, Embry me cumprimentou alto. Quil tinha levantado pra bater na minha mão e me beijar na bochecha. Emily apertou a minha mão quando eu me sentei no chão frio de pedra ao lado dela e de Sam.
Além das reclamações de brincadeira – em maioria de Paul – sobre estar com fedor de sugadores de sangue, eu fui tratada com alguém que pertencia ali.
E também não foi só uma festa de jovens. Billy estava lá, sua cadeira de rodas estacionada no que parecia ser a cabeça natural do círculo. Ao lado dele, numa cadeira dobrável, parecendo bastante frágil, estava o velho avô de Quil, de cabelos brancos, o Velho Quil. Sue Clearwater, viúva de Harry o amigo de Charlie, estava numa cadeira do outro lado; os dois filhos dela, Leah e Seth, também estavam lá, sentados no chão como o resto de nós. Isso me surpreendeu, mas claramente eles três faziam parte do segredo agora. Pelo jeito que Billy e o velho Quil falavam com Sue, parecia que ela tinha tomado o lugar de Harry no conselho. Será que isso fazia os filhos dela membros automáticos da sociedade mais secreta de La Push?
Eu me perguntei o quanto devia ser horrível pra Leah se sentar num círculo com Sam e Emily. Seu rosto adorável traía a emoção, mas ela nunca desviou o rosto das chamas.Olhando para a perfeição do rosto de Leah, eu não pode deixar de compara-lo com o rosto arruinado de Emily. O que Leah pensava das cicatrizes de Emily, agora que ela sabia a verdade por trás delas? Será que elas pareciam com justiça nos olhos dela?
O pequeno Seth Clearwater já não era mais pequeno. Com o seu enorme sorriso feliz atravessando seu rosto, feito sem força, ele me lembrava de um Jacob muito mais novo.

Essa semelhança me fez sorrir, e depois suspirar. Será que Seth estava predestinado a ter a sua vida tão drasticamente mudada quanto as do resto dos rapazes? Seria esse o futuro pelo qual ele e sua família tinham permissão de ficar aqui?
O bando inteiro estava lá: Sam com a sua Emily, Paul, Embry, Quil, Jared com a sua Kim, a garota com a qual ele tinha tido uma impressão.
A minha primeira impressão de Kim foi de que ela era uma garota legal, um pouco tímida, um pouco normal. Ela tinha um rosto largo, as maçãs do rosto grandes, com olhos pequenos demais pra equilibra-los. Seu nariz e boca eram largos demais pra se ajustarem ao padrão tradicional de beleza. Seu cabelo liso era fino e assanhado com o vento que nunca parecia parar no topo do penhasco.
Essa foi a minha primeira impressão. Mas depois de algumas horas observando Jared e Kim, eu não conseguia ver mais nada de normal na garota.
O jeito que ele olhava pra ela! Era como um homem cego vendo o sol pela primeira vez. Como um colecionador achando um Da Vinci desconhecido, como uma mãe olhando para o rosto do filho recém-nascido.
Seus olhos sonhadores me fizeram ver coisas novas sobre ela- a pele de cor ruiva dela parecia seda na luz do fogo, como a forma dos lábios dela eram uma curva dupla perfeita, como os dentes dela eram brancos em contraste com eles, como os cílios dela eram longos, varrendo suas bochechas quando ela olhava pra baixo.
As vezes a pele de Kim escurecia quando ela encontrava o olhar fascinado de Jared, e os olhos dela baixavam como se fosse por vergonha, mas ela tinha dificuldade em manter os olhos longe dele por muito tempo.
Observando eles, eu senti que podia entender melhor o que Jacob havia me dito antes sobre a impressão – é difícil resistir a esse nível de comprometimento e adoração.
Kim estava balançando a cabeça no peito de Jared, os braços dele ao redor dela. Eu imaginei que ela devia estar bem aquecida ali.
“Está ficando tarde”, eu murmurei pra Jacob.

“Não comece com isso ainda” Jacob murmurou de volta – apesar de que certamente metade do círculo tinha ouvidos sensíveis o bastante pra nos ouvir mesmo assim. “A melhor parte está chegando”
“Qual é a melhor parte? Você vai engolir uma vaca inteira?”
Jacob riu seu riso baixo, gutural. “Não. Esse é o final. Nós não nos encontramos só pra comer a comida equivalente a uma semana inteira. Isso é tecnicamente uma reunião do conselho. Essa é a primeira vez de Quil, e ele ainda não ouviu as histórias. Bem, ele havia ouvido elas, mas essa é a primeira vez que ele sabe que elas são verdadeiras. Isso tende a fazer um cara prestar mais atenção. É a primeira vez de Kim e Seth e Leah também”.
“Histórias?”
Jacob inclinou pra trás ao meu lado, onde eu me encostava num cume baixo da pedra. Ele passou o braço pelos meus ombros e falou ainda mais baixo no meu ouvido.
“As histórias que sempre pensamos que fossem lendas”, ele disse. “As histórias de como chegamos a existir. A primeira história sobre os espíritos guerreiros”.
Era quase como se Jacob estivesse sussurrando a introdução. A atmosfera mudou de repente ao redor da fogueira baixa. Paul e Embry se sentaram mais eretos. Jared cutucou Kim e então puxou ela gentilmente pra cima.
Emily pegou um caderno de espiral e uma caneta, parecendo exatamente com uma estudante que havia sido escolhida para uma palestra importante. Sam se virou apenas um pouco ao lado dela – até que ele estivesse olhando na mesmo direção que o velho Quil, que estava do seu outro lado – e de repente eu me dei conta de que os anciões do conselho não eram três, mas quatro em número.
Leah Clearwater, o rosto dela ainda era uma linda máscara sem emoção, fechou os olhos- não como se ela estivesse cansada, mas como se fosse pra ajudar na concentração. O irmão dela se inclinou ansiosamente na direção dos anciões.

A fogueira partiu, mandando outra explosão de faíscas brilhando na noite.
Billy limpou sua garganta, e, sem nenhuma outra introdução além do sussurro dos seu filho, começou a contar a história com sua voz rica, profunda. As palavras fluíam com precisão, como se ele as soubesse com o coração, mas também com sentimento e um subto ritmo. Como uma poesia recitada pelo seu autor.
“Os Quileute têm sido poucas pessoas desde o início”, Billy disse. “E ainda somos poucas pessoas, mas nós nunca desaparecemos. Isso é porque sempre houve a mágica em nosso sangue. Não era a mágica de mudar de forma – isso veio depois. Primeiro, nós éramos espíritos guerreiros”.
Eu nunca havia reconhecido antes a realeza que havia na voz de Billy, apesar de que agora eu me dava conta de que a autoridade sempre esteve lá.
Emily escrevia nas folhas de papel enquanto tentava acompanhar ele.
“No começo, a tribo se assentou nesse porto e se transformaram em habilidosos construtores de barco e pescadores. Mas a tribo era pequena, e o porto era rico em peixes. Haviam outros que desejavam as nossas terras, e nós éramos poucos pra enfrenta-los. Uma tribo maior se moveu contra nós, e nós entramos em nossos navios pra escapar deles.
“Kaheleha não foi o primeiro espírito guerreiro, mas nós não lembramos de outras histórias que venham antes dessa. Nós não lembramos de quem foi o primeiro a descobrir esse poder, ou como ele havia sido usado antes dessa crise. Kaheleha foi o primeiro grande Espírito Chefe na nossa história. Nessa emergência, Kaheleha usou a sua magia pra defender as nossas terras.
“Ele e todos os seus guerreiros abandonaram o navio – não seus corpos, mas seus espíritos. As suas mulheres cuidaram de seus corpos e das ondas,e os homens levaram seus espíritos de volta ao nosso porto.

“Eles não podiam tocar fisicamente a tribo inimiga, mas eles tinham outros meios. As histórias nos contam que eles puderam fazer um vento feroz soprar nos acampamentos inimigos; eles podiam fazer um grande grito no vento que aterrorizou seus inimigos. As histórias também nos contam que os animais podiam ver os espíritos guerreiros e compreende-los; os animais os licitavam.
“Kaheleha levou o seu exército de espíritos e criou o caos entre os intrusos. Essa tribo invasora tinha grandes bandos de cães grandes, furiosos que eles usavam pra puxar seus trenós no norte congelado. Os espíritos guerreiros fizeram com que os cães se virassem contra seus mestres e trouxessem uma poderosa infestação de morcegos das cavernas no penhascos. Eles usaram o vento gritante pra ajudar os cães a confundir os homens. Os cães e os morcegos venceram. Os sobreviventes fugiram, dizendo que o porto era amaldiçoado. Os cachorros correram livres quando os espíritos guerreiros os libertaram. Os Quileute retornaram pra seus corpos e suas esposas, vitoriosos.
“As outras tribos vizinhas, os Hoh e os Makah, fizeram acordos com os Quileute. Eles não queriam nada com a nossa magia. Nós vivemos em paz com eles. Quando um inimigo vinha contra nós, os espíritos guerreiros os afastavam.
“Gerações se passaram. Então veio o primeiro grande Espírito Chefe, Taha Aki. Ele era conhecido por sua sabedoria, e por ser um homem de paz. As pessoas viviam bem e contentes sob seus cuidados.
“Mas haviam um homem, Utlapa, que não estava contente.”
Um assobio correu pela fogueira. Eu era lenta demais pra descobrir de onde ele tinha vindo. Billy ignorou e continuou com a lenda.
“Utlapa era um dos espíritos guerreiros mais fortes do Chefe Taha Aki – um homem poderoso, mas um homem ganancioso também. Ele achava que as pessoas deviam usar sua magia pra expandir suas terras, escravizar os Hoh e os Makah e construir um império.

“Agora, quando os guerreiros se transformavam em seus espíritos, eles podiam ouvir os pensamentos uns dos outros. Taha Aki viu o que Utlapa sonhava, e ficou bravo com Utlapa. Utlapa foi ordenado a deixar o povo, e nunca usar o seu espírito de novo. Utlapa era um homem poderoso, mas os guerreiros do chefe eram um número que ele. Ele não teve escolha a não ser ir embora. O furioso excluído se escondeu na floresta nas proximidades, esperando pela chance pra se vingar de seu chefe.
“Mesmo em tempo de paz, o Chefe Espírito era vigilante na proteção ao seu povo. Frequentemente ele ia para um lugar secreto, sagrado, nas montanhas. Ele deixava o seu corpo pra trás e andava pelas florestas e pela costa, pra ter certeza de que nenhuma ameaça se aproximava.
“Um dia, quando o Chefe Taha Aki saiu pra fazer o seu trabalho, Utlapa o seguiu. No início, Utlapa apenas planejava matar o chefe, mas seu plano tinha suas desvantagens. Com certeza os espíritos guerreiros iam procura-lo e destruí-lo, e eles podiam persegui-lo mais rápido do que ele podia fugir. Enquanto ele se escondia nas rochas o observava o chefe se preparar pra deixar seu corpo, outro plano ocorreu a ele.
“Taha Aki deixou seu corpo no local secreto e voou com os ventos pra manter a vigilância sobre seu povo. Utlapa esperou até que ele tivesse certeza de que o chefe havia viajado certa distância com seu ser espírito.
“Taha Aki soube o instante em que Utlapa se juntou a ele no mundo dos espíritos, e também soube do plano de assassinato de Utlapa. Ele correu de volta para o seu local secreto, mas mesmo os ventos não foram rápidos o suficiente pra salva-lo. Quando ele retornou, o seu corpo já tinha ido embora. O corpo de Utlapa estava abandonado, mas Utlapa não tinha deixado Taha Aki com uma escolha – ele havia cortado a garganta do seu próprio corpo com as mãos de Taha Aki.
“Taha Aki seguiu o seu prórpio corpo pela montanha. Ele gritou com Utlapa, mas Utlapa o ignorou como se ele fosse apenas o vento.

“Taha Aki observou com desespero enquanto Utlapa pegava o seu lugar como chefe dos Quileute. Por algumas semanas, Utlapa não fez nada além de se certificar de que todos acreditavam que ele era Taha Aki. Aí as mudanças começaram – a primeira ordem de Utlapa foi que qualquer guerreiro entrasse no mundo dos espíritos. Ele clamou que tinha uma visão do perigo, mas na verdade ele estava com medo. Ele sabia que Taha Aki estaria esperando pela chance de contar a sua história. O próprio Utlapa estava com muito medo de entrar no mundo dos espíritos, sabendo que Taha Aki rapidamente clamaria seu corpo. Então seus sonhos de conquista com um exército de espíritos guerreiros era impossível, e ele teve que se contentar em reinar sobre a tribo. Ele se tornou um fardo – procurando privilégios que Taha Aki nunca havia pedido, se recusando a trabalhar junto dos seus guerreiros, se casando com uma segunda jovem esposa, e depois uma terceira, apesar da esposa de Taha Aki ainda viver – em algum lugar desconhecido da tribo. Taha Aki observou furioso sem poder fazer nada.
“Eventualmente, Taha Aki tentou matar seu próprio corpo pra salvar a tribo dos desmandos de Utlapa. Ele trouxe um lobo feroz das montanhas, mas Utlapa se escondeu atrás de seus guerreiros. Quando o lobo matou um jovem que estava protegendo seu falso chefe, Taha Aki sentiu um terrível pesar. Ele ordenou que o lobo fosse embora.
“Todas as histórias nos contam que não eram fácil ser um espírito guerreiro. Era mais assustador do que excitante estar fora do seu próprio corpo. Era por isso que eles só usavam sua magia em tempos de necessidade. As viagens solitárias do chefe pra manter guarda eram um fardo e um sacrifício. Ficar sem corpo era desorientador, desconfortável, aterrorizante. Taha Aki esteve longe de seu corpo por tanto tempo que chegou um ponto que ele sentiu agonia. Ele sentiu que estava sentenciado – a nunca cruzar a linha para a terra final onde todos os seus ancestrais esperavam, preso naquele nada torturante pra sempre.

“O grande lobo seguiu o espírito de Taha Aki se contorcia e se estorcia em agonia pelas florestas. O lobo era muito grande para a sua espécie, e lindo. Taha Aki de repente ficou com inveja do animal. Pelo menos ele tinha um corpo. Pelo menos ele tinha uma vida. Até a vida como um animal seria melhor do que essa horrível consciência vazia.
“E aí Taha Aki teve a idéia que mudou todos nós. Ele pediu ao lobo que dividisse o espaço com ele, pra compartilharem. O lobo permitiu. Taha Aki entrou no corpo do lobo com alívio e gratidão. Não era o seu corpo humano, mas era melhor do que o buraco negro do mundo dos espíritos.
“Pra começar, o homem e o lobo voltaram à vila no porto. As pessoas correram com medo, gritando pra que os guerreiros viessem. Os guerreiros correram pra encontrar o lobo com suas lanças. Utlapa, é claro, ficou seguramente escondido.
“Taha Aki não atacou seus guerreiros. Ele se afastou lentamente deles, falando com seus olhos e tentando uivar as canções do seu povo. Os guerreiros começaram a notar que o lobo não era um animal qualquer, que havia uma influência espiritual nele. Um guerreiro ancião, uma homem chamado Yut, decidiu desobedecer a ordem do falso chefe e tentar se comunicar com o lobo.
“Assim que Yut cruzou para o mundo espiritual, Taha Aki saiu do lobo – o animal esperou pacientemente pelo seu retorno – pra falar com ele. Yut compreendeu a verdade em um instante, e deu as boas vindas ao lar a seu chefe.
“A essa hora, Utlapa veio ver se o lobo havia sido derrotado. Quando ele viu Yut caído sem vida no chão, cercado por guerreiros protetores, ele se deu conta do que estava acontecendo. Ele pegou sua faca e correu pra matar Yut antes que ele pudesse retornar ao seu corpo.
“Traidor’, ele gritou, e os guerreiros não sabiam o que fazer. O Chefe havia proibido viagens espirituais, e era a decisão do chefe como punir aqueles que desobedecessem.

“Yut pulou de volta para o seu corpo, mas Utlapa estava com a faca em seu pescoço em com uma mão em sua boca. O corpo de Taha Aki era forte, e Yut era fraco com a idade. Yut nem sequer pôde dizer uma palavra pra alertar os outros antes que Utlapa o silenciasse pra sempre.
“Taha Aki observou enquanto o espírito de Yut ia embora para as terras finais das quais Taha Aki havia sido barrado pra sempre. Ele sentiu uma grande raiva, mais poderosa do que qualquer coisa que ele já havia sentido. Ele entrou no lobo novamente, com a intenção de rasgar a garganta de Utlapa. Mas, enquanto ele se juntava ao lobo, uma grande mágica aconteceu.
“A raiva de Taha Aki era a raiva de um homem. O amor que ele tinha pelo seu povo e o ódio que ele sentia pelo seu opressor era vasto demais para o corpo do lobo, humano demais. O lobo estremeceu, e – ante os olhos dos guerreiros chocados e de Utlapa – ele se transformou em homem.
“O novo homem não se parecia com o corpo de Taha Aki. Ele era muito mais glorioso. Ele era uma interpretação fresca do espírito de Taha Aki. Os guerreiros reconheceram ele imediatamente, no entanto, pois eles conheciam o espírito de Taha Aki.
“Utlapa tentou correr, mas Taha Aki tinha a força de um lobo em seu novo corpo. Ele agarrou o ladrão e arrancou o espírito dele antes que ele pudesse pular do corpo roubado.
“As pessoas ficaram muito felizes quando se deram conta do que estava acontecendo. Taha Aki rapidamente arrumou as coisas, trabalhando novamente com o seu povo e devolvendo as jovens esposas às suas famílias. A única mudança que ele não desfez foi a proibição das viagens espirituais. Ele sabia que isso era muito perigoso, agora que a idéia de roubar uma vida estava por ali. Os espíritos guerreiros já não existiam.
“Desse ponto em diante, Taha Aki eram mais do que apenas um lobo ou um homem. Eles chamavam ele, Taha Aki, de o Grande Lobo. Ele liderou a tribo por muitos, muitos anos, pois ele não envelhecia. Quando o perigo ameaçava, ele reassumia seu eu lobo pra lutar ou assustar o inimigo.

As pessoas viviam em paz. Taha Aki foi pai de muitos filhos, e alguns deles descobriram que, depois que eles atingiam a maturidade, eles também podiam se transformar em lobos. Os lobos eram todos diferentes, porque eles eram espíritos lobos e refletiam o que o homem era por dentro.”
“Então é por isso que Sam é preto”, Quil murmurou por baixo do fôlego, sorrindo, “Coração negro, pêlo negro”.
Eu estava tão envolvida na história, que foi um choque voltar ao presente, para o círculo ao redor do fogo morrendo. Com outro choque, eu me dei conta de que o círculo já feito dos netos – não importava em que graus – de Taha Aki.
O fogo jogou uma salva de faíscas para o céu, e elas tremeram e dançaram, fazendo formas que eram quase indecifráveis.
“E o seu pêlo cor de chocolate reflete o que?” Sam sussurrou de volta pra Quil. “O quanto você é doce?”
Billy ignorou as piadas deles. “Alguns dos filhos se tornaram guerreiros com Taha Aki, e não mais envelheceram. Os outros, que não gostaram da transformação, se recusaram a se juntar ao bando de homens lobos. Esses começaram a envelhecer novamente, e a tribo descobriu que os homens lobo podiam envelhecer como qualquer outra pessoa, se desistissem de seus espíritos guerreiros. Taha Aki viveu o tempo de vida de três homens. Ele havia se casado com uma terceira esposa depois da morte das duas primeiras, e encontrou nela a sua verdadeira esposa espiritual. Apesar dele ter amado as outras, essa era algo mais. Ele decidiu desistir de seu espírito lobo pra morrer quando ela morreu.
“Foi assim que a mágica veio até nós, mas esse não é o fim da história...”
Ele olhou pra o Velho Quil Atearra, que mudou de posição em sua cadeira, ajeitando seus ombros frágeis. Billy deu um gole numa garrafa de água e enxugou sua testa. A caneta de Emily nunca hesitava enquanto ela escrevia furiosamente no papel.
"Essa foi a história dos espíritos guerreiros", o Velho Quil começou num voz de tenor. "Essa é a história do sacrifício da terceira esposa."

"Muitos anos depois de Taha Aki ter desistido de seu espírito lobo, quando ele já era um homem velho, um problema começou ao norte, com os Makah. Várias mulheres jovens da tribo deles havia desaparecido, e eles colocaram a culpa nos lobos das redondezas, a quem eles temiam e desconfiavam. Os homens-lobo ainda podiam ouvir os pensamentos uns dos outros enquanto em sua forma de lobo, assim como seus ancestrais haviam feito enquanto estavam na forma de espíritos. Eles sabiam que nenhum em seu grupo era o culpado. Taha Aki tentou pacificar o chefe de Makah, mas havia medo demais. Taha Aki não queria ter uma guerra em suas mãos. Ele já não era um guerreiro pra liderar seu povo. Ele encarregou seu filho lobo mais velho, Taha Wi, de encontrar o verdadeiro culpado antes que as hostilidades começassem.
"Taha Wi liderou os outro cinco lobos em seu bando em uma procura pelas montanhas, procurando por alguma evidência sobre o desaparecimento das Makah. Eles se depararam com uma coisa que eles nunca haviam visto antes - um cheiro doce, estranho na floresta que queimava seus narizes a ponto de doer."
Eu fui um pouco mais pro lado de Jacob. Eu ví o canto da sua boca vibrar com o humor, e o braço dele se apertou ao meu redor.
"Eles não sabiam que criatura podia ter deixado aquele cheiro, mas eles o seguiram", O Velho Quil continuou. Sua voz tremendo não era tão majestosa como a de Billy, mas havia um stranho tom de urgência penetrante nela. O meu pulso acelerou quando as palavras saíram mais rápidas.
"Eles acharam traços fracos de cheiro humano, e de sangue humano, pela trilha. Eles estavam certos de que esse era o inimigo que eles estavam procurando.
"A jornada deles os levou pra tão longe ao norte que Taha Wi mandou metade do bando, os mais novos, devolta pra o porto pra avisar Taha Aki.
"Taha Wi e seus dois irmãos não retornaram.
"Os irmãos mais novos procuraram pelos seus ancestrais, mas só encontraram silêncio. Taha Aki lamentou por seus filhos. Ele desejava vingar a morte dos filhos, mas ele já era velho."

"Eles foi ao chefe de Makah ainda com as roupas da manhã e o contou o que havia acontecido. O chefe de Makah acreditou em seu pesar, e as tensões acabaram entre as tribos.
"Um ano depois, duas donzelas de Makah desapareceram de suas casas na mesma noite. Os Makah chamaram os lobos Quileute imediatamente, que encontraram o mesmo fedor doce em todo lugar no vilarejo dos Makah. Os lobos foram caçar de novo.
"Apenas um retornou. Ele era Yaha Uta, o filho mais velho da terceira esposa de Taha Aki, e o mais novo no bando. Ele trouxe algo consigo que nunca havia sido antes pelos Quileute - um cadáver estranho, frio de pedra, que ele carregava aos pedaços. Todos aqueles que tinham o sangue de Taha Aki, até mesmo aqueles que não eram lobos, podiam sentir o cheiro forte da criatura morta. Esse era o inimigo dos Makah.
"Yaha Uta descreveu o que havia acontecido: ele e seus irmãos haviam encontrado a criatura, que se parecia com um homem mas era duro como um pedra de granito, com duas filhas de Makah. Uma garota ja estava morta, branca e sem sangue no chão. A outra estava nos braços da criatura, a boca dele em seu pescoço. Ela podia estar viva quando eles chegaram na cena odiosa, mas a criatura rapidamente quebrou seu pescoço e jogou seu corpo sem vida no chão enquanto eles se aproximavam. Seus lábios brancos estavam cobertos com o sangue dela, e seus olhos brilhavam vermelhos.
"Yaha Uta descreveu a força feroz e a velocidade da criatura. Um de seus irmãos rapidamente se tornou uma vítima quando subestimou aquela força. A criatura o partiu como se fosse um boneco. Yaha Uta e seus irmãos foram mais cautelosos. Eles trabalharam juntos, chegando nas criaturas pelos seus lados, manobrando-a. Eles tiveram que atingir o limite de sua força e de sua velocidade de lobo, coisa que eles jamais haviam testado antes. A criatura era dura como pedra e fria como gelo. Eles descobriram que seus dentes podiam machucá-lo. Eles começaram a rasgar a criatura em pequenos pedaços enquanto lutavam com ela.

"Mas a criatura aprendeu com velocidade, a logo estava compativel com as manobras deles. Ele pôs as mãos no irmão de Yaha Uta. Yaha Uta encontrou uma abertura em seu pescoço, e atacou. Os dentes dele arrancaram a cabeça da criatura, mas as mãos continuaram apertando o seu irmão.
"Yaha Uta rasgou a criatura em pedaços irreconhecíveis, rasgando os pedaços numa tentativa desesperada de salvar seu irmão. Ele estava atrasado, mas, no final, a criatura foi destruída.
"Ou assim eles pensaram. Yaha Uta espalhou os pedaços para os anciões examinarem. Uma mão destroçada estava ao lado de um pedaço do braço de granito da criatura. Dois pedaços se tocaram quando os anciões os uniram com pontos, e a mão foi em direção ao braço, tentanto se unir novamente.
"Aterrorizados, os anciões tocaram fogo no que restou. Uma grande nuvem de fumaça forte, vil, poluiu o ar. Quando ja não haviam nada além das cinzas, eles separeram as cinzas em pequenos sacos e os separou a grandes espaços uns dos outros - uns no oceano, alguns na floresta, alguns nas cavernas dos penhascos. Taha Aki usava um dos saquinhos em seu pescoço, pra que ele pudesse ser avisado se um dia a criatura tentasse se juntar de novo".
O Velho Quil pausou e olhou pra Billy. Billy puxou uma fita de couro do seu pescoço. Preso na ponta havia um velho saquinho, escurecido com o tempo. Algumas pessoas ofegaram. Eu posso ter sido uma delas.
"Eles o chamaram de O Frio, O Bebedor de Sangue, e viveram com medo de que ele não estivesse sozinho. Eles só tinham mais um lobo protetor, o jovem Yaha Uta.
"Eles não tiveram que esperar muito. A criatura tinha uma parceira, outra bebedora de sangue, que veio até os Quileute em busca de vingança.
"As histórias dizem que A Mulher Fria era a coisa mais linda que os olhos humanos já haviam visto. Ela parecia com a deusa do alvorecer quando entrou na vila naquela manhã; o sol estava brilhando pelo menos dessa vez, e ele cintilava na pele branca dela e iluminava seu cabelo loiro que chegava nos joelhos."

"O rosto dela era mágico em sua beleza, os olhos eram pretos em seu rosto. Alguns caíram de joelhos pra adorá-la.
"Ele perguntou alguma coisa em uma voz alta, penetrante, em uma linguagem que ninguém nunca tinha ouvido. As pessoas ficaram abobalhadas, sem saber o que dizê-las. Não havia ninguém com o sangue de Taha Aki entre as testemunhas a não ser um garotinho. Ele se apertou a sua mãe e gritou que o cheiro estava machucando o nariz dele. Um dos anciões, que estava a caminho do conselho, ouviu o garoto e se deu conta do que havia chegado pra eles. Ele gritou pra que as pessoas corressem. Ela o matou primeiro.
"Haviam vinte testemunhas da chegada da Mulher Fria. Dois sobreviveram, apenas porque ela ficou destraída com o sangue, e parou pra saciar sua sede. Eles correram pra Taha Aki, que estava no conselho com os outros anciões, seus filhos, e sua terceira esposa.
"Yaha Uta se transformou em seu espírito lobo assim que ele ouviu as notícias. Ele foi sozinho combater a bebedora de sangue. Taha Aki, e sua terceira esposa, e seus anciões seguiram ele.
"No inicio eles não conseguiram encontrar a criatura, só as evidências de seu ataque. Corpos estavam quebrados, alguns completamente sem sangue, espalhados pela estrada por onde ela havia aparecido. Aí eles ouviram os gritos e correram para o porto.
"Vários Quileute haviam corrido para os navios para se refugiarem. Ela nadou atrás deles como um tubarão, e quebrou o casco do navio deles com sua incrível força. Quando o navio afundou, ela agarrou aqueles que tentaram fugir a nado, e quebrou eles também.
"Ela viu o grande lobo na costa, e esqueceu dos nadadores flutuando. Ela nadou tção rápido que se transformou num vulto, pingando e gloriosa, ela veio ficar de pé na frente de Yaha Uta. Ela apontou para ele uma vez com seu dedo branco e fez outra pergunta incompreensível. Yaha Uta esperou.
"Foi uma luta apertada. Ela não era tão boa lutadora quanto o seu parceiro havia sido. Mas Yaha Uta estava sozinho - não havia ninguém pra distraí-la da fúria com ele.

"Quando Yaha Uta perdeu, Taha Aki gritou em desafio. Ele tropeçou para a frente e se transformou em um lobo ansião, com pêlo branco. O lobo era velho, mas esse era o Espírito Homem de Taha Aki, e sua raiva o tornou forte. A luta recomeçou.
"A terceira esposa de Taha Aki havia acabado de ver seu filho morrer diante de seus olhos. Agora o seu marido lutava, e ela não tinha esperanças de que ele pudesse vencer. Ela havia ouvido cada palavra que a vítima havia dito no conselho. Ela havia ouvido a história da primeira vitória de Yaha Uta, e ela sabia que a distração de seus irmãos haviam salvado ele.
"A terceira pegou uma faca do cinto de um dos filhos que estava ao seu lado. Eles eram todos filhos jovens, ainda não eram homens, e ela sabia que eles morreriam quando o seu marido falhasse.
"A terceira esposa correu em direção à Mulher Fria com a adaga erguida. A Mulher Fria sorriu, pouco destraída da sua luta com o lobo velho. Ela não tinha medo de uma mulher humana fraca e nem da faca que não causaria nenhum arranhão em sua pele, e ela estava prestes a dar o golpe de misericórdia em Taha Aki.
"E aí, a terceira esposa fez algo que A Mulher Fria não estava esperando. Ela caiu de joelhos aos pés da bebedora de sangue e enfiou a faca em seu próprio coração.
"O sangue escorreu pelos dedos da terceira esposa e espirrou na Mulher Fria. A bebedora de sangue não pôde resistir à luxuria do sangue fresco que estava deixando o corpo da terceira esposa. Instintivamente, ela se virou para a mulher que estava morrendo, por um segundo inteiramente consumida pelo sangue.
"Os dentes de Taha Aki se fecharam no pescoço dela.
"Aquele não foi o fim da batalha, mas agora, Taha Aki não estava mais sozinho. Vendo a mãe deles morrer, dois filhos mais novos sentiram tanta raiva que se lançaram para a frente como seus espíritos lobos, apesar de ainda não serem homens. Com seu pai, eles exterminaram a criatura.
"Taha Aki nunca se reuniu à tribo. Ele nunca se transformou em homem de novo."

"Ele deitou por um dia ao lado do corpo da terceira esposa, rosnando toda vez que alguém tentava encostar nela, e aí ele foi para a floresta e nunca mais retornou.
"Problemas com os frios eram raros e aconteciam de vez em quando. Os filhos de Taha Aki guardaram a tribo até que seus filhos fossem velhos o suficiente pra ficarem em seu lugar. Nunca houveram mais de três lobos de cada vez. Era o suficiente. Ocasionalmente um bebedor de sangue aparecia por essas terras, mas eles eram pegos de surpresa, sem esperar os lobos. De vez em quando um lobo morria, mas eles nunca foram dezimados de novo como da primeira vez. Eles haviam aprendido como lutar com os frios, e eles passaram o conhecimento de lobo pra lobo, de mente de lobo pra mente de lobo, de espírito pra espírito, de pai pra filho.
"O tempo passou, e os descendentes de Taha Aki já não se transformavam mais em lobos quando atingiam a idade adulta. Só muito raramente, se um frio estava por perto, os lobos retornavam, e o bando continuava pequeno.
"Um grupo maior chegou, e os seus próprios bisavôs se prepararam pra lutar contra eles. Mas o líder falou com Ephraim Black como se fosse um homem, e prometeu não machucar os Quileute. Os seus estranhos olhos amarelos davam alguma espécie de prova do que ele dizia sobre eles não serem iguais aos outros bebedores de sangue.
Os lobisomens estavam em menor número; não havia necessidade dos frio pedirem um acordo sendo que eles podiam ter vencido a batalha. Ephraim aceitou. Eles cumpriram com a sua parte, apesar de que a presença deles tendia a puxar outros.
"E o número deles forçou o bando a atingir um número que a tribo nunca havia visto", o Velho Quil disse, e por um momento em seus olhos pretos, afundados nas rugas e na pele dobrada ao redor deles, pareceram parar em mim. "Exceto, é claro, no tempo de Taha Aki", ele disse, e então suspirou. "E então os filhos da nossa tribo carregam novamente o fardo e dividem o sacrifício que seus pais suportaram antes deles".

Tudo ficou em silêncio por um longo momento. Os descendentes vivos da magia e das lendas olharam uns para os outros através do fogo com tristeza nos olhos. Todos menos um.
"Fardo", ele zombou em uma voz baixa. "Eu acho que é legal", o lábio inferior de Quil ficou um pouco pra fora.
Do outro lado do fogo que estava morrendo, Seth Clearwater - seus olhos estavam arregalados de adulação pela fraternidade dos irmãos protetores da tribo - balançou a cabeça concordando.
Billy gargalhou, baixa e longamente, e a mágica pareceu desaparecer nas brasas brilhantes. De repente, era apenas um círculo de amigos de novo. Jared jogou uma pedra pequena em Quil, e todo mundo sorriu quando isso fez ele pular. Conversas baixas murmuravam ao nosso redor, zombeteiras e casuais.
Os olhos de Leah Clearwater não se abriram. Eu achei ter visto alguma coisa como uma lágrima brilhando na bochecha dela, mas quando eu olhei de volta um momento depois já não estava mais lá.
Nem Jacob nem eu falamos. Ele estava tão imóvel ao meu lado, a respiração dele tão profunda e uniforme, que eu pensei que ele devia estar perto de dormir.
A minha mente estava hà um milhão de anos de distância. Eu não estava pensando em Yaha Uta ou em outros lobos, ou na linda Mulher Fria - eu podia imaginar ela bem demais. Não, eu estava pensando em algum de fora de toda essa magia. Eu estava tentando o rosto da mulher sem nome que havia salvado a tribo inteira, a terceira esposa.
Só uma mulher humana, sem nenhum dom ou poder especial. Fisicamente mais fraca e lenta do que qualquer dos outros monstros na história. Mas ela havia sido a chave, a solução. Ela havia salvado seu marido, seus filhos, a tribo inteira.
Eu queria que eles lembrassem do nome dela...
Alguma coisa balançou meu braço.
"Vamos, Bells", Jacob disse. "Estamos aqui".
Eu pisquei, confusa porque o fogo parecia ter desaparecido. Eu olhei para a inexperada escuridão, tentando entender as minhas redondezas. Eu levei um minuto pra me dar conta que eu já não estava mais no penhasco.

Eu ainda estava nos braços dele, mas não estava mais no chão.
Como é que eu cheguei no carro de Jacob?
"Oh, droga!", eu sufoquei enquanto me dava conta de que havia pego no sono. "Que horas são? Droga, onde está aquele telefone estúpido?" eu tateei meus bolsos, frenética, e encontrando eles vazios.
"Fácil. Ainda não é nem meia noite. E eu já liguei pra ele por você. Olhe - ele está esperando alí".
"Meia noite?" eu respondí estupidamente, ainda desorientada. Eu olhei para a escuridão, e as batidas do meu coração aceleraram quando os meus olhos encontraram as formas do Volvo, a trinta metros de distância. Eu encontrei a maçaneta da porta.
"Aqui", Jacob disse, e colocou um coisa pequena na minha mão. O telefone.
"Você ligou pra Edward por mim?"
Os meus olhos estavam ajustados o suficiente pra ver o brilho cintilante do sorriso de Jacob. "Eu achei que se bancasse o bonzinho, eu teria mais tempo com você".
"Obrigada, Jake", eu disse, tocada. "Mesmo, obrigada. E obrigada por me convidar essa noite. Aquilo foi... "As palavras me faltaram. "Uau. Aquilo foi algo mais".
"E você nem sequer ficou acordada pra me ver engolir uma vaca". Ele riu. "Não. Eu estou feliz por você ter gostado. Foi... legal pra mim. Ter você aqui".
Houve um movimento à distância na escuridão - alguma coisa pálida estava flutuando entre as árvores. Vagando?
"É, ele não é tão paciente, é?" Jacob disse, reparando na minha distração. "Vá em frente. Mas volte logo, tá legal?"
"Claro, Jake", eu prometí, abrindo a porta. O ar frio bateu nas minhas pernas e me fez estremecer.
"Durma bem, Bells. Não se preocupe com nada - eu vou estar te observando essa noite".
Eu pausei, um pé no chão. "Não, Jake. Descance um pouco, eu vou estar bem".
"Claro, claro", mas ele parecia mais estar aceitando do que concordando.
"Boa noite, Jake. Obrigada"
"Boa noite, Bella", ele sussurrou enquanto eu corria para a escuridão.
Edward me pegou na linha da fronteira.
"Bella", ele disse, o alívio estava forte na voz dele; seus braços fortemente ao meu redor.

"Oi. Desculpa por eu ter me atrasado. Eu caí no sono e -"
"Eu sei. Jacob explicou". Ele começou a ir na direção do carro, e eu tropecei cambaleante ao lado dele. "Você está cansada? Eu podia te carregar".
"Eu estou bem".
"Você te levar pra casa e te colocar na cama. Você se divertiu?"
"Sim - foi incrível, Edward. Eu queria que você tivesse vindo. Eu nem posso explicar. O pai de Jake nos contou algumas histórias e elas eram como... como magia."
"Você vai ter que me contar. Depois que você dormir".
"Eu não vou contar direito", eu disse, e aí bocejei enormemente.
Edward gargalhou. Ele abriu a minha porta pra mim, me levantou me colocando lá dentro, e prendeu o cinto de segurança ao meu redor.
Luzes claras brilharam e bateram em nós. Eu acenei na direção dos faróis de Jacob, mas eu não sabia de ele tinha visto o gesto.
Naquela noite - depois que eu passei por Charlie que não me deu tantos problemas quanto eu esperava porque Jacob havia ligado pra ele também - ao invés de colidir na cama imediatamente, eu me inclinei pra abrir a janela enquanto eu esperava que Edward voltasse. A noite estava surpreendentemente fria, quase invernal. Eu não tinha reparado nisso nos penhascos; eu imaginei que isso tinha menos a ver com a fogueira e mais a ver com o fato de estar sentada ao lado de Jacob.
Pedacinhos de gelos se espalharam pelo meu rosto quando a chuva começou.
Estava escuro demais pra ver alguma coisa além dos triângulos das samambaias se inclinando e balançando com o vento. Mas eu forcei os meus olhos mesmo assim, procurando por outras formas na tempestade. Uma silhueta pálida, se movendo feito um fantasma pela escuridão... ou talvez as linhas sombradas de um enorme lobo... Os meus olhos estava fracos demais.
Então, houve um movimento na noite, bem ao meu lado. Edward entrou pela minha janela aberta, suas mãos mais frias que a chuva.
"Jacob está lá fora?", eu perguntei, tremendo enquanto Edward me puxava para o círculo dos seus braços.
"Sim... em algum lugar. E Esme está indo pra casa".

Eu suspirei. "Está tão frio e molhado. Isso é bobagem". Eu tremí de novo.
Ele gargalhou. "Só está frio pra você, Bella"
Estava frio nos meus sonhos também, talvez porque eu tenha dormido nos braços de Edward. Mas eu sonhei que estava lá fora na tempestade, o vento fazendo o meu cabelo bater em meu rosto e cegando os meus olhos. Eu estava na roche crescente da praia, tentando entender os movimentos das formas rápidas que eu mal podia enxergar direito na escuridão da beira da costa. Primeiro, não havia nada além de um flash de branco e preto, indo na direção um do outro e dançando pra longe. E então, quando a lua repentinamente apareceu entre as nuvens, eu pude ver tudo.
Rosalie, com seus cabelos molhados se movimentando e dourados, na altura do joelho, estava se jogando na direção em um lobo enorme - os dentes dele brilhavam prateados - que eu reconhecí como sendo Billy Black.
Eu comecei a correr, mas me encontrei me movendo frustramentemente devagar no sonho. Eu tentei gritar pra eles, dizer que eles paressem, mas a minha voz era roubada pelo vento, e eu não conseguia fazer um som. Eu balancei os braços, espérando chamar a atenção deles. Alguma coisa brilhou na minha mão, e eu reparei pela primeira vez que a minha mão não estava vazia.
Eu estava segurando uma longa lâmina, velha e prateada, suja com sangue seco e empretecido.
Eu me afastei da faca, e os meus olhos se abriram na escuridão do quarto. A primeira coisa que eu reparei foi que eu não estava sozinha, e eu virei meu rosto pra enterrá-lo no peito de Edward, sabendo que o doce cheiro da pele dele afastaria o pesadelo com mais eficácia do que qualquer outra coisa.
"Eu te acordei?", ele sussurrou. Houve o som de papeis, páginas virando, e um fraco thump quando alguma coisa leve caiu no chão de madeira.
"Não", eu murmurei, suspirando de contentamento quando os braços dele me apertaram. "Eu tive um pesadelo".
"Você não quer me contar sobre ele?"
Eu balancei minha cabeça. "Cansada demais. Talvez de manhã, se eu lembrar".

Eu sentí um riso silencioso balançar ele.
"De manhã", ele concordou.
"O que você estava lendo?", eu murmurei, não completamente acordada.
"O Morro dos Ventos Uivantes", ele disse.
Eu fiz uma careta sonolenta. "Eu pensei que você não gostasse desse livro".
"Você me fez mudar de idéia", ele murmurou, sua voz suave me lançando para a inconsciencia. "Além do mais... quanto mais tempo eu passo com você, mais emoções humanas se tornam compreensíveis pra mim. Eu estou descobrindo que sinto simpatia por Heathcliff de maneiras que eu não julgava possíveis antes".
"Mmm", eu suspirei.
Ele disse mais alguma coisa, alguma coisa baixa, mas eu já tinha adormecido.
A manhã seguinte acordou cinzenta e perolada. Edward me perguntou sobre o meu sonho, mas eu não conseguí lembrar dele. Eu só me lembrei que estava frio, e que fiquei feliz quando acordei porque ele estava lá. Ele me beijou, por tempo suficiente pra acelerar o meu pulso, e depois foi pra casa pra trocar de roupa de pegar seu carro.
Eu me vestí rapidamente, com poucas opções. Quem quer que tenha pego as minhas coisas havia diminuido o meu guarda-roupa criticamente. Se isso não fosse assutador, seria seriamente incômodo.
Quando estava prestes a descer pra o café da manhã, eu ví a minha cópia já gasta de O Morro dos Ventos Uivantes caída no chão onde Edward havia derrubado ela na noite passada, deixando a capa envelhecida do jeito que eu sempre deixava.
Eu o peguei com curiosidade, tentando lembrar do que ele havia dito. Algo sobre estar sentindo simpatia por Heathcliff, entre todas as pessoas. Isso não podia estar certo; eu devo ter sonhado com essa parte.
As palavras na página aberta me chamaram a atenção, e eu me inclinei pra ler o parágrafo mais de perto. Era Heathcliff falando, e eu conhecia bem aquela passagem.

E aí você vê a distinção entre os nossos sentimentos: se ele estivesse no meu lugar e eu no dele, apesar de eu odiá-lo com um ódio que esfolou a minha vida, eu jamais teria erguido a mão contra ele. Você pode não acreditar, se assim o desejar! Eu jamais o teria banido da sociedade dela enquanto ela desejasse a dele. No momento em que a consideração dela tivesse cessado, eu teria arrancado o coração dele fora, e bebido seu sangue! Mas, até lá - se você não me acredita, não me conhece - até lá, eu teria morrido a poucos centímetros antes de tocar um fio sequer da cabeça dele!


As três palavras que me chamaram a atenção foram "Bebido seu sangue".
Eu estremecí.

Sim, eu certamente havia sonhado com Edward dizendo alguma coisa positiva sobre Heathcliff. E essa página provavelmente não era a que ele estava lendo. O livro devia ter caído aberto em qualquer página.

12. Tempo

"Eu tinha previsto...", Alice começou num tom ominoso.
Edward jogou o cotovelo nas costelas dela, que ela desviou por pouco.
"Tá", ela rosnou. "Edward está me fazendo fazer isso. Mas eu preví que seria mais difícil se eu surpreendesse você".
Nós estávamos caminhando para o carro depois da escola, e eu não tinha a mínima idéia do que ela estava falando.
"Em Inglês?", eu quis saber.
"Não seja um bebê sobre isso. Nada de acessos de raiva".
"Então você - quer dizer, nós - vamos ter uma festa de formatura. Não é nada grande. Nada com o que se preocupar. Mas eu ví que você ia enlouquecer se eu tentasse fazer uma festa surpresa" - ela dançou fora do caminho quando Edward se aproximou pra bagunçar o cabelo dela - "e Edward disse que eu tinha que te contar. Mas não é nada. Prometo."
Eu suspirei com força. "Existe alguma necessidade de discussão?".
"Absolutamente não".
"Está bem, Alice. Eu estarei lá. E eu vou odiar cada minuto dela. Prometo".
"Esse é o espírito! Aliás, eu adorei o meu presente. Não precisava".
"Alice, eu não dei!"
"Oh, eu sei disso. Mas você vai".
Eu revirei o meu cérebro, tentando lembrar do que eu havia decidido dar pra ela como presente de formatura que ela pudesse ter visto.
"Incrível", Edward murmurou. "Como é que alguém tão pequeno pode ser tão irritante?"
Alice riu. "É um talento".
"Será que você não podia ter esperado umas semanas pra me contar sobre isso?", eu perguntei petulantemente. "Agora eu vou ficar estressada com isso por muito mais tempo".
Alice fez uma careta pra mim.
"Bella", ela disse pra mim. "Você sabe que dia é hoje?"
"Segunda?"
Ela revirou os olhos. "Sim. É Segunda... dia quatro". Ela puxou meu cotovelo, me virou, e apontou para um grande pôster amarelo pregado na porta do ginásio. Lá, em letras pretas pontudas, estava o dia da formatura. A exatamente uma semana de hoje.
"Dia quatro? De Junho? Você tem certeza?"
Nenhum dos dois respondeu.

Alice apenas balançou a cabeça tristemente, fingindo estar desapontada, e as sobrancelhas de Edward se ergueram.
"Não pode ser! Como foi que isso aconteceu?" Eu tentei fazer as contas na minha cabeça, mas eu não conseguia descobrir pra onde os dias haviam ido.
Eu sentí como se alguém tivesse chutado as minhas pernas de baixo de mim. As semanas de estresse, de preocupação... de alguma forma, no meio de toda a minha obcessão com o tempo, o tempo tinha desaparecido. O meu espaço pra resolver tudo, pra fazer planos, havia desaparecido. Eu estava sem tempo.
E eu não estava preparada.
Eu não sabia como fazer isso. Como dizer adeus à Charlie e à Renée... pra Jacob... a ser humana.
Eu sabia exatamente o que eu queria, mas de repente eu estava morrendo de medo de pegar.
Em teoria, eu estava ansiosa, e até apressada pra trocar a mortalidade pela imortalidade. Afinal, ela era a chave pra ficar com Edward pra sempre. E aí havia o fato de que eu estava sendo caçada por inimigos conhecidos e desconhecidos. Eu preferiria não ficar sentada, desamparada e deliciosa, esperando que eles viessem me encontrar.
Em teoria, isso tudo fazia sentido.
Na prática... ser humana era tudo o que eu conhecia. O futuro além disso era um grande abismo escuro que eu não podia conhecer até me jogar nele.
O simples conhecimento, a data de hoje - que era tão óbvia que eu devia estar repreendendo-a subconscientemente - fez com que o prazo final pelo qual eu estive esperando tão impacientemente, parecesse um encontro com um esquadrão de tiro.
De uma maneira vaga, eu estava consciente de Edward segurando a porta aberta do carro pra mim, de Alice tagarelando no banco de trás, da chuva batendo no pára-brisa. Edward pareceu reparar que eu só estava lá em corpo; ele não tentou me tirar da minha abstração. Ou talvez ele tentou, e eu não reparei.
Nós acabamos em minha casa, onde Edward me levou até o sofá e me puxou pra baixo com ele. Eu olhei pela janela, para a névoa cinza líquida, e tentei descobrir pra onde a minha resolução havia ido.

Porque eu estava entrando em pânico agora? Eu sabia que o prazo estava acabando. Porque devia me assustar que ele já estivesse aqui?
Eu não sei por quanto tempo ele me deixou olhar para a janela em silêncio. Mas a chuva já estava desaparecendo na escuridão quando foi demais pra ele.
Ele colocou suas mãos frias em ambos os lados do meu rosto e fixou seus olhos dourados em mim.
"Será que você poderia por favor me dizer o que você está pensando? Antes que eu fique louco?"
O que eu podia dizer pra ele? Que eu era covarde? Eu procurei pelas palavras.
"Seus lábios estão brancos. Fale, Bella"
Eu exalei em uma grande rajada. Por quanto tempo eu estive prendendo a respiração?
"A data me pegou fora de guarda", eu sussurrei. "Isso é tudo".
Ele esperou, seu rosto cheio de preocupação e ceticismo.
Eu tentei explicar. "Eu não tenho certeza... do que dizer à Charlie... o que dizer... como dizer..." A minha voz escapou.
"Isso não é por causa da festa?"
Eu fiz uma careta. "Não. Mas obrigada por me lembrar".
A chuva estava mais alta enquanto ele leu o meu rosto.
"Você não está pronta", ele sussurrou.
"Eu estou", eu mentí imediatamente, uma reação de reflexo. Eu pude notar que ele viu isso, então eu respirei fundo, e contei a verdade. "Eu tenho que estar".
"Você não tem que estar nada".
Eu podia sentir o pânico surgindo em meus olhos enquanto eu falava as razões. "Victoria, Jane, Caius, quem quer que fosse que estava no meu quarto...!"
"Muito mais razões pra esperar".
"Isso não faz sentido, Edward!"
Ele pressionou as mãos com mais força no meu rosto e falou deliberadamente devagar.
"Bella. Nenhum de nós teve a escolha. Você viu o que isso fez... com Rosalie, especialmente. Nós todos lutamos, tentando reconciliar a nós mesmos por uma coisa sobre a qual nunca tivemos controle. Não será assim pra você. Você vai ter uma escolha".
"Eu já fiz a minha escolha".

"Você não vai passar por isso porque tem um espada erguida sobre a sua cabeça. Nós vamos tomar conta dos problemas, e eu vou tomar conta de você", ele prometeu.
"Quando não estivérmos passando por isso, não houver nada forçando a sua decisão, ai você pode decidir se unir à mim, se você ainda quiser. Mas não porque você está com medo. Você não será forçada a isso".
"Carlisle prometeu", eu murmurei, contrariando só pelo hábito. "Depois da formatura".
"Não até que você esteja pronta", ele disse com uma voz segura. "E definitivamente não enquanto você se sentir ameaçada".
Eu não respondí. Eu não conseguia encontrar nada pra discutir; no momento eu não parecia encontrar o meu comprometimento.
"Ai", ele beijou a minha testa. "Nada com o que se preocupar".
Eu rí um riso estremecido. "Nada além da distruição iminente."
"Confie em mim".
"Eu confio".
Ele ainda estava observando o meu rosto, esperando que eu relaxasse.
"Posso te perguntar uma coisa?", eu disse.
"Qualquer coisa".
Eu hesitei, mordendo o meu lábio, e aí fiz uma pergunta diferente daquela que estava me preocupando.
"O que eu vou dar à Alice como presente de formatura?"
Ele riu silenciosamente. "Parecia que você ia dar a nós dois ingressos para um show-"
"Isso mesmo!" eu estava tão aliviada que quase sorrí. "O show em Tacoma. Eu ví o anúncio em um jornal na semana passada, e eu pensei que seria uma coisa que você gostaria, já que você disse que o CD era bom".
"É uma ótima idéia. Obrigado".
"Eu espero que já não esteja lotado".
"É o pensamento que conta. Eu bem sei".
Eu suspirei.
"Tem outra coisa que você está querendo perguntar", ele disse.
Eu fiz uma careta. "Você é bom".
"Eu tenho bastante prática em ler o seu rosto. Me pergunte".
Eu fechei os olhos e me inclinei pra ele, escondendo o meu rosto no peito dele. "Você não quer que eu seja vampira".
"Não, eu não quero.", ele disse suavemente. "Isso não é uma pergunta", ele testou depois de um momento.

"Bem... eu estava me preocupando com... porque você se sente assim".
"Se preocupando?" Ele escolheu as palavras com surpresa.
"Você pode me dizer porque? Toda a verdade, sem poupar meus sentimentos?"
Ele hesitou um momento. "Se eu vou responder a sua pergunta, você vai me explicar a sua pergunta?"
Eu balancei a cabeça, o meu rosto ainda escondido.
Ele respirou fundo antes de responder. "Você podia fazer coisa muito melhor, Bella. Eu sei que vocêacredita que eu tenho uma alma, mas eu não estou inteiramente convencido nesse aspecto, e isso te arrisca..." Ele balançou a cabeça lentamente. "Pra que eu permita isso - deixar que você se torne o que eu sou só pra que eu nunca tenha que te perder - é o ato mais egoísta que eu posso imaginar. Eu quero isso mais do que qualquer outra coisa, por mim mesmo. Mas pra você, eu quero tão mais. Permitir isso - parece um crime. É a coisa mais egoísta que eu jamais terei que fazer, mesmo se eu viver pra sempre.
"Se houvesse uma forma de eu me transformar em humano pra você - não importa qual fosse o preço, eu pagaria".
Eu me sentei muito rígida, absolvendo isso.
Edward pensava que ele estava sendo egoísta.
Eu sentí o sorriso cruzar lentamente pelo meu rosto.
"Então... não é porque você está com medo de... não gostar tanto de mim quando eu for diferente - quando eu não for mais macia e quente e quando não tiver o mesmo cheiro? Você realmente me quer, não importa no que eu me transforme?"
Ele exalou agudamente. "Você estava preocupada que eu não fosse gostar de você?" ele quis saber. Então, antes que eu pudesse responder, ele estava rindo. "Bella, pra uma pessoa tão intuitiva, você consegue ser tão obtusa!"
Eu sabia que ele pensava que era bobagem, mas eu estava aliviada. Se ele realmente me queria, eu podia passar pelo resto... de alguma forma. Egoísta, de repente pareceu ser uma palavra linda.

"Eu não acho que você se dá conta do quão mais fácil isso será pra mim, Bella", ele disse, o eco do seu humor ainda estava em sua voz. "quando eu não tiver mais que me concentrar o tempo todo em te matar. Crtemente, haverão coisas das quais eu sentirei falta. Isso pra começar..."
Ele me olhou nos olhos enquanto alisava a minha bochecha, e eu sentí o sangue correr e colorir o meu rosto. Ele riu gentilmente.
"E o som do seu coração", ele continuou, mais sério, mas ainda sorrindo um pouco. "É o som mais significante no mundo. Eu estou tão conectado a ele agora, que eu juro que poderia identificá-lo à milhas de distância. Mas nenhum dessas coisas importa. Isso", ele disse pegando o meu rosto nas mãos. "Você. É isso que eu vou guardar. Você sempre será a minha Bella, só que você só será um pouco mais durável".
Eu suspirei e deixei os meus olhos se fecharem de contentamento, descansando nas mãos dele.
"Agora, você vai responder uma pergunta pra mim? A verdade, sem poupar os meus sentimentos?" ele perguntou.
"É claro", eu respondí imediatamente, meus olhos se abrindo com a surpresa.
Ele falou as palavras lentamente. "Você não quer ser minha esposa".
O meu coração parou e depois começou a saltar. Um suor frio se acumulou na minha nuca e as minhas mãos se transformaram em gelo.
Ele esperou, observando e escutando a minha reação.
"Isso não é uma pergunta", eu finalmente sussurrei.
Ele olhou pra baixo, seu cílios formando grandes sombras nas maçãs de seu rosto, e ele deixou as mãos caírem do meu rosto pra pegar a minha mão esquerda congelada. Ele brincou com os meus dedos enquanto falava.
"Eu estava me preocupando com porque você sente desse jeito"
Eu tentei engolir. "Isso também não é uma pergunta", eu cochichei.
"Por favor, Bella?"
"A verdade?", eu perguntei, apenas formando as palavras com a boca.
"É claro. Eu posso aguentar, seja lá o que for".
Eu respirei fundo. "Você vai rir de mim".
Ele virou se olhar pra mim, chocado. "Rir? Eu não posso imaginar isso".

"Você vai ver", eu murmurei, e depois suspirei. O meu rosto foi de branco para um repentino tom escarlate com o pesar. "tá, tudo bem. Eu tenho certeza que isso tudo vai soar como uma grande piada pra você, mas realmente! É tão... tão... embaraçoso!", eu confessei, e escondí meu rosto no peito dele de novo.
Houve uma breve pausa.
"Eu não estou te entendendo".
Eu levantei a minha cabeça de volta e encarei ele, a vergonha me deixou brava, agressiva.
"Eu não sou aquela garota, Edward. Aquela que se casa logo quando sai da escola como se fosse uma garota de interior que se apaixonou pelo namorado! Você sabe o que as pessoas iriam dizer? Você sabe que século é esse? As pessoas não se casam aos dezoito anos! Não as pessoas inteligentes, não as pessoas responsáveis, não as pessoas maduras! Eu não ia ser aquela garota! Essa não sou eu..." Eu parei, pendendo a trilha.
O rosto de Edward era impossível de ler enquanto ele pensava na minha resposta.
"Isso é tudo?", ele perguntou finalmente.
Eu pisquei. "Já não é o suficiente?"
"Não é porque você estava mais ansiosa... com a imoralidade em sí do que apenas por mim?"
E aí, apesar de eu ter previsto que ele ia rir, de repente era eu que estava ficando histérica.
"Edward!", eu ofeguei entre os paradoxismos das risadas. "E aqui... eu sempre... pensei que... você fosse... tão mais... inteligentes que eu!"
Ele me pegou em seus braços, e eu podia sentir que ele estava rindo comigo.
"Edward", eu disse, conseguindo falar mais claramente com certo esforço. "não há necessidade de viver pra sempre sem você. Eu não ia querer um dia sem você".
"Bem, isso é um alívio", ele disse.
"Ainda assim... isso não muda nada".
"No entanto, é bom entender. E eu compreendo a sua perspectiva, Bella, eu realmente compreendo. Mas eu gostaria muito so você considerasse a minha".
Até aí eu já estava sóbria, então eu balancei a cabeça e lutei pra não fazer uma careta.
Seus olhos dourados líquidos ficaram hipnóticos enquanto seguravam os meus.

"Entenda, Bella, eu era aquele garoto. No meu mundo, eu já era um homem. Eu não estava procurando por amor - não, eu estava ansioso demais por ser soldado pra me preocupar com isso; eu não pensava em nada além do ideal de glória de guerra que eles estavam vendendo para os cadetes na época - mas se eu tivesse descoberto..." Ele pausou, pendendo a cabeça para o lado. "Eu ia dizer: se eu tivesse encontrado alguém, mas isso não basta. Se eu tivesse encontrado você, não há dúvida na minha cabeça sobre o que eu teria feito. Eu era aquele garoto, que teria - assim que eu tivesse descoberto que era por você que eu estava procurando - ficaria de joelhos e seguraria a sua mão. Eu iria querer você pela eternidade, mesmo se essa palavras não tivesse as mesmas conotações".
Ele sorriu seu sorriso torto pra mim.
Eu encarei ele com os meus olhos arregalados congelados.
"Respire, Bella", ele me lembrou, sorrindo.
Eu respirei.
"Você pode ver o meu lado, Bella, um pouquinho?"
E por um segundo, eu pude. Eu ví eu mesma com uma saia longa e com uma blusa de gola alta, com o meu cabelo preso em um coque em cima da minha cabeça. Eu ví Edward vindo na luz do sol com um buquê de flores do campo na mão, se sentando ao meu lado num balanço na varanda.
Eu balancei minha cabeça e engoli seco. Eu estava tendo flashbacks com Anne of Green Gables.
"O negócio é, Edward" eu disse com minha voz tremendo, evitando a pergunta. "na minha cabeça, casamento e eternidade não são conceitos mutuamente exclusivos ou mutualmente inclusivos. E já que estamos vivendo no meu mundo no momento, nós devíamos seguir o tempo, se você entende o que eu quero dizer".
"Mas por outro lado", ele contrariou. "em breve você estara deixando o tempo completamente pra trás. Então porque esse costumes transitórios de cultura local deveriam afetar tanto essa decisão?"
Eu torcí os lábios. "Quando em Roma?"

Ele riu de mim. "Você não tem que dizer sim ou não hoje, Bella. É bom entender ambos os lados, no entanto, você não acha?"
"Então a sua condição...?"
"Ainda está em efeito. Entendo o seu ponto, Bella, mas se você quer que eu mesmo te mude..."
"Dum, dum, dah-dum", eu sofejei por baixo do fôlego. Eu ia fazer uma marcha nupcial, mas pareceu mais com um canto.
O tempo continuou a se mover muito rápido.
A noite se passou sem sonhos, e aí amanheceu e a formatura estava me encarando. Eu tinha uma pilha de coisas pra estudar para as minhas provas finais e eu sabia que não conseguiria estudar nem a metade com os poucos dias que eu tinha de sobra.
Quando eu descí para o café da manhã, Charlie já tinha ido embora. Ele tinha deixado o jornal em cima da mesa, e isso me lembrou que eu tinha compras a fazer. Eu esperava que o anuncio do show ainda estivesse rolando; eu precisava do número de telefone pra comprar as estúpidas entradas. Não parecia mais um bom presente agora que não era mais surpresa. É claro, tentar surpreender Alice não era o plano mais brilhante, pra começo de história.
Eu esperava ir diretamente para a seção de entretenimento, mas a machete em letras grossas e pretas me chamou a atenção. Eu sentí uma pontada de medo enquanto chegava mais perto pra ler a primeira página da história.

SEATTLE ATERRORIZADA POR ASSASSINATOS

Fazem menos de dez anos desde que a cidade de Seattle estava caçando o mais perigoso dos serial-killers da história dos E.U. Gary Ridgeway, o assassino de Green River, foi condenado pelo assassinato de 48 mulheres. E agora, a assediada Seattle tem que lidar com a possibilidade de estar lidando com um monstro ainda mais aterrorizante dessa vez.
A polícia não acha que a recente onda de homicídios e desaparecimentos seja trabalho de um serrial-killer. Pelo menos, ainda não. Este assassino - se, na verdade, for apenas uma pessoa - teria sido acusada por 39 homicídios qualificados e desaparecimentos apenas em menos de três meses.

Em comparação, a onda de 48 assassinatos provocada por Ridgeway foi espalhada num período de mais de 21 anos. Se essas mortes puderem ser ligadas a apenas um homem, então, esse seria o mais violento ataque de um assassino em série da história Americana.
A polícia, no entanto, está inclinada na teoria de um involvimento com atividade de gangues. Ele teoria é apoiada pelo grande npumero de vítimas, e pelo fato de que não parece haver um padrão de escolha entre as vítimas.
De Jack o Estripador à Ted Bundy, os alvos de serial-killers estão geralmente conectados por similaridades em idade, gênero, raça, ou uma combinação dos três. As vítimas desse ataque de crimes têm idades entre a da estudante Amanda Reed de 15 anos, ao carteiro aposentado, Omar Janks, de 67 anos de idade. Os assassinatos qualificados incluem cerca de 18 mulheres e 21 homens. As vítimas tinham raças diversas: Caucasianos, Afro-Americanos, Hispânicos e Asiáticos.
A seleção parece ser randômica. O motivo parece não ter outra razão a não ser simplesmente matar.
Então porque considerar a idéia de um serrial-killer?
Existem similaridades suficiente no modo de operação dos crimes para selecioná-los como crimes não relacionados. Todos as vítimas descobertas foram queimadas a tal ponto que foi necessário um exame de arcada dentária para identificá-los. O uso de algum acelerante, gasolina ou álcool, parece ser um indicativo das conflagrações; nos entanto, nenhum traço de acelerantes parecem ter sido encontrado ainda. Todos os corpos foram enterrados negligentemente, sem tentativa de encobrimento.
Mais horrível ainda, a maioria dos restos parece conter sinais de violência brutal - ossos quebrados e esmagados por algum tipo de pressão tremenda - que os médicos examinadores acreditam haver ocorrido antes da hora da morte, apesar de se ser difícil ter certeza sobre essas conclusões, considerando o estado das evidências.

Outra similaridade que aponta para a possibilidade de um serrial: todos os crimes estão perfeitamente limpos de evidências, além dos restos por sí só. Nenhuma impressão digital, nenhuma marca de pneu ou um fio de cabelo é deixado pra trás. Não houve nenhuma testemunha oculares para nenhum suspeito nos desaparecimentos.
E então temos os próprios desaparecimentos - altamente sigilosos em todos os aspectos. Nenhuma das vítimas podia ser considerada um alvo fácil. Nenhum deles era um fugitivo ou sem teto, que desaparecem tão facilmente e que dificilmente têm seus desaparecimentos reportados. Vítimas desapareceram de suas casas, de um apartamento de quatro andares, de um spa, de uma recepção de casamento. Talvez o mais impressionante: o boxeador amador de 30 anos de idade, Robert Walsh, entrou em um cinema com sua acompanhante; depois de poucos minutos no cinema, a mulher se deu conta de que ele não estava em seu lugar. O corpo dele foi encontrado apenas três horas depois quando os bombeiros foram chamados à cena de um lixão em incêndio, a vinte quilômetros de distância.
Outro padrão presente nos assassinatos: todas as vítimas desapareceram à noite.
E o padrão mais alarmante? Aceleração. Seis homicídios foram cometidos no primeiro mês, 11 no segundo. Vinte e dois ocorreram apenas nos últimos dois dias. E a polícia não está mais perto de encontrar o responsável do que estavam quando o primeiro corpo carbonizado foi encontrado.
A evidência é conflitante, os pedaços são aterrorizantes. Uma nova gangue viciada ou um serial-killer selvagemente ativo? Ou alguma outra coisa que a polícia ainda não tenha levado em consideração?
Uma única conclusão é indesputável: algo horrível está perseguindo Seattle.

Eu precisei tentar três vezes pra ler a última frase, e eu me dei conta de que o problema era o estremecimento das minhas mãos.
"Bella?"
Focada como eu estava, a voz de Edward, apesar de baixa e não totalmente inexperada, me fez ofegar e girar.

Ele estava inclinado na porta, com as sobrancelhas juntas. Então, de repente ele estava ao meu lado, segurando a minha mão.
"Eu assustei você? Eu lamento. Eu não batí..."
"Não, não", eu disse rapidamente. "Você já viu isso?" Eu apontei para o jornal.
Uma careta enrugou a testa dele.
"Eu ainda não ví as notícias de hoje. Mas eu sabia que estava piorando. Nós vamos ter que fazer alguma coisa... rapidamente".
Eu não gostei disso. Eu odiava qualquer um deles tentando a sorte, e o que quer ou quem quer que estivesse em Seattle estava realmente começando a me assutar. Mas a idéia dos Volturi voltando era igualmente assutadora.
"O que Alice diz?"
"Esse é o problema" A careta dele endureceu. "Ela não consegue ver nada... apesar de já termos decidido um milhão de vezes que nós vamos investigar. Ela está começando a perder a confiança. Ela sente como se estivesse perdendo muito esses dias, que alguma coisa está errada. Talvez as visões dela estejam desaparecendo".
Meus olhos arregalaram. "Isso pode acontecer?"
"Quem sabe? Ninguém nunca fez um estudo... mas eu realmente duvido. Essas coisas tendem a intensificar com o tempo. Olhe pra Aro e Jane".
"Então o que ha de errado?"
"Profecias auto-realizáveis, eu acho. Nós continuamos esperando que Alice veja alguma coisa pra que possamos ir... e ela não vê nada porque nós não iremos até que ela veja alguma coisa. Então ela não pode nos ver lá. Talvez nós tenhamos que fazer isso às cegas".
Eu estremecí. "Não".
"Você tem um forte desejo de assitir aula hoje? Nós só estamos a dois dias das provas finais; eles não vão nos ensinar nada novo".
"Eu posso viver sem escola por um dia. O que vamos fazer?"
"Eu quero falar com Jasper".
Jasper se novo. Isso era estranho. Na família Cullen, Jasper estava sempre um pouco de lado, parte das coisas, mas nunca no centro delas. A minha assunção silênciosa era de que ele só estava lá por Alice. Eu tinha a sensação de que ele seguiria Alice pra onde quer que fosse, mas esse estilo de vida não era sua primeira escolha.

O fato de que ele tinha menos comprometimento do que os outros era provavelmente o motivo pelo qual ele tinha mais dificuldade de se ajustar.
De qualquer forma, eu nunca havia visto Edward se sentir dependente de Jasper. Eu me perguntei de novo o que ele queria dizer sobre Jasper ser um expert. Eu realmente não sabia muito sobre a história de Jasper, só que ele tinha vindo de algum lugar no sul antes de Alice encontrar ele. Por alguma razão, Edward sempre se esquivava de perguntas sobre seu irmão mais novo. Eu sempre me sentí intimidada demais pelo alto vampiro loiro que parecia mais com um astro de cinema em ascenção pra perguntá-lo diretamente.
Quando estávamos na casa, nós encontramos Carlisle, Esme, e Jasper assistindo atentamente o noticiário, apesar do som estar tão baixo que era impossível pra mim ouvir. Alice estava sentada no topo da grande escadaria, o rosto nas mãos com uma expressão desencorajada. Enquanto entrávamos, Emmett entrou pela porta da cozinha, parecendo perfeitamente tranquilo. Nada nunca incomodava Emmett.
"Ei, Edward. Faltando aula, Bella?" Ele sorriu pra mim.
"Nós dois estamos", Edward lembrou ele.
Emmett riu. "Sim, mas é a primeira vez dela no colegial. Ela pode perder alguma coisa".
Edward rolou os olhos, de outra maneira ignorando seu irmão favorito. Ele jogou o jornal pra Carlisle.
"Você viu que agora eles estão considerando um serial-killer?", ele perguntou.
Carlisle suspirou. "Eles estavam com dois especialistas no CNN debatendo essa possibilidade hoje".
"Nós não podemos continuar assim".
"Vamos agora", Emmett disse com um entusiasmo repentino. "Eu estou morto de chateação".
Um assobio ecoou de cima das escadas até embaixo.
"Ela é tão pessimista", Emmett murmurou pra sí mesmo.
Edward concordou com Emmett. "Não vamos ter que ir alguma hora".
Rosalie apareceu no topo das escadas e desceu lentamente. O rosto dela estava suave, sem expressão.

Carlisle estava balançando a cabeça. "Eu estou preocupado. Nós nunca nos envolvemos nesse tipo de coisa antes. Não somos Volturi".
"Eu não quero que os Volturi venham aqui", Edward disse. "Isso nos dá muito menos tempo de reação".
"E todos aqueles humanos inocentes em Seattle", Esme murmurou. "Não pe certo deixá-los morrer desse jeito".
"Eu sei", Carlisle disse.
"Oh", Edward disse repentinamente, virando sua cabeça um pouco pra olhar pra Jasper. "Eu acho que não tinha pensado nisso. Eu entendo. Você está certo, tem que ser isso. Bem, isso muda tudo".
Eu não fui a única que o encarou confusa, mas eu devo ter sido a única que não pareceu nem um pouco incomodada.
"Eu acho que é melhor você explicar aos outros", Edward disse pra Jasper. "Qual seria o propósito disso?", Edward começou a andar de um lado pro outro, olhando para o chão, perdido em pensamentos.
Eu não tinha visto ela se levantar, mas Alice já estava lá ao meu lado. "Porque ele está vagando?" ela perguntou a Jasper. "O que você está pensando?"
Jasper não pareceu gostar de toda a atenção. Ele hesitou, lendo cada um dos rostos no círculo - já que todo mundo tinha se aproximado pra ouvir o que ele tinha a dizer - e então os olhos dele pausaram no meu rosto.
"Você está confusa", ele disse pra mim, sua voz profunda estava muito baixa.
Não havia pergunta em sua suposição. Jasper sabia o que eu estava sentindo, o que todos estavam sentindo.
"Nós estamos todos confusos", Emmett murmurou.
"Vocês têm tempo pra ser pacientes", Jasper disse a ele. "Bella devia entender isso também. Ela é uma de nós agora".
As palavras dele me pegaram de surpresa. Tão pouco que eu havia lidado com Jasper, especialmente desde o meu último aniversário quando ele tentou me matar, eu não havia me dado conta de que ele pensava em mim desse jeito.
"Quanto você sabe sobre mim, Bella?", Jasper perguntou.
Emmett suspirou teatralmente, e se atirou no sofá pra esperar com exagerada impaciência.
"Não muito", eu admití.

Jasper olhou pra Edward, que olhou pra cima pra encontrar seu olhar.
"Não", Edward respondeu o seu pensamento. "Eu tenho certeza que você entende porque eu nunca contei essa história pra ela. Mas eu acho que ela precisa saber agora".
Jasper balançou a cabeça pensativamente, e aí começou a enrolar pra cima a manga do seu suéter marfim.
Eu observei, curiosa e confusa, tentando entender o que ele estava fazendo. Ele segurou o seu pulso embaixo de uma luminária que estava ao lado dele, perto da luz da lâmpada, e passou o dedo em uma marca crescente em sua pele pálida.
Eu levei um segundo pra entender porque aquela forma me parecia estranhamente familiar.
"Oh", eu respirei quando a realização bateu. "Jasper, você tem uma cicatriz exatamente igual a minha".
Eu levantei minha mão, a protuberância prateada era mais proeminente na minha pele cor de creme do que na sua, cor de alabastro.
Jasper sorriu fracamente. "Eu tenho muitas cicatrizes como as suas, Bella".
O rosto de Jasper estava ilegível enquanto ele puxava a manga do seu suéter mais pra cima. No início, os meus olhos não conseguiram entender a textura grossa que estava marcada na pele dele. Meias luas cruzadas umas por cimas das outras em um padrão que só era visível, branco no branco como era, porque o forte brilho da lâmpada ao lado dele fazia com que as marcas ficassem um pouco em relevo, com uma leve sombra marcando as formas. E então eu entendí que o padrão era feito com meias luas individais como a no pulso dele... como a da minha mão.
Eu olhei de volta para a minha cicatriz pequena, solitária - e me lembrei de como eu a recebí. Eu olhei para a forma dos dentes de James, embossada pra sempre na minha pele.
E aí eu sufoquei, olhando pra ele. "Jasper, o que aconteceu com você?"

13. Recém-nascido

“A mesma coisa que aconteceu na sua mão”, Jasper respondeu numa voz baixa. “Repetido mil vezes”. Ele sorriu um pouco amargamente e esfregou seu braço. “O nosso veneno é a única coisa que deixa cicatriz”.
Porque?, eu respirei horrorizada, me sentindo rude mas me sentindo incapaz de desviar os olhos da sua pele subitamente castigada.
“Eu não tive a mesma... criação que os meus irmãos adotivos aqui. O meu começo foi uma coisa inteiramente diferente”. A voz dele estava dura quando ele terminou.
Eu abri uma brecha pra ele, intimidada.
“Antes que eu te conte a minha história”, Jasper disse. “Você precisa entender que existem lugares no nosso mundo, Bella, onde o tempo de vida daqueles que não envelhecem é medida em semanas, e não em séculos”.
Os outros já tinham ouvido isso antes. Carlisle e Emmett viraram sua atenção para a TV de novo. Alice havia se movido um pouco pra se sentar aos pés de Esme. Mas Edward estava tão absolvido quando eu; eu podia sentir os olhos dele no meu rosto, lendo cada mudança de emoção.
"Pra entender realmente o porque, você tem que olhar pra o mundo por uma perspectiva diferente. Você tem que imaginar o jeito como ele parece para os poderosos, os gananciosos... os perpetuamente sedentos.
"Entenda, existem lugares no mundo que são mais desejáveis pra nós do que outros. Lugares onde nós podemos ter menos restrições, e ainda evitar a detecção.
"Imagine, por exemplo, um mapa do hemifério oeste. Imagine cada vida humana como um pequeno ponto vermelho. Quanto mais vermelho, mas facilmente nós - bem, aqueles que vivem desse jeito - podem se alimentar sem atrair atenção".
Eu estremecí com a imagem na minha cabeça, com a palavra alimentar. Mas Jasper não estava preocupado em me assustar, ele não era super protetor como Edward era. Ele continuou sem uma pausa.
"Não que os grupos ao sul liguem muito se os humanos vão notar ou não. São os Volturi que mantêm um olho nisso. Eles são os únicos que os grupos do sul temem."

"Se não fossem os Volturi, o resto de nós seria rapidamente exposto".
Eu fiz uma careta pelo jeito que ele pronunciou o nome - com respeito, quase gratidão. A idéia dos Volturi como os mocinhos de qualquer maneira era difícil de aceitar.
"O Norte é, em comparação, muito civilizado. A maioria de nós daqui são nômades que gostam do dia tanto quanto da noite, que permitem que os humanos interajam conosco sem levantar suspeitas - anonimato é muito importante pra todos nós.
"É um mundo diferente no Sul. Os imortais de lá só saem à noite. Eles passam o dia planejando seu próximo passo, antecipando seu inimigo. Como houve guerra no Sul, guerra constante por séculos, sem nenhum momento de trégua. Os grupos de lá mal reparam na existência dos humanos, a não ser como soldados que notam um rebanhos de vacas no lado de uma pista - comida pra pegar. Eles só se escondem do conhecimento do rebanho por causa do Volturi".
"Mas pelo quê eles estão lutando?" eu perguntei.
Jasper sorriu. "Lembra do mapa com os pontos vermelhos?"
Ele esperou, então eu balancei a cabeça.
"Eles lutam pelo controle do maior número de pontos vermelhos.
"Veja, se ocorresse que uma pessoa, se ele fosse o único vampiro, digamos no Novo México, então, ele poderia se alimentar toda noite, duas vezes, três vezes, e ninguém nunca repararia. Ele planeja as formas certas pra se livrar da competição.
"Outros tiveram a mesma idéia. Alguns apareceram com táticas mais efetivas do que outros.
"Mas a tática mais efetiva foi inventada por um vampiro bastante jovem chamado Benito. Da primeira vez que qualquer um ouviu falar nele, ele tinha vindo de algum lugar à norte de Dallas e massacrou dois grupos pequenos que dividiam uma área perto de Houston. Duas noites depois, ele pegou um clã muito mais forte de aliados que controlava Monterrey no norte no México. De novo, ele venceu."
"Como foi que ele venceu?" eu perguntei com curiosidade cautelosa.

"Benito havia criado um exército de vampiros recém nascidos. Ele foi o primeiro a pensar nisso, e, no começo, ele era impossível de parar. Vampiros jovens são muito voláteis, selvagens, e quase impossíveis de controlar. É possível ser razoável com um recém-nascido, ensiná-lo a se controlar, mas dez, quinze juntos são um pesadelo. Eles vão se virar um contra o outro com tanta facilidade como se fosse um inimigo para o qual você aponta. Benito teve que ficar fazendo mais à medida que eles se destruíam, e os grupos que ele derrotava matavam metade de sua força antes de perderem a luta.
"Veja, apesar dos recém-nascidos serem perigosos, eles ainda são possíveis de derrotar se você souber o que está fazendo. Eles são incrívelmente poderosos fisicamente, pelo primeiro ano ou coisa assim, e se eles forem permitidos a usar a força pra aguentar, eles podem derrotar um vampiro mais velho com facilidade. Mas eles são escravos de seus instintos, e por isso são previsíveis. Geralmente, eles não tem nenhuma habilidade com luta, apenas musculos e ferocidade. E nesse caso, maior número.
"Os vampiros ao Sul do México se deram conta do que estava vindo pra eles, e fizeram a única coisa que podiam pra enfrentar Benito. Eles mesmos fizeram exércitos...
"E o inferno correu solto - e eu estou falando da forma mais literal que você possa imaginar. Nós imortais temos as nossas histórias também, e essa guerra em particular nunca será esquecida. É claro, também não era uma época muito boa pra se ser humano no México".
Eu estremecí.
"Quando a contagem dos corpos tomou proporções epidêmicas - de fato, as suas histórias culpam as doenças pela baixa na população - os Volturi finalmente interviram. A guarda inteira veio junta e acabou com todos os recém-nascidos na metade de cima da América do Norte. Benito estava escondido em Puebla, construindo seu exército o mais rápido que podia pra poder tomar o seu prêmio - a Cidade do México. Os Volturi começaram com ele, e depois passaram pro resto."

"Qualquer um que fossem encontrado com vampiros recém-nascidos era executados imediatamente, e, já que todos estavam tentando se proteger de Benito, México ficou esvaziada de vampiros por algum tempo.
"Os Volturi ficaram limpando a casa por quase um ano. Esse é outro capítulo da nossa história que será sempre lembrado, apesar de que houveram poucas testemunhas restantes pra falar de como foi. Eu falei com uma pessoa que uma vez tinha, à distância, observado o que aconteceu quando eles visitaram Culiancán".
Jasper estremeceu. Eu me dei conta de que eu nunca havia visto ele com medo ou aterrorizado antes. Essa era a primeira vez.
"Isso foi o suficiente pra que a febre de conquista não se espalhasse pelo Sul. O resto do mundo ficou são. Nos devemos aos Volturi pelo nosso estilo de vida atual.
"Mas quando os Volturi voltaram para a Itália, os sobreviventes foram rápidos pra apostar em suas posses ao Sul.
"Não demorou muito tempo pra que os grupos começassem a disputar novamente. Havia muito sangue ruim, se você perdoa a expressão. Vinganças por todo lado. A idéia dos recém-nascidos já estava lá, e alguns não foram capazes de resistir. Porém, os Volturi ainda não haviam sido esquecidos, e os grupos do sul foram mais cuidadosos dessa vez. Os recém-nascidos eram escolhidos entre os humanos com mais cuidado, e eram mais treinados. Eles eram usados circunspectamente, e os humanos continuaram, em grande parte, sem saber de nada. Os criadores deles não deram aos Volturi nenhum motivo pra voltar.
"As guerras foram reassumidas, mas em uma escala menor. De vez em quando, se alguém ia muito longe, especulações começavam a aparecer nos jornais dos humanos, e os Volturi voltavam pra limpar a cidade. Mas eles deixavam os outros, os mais cuidadosos, continuarem..."
Jasper estava olhando para o espaço.
"Foi assim que você foi transformado". A minha realização foi um sussurro.

"Sim", ele concordou. "Quando eu era humano, eu viví em Houston, Texas. Eu estava quase com dezessete anos quando eu me juntei ao Exército Confederado em 1861. Eu mentí pra os recrutadores e disse que tinha vinte anos. Eu era alto o suficiente pra escapar com a mentira.
"A minha carreira militar foi curta, mas muito promissora. As pessoas sempre... gostaram de mim, escutaram o que eu tinha a dizer. O meu pai dizia que era carisma. É claro, agora eu sei que provavelmente era algo mais. Mas, qualquer que fosse a razão, eu fui rapidamente promovido entre as patentes, acima de homens mais velhos, mais experientes. O Exército Confederado era novo e estava começando a se organizar, então, isso também promoveu oportunidades. Na primeira batalha em Galveston - bem, foi mais um desfarce, na verdade - eu era o Major mais novo do Texas, se que sequer soubessem minha verdadeira idade.
"Eu fiquei com a responsabilidade de evacuar as mulheres e as crianças da cidade quando os barcos do morteiro Union atracaram no porto. Eu levei um dia pra prepará-los, e então eu partí com o primeiro grupo de civis pra carregá-los até Houston.
"Eu me lembro daquela noite muito claramente.
"Nós chegamos à cidade quando já estava escuro. Eu só fiquei por tempo suficiente pra ter certeza se o grupo inteiro estava seguramente situado. Assim que isso foi feito, eu peguei um cavalo novo pra mim, e voltei pra Galveston. Não havia tempo pra descansar.
"A apenas um metro fora da cidade, eu encontrei três mulheres a pé. Eu pensei que elas estavam perdidas e desmontei imediatamente pra oferecê-las meu auxílio. Mas, quando eu conseguí ver o rosto delas na luz difusa da lua, eu fiquei silenciosamente fascinado. Elas eram, sem dúvida, as três mulheres mais bonitas que eu já havia visto.
"Elas tinham uma pele tão pálida, que eu me lembro de ficar maravilhado. Mesmo a garota pequena de cabelos pretos, de quem as feições era claramente mexicanas, pareciam porcelana à luz da lua."

"Elas pareciam jovens, todas elas, ainda jovens o suficiente pra serem chamadas de garotas. Eu sabia que elas não eram membros perdidos do nosso grupo. Eu teria me lembrado de vez aquelas três.
"Ele está sem voz' disse a garota mais alta com uma voz adorável, delicada - era como uma brisa de vento. Ela tinha bastante cabelo, e a pele dela era branca como neve.
"A outra era mais loira e mesmo assim, sua pele era igualmente branca. O rosto dela era como o de um anjo. Ela inclinou na minha direção com os olhos meio fechados e inalou profundamente.
"Mmm' ela suspirou. 'Adorável'.
"A menor, uma morena pequena, colocou a mão no braço da outra e falou rapidamente. A voz dela estava muito suave e musical pra ser ríspida, mas isso parecia ser o que ela pretendia.
"Se concentre, Nettie', ela disse.
"Eu sempre tive uma boa sensação de como as pessoas se relacionam umas com as outras, e ficou claro imediatamente que a morena estava no comando das outras. Se elas fossem militares, eu diria que ela se sobressaía às outras.
"Ele parece ser certo - jovem, forte, um oficial...' a morena pausou, e eu tentei falar sem sucesso. 'E tem mais alguma coisa... vocês estão sentindo?' ela perguntou às outras duas. 'Ele é... coagente'.
"Oh, sim' Nettie concordou rapidamente, se inclinando na minha direção de novo.
"Paciencia', a morena avisou ela. 'Eu quero ficar com esse'.
"Nettie fez uma careta, ela pareceu aborrecida.
"É melhor você fazer isso, Maria', a loira mais alta falou de novo. 'Se ele é importante pra você. Eu os mato duas vezes mais do que os crio'.
"'Sim, eu vou fazer isso', Maria concordou. 'Eu realmente gosto desse. Leve Nettie pra longe, tá? Eu não quero ter que proteger as minhas costas enquanto estou tentando me concentrar.'
"O meu cabelo estava arrepiando na minha nuca, apesar não se eu não entender o significado de nada do que aquelas lindas criaturas estavam falando."

"Os meus instintos me diziam que eu estava em perigo, que aquele anjo estava falando sério quando falou em matar, mas meu julgamento dominou os meus instintos. Eu nunca fui ensinado a temer mulheres, e sim a protegê-las.
"Vamos caçar', Nettie concordou entusiasticamente, pegando a mão da garota alta. Elas foram embora - elas eram tão graciosas! - e saíram em direção à cidade. Elas pareciam prestes a levantar vôo, de tão rápidas que eram - seus vestidos brancos esvoaçavam atrás delas como se fossem asas. Eu pisquei pasmificado, e elas foram embora.
"Eu me virei pra encarar Maria, que estava me olhando com curiosidade.
"Eu nunca havia sido supersticioso em minha vida. Até aquele segundo, eu nunca havia acreditado em fantasmas e nessas bobagens. De repente, eu não tinha certeza.
"Qual é o seu nome, soldado?' Maria me perguntou.
"Major Jasper Withlock, madame', eu gaguejei, incapaz de ser mal educado com a mulher, mesmo se ela fosse um fantasma.
"Eu realmente espero que você sobreviva, Jasper'. Ela disse com uma voz gentil. 'Eu tenho um bom sentimento sobre você.'
"Ela deu um passo mais pra perto, e inclinou a cabeça como se ela fosse me beijar. Eu fiquei congelado no lugar, apesar dos meus instintos estarem gritando pra que eu corresse."
Jasper pausou, seu rosto estava pensativo. "Alguns dias depois", ele finalmente disse, e eu não pude ter certeza se ele havia editado a história pro meu bem ou porque ele estava respondendo à tensão que até eu podia sentir exalando de Edward. "Eu fui apresentado à minha nova vida.
"Os nomes delas eram Maria, Nettie, e Lucy. Elas não estavam juntas ha muito tempo - Maria havia encontrado as outras duas - todas as três eram sobreviventes de batalhas recentemente perdidas. A parceria delas era de conveniência. Maria queria vingança, e ela queria seus territórios de volta. As outras duas estavam ansiosas pra aumentar suas... terras de rebanho, eu acho que você pode dizer. Elas estavam criando um outro exército, e iam ser mais cuidadosas com isso do que o normal."

"Foi idéia de Maria. Ela queria um exército superior, então ela escolhia humanos específicos que tivessem potencial. Aí ela nos deu muito mais atenção, muito mais treinamento do que outra pessoa tinha se incomodado em fazer. Ela nos ensinou a lutar, e nos ensinou a ser invisíveis para os humanos. Quando nós fazíamos direito, nós éramos recompensados..."
Ele parou, editando de novo.
"No entanto, ela estava com pressa. Maria sabia que a força massiva dos recém-nascidos ia diminuindo no período de um ano, e ela queria agir enquanto éramos fortes.
"Haviam seis de nós quando eu me juntei ao bando de Maria. Ela fez mais quatro no período de uma noite. Nós éramos todos homens - Maria queria soldados - e isso fez com que fosse um pouco mais dificil não brigarmos entre nós mesmos. Eu lutei minhas primeiras batalhas contra os meus próprios camaradas no exército. Eu era mais rápido que os outros, melhor no combate. Maria estava satisfeita comigo, apesar de ter que continuar repondo aqueles que eu destruía. Eu era recompensado com frequência, e isso me deixava mais forte.
"Maria era uma boa juíza de caráter. Ela decidiu me colocar no comando dos outros - como se eu estivesse sendo promovido. Isso servia perfeitamente com a minha natureza. As brigas diminuiram dramaticamente, e o nosso número aumentou até que éramos cerca de vinte.
"Esse era um número considerável levando em consideração os tempos cuidadosos em que vivíamos. A minha habilidade, ainda que indefinida, de controlar a atmosfera emocional ao meu redor era vitalmente efetiva. Em breve nós começamos a trabalhar juntos de uma forma que os vampiros recém-nascidos jamais haviam cooperado antes. Até Maria, Nettie, e Lucu eram capazes de trabalhar juntas com mais facilidade.
"Maria ficou muito apegada a mim - ela começou a depender de mim. E, de algumas formas, eu adorava o chão em que ela pisava. Eu não fazia idéia de que outra vida era possível. Maria nos disse que esse era o jeito como as coisas eram, e nós acreditamos".

"Ela pediu que eu dissesse a ela quando os meus irmãos e ela estivéssemos prontos pra lutar, e eu estava ansioso pra me provar. Eu havia juntado um exército de vinte e três no final - vinte e três vampiros inacreditavelmente fortes, organizados e habilidosos com nenhum outro antes. Maria estava estasiada.
"Nós nos movemos em direção à Monterrey, sua antiga casa, e ela no soltou em cima de seus inimigos. Naquela hora eles só tinham nove recém-nascidos, e um par de vampiros mais velhos controlando eles. Nós os derrotamos mais facilmente do que Maria podia acreditar, perdendo apenas quatro no processo. Eu estava na ponta da margem de vitória.
"E nós éramos todos bem treinados. Nós fizemos isso sem atrair atenção. Naquele primeiro ano, ela estendeu seu controle pra controlar a maior parte do Texas e do norte do México. Então os outros vieram do Sul pra enfrentar ela."
Ele passou dois dedos nas fracas marcas das cicatrizes no braço dele.
"A luta foi intensa. Muitos começaram a se preocupar que os Volturi fossem voltar. Dos vinte e três originais, eu fui o único a sobreviver nos primeiros oito meses. Nós tanto perdemos quanto vencemos. Eventualmente Nettie e Lucy se viraram contra Maria - mas essa nós vencemos.
"Maria e eu fomos capazes de segurar Monterrey. As coisas de acalmaram um pouco, apesar das guerras continuarem. A idéia de conquista estava morrendo; agora a maioria era por vingança e por terras. Muitos deles haviam perdido seus parceiros, e isso é uma coisa que a nossa espécie não perdoa.
"Maria e eu sempre mantínhamos cerca de doze recém-nascidos prontos. Eles significavam pouco pra nós - eles eram moeda de troca, eram descartáveis. Quando eles não eram mais úteis, nós mesmos nos livrávamos deles. A minha vida continuou o mesmo padrão violênto e o ano se passou. Eu já estava de saco cheio de tudo muito antes das coisas mudarem...
"Décadas depois, eu desenvolví uma amizade com um recém-nascido que continuou sendo útil e sobreviveu aos seus três primeiros anos, apesar das chances."

"O nome dele era Peter. Eu gostava de Peter; ele era... civilizado - eu acho que essa é a palavra correta. Ele não gostava de lutar, apesar de ser bom nisso.
"Ele foi encarregado de lidar com os recém-nascidos - ser babá deles, pode-se dizer. Era um trabalho de tempo integral.
"E aí era hora de fazer uma limpeza de novo. Os recém-nascidos iam perdendo a força; eles precisavam ser repostos. Era pra Peter me ajudar com isso. Nós cuidávamos deles individualmente, entende, um por um... Era sempre uma noite muito longa. Dessa vez, ele tentou me convencer de que alguns tinham potencial, mas Maria havia me dado instrunções pra me livrar deles. Eu disse não a ele.
"Nós estavamos quase na metade, e eu podia sentir que isso estava exigindo uma grande carga de Peter. Eu estava decidindo se eu devia ou não mandá-lo embora e acabar com tudo sozinho enquanto eu chamava a próxima vítima. Pra minha surpresa, ele ficou com raiva de repente, furioso. Eu suportei o que quer que fosse que o humor dele queria dizer - ele era um bom lutador, mas não era páreo pra mim.
"O recém-nascido que eu havia chamado era uma fêmea, que havia acabado de completar um ano. O nome dela era Charlotte. Os sentimentos dele mudaram quando ela apareceu; eles o traíram. Ele gritou pra que ela corresse, e ele mesmo correu atrás dela. Eu podia ter perseguido eles, mas não perseguí. Eu sentí... aversão a destruí-lo.
"Maria ficou irritada comigo por isso.
"Cinco anos depois, Peter voltou pra me ver. Ele escolheu um bom dia pra aparecer.
"Ela estava confusa com o meu humor já deteriorado. Ela nunca sentia uma depressão momentânea, e eu me perguntei porque eu era diferente. Eu comecei a notar a diferença nas emoções dela quando ela estava perto de mim - as vezes ela ficava com medo... e com malícia. Eu estava me preparando pra distruir a minha única aliada, a semente da minha existência, quando Peter retornou.
"Peter me contou sobre sua nova vida com Charlotte, me contou sobre opções que eu nunca sonhei que tivesse."

"Em cinco anos, eles nunca tiveram uma briga, apesar deles haverem conhecido muitos outros no norte. Outros que podiam co-existir sem viverem em um caos constante.
"Em uma conversa, ele convenceu. Eu estava pronto pra ir embora, e um pouco aliviado por não ter que matar Maria. Eu fui companheiro dela por tantos anos quantos Carlisle e Edward estiveram juntos, e mesmo assim, o laço entre nós nem de perto era tão forte quanto o deles. Quando você vive para a luta, para o sangue, os relacionamentos que você forma são tenazes e facilmente quebrados. Eu fui embora sem olhar pra trás.
"Eu viajei com Peter e Charlotte por alguns anos, tento uma sensação desse mundo novo, mas pacífico. Mas a depressão não foi embora. Eu não entendia o que havia de errado comigo, até que Peter começou a reparar que eu sempre ficava pior depois de caçar.
"Eu pensei nisso. Em tantos anos de matança e carnagem, eu havia perdido praticamente toda a minha humanidade. Eu era um inegavelmente um pesadelo, um monstro do tipo mais odiavel. Toda vez que eu encontrava outra vítima humana, eu sentia uma leve pontada de semelhança com aquela outra vida. Observando os olhos delas se abrirem impressionados com a minha beleza, eu me lembrava de Maria e as outras em minha cabeça, o que elas haviam parecido pra mim na última noite em que eu fui Jasper Withlock. E